Naquele
tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que
Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus
aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e
ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco
até ao fim dos tempos».
Caros amigos e amigas, a festa de
hoje fala de um Deus que é comunhão, relação, família: Pai, Filho e Espírito
são os três protagonistas do único rosto de Deus. Este grande mistério do amor,
sem termos a pretensão de o dominar ou explicar, é para acolher amorosamente.
Deus é família
Para
uns, Deus é simplesmente algo de misterioso e sobrenatural. Para outros, é um
velhote de barbas brancas sentado à janela do paraíso, distante e isolado do
nosso mundo, quase um sem abrigo e sem família, que
pede ao homem para o fazer sair da sua eterna solidão. Para outros ainda,
é uma ilógica equação matemática (1+1+1=1). Porém, Deus não é uma definição,
mas é vida, caminho, experiência. Deus não se explica, mas ama-se, reza-se,
experimenta-se, vive-se.
Deus não é um abismo de solidão, mas é amor que não se fecha no segredo dos
deuses. Deus é
festa, família, dança, relação, dom. Por Jesus sabemos que o único rosto de
Deus, o verbo amar, se declina em três pessoas. São três pessoas que se amam
totalmente que, nós de fora, vemos apenas um, como se fosse um oceano de amor.
Cada pessoa desaparece na outra. Só quando nos aproximamos é que experimentamos
a diferença do Pai, do Filho e do Espírito.
Deus é
comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existem e
subsistem eternamente na doação recíproca e voluntária, numa comunhão perfeita
e plena de vida e amor. Deus é, ao mesmo tempo, em si mesmo, Aquele que ama, o
Amado e o Amor.
Paradoxo do amor
O amor
tem uma aparente contradição: por amor, cada pessoa se dá e se perde, para se
encontrar e realizar na outra pessoa. Deus Pai “esquece-se” e desaparece da sua
glória divina para aparecer na fragilidade humana do Filho. O Filho
“esquece-se” de si, na fragilidade de um Amor que se aniquilou até à Cruz, tal
era o “fraquinho” do Amor de Deus por nós, para revelar o Pai. O Espírito
“esquece-se” de si e esconde-se na brisa, para abraçar o Pai e o Filho.
Este é
também o modo de ser de Deus para connosco: Ele morre para nos fazer viver; Ele
apaga-se para nos fazer brilhar; Ele diminui-se para nos engrandecer; Ele
oculta-se para nos fazer aparecer; Ele parte para nos dar o lugar; Ele
afasta-se para nos responsabilizar. De Deus aprenderemos sempre a viver com os
outros, para os outros e graças aos outros. É isso viver na comunhão com o Pai,
o Filho e o Espírito Santo.
A dança do amor é sempre plural
O amor nunca
é exclusivo, mas é sempre sem medida, ilimitado, multiplicativo. Amar é viver
de Deus! É viver daquela relação que nos amou primeiro.
Ensinar
a arte do amor, mostrar como o evangelho se torna vida, aprender que as pessoas
não vivem sem as outras, ou contra as outras, ou acima das outras, mas que
vivem com as outras, para as outras, vivificadas nas outras, é iniciar a
compreender o mistério trinitário da família divina.
Caros
amigos e amigas, vivei o amor, ensinai a amar, assim como se ensina uma arte que
se conhece, uma estrada que abre novos
horizontes, algo que já todos aprendemos porque já o recebemos de Deus. Porque
isso é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou guardar um tempo especial da minha semana para
contemplar e adorar o mistério da Trindade.
REZAR A PALAVRA
Deus Pai, fonte de amor, de onde amorosamente mana a minha existência,
dedico-te a interpretação da
minha vida, na íntima canção de ser obra Tua!
Concede-me a consciência de que permaneço
no regaço da Tua paternidade.
Deus Filho, plenitude onde se
consuma a minha humana peregrinação,
recebe o caudal da minha
entrega,e a imensa sede que te deseja e te procura.
És a bússola e o norte, mantém-me
em rota, na turbulência dos espaços.
Deus Espírito Santo,segredo que
me confirma e a minha identidade revela,
entrego-me ao teu desígnio, exponho-me
à Tua admirável fecundidade.
Molda-me, oleiro divino, amassa-me, faz-me de novo,
até à arte em que te revejas.
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