quinta-feira, 18 de junho de 2015
XII Domingo Comum B
Evangelho segundo S. Marcos 4, 35-41
Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse aos seus
discípulos: «Passemos à outra margem do lago». Eles deixaram a multidão e
levaram Jesus consigo na barca em que estava sentado. Iam com Ele outras
embarcações. Levantou-se então uma grande tormenta e as ondas eram tão altas
que enchiam a barca de água. Jesus, à popa, dormia com a cabeça numa almofada.
Eles acordaram-n’O e disseram: «Mestre, não Te importas que pereçamos?». Jesus
levantou-Se, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: «Cala-te e está
quieto». O vento cessou e fez-se grande bonança. Depois disse aos discípulos:
«Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Eles ficaram cheios de
temor e diziam uns para os outros: «Quem é este homem, que até o vento e o mar
Lhe obedecem?».
Caros amigos e amigas, a liturgia deste Domingo apresenta-nos
uma cena bem típica do tom provocante de Marcos, que sacode e desperta os seus
leitores acerca da identidade de Jesus. Não desperdicemos a oportunidade de
perguntar: “Quem é este homem?” E, ainda que a não consumemos, não deixemos a
pergunta sem resposta!
Interpelações da Palavra
Passemos à
outra margem
Imagino-me
na pele destes navegantes, certamente experientes em questões de mar, quando,
perante a tormenta, parecem sentir-se abandonados, quase traídos, pela letargia
enervante daquele que tomou a iniciativa da navegação. E, no entanto, aqui
vemos retratadas tantas das nossas experiências de vida! Pela nossa, talvez
ficássemos a gozar o descanso da faina, tanto mais que um fim de dia reivindica
o repouso; poderíamos, quando muito, ficar a carpir a sorte dos distantes, mas Jesus
só pensa em chegar àqueles a quem um lago não pode deixar distantes. Uma
almofada de seguranças desencoraja-nos as navegações, embota-nos a iniciativa:
precisamos que a Palavra de Deus nos faça sair, nos dilate o coração, nos faça remover
terra, lagos e mares para encontrar aqueles que precisam de ser abraçados por
Deus. É preciso partir, mas assegurando-nos que Jesus vai connosco, sabendo que
Ele navega com a meta nos olhos e nos sonhos. Havemos de experimentar riscos e
tumultos sob o “sono de Deus”, as agruras de um silêncio que nos desconcerta. É
assim que, tendo de O chamar e de reconhecer a nossa limitação, aprenderemos a
navegação da fé!
Cala-te e
está quieto
Admiramos
Jesus por esta impressionante autoridade reconhecida pelos elementos e não
sabemos que também a temos, dentro da harmonia do universo, porque… o mais das
vezes, o que queremos é dominar, mas o que Jesus pretende é harmonizar. Tu,
amigo e amiga, sempre que não conseguires acalmar o mar, podes aproveitar a sua
turbulência para te harmonizares com ele, como um surfista a quem a inquietude
das vagas dá a alegria de voar. Dir-se-ia que Jesus, dormindo confortavelmente,
aproveita as vagas como embalo do seu sono. Nós passamos logo ao contra-ataque,
diabolizamos as contrariedades que nos sobrevêm, lançamos sobre elas este vício
de dominar e elas teimam em não se nos submeter… Olhamos o êxito de Jesus e pensamos
que é uma ordem a desencadear a reação de sujeição da parte do mar e do vento!
Mas foi a obediência de Jesus que se harmonizou com a obediência do mar e do
vento. Só a obediência nos dá autoridade. Ele harmonizou a sua vontade com a do
Pai, o seu sono com a circunstância das vagas, os seus sonhos com os gritos
daqueles homens desesperados… e quem semeia harmonia, colhe harmonia!
Quem é este
homem?
É
a pergunta que fica sempre a retinir nos ouvidos dos leitores de S. Marcos. Quem
dera que a nossa obediência também nos fizesse navegar de modo que houvesse
quem, admirado, perguntasse: “quem é este, quem é esta, que acalma o seu mar?”
Porque a bonança de que nos fala o Evangelho não é a estagnação das águas, mas
a onda vigorosa que nos move os sonhos até chegarem aos sonhos de Deus, assim
como a fórmula da paz não é um “salve-se quem puder”, nem é o voluntarismo de
eu tentar salvar o mundo, mas a disponibilidade para me deixar salvar com
todos! Hoje nova oportunidade nos visita. É hora de fazer um teste à nossa fé e
perceber se na nossa barca navega Jesus ou antes um medo sovado pelo instinto. Não
queremos permanecer ancorados ao “mais do mesmo” por isso precisamos de saber
quem é Jesus para perceber quem somos e onde vamos. Para nos saber discípulos
reconhecer que Ele é o Mestre, para navegar que Ele é o timoneiro, para amar
que Ele é amor, para sermos sinal… que Ele é o Evangelho!
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, tão depressa cai a
tarde! Nem me apercebo do galgar do dia sobre a rotina.
Cai esta modorra que me seduz
o sono, que resiste aos teus planos de navegação.
E no entanto, só Tu és Aquele
que me estimula a passar à outra margem
onde a vida ganha o sentido da
entrega, onde aqueles que amas me fazem viver o olhar.
No confronto entre o meu medo
e o teu sono, ajuda-me a confiar, ensina-me a obedecer.
Apercebo-me que tento
insensatamente instrumentalizar-te, controlar o teu querer…
Hoje repouso o meu querer na
tua vontade e entrego a minha definição à tua identidade.
Viver a Palavra
Vou olhar as
situações turbulentas da vida à luz da fé, como oportunidades de crescimento.
segunda-feira, 15 de junho de 2015
XI Domingo Comum B
Evangelho segundo S. Marcos 4, 26-34
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino de
Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e
dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz
por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E
quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da
colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em
que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser
semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas,
depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da
horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem
abrigar-se à sua sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas
parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava
senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
Caros amigos
e amigas, a parábola de hoje fala-nos do encanto do semeador e da aventura da
semente que, escondida na terra, contém a esperança e a força de um futuro
novo.
Interpelações da Palavra
A profecia do semeador
Invejo a paciência e a perseverança incansável do
semeador que procura na estação seguinte, com enorme paixão, a novidade do
gérmen, a beleza da flor e o perfume do fruto. O cultivador possui aquele olhar
especial, capaz de profecia, capaz de ver já o grão maduro na espiga quando debaixo
dos olhos está apenas a terra nua e um punhado de sementes, aparentemente secas
e sem vida. Ele confia que até a semente mais pequena, esquecida ou enterrada,
é milagre, é vulcão capaz de fazer germinar incrivelmente a vida. Nas suas mãos
e no seu olhar floresce já a primícia da promessa!
A história é cheia de pequenos e agradáveis
mistérios, escondidos e humildes, potentes e surpreendentes. E o Reino de Deus
é sempre um dom, uma oferta não submetida à lógica da eficiência e da
visibilidade, ao frenesim e à canseira. A pedagogia divina utiliza passos
pequenos, simples e fortes, no invisível quotidiano!
As parábolas encantam
Jesus fala de Deus e do Reino com uma simplicidade
desarmante: os lírios do campo e o grão de mostarda, o negociante de pérolas e a
ovelha perdida, a vinha e as lâmpadas acesas… tudo fala de Deus, como se as
coisas mais evidentes comungassem das realidades mais divinas. Jesus prefere
uma parábola a um discurso oficial, um silêncio a uma afirmação doutrinal, um
gesto efectivo a uma celebração vazia.
Toda a vida é uma parábola de Deus: o Reino pode
esconder-se e germinar num simples arbusto, numa gruta de Belém, nas mãos
calejadas de um pescador ou no voo dos pássaros. Continuamente o Reino de Deus
é semeado nos meandros da humanidade. Ainda hoje, é Jesus a semente do Pai,
núcleo incandescente de perfumes e frutos de primavera, força de amor, capaz de
quebrar a crosta árida de corações ressequidos.
As parábolas abraçam
É de mim e de ti que se fala nesta parábola. Podemos pedir milagres a Deus, que Ele
oferecer-nos-á sempre um punhado de sementes. Sementes que mudam a vida por
dentro, no essencial, descurando o superficial. Em vez de anunciar a
desgraça do mundo, de lamentar-se continuamente dos outros, de acampar
depressivos no passado,… ocorre cultivar a fé na força escondida dentro dos
pobres e pequenos sinais do Reino. É que a nossa vida e a nossa história estão
grávidas de ressurreição. Basta um minúsculo sim para que Deus possa irromper
dentro da nossa existência. Basta uma pequena brecha para que Deus possa
escancarar e fecundar a vida. Abrindo-nos a Ele seremos, amigos e amigas,
parábola e semente do Evangelho!
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, semeador e
semente, autor da vida e da alegria
Deixa que o meu coração se
fascine com a beleza do teu querer.
Senhor Jesus, semeador e
semente, autor do tempo e da história
Deixa que o meu coração se
habite da tua vontade de crescer a cada passo.
Senhor Jesus, semeador e
semente, autor da esperança perfeita
Deixa que o meu coração se
abra e se deixe fecundar pelos sinais de que me rodeias.
Senhor Jesus, semeador e
semente, autor da novidade e da surpresa
Deixa que o meu coração se
abra às pequenas coisas e à imensidão do teu amor.
Viver a Palavra
Vou
reparar melhor em tantos sinais que me rodeiam para lhes perguntar notícias de
Deus.
domingo, 7 de junho de 2015
Corpo de Deus B
Evangelho
segundo S. Marcos, 14, 12-16.22-26
No primeiro dia dos Ázimos, em
que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde
queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?». Jesus enviou dois
discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma
bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: «O Mestre
pergunta: Onde está a sala, em que hei-de comer a Páscoa com os meus
discípulos?». Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e
pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e foram à
cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. Enquanto
comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e
disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e
entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu Sangue, o Sangue
da nova aliança derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não
voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo
no reino de Deus». Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras.
Caros amigos
e amigas, Jesus escolhe a intimidade de uma refeição de festa para, na simplicidade
do gesto do alimento diário, nos deixar a sua contínua presença e comunhão.
Interpelações da Palavra
Uma sala
para comer a Páscoa
Imagino a reacção dos discípulos, misturando o
temor e a confiança, alguma vergonha com a coragem, à procura do lugar para
Jesus celebrar a Páscoa. Desde Belém que Deus procura uma casa, um cenáculo
para celebrar as núpcias com a humanidade. Deseja um lugar alto, alcatifado,
com o indispensável para a festa. E ainda hoje pergunta a cada um de nós: onde
está a minha sala, aquele lugar na tua vida onde posso fazer festa contigo,
amassar-me na tua história e embeber-me da tua existência, até se confundir a
minha alegria com a tua? Sou eu hoje a sua casa, o sacrário precioso da sua
presença, nos sulcos da história.
Em Nazaré Deus se fez choro e brincadeira de
criança, suor e aprendiz de carpinteiro. Em Jerusalém Ele se faz pão e vinho,
cruz e amor, alimento para saciar a fome e a sede, o sonho e a alegria.
Maravilhosa necessidade de Deus de estar e fazer festa connosco!
“Tomai e comei; tomai e bebei”
Um simples tomai,
como um pedido e uma súplica, uma declaração de amor: tomai, nas mãos e no
íntimo, a minha vida, o meu sorriso, a minha alegria, a minha paixão de amor.
Belíssima criatividade divina que nada exige e nada toma, mas se dá, se
entrega, se confia. Não é o homem que deve algo a Deus, mas é Deus que se
entrega e se sacrifica por nós. Sem limites, sem restrições, sem medida… por
todos!
Tomai este corpo e este sangue! Como uma alquimia
do amor em que Deus se veste da nossa frágil e pobre humanidade de modo que
toda a humanidade se torna corpo de Deus!, tornando-nos naquilo que recebemos.
Fracção do
pão e comunhão
Um gesto tão antigo, espontâneo e simples, repetido
quotidianamente em cada mesa e família, onde a vida se partilha. Este é o gesto
que acompanha o crente: a capacidade de partilhar o pão, a vida, a palavra. É a
fragilidade do pão amassado e do cacho de uvas espremido, fruto da terra e do
suor dos homens, que se tornam – por Cristo, com Cristo e em Cristo – pão da
vida e vinho de salvação.
Rezar a Palavra e contemplar o
Mistério
Senhor Jesus, hoje, mais uma vez,
sinto o privilégio de um convite que me faz saborear-Te!
Olho o requinte com que o teu
amor presenteia a minha fome, os detalhes do amor…
e dou-te graças por que convocas
o meu esforço para a refeição que se faz comunhão.
Adoro-Te, Senhor, no sacramento
em que te confias à minha fragilidade e pobreza…
quero ser terra disponível onde
germine a tua presença e floresça em gestos de bondade,
quero aceitar a tua Vida, viver
de Ti, para me tornar um manancial de fecundidade…
quero provar o teu pão para me
tornar alimento de esperança e da alegria do Evangelho!
Viver a Palavra
Vou olhar a
Eucaristia, com o desafio de deixar transformar a minha vida, como a de Jesus,
em dom.
Assinar:
Postagens (Atom)