quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

VI Domingo Comum B

Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte. (Mc 1, 40-45)

Caros amigos e amigas, é maravilhosamente belo este Evangelho em que Jesus encontra um leproso, mas não faz um discurso sobre a doença e o sofrimento. O Mestre, mais do que explicar a dor, manifesta o amor de Deus. E nós, leprosos do coração, ansiamos poder gritar-lhe que cure a solidão das nossas lepras.

O leproso somos nós
A lepra tinha-o desfigurado de tal modo que era irreconhecível. Um autêntico cadáver, um homem só, vazio de gestos de afecto e comunhão! Imagino aquele desgraçado, sem identidade, abandonado à sua triste sina, apenas de joelhos e com o olhar fixo em Jesus. O leproso não tem méritos para apresentar. Tem apenas fome de pessoas. Parece que ainda podemos ouvir o seu grito de esperança e de fé: “se quiseres”! E o seu futuro depende deste pequeno “se”, um misterioso “se” semeado e cravado no coração de Deus.
Quem me dera ter esta ousadia do leproso, a audácia de me aproximar e gritar a minha angústia. Não sei se não teremos doenças, escravaturas, pecados, lepras visíveis e invisíveis, provavelmente escondidas debaixo de um manto belo… das quais podemos não querer sair, acomodados. A lepra desfigura a humanidade, gangrena o coração humano, cria infernos de solidão na terra.

“Quero, fica limpo”
As entranhas de Deus são então banhadas de compaixão e comoção. A dor humana faz vacilar o coração de Deus, que não suporta distâncias nem barreiras. Expõe-se antes ao contágio da nossa humanidade.
A mão de Jesus toca com ternura as chagas purulentas do leproso e rouba-o da solidão. Deus toca, sem medo, o intocável. Porque, antes de tocar o leproso, Ele mesmo é tocado, ferido pela ferida secreta daquele homem. Tocando-o fá-lo ressuscitar, levanta-o, retoma-o pela mão como no éden, quando o homem passeava com Deus e não tinha vergonha de si, nem precisava de esconder a sua miséria.
Um gesto tão natural quando o coração quer mostrar proximidade e afecto: o amor não se manifesta à distância. Nada de extraordinário e excepcional. Contudo, naquele gesto está Deus! Ele veio propositadamente para nos tocar, para nos perpassar com a sua misericórdia, para nos lavar com o seu amor.
Já há muito tempo que ninguém tocava no leproso, por medo, por repugnância, por obediência à lei, e a sua carne e o seu coração morriam de solidão. A nossa vida se não é tocada definha por carência de encontros. Jesus toca e a pessoa é restituída à sua família, regressa às carícias. Jesus toca e pede a cada um de nós para participar neste desejo de Deus, de dar lugar às carícias, aos gestos, às palavras que dão vida.

O amor é contagioso: o leproso torna-se apóstolo
Contagiado pelo Amor, o leproso regressa à cidade gritando a sua cura, sem ninguém o conseguir calar. E, por sua vez, semeia vida à sua volta. Semeia a experiência de Cristo! O castigado torna-se fonte de admiração e de Evangelho.
Quem souber tocar o nosso íntimo de luz ou o abismo da nossa dor, esse deixará na nossa história um rasto de vida, de milagre e de cura. Aquela mão que toca a lepra daquele homem pode ainda hoje tocar as chagas de todos. Jesus sofre de um amor que lhe devora a vida! Sagrado contágio de um amor sem medidas!
Talvez não sejamos capazes de milagres como o jovem de Nazaré, mas somos capazes de compaixão, do arder por dentro, do inventar gestos e palavras que aliviam a solidão e a lepra, e se tornam milagre da carícia de Deus. No fim, Deus não perguntará sobre as nossas mãos imaculadas ou puras, mas questionará sobre as lepras que as nossas mãos tiverem tocado, sobre as chagas e pobrezas por elas curadas. Só assim, caros amigos e amigas, se realiza o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero identificar as lepras da minha vida, que necessito de expôr à misericórdia do Senhor.

REZAR A PALAVRA
Senhor, aproximo-me de ti e de joelhos por terra...suplico: cura-me!
Carrego comigo a lepra da história que não sei amar nem conduzir pelo Espírito.
Transporto em mim a corrosão do pecado que desgasta a imagem de ti em mim.
Com um sorriso, estendes-me a mão da misericórdia que me acolhe
e dás-me o abraço do perdão que me limpa...e me faz de novo...
Senhor, não consigo esconder o amor qe me dedicas,
não consigo calar a graça que me habita. És bom...

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