quinta-feira, 28 de junho de 2012

XIII Domingo Comum B

Naquele tempo, depois de Jesus ter atravessado de barco para a outra margem do lago, reuniu-se uma grande multidão à sua volta, e Ele deteve-se à beira-mar. Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Ao ver Jesus, caiu a seus pés e suplicou-Lhe com insistência: «A minha filha está a morrer. Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva». Jesus foi com ele, seguido por grande multidão, que O apertava de todos os lados. Ora, certa mulher que tinha um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de vários médicos e gastara todos os seus bens, sem ter obtido qualquer resultado, antes piorava cada vez mais, tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-Lhe por detrás no manto, dizendo consigo: «Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada». No mesmo instante estancou o fluxo de sangue e sentiu no seu corpo que estava curada da doença. Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo. Voltou-Se para a multidão e perguntou: «Quem tocou nas minhas vestes?». Os discípulos responderam-Lhe: «Vês a multidão que Te aperta e perguntas: ‘Quem Me tocou?’». Mas Jesus olhou em volta, para ver quem O tinha tocado. A mulher, assustada e a tremer, por saber o que lhe tinha acontecido, veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade. Jesus respondeu-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou». Ainda Ele falava, quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?». Mas Jesus, ouvindo estas palavras, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; basta que tenhas fé». E não deixou que ninguém O acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga, Jesus encontrou grande alvoroço, com gente que chorava e gritava. Ao entrar, perguntou-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu; está a dormir». Riram-se d’Ele. Jesus, depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum», que significa: «Menina, Eu te ordeno: Levanta-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos. Ficaram todos muito maravilhados. Jesus recomendou-lhes insistentemente  que ninguém soubesse do caso e mandou dar de comer à menina.

Caros amigos e amigas, o Evangelho fala de duas histórias trágicas, nas quais Jesus entra não para explicar a dor e a morte, mas para mostrar o coração de Deus, amante e senhor da vida.

“Talita Kum”
O importante chefe da sinagoga, Jairo, num gesto de desespero e humildade, atira-se aos pés do Mestre e, com insistência, pede-lhe que lhe cure a filha. Acto de fé ou de aflição? Não sei, mas bem-aventurados são todos os Jairos desta terra que intercedem e perturbam continuamente o Senhor por causa tua e minha! Que incomodam o Criador até que ele entre na nossa casa, na nossa vida, mudando-lhe o rumo.
Cada um de nós é aquela jovem, na casa das lágrimas, que Jesus pega pela mão dizendo: Talita Kum! Levanta-te! Atreve-te a acreditar e a esperar! Acorda a vida adormecida que há em ti! Retoma a descoberta do amor e a alegria de viver! Cada dia é dia de Páscoa, de ressurreição!

“Tocar nas suas vestes”
A mulher, sem nome nem títulos, aproxima-se no meio da multidão de Jesus apenas para “roubar” o milagre, esperando que ninguém a veja tocar as vestes da graça. Há 12 anos que se esvaía em sangue e em solidão. Na verdade, tantos se aproximam, mas só ela lhe toca o coração. E aquela que sofria da hemorragia social e sentimental, despida das carícias humanas, é curada por um toque! É no calor de um gesto que Jesus “rouba” o estéril anonimato à mulher e a enche de esperança. Agora é filha, pessoa amada e tocada, moldada novamente do barro frágil e ressuscitada para uma vida nova.

Um Deus apaixonado pela vida
Duas pessoas, duas condições e dois modos diferentes de se aproximar de Jesus: uma proclama abertamente a sua fé; a outra manifesta uma fé silenciosa. No fundo ambas estão unidas pela confiança de colocar a vida nas mãos de Jesus. E isso para Deus basta. Bastam os nossos fragmentos frágeis de fé para que o seu coração vibre. E quando pensarmos que tudo acabou, Ele nos sussurrará: o teu coração não morreu, apenas dorme! Porque a vida não morre, apenas adormece. O encanto não morre, apenas entorpece. Para Deus a morte é uma ilusão, nunca a realidade! Muito em nós dorme, se esvai em anonimato e desfalece a vida. Mas porque o amor não conhece limites, Deus é capaz de atravessar o limiar do sono e da morte para, com o seu instinto de vida, nos repetir: Filho meu, levanta-te! Levantemo-nos, caros amigos e amigas, porque o amor não foi criado para morrer, mas para viver! E isso é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou descobrir formas corajosas de tocar em Jesus e nos irmãos, para que a corrente de amor não se parta.

REZAR A PALAVRA
Louvo-Te, Senhor porque Tu és um Deus misturado com a obra das tuas mãos.
Tu não és um distante e a tua criação não é operação por controle remoto…
Tudo está embebido da Tua presença; basta estender a mão para auferir o teu toque!
A brutal hemorragia do teu amor, estancou o derramamento da nossa esperança!
Senhor, socorre esta humanidade, campo onde a morte disputa com a vida.
E hoje espero-te para aceitar que me levantes, quero viver a tua vida, caminhar
no teu movimento e acompanhar-te na tua peregrinação pelo sofrimento humano.

terça-feira, 26 de junho de 2012

100% alegria - Retiro JEF


"100% alegria foi o tema do retiro JEF que se realizou no Convento de Balsamão nos dias 23 e 24 de junho.
8 Jovens corajosos dos grupos de Freixo, Macedo, Bragança e Alfaião, fizeram um caminho de crescimento espiritual desde o medo até à alegria.
Dele fizeram parte momentos de oração, convívio, caminhada, formação, teatro, dança, silêncio, reflexão pessoal e compromisso.
Foi um tempo de graça, onde a alegria foi a bandeira e o Evangelho o barco que nos conduziu até à meta da felicidade verdadeira. Sabendo que o medo tem medo da alegria, aprendemos com Jesus a essência da verdadeira alegria e a necessidade de evangelizar com um sorriso.
Podes obter o material utilizado no retiro no Blog da JEF (http://jefsfrjs.blogspot.com/), assim como podes ver algumas das fotografias e vídeos no Facebook (http://www.facebook.com/juventudeeucaristicafranciscanada Juventude Eucarística Franciscana."




sexta-feira, 22 de junho de 2012

XII Domingo Comum B - S. João Batista


Naquele tempo, chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João». Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judeia se divulgaram estes factos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?». Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel». (Lc 1, 57-68.80)

Caros amigos e amigas, do silêncio de Zacarias e da esterilidade de Isabel nasce a última palavra profética da antiga Aliança e o percursor daquele que fecunda a vida.

Da mudez ao louvor
Desde que recebera a mensagem do anjo no templo Zacarias permanecera mudo. Ficara incrédulo e silencioso diante do surpreendente anúncio do nascimento de um filho, porque as leis da natureza já não o consentiam. Talvez tenha ficado mudo para, em silêncio, contemplar a acção de Deus, na sua família e na história do seu povo.
Zacarias só reencontra a sua voz quando se torna pai e lhe nasce o filho. Regressa à palavra só quando um novo amor o solta das fronteiras obsoletas e dos pensamentos arcaicos. Recomeça a falar quando a sua própria vida gera uma nova vida. Então inicia a louvar e a bendizer: Bendictus, que é a oração que a Igreja repete diariamente ao amanhecer. Zacarias reinicia a viver só quando a sua vida se abre ao dom!
Também nós reencontramos as palavras justas e boas quando nos tornamos pais, quando cuidamos e nos responsabilizamos pela vida, quando aprendemos a amar. A vida deixa de ser muda e silenciosa quando geramos um filho, um amigo, um irmão, um amor! De contrário as palavras tornam-se pedra, silêncio e aridez, que gelam e ensurdecem a vida.

Um nome grávido de futuro
A tradição hebraica, com o costume de impor o nome do pai ou de um antepassado, procurava assegurar nos bebés a continuidade com o passado. Ainda hoje o nome indica a pessoa, a pertença a uma família, a uma história. Define-nos! Contudo, João (=Deus abençoa) é um nome novo, estranho à tradição familiar. O seu nome não representa uma linhagem, mas um futuro inesperado. O filho de Zacarias e Isabel não terá o olhar voltado para o passado, mas estará fixo no futuro, naquele que há de vir.
Cada nascimento é um dom, uma dilatação do amor de Deus. Através do nosso nome, Deus não marca encontro connosco no passado, mas abre-nos para um futuro. A fé não consiste em perpetuar uma tradição, mas é uma relação a alimentar, uma aventura a percorrer, uma paixão a amar, um sonho a realizar!

“Quem virá a ser este menino?”
Todos os vizinhos ficaram admirados, bendizendo a Deus, com tão grande milagre realizado em Isabel e Zacarias. Depois de uma vida estéril ambos vêem o fruto de uma espera e de uma esperança.
A semente lançada à terra finalmente dá fruto! Tudo é estéril se o desejo de Deus não deixar em nós as suas pegadas. Quando Deus visita a nossa pobreza, o que era mudo torna-se voz! O imprevisível sonho de Deus é capaz de destruir a aridez vazia de um útero que não gera filhos e até a árvore mais velha do nosso coração, mesmo que seca, torna-se ainda capaz de dar fruto. Acreditar é deixar Deus irrigar a secura dos nossos velhos hábitos e palavras, é acolher o Espírito na nossa vida e viver com alegria o nome novo com que Deus nos chama e nos ama. Assim, caros amigos e amigas, nos preparamos à novidade do Evangelho.
VIVER A PALAVRA
O Senhor tem para mim uma missão! Quero traduzir, na minha vida, a Sua proposta de fidelidade.


REZAR A PALAVRA
Senhor, nada sai ao acaso das Tuas mãos,
ensinas a Palavra pelo silêncio, exaltas na humildade, preenches o vazio!
Senhor, Deus de amor, de esperança, de luz,
envias instrumentos, mensageiros, profetas, soldados da paz e do bem
que me ensinam o Teu amor, mostram a Tua luz e ecoam a Tua Palavra.
És bom, Senhor! Senhor da história, do tempo e do meu crescimento!

quinta-feira, 14 de junho de 2012

XI Domingo Comum B


Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos. (Mc 4, 26-34)

Caros amigos e amigas, as parábolas do reino servem-se de uma “teologia dos meios pobres” para ajudar a entender o mistério de Deus. Hoje, o Evangelho fala-nos da vida que como semente nasce nua, pequena, indefesa… Mas, ao mesmo tempo, revela a força secreta de um tesouro maior.

“O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra”
Nada há mais frágil no mundo do que uma semente e, no entanto, nada há de mais repleto de futuro. Esquecida num terreno, sem grandes sinais exteriores e mesmo escondida, a semente tem o potencial de realizar milagres e prodígios.
Até parece que Deus não tem pressa: tudo procede lentamente como a germinação e os ritmos próprios da vida e das sementeiras. A parábola fala-nos de inícios que florescem na mão de Deus. Ele é o grande semeador e não teria atirado a semente se não estivesse confiante que, apesar de todos os obstáculos e riscos, aqueles grãos produziriam fruto. Jesus é a semente do Pai, núcleo incandescente de perfumes e frutos de primavera, força de amor, capaz de quebrar a crosta árida de corações ressequidos.
Mesmo pensando que Deus dorme, se encostarmos o ouvido ao coração da vida, ao pulsar do mundo, ouvimos como na noite da ressurreição o rolar profundo de pedras deslocadas, como o rodar da pedra do túmulo de Cristo, e ouvimos milhões de sementes que abrem, movem, e atravessam a fronteira da vida. O sorriso de uma criança, um gesto de perdão, um beijo de amor, uma prece de fé… são gérmenes, entre tantos outros, de uma vida nova. O reino de Deus cresce através do nosso invisível quotidiano!

“É como um grão de mostarda”
O grão de mostarda diz-nos que o Reino é feito de coisas simples, sem aparências nem grandes barulhos, sem preocupações de aplausos e imagens.
Podemos pedir milagres a Deus, que Ele oferecer-nos-á sempre um punhado de sementes. Sementes que mudam a vida por dentro, no essencial e fundamental, descurando retoques provisórios e externos. Porque mesmo a mais pequena semente possui a força secreta da verdade, da bondade e da beleza.
Também nós somos semente de Deus, a semente que o semeador lançou às mãos cheias para que a terra floresça. Mais ainda, tu és a semente que Deus colocou no campo da minha vida para que ela seja mais bela e frutuosa. E, neste encontro de sementes, muita sombra e muito fruto há para dar.

Sementes de ressurreição
Em vez de denunciar sempre a tristeza dos tempos, em vez de lamentar-se que a fé está em crise, em vez de ter saudades do passado,… ocorre cultivar uma confiança nova na força escondida dentro dos pobres e pequenos sinais do Reino. É que a nossa vida e a nossa história estão grávidas de ressurreição. Em vez de sempre nos escandalizarmos das ervas ruins, em vez de criticarmos os pregadores da desgraça, lancemos nós na nossa eira sementes que façam brotar a vida.
Pois tudo é um dom incompleto: o amor, as pessoas, as qualidades… Cada pessoa é semente de outra pessoa. O hoje é semente do amanhã. Tudo está em caminho: o rebento para a flor; a flor para o fruto; o fruto para a semente; e esta para a terra. E, nós mesmos, somos passos pequenos no caminho para Deus, doces frutos para os outros. Assim, caros amigos e amigas, se semeia de mãos abertas o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou confiar tanto no Senhor, ao ponto de esperar d’Ele o que nem consigo imaginar.

REZAR A PALAVRA

Admirável semeador, hoje encanta-me a simplicidade do teu inefável milagre!
Esse Teu olhar que forja sonhos de grandeza sobre a minha impotente pequenez;
Esse olhar que descobre possibilidades para lá da textura rude da minha aparência;
Esse olhar soberano que engendra vida, na manifesta secura das minhas horas.
Tu o agricultor mais ousado e mais paciente, o mais determinado e o mais tolerante:
Abandono-me às Tuas mãos... semear-me em Ti, crescer de Ti e frutificar para Ti.
Ser Tua semente e sementeira e semear também a riqueza com que me fecundas!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

X Domingo Comum


Naquele tempo, Jesus chegou a casa com os seus discípulos. E de novo acorreu tanta gente, que eles nem sequer podiam comer. Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter pois diziam: «Está fora de Si». Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios». Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se. E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode durar. Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido. Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa. Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado para sempre». Referia-Se aos que diziam: «Está possesso dum espírito impuro». Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura». Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?». E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe». (Mc 3, 20-35)

Caros amigos e amigas, há uma estranha aliança entre os familiares de Jesus e os escribas para bloquear a pregação do Evangelho. Contudo, o Mestre não se deixa aprisionar e abre caminhos novos, ao encontro da sua família que é a humanidade.

“Está fora de Si”
Todos o conheciam bem após 30 anos em Nazaré. Aprendera a profissão com o pai, José, homem de confiança. E as mulheres alegravam-se com Maria, sua mãe, quando se encontravam na fonte. Todos se recordavam das brincadeiras e traquinices do pequeno Jesus e se encantavam, com a sua presença interessada e atenta, na sinagoga. Juntos formavam uma família honrada e respeitada. Agora, sem dúvida, os seus parentes sofriam. Pobre José que lhe deixara a carpintaria para poder formar a própria família… Folias da juventude, terá exclamado algum vizinho. Maria, ainda que escondesse as penas, alimentava uma semente de confiança. O filho feito vagabundo, fora de si, anunciava um mundo ao contrário, diverso, com um Deus amigo e próximo, como um Pai!
Na verdade, toda a vida de Jesus se passa “fora”: nasce fora da própria aldeia, até mesmo fora de casa, e é visitado por Magos vindos de fora; morre crucificado fora das portas de Jerusalém e, na manhã de Páscoa, sai fora do sepulcro! Toda uma vida fora e, ao mesmo tempo, à procura dos que estão fora, dos que estão longe dos enquadramentos e parâmetros pré-estabelecidos.

“Está possesso de Belzebu”
Era inadmissível a atitude de Jesus e até perigosa. Advogado dos marginalizados, daqueles que não contam, simpatizante de prostitutas e gente de pouco respeito, sublevador de multidões… Uma vida que incomodava os poderosos e os bem pensantes. Daí a terrível acusação: possesso de um espírito demoníaco!
Todavia, “tudo será perdoado”. Consoladora e grávida de esperança a declaração de Jesus! Nada há de irremediavelmente perdido para o Senhor da vida, qualquer que seja o passado de pecado e de morte que tenha desfigurado a beleza original da nossa semelhança e familiaridade com Deus. O que não se perdoa é a perversão do significado dos milagres atribuindo a satanás o que é de Deus. Estranha doença da alma que nega o amor do Espírito, adulterando a fonte da vida, subvertendo a alegria da família em solidão.

“Quem fizer a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã, minha Mãe”
Admirável e bendita genealogia divina que, “passando o olhar para aqueles que estão à sua volta”, rompe fronteiras e constrói uma nova arquitectura do mundo. A família de Jesus é fruto do seu olhar de amor, da escuta da sua Palavra, da partilha do seu Pão, de uma vivência. Ser de casa! Ser dos seus! Não por tradição, mas por pender dos seus lábios, por alimentar-se da sua presença, por ampliar o coração à sua medida!
Jesus não faz um apelo à desagregação da família, mas convida à dilatação da família, mais ampla daquela de carne e de sangue, além dos limites da casa, dos laços familiares, sociais ou religiosos, multiplicando o coração, retribuindo em centenas de irmãos, porque em cada pessoa há um fragmento de Deus. A família de Jesus ultrapassa os nossos sonhos. Deus é sempre excessivo, exuberante, muito para além dos nossos pensamentos e sacristias, até da fragilidade da nossa vida. Porque se o amor não for excessivo não é amor! E a única resposta é o excesso de amor.
Caros amigos e amigas, acolher este Jesus que conhece portas abertas além dos laços que aprisionam, e indica oceanos vastos e horizontes infinitos, é abrir o coração à vastidão e beleza do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero entregar ao Senhor a integridade da minha vida, na obediência à Sua vontade.


REZAR A PALAVRA
Senhor, estás mesmo fora de Ti, porque aceitaste fazer parte de mim.
Arriscas vir ao encontro da minha débil entrega e fazer caminho comigo.
Senhor, estás fora de Ti, porque encarnas permanentemente na minha história.
Arriscas experimentar as vicissitudes do meu tempo e da minha estrada.
Quero fazer da minha vontade a Tua, do meu desejo o Teu.
Quero fazer parte de Ti, da Tua família, meu Senhor e meu Deus!