quinta-feira, 31 de maio de 2012

Santíssima Trindade B


Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».

Caros amigos e amigas, a festa de hoje fala de um Deus que é comunhão, relação, família: Pai, Filho e Espírito são os três protagonistas do único rosto de Deus. Este grande mistério do amor, sem termos a pretensão de o dominar ou explicar, é para acolher amorosamente.

Deus é família
Para uns, Deus é simplesmente algo de misterioso e sobrenatural. Para outros, é um velhote de barbas brancas sentado à janela do paraíso, distante e isolado do nosso mundo, quase um sem abrigo e sem família, que pede ao homem para o fazer sair da sua eterna solidão. Para outros ainda, é uma ilógica equação matemática (1+1+1=1). Porém, Deus não é uma definição, mas é vida, caminho, experiência. Deus não se explica, mas ama-se, reza-se, experimenta-se, vive-se.
Deus não é um abismo de solidão, mas é amor que não se fecha no segredo dos deuses. Deus é festa, família, dança, relação, dom. Por Jesus sabemos que o único rosto de Deus, o verbo amar, se declina em três pessoas. São três pessoas que se amam totalmente que, nós de fora, vemos apenas um, como se fosse um oceano de amor. Cada pessoa desaparece na outra. Só quando nos aproximamos é que experimentamos a diferença do Pai, do Filho e do Espírito.
Deus é comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existem e subsistem eternamente na doação recíproca e voluntária, numa comunhão perfeita e plena de vida e amor. Deus é, ao mesmo tempo, em si mesmo, Aquele que ama, o Amado e o Amor.

Paradoxo do amor
O amor tem uma aparente contradição: por amor, cada pessoa se dá e se perde, para se encontrar e realizar na outra pessoa. Deus Pai “esquece-se” e desaparece da sua glória divina para aparecer na fragilidade humana do Filho. O Filho “esquece-se” de si, na fragilidade de um Amor que se aniquilou até à Cruz, tal era o “fraquinho” do Amor de Deus por nós, para revelar o Pai. O Espírito “esquece-se” de si e esconde-se na brisa, para abraçar o Pai e o Filho.
Este é também o modo de ser de Deus para connosco: Ele morre para nos fazer viver; Ele apaga-se para nos fazer brilhar; Ele diminui-se para nos engrandecer; Ele oculta-se para nos fazer aparecer; Ele parte para nos dar o lugar; Ele afasta-se para nos responsabilizar. De Deus aprenderemos sempre a viver com os outros, para os outros e graças aos outros. É isso viver na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A dança do amor é sempre plural
O amor nunca é exclusivo, mas é sempre sem medida, ilimitado, multiplicativo. Amar é viver de Deus! É viver daquela relação que nos amou primeiro.
Ensinar a arte do amor, mostrar como o evangelho se torna vida, aprender que as pessoas não vivem sem as outras, ou contra as outras, ou acima das outras, mas que vivem com as outras, para as outras, vivificadas nas outras, é iniciar a compreender o mistério trinitário da família divina.
Caros amigos e amigas, vivei o amor, ensinai a amar, assim como se ensina uma arte que se conhece, uma estrada que abre novos horizontes, algo que já todos aprendemos porque já o recebemos de Deus. Porque isso é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou guardar um tempo especial da minha semana para contemplar e adorar o mistério da Trindade.

REZAR A PALAVRA

Deus Pai, fonte de amor, de onde amorosamente mana a minha existência,
dedico-te a interpretação da minha vida, na íntima canção de ser obra Tua!
Concede-me a consciência de que permaneço no regaço da Tua paternidade.

Deus Filho, plenitude onde se consuma a minha humana peregrinação,
recebe o caudal da minha entrega,e a imensa sede que te deseja e te procura.
És a bússola e o norte, mantém-me em rota, na turbulência dos espaços.

Deus Espírito Santo,segredo que me confirma e a minha identidade revela,
entrego-me ao teu desígnio, exponho-me à Tua admirável fecundidade.
Molda-me, oleiro divino, amassa-me, faz-me de novo, até à arte em que te revejas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pentecostes B


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando vier o Paráclito, que Eu vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio. Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar por agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há-de vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

Caros amigos e amigas, sem o Espírito o cristianismo é uma doutrina árida, a Igreja reduz-se a uma velha organização, a moral é incompreensível, a cruz é uma folia e Cristo é uma personagem do passado. O Espírito faz germinar em nós as sementes de ressurreição e abre caminhos novos de esperança. Viver do Pentecostes é viver embriagado da vida divina deitada prodigamente no nosso coração.

“Quando vier o Paráclito”
Os tribunais hebraicos tinham uma personagem que hoje não temos: quando era pronunciada uma sentença acontecia, por vezes, que um homem de reputação incontestada fosse, discreta e silenciosamente, colocar-se junto do acusado, para declarar-se a seu favor. A este depoimento mudo e eloquente, que confundia os acusadores, chamava-se o “paráclito”.
Entre as páginas do Evangelho encontramos também Jesus como paráclito da mulher acusada de adultério que, em silêncio, escreve com o dedo no chão. Agora, no regresso ao céu, o Mestre segreda aos apóstolos que vai enviar o Paráclito. Este permanece discretamente junto dos discípulos, como testemunha silenciosa da verdade. O Espírito é o dedo de Deus que, ainda hoje, escreve sobre o pó do nosso coração as palavras de uma aliança nova e grava na nossa vida um amor total que nunca poderá ser esquecido.

“Eu vos enviarei o Espírito da verdade”
Os apóstolos, apesar da convivência com Cristo, pouco tinham compreendido da sua mensagem. Só com o Espírito Santo, “grande mestre da Igreja” (Cirilo de Jerusalém), as palavras de Jesus se tornam luminosas. Ainda hoje, é Ele que nos faz penetrar no mistério de Cristo, nos abre a inteligência e nos faz arder o coração. É Ele que dá vida à Palavra, a torna vital e sensível, contemporânea aos nossos sonhos e dúvidas. Por ele, o Evangelho ecoa como novo, nos arrasta e seduz.
É o Espírito que constrói, sobre as pontes das nossas distâncias terrenas, relações de eternidade. Ele é como uma música que ressoa na história, em todos os tempos e em cada pessoa, abrindo para horizontes nunca antes explorados. Ele é a harmonia que faz bela a vida.

Genial artista interior
O Espírito Santo, o Eterno Esquecido, está sempre presente. Sem protagonismos ou vaidades, Ele escolhe a interioridade, lugar onde se fazem confidências, se cria comunhão, se sonha o futuro e se contempla silenciosamente o essencial. Em segredo, o Espírito Santo é sempre para o outro. Ele é o Amor em cada amor, a alma em cada vida, o ar de cada respiro, misterioso coração do mundo, êxtase de Deus, efusão ardente. O Espírito é doce carícia divina que deixa no nosso coração o dom maravilhoso da sua presença. Ali, no mais íntimo, onde a humanidade abraça a divindade, está o Espírito de Deus.
Quando tudo parecia estéril, aquele Espírito que tinha rolado a pedra do sepulcro e vencido a morte faz despontar nos apóstolos uma coragem e energia inesperadas. É, por vezes, difícil sair do nosso cenáculo e do lamento infértil. E o Espírito vem, humilde e decidido, mais forte do que o nosso desânimo, como vento que enche as velas da nossa vida, que dispersa as cinzas da morte e que difunde, por toda a parte, os pólenes da primavera da ressurreição.
O Evangelho não faz referência a Maria. Contudo, acredito que, com os cabelos já grisalhos e junto dos apóstolos, Ela sorria serenamente como se já conhecesse o rosto e o modo de agir do Espírito. No seu íntimo tinha experimentado a Sua presença e tinha visto dissipar-se, no silêncio, todas as perplexidades. Ela bem sabia que a semente colocada por Deus no coração dos apóstolos trazia dentro de si a força para desabrochar e dar vida. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou deixar o meu espírito permeável ao Espírito de Deus, nos critérios e nas opções.

REZAR A PALAVRA

É suave o que me segreda o amor, herança eterna que perpetua a presença.
É terno o que me toca, decidido, e vai conduzindo a história de um querer.
É doce o que me penetra de surpresa, colorido que extasia e desisntala.
Verdade que transforma, refúgio que protege, vida que fortalece,
abraço que consola, sabedoria que ilumina, bússola que conduz...
Tu és fogo, tu és amor... Vem Espírito Santo, Vem Espírito Santo!

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Ascensão B


Naquele tempo, Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.

Caros amigos e amigas, no regresso à casa do Pai, Jesus envia os discípulos a todo o mundo, insuflados pelo Espírito. A festa da Ascensão é, então, um convite a sermos profetas da esperança, testemunhas do amor, enamorados do Evangelho.

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho”
Os onze discípulos, assolados pelas dúvidas, são enviados a todo o mundo. A confiança do Mestre não dá importância às incertezas daquele punhado de homens e acredita, ainda hoje, em cada um de nós. Ele bem sabe que a missão não se baseia nas forças ou nas dúvidas dos discípulos, porque no coração da missão está o coração do Pai. O milagre do Evangelho é, então, prodigamente semeado nas sílabas da voz humana e nas frágeis mãos de cada pessoa. Jesus não deseja discípulos alienados com um estéril fixar dos céus, mas convida a voltar o olhar para o quotidiano, sementeira de milagres.
Deus arrisca, aposta, aventura-se! Ele confia a beleza da criação à nossa vida de barro, entrega a sua obra de amor à fragilidade do coração humano.

“O Senhor Jesus foi elevado ao Céu”
Jesus elevando-se da nossa terra – olhada, visitada e semeada ternamente por Deus – inaugura uma fraternidade universal, como uma seara verdejante a ondular ao vento suavíssimo do Espírito. O Mestre ousa sonhar em grande: a missão confiada tem a pretensão de totalidade, de eternidade, com sabor de infinito. A fé torna-se sempre um sair, um andar, um abrir-se, um pôr-se a caminho do mundo. Deus é para todos, é de todos. Ninguém pode sequestrar a salvação. Mergulhar tudo e todos em Deus; baptizar na beleza e novidade que se encontrou e conheceu; inundar a humanidade naquele oceano de amor, faz brotar a vida!
A partir da Ascensão, o discípulo torna-se uma pessoa de fronteira, é levado pelo Ressuscitado a superar o horizonte do umbigo egoísta. O outro torna-se um universo imenso para caminhar. O outro é o paraíso, a terra prometida. O outro, o irmão, é o lugar onde Deus se pode encontrar.

“O Senhor cooperava com eles”
No The end do Evangelho descobrimos que a promessa inicial de Deus – ser o Emanuel, o Deus connosco – se mantém. Ele não se satisfaz com visitas fortuitas, mas promete cooperar connosco todos os dias, dia após dia, de luz e de trevas, de presença e de silêncio. Jesus não assegura coisas, riquezas, comodismos; afiança antes uma presença, uma relação, uma companhia: eu estou sempre convosco! Nunca mais estaremos sós. Nunca mais um Deus distante, separado, esquecido no alto dos céus, mas amassado com a humanidade. Céu e terra reproduzidos, multiplicados e engendrados juntos.
Desta união o homem sairá recoberto de céu, porque o Filho se revestiu da humanidade. Em Jesus, as realidades celestes beijaram a terra e as realidades terrestres foram elevadas à intimidade de Deus. Maravilhosa missão que nos é confiada: criar laços com a eternidade, enamorar-se do céu, ser escada do paraíso. A nossa missão é simples: salvar um pedaço do céu na nossa vida e fazer nascer uma semente de éden no coração da humanidade.
Ainda hoje, Deus mete os seus passos nas pegadas do homem. Basta subir e descer a humanidade de Cristo para encontrar a bênção de Deus. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou partir em missão, lançado pelas mãos do Pai que me envia e me acompanha.

REZAR A PALAVRA
Senhor, perdoa-me as vezes em que lido contigo como com a imagem de um ausente!
Tu não me deixas entregue à sorte, enquanto te sentas na poltrona da eternidade;
Tu não me marcas um trabalho de digressão pelo mundo só para me entreter.
Senhor se não tivesses ficado aqui, na minha humanidade, nada me falaria de Ti;
Se não tivesses levado contigo a minha humanidade, nunca poderia falar de Ti.
Mas a Tua Palavra visita a minha escuta e a Tua Presença encontra a minha solidão...
Toma-me, envia-me, lança-me, acompanha-me, sê Tu em mim o milagre... acolhe-nos...

quinta-feira, 10 de maio de 2012

VI Domingo Páscoa B


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros». (Jo 15, 9-17)

Caros amigos e amigas, no Evangelho deste Domingo ecoa apenas uma única palavra repetida incansavelmente: amor, declinado em tantas formas! Cada frase deste Evangelho é um mundo que merece ser contemplado, meditado, saboreado. Cada expressão abre um horizonte de mistério, sublinhando que ali está a fonte e o essencial do cristianismo.

“Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei”
Hoje, o amor é um conceito algo enigmático, abusado e inflacionado. O amor é até uma realidade pouco poética: constata-se que é difícil amar! Todos conhecemos tantos contos de fadas que acabam mal…
Há uma teoria que afirma que a palavra amor é composta do “a” privativo (não) com a palavra “morte” (mors, mortis): o amor é a não-morte. Então, o amor é a vida, é aquilo que não morre, é o que permanece para sempre. O amor é aquilo que salva: só o amor nos faz viver e só por amor se pode viver.
Jesus confessa a fonte do seu amor: o Pai! Não se sente diminuído ao dizer que é fruto de um amor maior. Nós pelo contrário, cegos pela sede de aparecermos originais e de não dependermos de ninguém, esquecemos que a nossa felicidade depende sempre do amor de um outro maior do que nós.
O amor é sempre fruto de um enamoramento. O “amor é divina folia” (Platão). E esta é a essência do cristianismo: acolher o amor apaixonado de Deus! Diante de Deus nada temos a temer ou a esconder, mas devemos trazer aquela pitada de folia, de excesso, de desmedida, um pouco daquela irracionalidade que é própria do coração. Ocorre sermos pedintes do amor, mendigando a seiva da vida, deixando-se alcançar por aquele Amor que arrasta e repara as ruínas da existência, para frutificar.

“Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”
É este pequeno como que me perturba e me encosta à parede! Sim, mas é também este amar como Ele nos ama que me encanta e seduz, como fogo que queima, inquieta, aquece, ilumina, desacomoda, preenche, devora, orienta… Só o amor de Jesus é a medida de um amor sem medidas! Este amor é fonte e dom, maravilha de um contágio excessivo, que antecipa e provoca o nosso amor! Aquele “como” indica a qualidade do verdadeiro amor: desproporcional, gratuito e infinito.
O Deus invisível tornou-se visível nos gestos de amor de Jesus. O nosso amor é sempre a declinação, a tradução daquilo que Deus é: simples gota dum oceano, um instante da eternidade, um pedaço do Amor.
Amar os outros requer cumplicidade. Não se ama a humanidade desconhecida, mas os próximos mais próximos, a começar pela família, amigos, colegas… “Amar” árvores e cães é até muito fácil…

“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos”
No Evangelho “amar” está traduzido tantas vezes com o verbo “dar”. Não se trata de uma emoção ou sentimento, mas um dar ao alcance das mãos, de pão, de água, de vestes, de tempo dado, de portas atravessadas, de pó das estradas… “porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes (Mt 25, 34 -40).
Amar não é só a vaga paixoneta adolescente, com perfume a violetas e juras eternas. É principalmente a vida real e concreta, a dança do cansaço e da paixão, o beijo da fidelidade e da dádiva esquecida. Pois, como diz o poeta, “se o nosso coração não arder de amor, o mundo morrerá de frio”. Então, caros amigos e amigas, experimentai o amor! Arriscai a amizade! E incendiai o vosso mundo com o ardor do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero acolher a graça do convite do Senhor e permanecer no mandamento da comunhão.


REZAR A PALAVRA
Senhor! Propões-me um caminho de comunhão, um crescimento contínuo
na intimidade contigo. Desejo abraçar-me a Ti, sem que nada nos separe
e permanecer nesse segredo que me constrói e me insufla de alegria completa.
Senhor! Propões-me uma estrada de entrega, onde a amizade é a bandeira
do serviço incondicional. Desejo abraçar-e a Ti, sem que nada nos separe
e permanecer neste segredo que me fascina, permanecer no Teu amor.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

V Domingo Páscoa B

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos». (Jo 15, 1-8)

Caros amigos e amigas, de modo apaixonado, Jesus usa palavras simples, claras, iluminantes, e serve-se de exemplos quotidianos para nos revelar a imensa beleza da vida divina que parte do Pai, passa pelo coração do Filho e chega até nós para dar fruto, como a seiva na videira.

“Eu sou a videira, vós sois os ramos”
Dos trabalhos no campo, é na vinha que o lavrador investe mais amor e poesia, paciência e inteligência, paixão e preocupação. Hoje, Jesus diz-nos que também nós somos vinha do Senhor: Ele é a videira e nós somos os ramos prontos a dar o vinho da sua alegria! Todos existimos pelo mesmo amor que irriga a todos. Maravilhosa vida interior que nos coloca entre Deus e os outros, nesta relação e circulação íntima. E admirável paciência divina neste encadeamento de esperança e de frutos. Misteriosamente, desde as raízes do mundo, através do tronco dos séculos, Deus chega a todos os ramos, como potência e energia, como milagre que faz desabrochar o amor, qual néctar delicioso e perfumado que inebria a existência. E se nos desligarmos da videira sabemos que morreremos, por deixarmos de receber e de dar amor. Ser ramo é ser elo e mistério de comunhão.


“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós”
Porque desafia o tempo, as incertezas e as agruras da vida, o amor não é uma experiência de um momento ou é algo intermitente, descontínuo, esporádico, mas é relação paciente que se faz história. O que permanece à superfície seca e morre, porque não saboreia a embriaguez do canto ou a intensidade do silêncio. Mesmo se a vida é feita de coisas externas e supérfluas, a felicidade reside na vitalidade interna, na fecundidade, ali onde nascem e correm os sorrisos e as lágrimas, a dor e o amor. Permanecer é então ter tempo, saborear, demorar, habitar, aprofundar raízes. Não ao lado, nem perto, mas dentro. Permanecer em é ser enxertado bem no meio, tal como profunda, íntima e vital é a comunhão do ramo na videira. E Deus permanece em nós, não como uma voz que vem de fora, mas como fonte de vida. Deus vive dentro do coração humano: é o seu sangue, a sua alma. Permanecer em (em Cristo, no seu amor, na sua palavra) é basilar para permanecer com (os irmãos numa vida comum). 


“A glória de meu Pai é que deis muito fruto” 
A glória de Deus reside nos pequenos ramos, capazes de uma riqueza de cachos amadurecidos pelo sol e de bagos de mel. A sua glória é dar muito fruto como se a nossa única vocação fosse a fecundidade. Não interessam a Deus os números dos defeitos ou dos pecados, mas sim os cestos cheios de fruta, os cabazes de alegria e de brilho, os açafates de pão partilhado e de lágrimas enxugadas, os cestos de palavras e de gestos que alimentam de doce sabor a vida! Deus gloria-se na fecundidade de frutos novos e de gestos de esperança que antes não existiam, enaltece-se na criatividade de encontros e de sorrisos que podam solidões e desânimos, glorifica-se na entrega de si mesmo que sacia anseios e fomes. O sonho de Deus, bem como a nossa felicidade, não é a poda ou o desbaste, mas é o fruto abundante e multiplicado, a dilatação de mais vida, a participação na seiva vital divina, deixando circular nas nossas veias a linfa da vida de Cristo. Dar fruto é sentir, no nosso coração, o pulsar do amor de Deus, até podermos dizer: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (S. Paulo). Assim, caros amigos e amigas, se vive o Evangelho.

VIVER A PALAVRA 
Vou encontrar estratégias para permanecer unido a Cristo.

REZAR A PALAVRA
Senhor, que importa dizer que te pertenço e que venero as letras do Teu Nome?
Que importa adornar-me de palavras e incensar uma ideia da Tua Pessoa distante?
Que importa permanecer em certezas (minhas) e podar pecados (dos outros)?
Importa que a Tua vida me corra nas veias, que o Teu coração seja a minha nascente!
Importa que a agricultura do amor se faça e que a Tua Palavra circule nos meus gestos…
Importa que floresça da Tua fecunda alegria e os frutos que produza tragam a tua marca!
Importa que viva de Ti, em Ti e por Ti! Importa que ame, e que permaneça no Amor!