quinta-feira, 7 de julho de 2011

XV DOMINGO COMUM A

Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos: «Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras caíram entre espinhos, e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um. Quem tem ouvidos, oiça». (Mt 13, 1-9)

Caros amigos e amigas, o Evangelho não é uma história do passado nem se pode aprisionar, mas é semente arrojada que Deus lança, no sulco de cada dia, destinada a dar novos frutos. O Evangelho é essencialmente palavra de Deus que multiplica a vida. Ditosos os ouvidos dos que decidem escutá-lo!

Pródiga folia do semeador
Quanta folia, quanto desperdício, quanta esperança, nos sonhos deste semeador! Lança, sem medo e com generosidade, uma chuva de sementes, pérolas de vida, aos quatro ventos sem fazer distinções do terreno, mais esperançado e confiante no gérmen do que nos invernos e intempéries do coração. Deus é um fecundador incansável da existência!
Ainda hoje Deus continua a semear abundantemente, no coração do homem, a sua Palavra e os seus sémenes de vida a mãos cheias, com o mesmo entusiasmo e encanto. O seu amor é sempre excessivo, desmedido, sem barreiras. Ele lança a semente em terrenos áridos, estéreis, sombrios e vivificantes, acreditando a seu tempo numa estação de fecundidade. O sonho de Deus tem ares de Primavera, de novidade, de geração, de infinitas possibilidades, de milagre, de ressurreição! É um Deus fascinado pela alegria do encontro. Certo, encontros infrutuosos, duros, espinhosos, fecundos… mas sempre encontros!

A semente é a Palavra
Nos sulcos da humanidade, no coração de todos, Deus semeou a pessoa do seu Filho Jesus, que morre para dar fruto! O Verbo de Deus continua a fecundar qualquer vida. Apesar das silvas e dos espinhos, das pedras e dos que pisam a semente, há sempre uma terra que acolhe e floresce. E mesmo se por vezes a resposta é negativa, no fim desabrochará um rebento novo porque a força está na semente, em Cristo!
Não sejamos avarentos, não decidamos onde e quando a potência da vida deva florir. Deixemo-nos encantar pela poesia do semeador e pela força da semente; deixemo-nos seduzir pela bondade e pelo dinamismo da Palavra mais do que pelos resultados; deixemo-nos fascinar pelo entusiasmo do Evangelho, porque a fé do agricultor acredita em nós mesmo antes de darmos fruto!

Ser terra acolhedora e fecunda
A palavra de Deus permanece enterrada em corações misteriosos e ambíguos, tal como a semente debaixo da terra. Mas quem sabe se no escuro não se dá o milagre do renascimento, tal como no silêncio do sepulcro, antes da ressurreição? A vida não é vazia, não é ausência. Há algo de Deus dentro da vida, há palavras suas na nossa terra! Todos somos a sua terra, onde a Palavra é lançada. Junto ao terreno que não dá fruto, há sementes que germinam. Na mesma sementeira os resultados são diversos. Basta ser terra aberta para ser terra grávida de vida! Não bloqueemos o milagre!
A palavra de Deus requer um minuto de paixão, requer a profundidade do coração, com a sujidade da terra e da própria vida, que acolhe a alegria e a dor, que se abre à potência de Deus, sem asfixiar a sua presença (Ronchi). Apenas uma parte da sementeira atingirá a terra bela e fecunda, o resto será presa dos pássaros, da aridez, do calor e do sufoco das silvas, mas o fruto que nasce supera qualquer esperança, 30, 60 ou 100 vezes, numa esperança absoluta. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero fecundar cada estímulo do meu dia a dia com a força eficaz da Palavra de Deus.

REZAR A PALAVRA
À beira mar, contemplo-te
no barco que embala a Palavra
e anseio, faminto, pelas sementes que, carinhosamente, lanças em mim.
Caem na estrada abandonada, na superficialidade do meu sim...
E são levadas pelos pássaros do mundo

que violentam a meu vazio.
Caem no coração de pedra

que não te deixa tocar o profundo...
E são queimadas pela secura da vida que,

sem ti, não é fecunda.
Caem entre os espinhos da vida

que obscurecem a minha entrega...
E são afogadas pela dor, pelo tempo,

pelo mais importante que tu.
Caem nos braços que te esperam,

nos lábios que te cantam,
na alma que te escuta, terra boa...

que dará fruto e nova semente...

Nenhum comentário: