quinta-feira, 28 de julho de 2011

XVIII DOMINGO COMUM A

Naquele tempo, quando Jesus ouviu dizer que João Baptista tinha sido morto, retirou-Se num barco para um local deserto e afastado. Mas logo que as multidões o souberam, deixando as suas cidades, seguiram-n’O por terra. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e, cheio de compaixão, curou os seus doentes. Ao cair da tarde, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Este local é deserto e a hora avançada. Manda embora toda esta gente, para que vá às aldeias comprar alimento». Mas Jesus respondeu-lhes: «Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer». Disseram-Lhe eles: «Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes». Disse Jesus: «Trazei-mos cá». Ordenou então à multidão que se sentasse na relva. Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e recitou a bênção. Depois partiu os pães e deu-os aos discípulos, e os discípulos deram-nos à multidão. Todos comeram e ficaram saciados. E, dos pedaços que sobraram, encheram doze cestos. Ora, os que comeram eram cerca de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças». (Mt 14, 13-21)

Caros amigos e amigas, nesta passagem tudo é excessivo: a fome das multidões, a compaixão de Jesus, a indigência dos discípulos, a abundância da refeição e até as sobras. O prodígio do milagre é um prodígio de entrega. Jesus convida-nos a arriscar o excesso da nossa entrega.

É preciso ter fome
A cena colore-se com um movimento de viagens inesperadas. É a viagem que Jesus empreende e que não era esperada pela multidão e é a viagem das multidões que surpreende Jesus no desembarque para o seu repouso. Atrevida esta multidão que não dá tréguas! Coloquemo-nos no lugar de Jesus e avaliemos a nossa contrariedade face a esta insolência. Mas Jesus não se agasta; de imediato prescinde dos seus projectos para ver as pessoas, para compadecer-se delas, para curá-las, mais tarde para alimentá-las. Ver, compadecer-Se, curar, alimentar: verbos chave do agir de Deus para connosco.
Jesus valoriza a avidez e o despojamento de quem se lhe dirige, de quem até, cego com a necessidade de O encontrar, nem sequer providencia um farnel para a jornada. Há que procurar Jesus, despojados. Não ir escudados nas nossas reservas, cheios de nós mesmos, pois assim Ele não encontrará espaço algum para nos encher. Precisamos de admitir que temos fome, amigos e amigas, e abeirar-nos de Jesus com confiança e com humildade! E Ele desvela-nos uma abundância que supera todas as nossas expectativas, que cobre até carências que nem sabíamos existirem. É que Ele se dá a Si mesmo!

Dai-lhes vós de comer…
Sabemos diagnosticar, mas resolver a fome das multidões, nem sempre é connosco. Jesus, porém, desloca para os discípulos uma responsabilidade que tem de nos interrogar e implicar. Jesus põe os seus a trabalhar. O milagre não é um truque mágico, automático, mas demanda um grau de esforço, correspondente à capacidade daquele a quem Jesus pede uma colaboração efectiva. Há que auscultar as fomes que se nos vertem à volta, numa insistência às vezes silenciosa e ignorada, às vezes gritante e manifesta; há que acolher o brado dos famintos deste mundo, afogados num mar de nadas, e não vale mandá-los embora, comprar pão em qualquer mercado, mas encaminhar a sua navegação para o único porto da saciedade: o próprio Deus.

Dos cinco pães e dois peixes até às sobras
A nossa atitude mais imediata não é propriamente dividir, mas retalhar, dosear e reter… ter. Até podemos ser generosos, mas argumentamos que temos pouco. Olhamos o mundo e parece-nos que o nosso esforço é gota insignificante num oceano de necessidades. Mas não importa tanto se temos pouco ou muito, pois só a totalidade da nossa entrega é premissa para uma plenitude: Jesus pede-nos para dar tudo o que temos/somos. Dar tudo é um risco de confiança em que Ele multiplicará o nosso pouco, muito para lá de orçamentos tacanhos… até às sobras. E na recolha das sobras há também um desafio, por assim dizer, ecológico. Se Deus é excessivo, nem por isso admite o desperdício. Jesus é o Mestre da entrega absoluta e os seus discípulos são desafiados a uma entrega assim, a disponibilizar as suas indigentes provisões à providência infinita d’Aquele que os envia. A medida característica de Jesus tem de ser a dos seus discípulos: a medida alta, até cima, calcada, agitada, a transbordar… porque dar tudo é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero ter os braços de Jesus para acolher e o Seu coração para me dar em alimento.

REZAR A PALAVRA
Senhor falta o pão no meu coração cheio de enredos:
Vem trazer-me a fome de Ti, do Teu amor e a minha vida encontrará a saciedade.
Senhor, falta o pão na minha mesa, cheia de calorias fúteis:
Vem trazer-me fome e sede da tua justiça e me tornarei serviço da tua misericórdia.
Senhor, falta tanto pão no meu mundo a gemer ausências, em fomes diversas:
Vem convocar-me para a partilha da minha vida, faz de mim Eucaristia.
Senhor, falta o pão da Tua Palavra à minha volta: envia-me, faz de mim Evangelho!

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