quinta-feira, 26 de abril de 2012

IV Domingo Páscoa B

Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me, do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por isso o Pai Me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi este o mandamento que recebi de meu Pai». (Jo 10, 11-18)

Caros amigos e amigas, o Evangelho hoje apresenta-nos o “Bom e Belo Pastor”. A beleza do pastor não é a das estrelas de cinema, nem Ele é bom por ser mais doce do que os outros, mas simplesmente porque a coisa mais bela e boa da vida é o amor.

 “Eu sou o Bom Pastor” 
Talvez Jesus se tenha recordado das palavras de Deus pronunciadas pela boca do profeta Ezequiel: “Eu cuidarei das minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Eu apascentarei o meu rebanho, Eu o farei repousar. Hei-de procurar a ovelha que anda perdida e reconduzir a que anda tresmalhada. Tratarei a que estiver ferida, darei vigor à que andar enfraquecida e velarei pela gorda e vigorosa” (34, 11-16). Como pastor Jesus não vai à retaguarda lamentando-se da lentidão dos nossos passos ou dos saltos fora da estrada, mas caminha à frente, abrindo caminhos inesperados e inventado percursos de esperança. Precede-nos atraído mais pelo nosso futuro do que pelas quedas do passado. É o seu andar que seduz e encanta, convidando-nos a sair dos velhos recintos, dos rebanhos anónimos, dos desvios falhados, para ir ao encontro dos outros.

 “Conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me” 
São tantas e infinitas as vozes que enchem a nossa vida: conselhos, pareceres, comentários, boatos… que nos afogam no silêncio anónimo. Faltam vozes amigas e familiares que falam ao coração. De facto, os ouvidos ouvem, mas é o coração que escuta. Só o coração reconhece a voz do amado, só o coração ardente reconhece o Senhor ao partir do pão, só o coração de amor responde: “eis-me aqui”. Quando o bom Pastor chama fá-lo num modo eternamente apaixonado. Ele conhece nossa vida; recorda a nossa beleza mesmo quando não nos lembramos dela; sabe quais são as nossas quedas para, se necessário, levar-nos ao colo. O Pastor chama pelo simples nome, sem evocar função, autoridade ou atributo, abraçando simplesmente a nossa humanidade de filhos. Abraça-nos com a sua voz, fala sem atalhos ao coração, convida-nos a sair de tudo aquilo que rouba, saqueia ou é estranho à vida.

 “Dou a minha vida” 
Este é o segredo de Jesus, o tesouro escondido e o mistério revelado: Deus vem para dar vida! Dar a sua vida! Não apenas o indispensável, mas aquela vida exuberante, excessiva, bela, magnífica, exagero de vida. Deus dá sempre em demasia: cem vezes mais em irmãos; sobras imensas após saciar a multidão; água insípida transformada no melhor vinho de Canaã; ossos inanimados revigorados no paralítico; pedra do túmulo rolada em Lázaro; perfume esbanjado no perdão dos pecados, até à morte do Filho na cruz para salvar o escravo. O Amor é sempre excessivo, abundante, exagerado; de contrário não seria amor! Ser cristão é aprender de Jesus que a vida é dom; é descobrir que o sentido da vida é dar com abundância; é compreender que o segredo da felicidade depende do amor, da entrega e da relação com o pequeno rebanho confiado ao nosso coração. E Deus, com infinito amor, dá a eternidade ao que de mais belo e bom trouxermos no coração. E isso, caros amigos, é Evangelho!

 VIVER A PALAVRA 
Esforço-me por reconhecer e escutar a voz do Bom Pastor, no meio de tantos confusos ruídos.

 REZAR A PALAVRA 
Senhor, Bom Pastor, olha o meu passo perdido, neste campo sedento.
Senhor, Bom Pastor, escuta o silêncio do meu vazio, nesta busca de verdade.
Senhor, Bom Pastor, toca o coração duvidoso, com a luz do Teu Espírito.
Senhor, Bom Pastor, abraça cada lágrima de medo, com a certeza do amor.
Preciso de Ti, guia seguro, Tu me conheces...leva-me à fonte...
Conduz-me a verdes prados, onde, contigo, darei a Vida.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

III Domingo Páscoa B

Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas». (Lc 14, 35-48)


Caros amigos e caras amigas, o Evangelho de Emaús narra a peregrinação da nossa vida que oscila, tantas vezes, entre uma vida desiludida e um coração encantado. Caminhar com amigos e desconhecidos, partilhar as esperanças e as tristezas, descobrir o sentido profundo dos acontecimentos, dividir o pão da vida e deixar Deus acender-nos o coração é o grande tesouro de Emaús.

Do desespero até à fé
Os dois discípulos de Emaús caminham amargurados e decepcionados. Abandonam Jerusalém e ali deixam os sonhos e as esperanças Com o coração ainda acampado no calvário são incapazes de acolher a alegria transbordante da Páscoa. Enquanto caminham um desconhecido junta-se a eles. Quando tudo parece falir, Jesus faz-se companheiro de viagem, acolhendo as confidências, na partilha da vida, da palavra e do pão.
Quem de nós não se encontrou um dia sobre a estrada de Emaús, com o coração cheio de questões e de esperanças desiludidas? Quantas vezes não pensamos que o Senhor fica retido nos sacrários e que caminhamos sozinhos no mundo? Ainda hoje, quando sobre a nossa fé desce a noite, os passos de Jesus metem-se nos rastos da humanidade, dentro do pó da estrada, e ao ritmo do seu coração. O problema não é a ausência de Deus, mas é a incapacidade em reconhecê-lo; é a miopia que concentra tudo sobre nós próprios, sobre os nossos problemas.

Caminho de palavra e de pão
Caminhar juntos permite desfolhar as páginas densas da vida com um novo significado. Se a palavra amiga muda o coração, o pão partilhado muda o olhar dos discípulos que reconhecem Jesus no partir do pão. É este o seu estilo; é este o sinal da sua presença como corpo partido e dado, vida doada para alimentar a vida.
Todo o caminho de Emaús é uma liturgia de esperança: faz descobrir o fio de ouro dentro das malhas do mundo; revela a presença silenciosa e escondida de quem nunca nos abandona; é capaz de despertar o dom de um coração aceso, apto a ver o amigo. Emaús obriga a repartir, como se a noite já não fosse noite. O triste caminhar torna-se então alegre corrida com o sol dentro da vida: não há mais noite, nem cansaço, nem tristeza.

“Não ardia cá dentro o nosso coração?”
Esta é a eterna interrogação do homem. Na verdade, desde a saída de Jerusalém até ao regresso, não mudam os factos ou as palavras, muda é o coração dos discípulos. Para reconhecer Jesus não basta conhecer as Escrituras, não basta caminhar com o outro, não basta repetir mecanicamente os gestos da última ceia, se em tudo faltar o ardor do amor. Sem amor é impossível ver Jesus e o outro. Só o amor conhece! Só amor vê e encontra!
É sobre Jesus que os dois discípulos falam; é por causa dele que estão desiludidos e desconsolados. Mas só quando Ele lhes fala, é que arde o coração. Só uma vida acesa, na partilha dos irmãos, é capaz de incendiar as trevas e desilusões. Ter um coração ardente é o dom precioso de Emaús! E isso, caros amigos, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou contar tudo quanto Deus faz acontecer em mim e como O reconheço ao partir do Pão.

REZAR A PALAVRA
Senhor, na secura dos sinais, no emaranhado de tantas vozes, vem
agasalha a minha fé e lubrifica o meu entendimento e reconhecer-Te-ei!
Diante das evidências sem sentido, ante recordações sem conteúdo, vem
acolhe-me à mesa, introduz-me na Tua ferida que me sara e experimentar-Te-ei!
Nos abrolhos de uma missão dura, perante o temor e a fragilidade, vem
sopra sobre mim o Teu Espírito, mergulha-me na Ressurreição e anunciar-Te-ei!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Vocação!


Oração
pelas Vocações

Senhor da messe e pastor do rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos
o teu forte e suave convite: “Vem e segue-Me”!
Derrama sobre nós o teu Espírito:
que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir a tua voz.
Senhor, que a messe não se perca por falta de operários.
Desperta as nossas comunidades para a missão.
Ensina a nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino,
na vida consagrada e religiosa.
Senhor, que o rebanho não pereça por falta de pastores.
Sustenta a fidelidade dos nossos bispos,
padres e ministros.
Dá perseverança aos nossos seminaristas.
Desperta o coração dos nossos jovens
para o ministério pastoral na tua Igreja.
Senhor da messe e pastor do rebanho,
chama-nos para o serviço do teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder “sim”.
Ámen.

sábado, 14 de abril de 2012

Nas Asas da Nova Evangelização


O grupo JEF SerClave tem-nos habituado a perceber que é possível conciliar a aventura da música com a urgência da evangelização.

A missão “Nas asas da Nova Evangelização” foi o último projeto do grupo. Teve a sua origem no amor do Espírito de Deus na história, que ilumina e fortalece aqueles que se deixam guiar pela Sua criatividade e conselho. Voar pelo Atlântico até aos Açores para partilhar a alegria de cantar Cristo, foi sonho do Espírito na jovem Carolina Vieira que se tornou sonho SerClave. Acolhida a proposta, o grupo fez caminho concentrando alguns esforços neste projeto e organizando um roteiro missionário e musical para semear na ilha de S. Miguel uma chama de amor através da música sacra jovem. Foram contactos, procura de apoios, ensaios, pequenos milagres que foram fazendo caminho com o grupo e construíram a certeza de que não estamos sós neste mar de amor.

O roteiro iniciou com a celebração de envio no Paço Episcopal de Bragança, no dia 21 de março, presidida pelo Sr Bispo da Diocese, onde cada elemento recebeu um Kit para a viagem e as palavras de estímulo e de admiração por parte de D. José Cordeiro.

Já nos Açores (do dia 28 de março ao dia 04 de abril), o grupo seguiu o roteiro elaborado anteriormente, contemplando momentos de reflexão espiritual, relação com a comunidade, concertos, actividades pastorais e tempos de lazer no contacto com a deslumbrante riqueza natural.

Através dos momentos de formação e vivência espiritual, o grupo manteve firme a relação com Deus, que o caracteriza; experimentando a espiritualidade eucarística, mariana e franciscana que bebe do carisma das Servas Franciscanas Reparadoras.

O acolhimento da comunidade que recebeu o grupo (Povoação) foi indescritível. O grupo sentiu-se, totalmente, em casa. O contacto com as pessoas da terra, as suas aspirações, a riqueza das suas tradições, deu oportunidade ao grupo de realizar um trabalho de proximidade magnífico. Toda esta missão só foi possível, dado o grande esforço do grupo e o elevado apoio do povo dos Açores que, em muitos e pequenos gestos, construiu, com o grupo, este sonho.

Foram seis os concertos que o grupo realizou, três no concelho da Povoação: Igreja Matriz, Faial da Terra e Ribeira Quente; um no dia Mundial da Juventude em Santana e dois em Ponta Delgada: Igreja de Nossa Senhora de Fátima e Pavilhão do Mar (Portas do Mar). Como é habitual, o grupo proporcionou momentos de elevada qualidade musical, através da música sacra jovem e de uma relação muito positiva com o público que, em grande número, se fazia presente nos concertos.

Foi de especial importância a participação do grupo JEF SerClave na dinamização do Dia Mundial da Juventude, promovido pelo departamento da pastoral juvenil da diocese de Angra, através do concerto dado no início da tarde e da partilha reciproca de experiências entre os jovens dos Açores e o grupo vindo da Diocese de Bragança/Miranda. O grupo teve ainda oportunidade, ao longo da semana de missão, de visitar um centro de acolhimento de jovens e crianças com meio familiar desfavorecido e participar num tempo de partilha fraterna e caminhada com um grupo de jovens de Faial da Terra.

A beleza natural dos Açores fascinou e cativou o olhar dos SerClave. Houve tempo para contemplar o nascer do sol, visitar uma fábrica de chá, tomar contacto com várias tradições da ilha, nomeadamente os Romeiros que percorriam a ilha neste tempo da Quaresma, contemplar a beleza da união do mar com a costa dos Açores através da visita a vários miradouros, visitar a realidade da comunidade das Furnas e a sua riqueza natural, saborear os segredos gastronómicos da ilha e descobrir em cada detalhe as maravilhas da criação.

Foi um tempo de forte experiência fraterna. Uma pequena comunidade/família, que atravessa o Atlântico para cantar o amor que Deus deposita em nossos corações e só se realiza quando é partilhado.

Os SerClave, são uma família onde a música e o amor de Deus se encontram e fazem festa.

Ir. Maria da Conceição Borges

II Domingo Páscoa B

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome. (Jo 20, 19-31)

Caros amigos e amigas, “a incredulidade de Tomé foi mais útil para nós do que a fé dos discípulos que acreditaram” (S. Gregório Magno). Jesus convida-nos a entrar no seu coração ferido pelo amor para renascer numa vida nova, a passar da incredulidade ao êxtase da fé!

“Estando fechadas as portas da casa”
A tristeza e o medo de acabar como o Mestre aferrolha os discípulos. A memória da cobardia na noite da traição paralisa-os! No entanto, Jesus vem. Vem porque não se escandaliza nem se impressiona com os nossos medos e feridas. Ele entra apesar da dureza e lentidão do coração, apesar das resistências e obstáculos. O Ressuscitado não se detém diante da inércia lacrimosa ou da incredulidade, mas está atento às dúvidas dos seus amigos e vai à procura da ovelha perdida, no pequeno rebanho dos onze. É ali que se aproxima, estende a mão e oferece os sinais do amor crucificado, porque nesses sinais o amor imprimiu toda a sua história com o alfabeto das feridas.
Onde nós temos medo, Jesus vem para inundar-nos do sopro vital, alagando-nos de paz, fazendo-nos sair rumo ao outro.

“Se não vir o sinal dos cravos, se não meter a mão no seu lado, não acreditarei”
Como são pobres as nossas palavras que não conseguem testemunhar, dizer ou convencer alguém. Os primeiros discípulos vivem a incapacidade em transmitir a fé ao ausente Tomé. Este quer ouvir, ver, tocar Deus. Quer garantias e certezas mais do que teorias. Quer tocar aquela história de amor, aquela escolha de uma vida dada; quer acariciar com as próprias mãos a desmedida da paixão. Tomé não procura sinais gloriosos ou triunfais, mas os sinais vivos e abertos do amor.
Nas mãos de Tomé, ávidas em tocar, estão também as nossas mãos duvidosas, à procura de um sinal, de uma prova. Tomé é a voz e o rosto das nossas dúvidas, da nossa dificuldade em acreditar. Mais do que meter o dedo nas chagas de Cristo, Tomé mete o dedo nas chagas da nossa pobre fé. Esta nasce da presença e do encontro. Enquanto não formos abraçados e envolvidos no jogo de amor e de dor de Deus, não poderemos afirmar: eu creio Senhor!

“Meu Senhor e meu Deus”
Aquele “meu” tão pequeno muda tudo! Não indica um deus desconhecido, um deus da teologia ou dos livros, mas revela o Deus emaranhado e entrançado na vida. Aquele “meu” é experiência do Espírito, que rouba o coração e dilata a existência, tal como “o meu amado é para mim e eu sou para ele” (Cântico dos cânticos). Aquele “meu” é um brado de felicidade que brota do coração!
Para quem acredita a vida nem é mais fácil ou mais difícil, mais cómoda ou segura. Para o crente a vida torna-se mais cheia, apaixonante, ferida e vibrante, ferida e luminosa. Importante não é ter vivido com Cristo antes da sua morte, mas sim viver a vida que nasce da sua ressurreição! E isso, caros amigos, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero acolher do Coração do Ressuscitado a Vida que me faz mensagem do Seu Amor.

REZAR A PALAVRA
Senhor! Fechada pelas portas da dúvida e do medo, distante da comunhão,
quero acolher o dom da Tua presença permanente, que sopra o poder
do Espírito que dá vida nova e me lança, com audácia, na missão.
Quero ver as marcas, os sinais, do Teu amor na minha vida pálida,
quero escutar o apelo de Paz que semeias no meu coração inquieto,
quero fazer Páscoa contigo, Senhor, e acreditar que só Tu és:
Meu Senhor e Meu Deus!

sábado, 7 de abril de 2012

Domingo de Páscoa B



No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predilecto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.

Caros amigos e amigas, o Domingo de Páscoa é o feliz anúncio que Jesus Ressuscitou. E a Ressurreição é uma experiência de vida, de caminho, de abrir os olhos, de encontro inesperado.

“De manhãzinha, ainda escuro
É ainda escuro, principalmente no coração de Maria, quando cedo se dirige ao sepulcro. Tudo parece silencioso e quieto. Os perfumes e as flores, bem como as lágrimas no olhar, são a expressão do amor pelo Crucificado. Acordada pelo amor, ela vai ser testemunha de um mistério e de uma notícia: “Jesus não está onde o puseram”! Numa fracção de segundo a cena ganha vida, o fim torna-se início e, gradualmente, ela se apercebe que não é uma pedra que pode impedir o encontro com Aquele que abriu os céus para estar mais perto de nós. Nem será a morte a mortificar a Vida.
Amigos, não é fácil nem evidente acreditar na discreta e silenciosa ressurreição. Mais evidente é a crucifixão. O escuro e o medo dos discípulos é antecipam os nossos receios e os das nossas comunidades cristãs, bloqueadas em sexta-feira santa, acampadas no Calvário, sem ver a vitória do Ressuscitado para poder anunciá-lo.

“Corriam depressa”
Porque será que todos correm naquela manhã? Correm porque o amor tem pressa, não suporta demoras, nem atrasos de comunhão. A vida urge, preme, não espera. Também eu tenho que aprender a correr, abandonando a lentidão, os medos das quedas, as resignações de uma vida sem ressurreição nem Páscoa.
Diz o Evangelho que “o discípulo que Jesus amava” correu mais depressa, talvez porque como reza o ditado: “os justos caminham, os sábios correm, mas os enamorados voam”. É que a ressurreição lança a vida muito além, ali onde nada impede o caminhar, onde a vida é mais vida.

“Ver e acreditar”
No sepulcro vazio não se dão miraculosas revelações. Apenas existem poucos e pobres sinais: “ligaduras no chão e o sudário enrolado”. O discípulo que entrou depois de Pedro viu e acreditou, talvez lembrando-se do dia em que Jesus afirmara: “tendes olhos e não vedes”! Sim, os sinais da ressurreição estão debaixo dos nossos olhos diariamente, mas nem todos os vêem, porque pretendem que Deus apresente as suas credenciais divinas, que prove cientificamente que é Deus. E nós deixámos de nos encantar diante da flor que brota, da criança que temos nos braços, do gesto de perdão e gratidão… A fé é dom, mas corresponde-lhe o empenho de “ler” na própria vida os “sinais” dos seus passos e acolher o mistério em alegre humildade. E, então, descobriremos que não apenas ressuscitou, mas que vive junto a nós, caminha connosco, partilha das nossas alegrias e tristezas, nos é até mais íntimo do que nós mesmos. Nesses sinais, caros amigos e amigas, brota o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero encontrar na luz de cada manhã, a alegria de celebrar a minha vida na Vida de Jesus.

REZAR A PALAVRA
Senhor, ao celebrar a Tua Vida ressuscitada, celebro a festa do meu viver!
Desde aquela manhã de Páscoa que a Tua Luz vence a densidade de cada noite.
É esta manhã que convovca as minhas forças e incrementa todos os meus motivos.
É nesta manhã que se funda a minha esperança e em que navegam os meus sonhos.
É esta manhã que me traz a atmosfera da tua doce Presença e vital Palavra.
Eu te louvo, pois a força desta manhã me pode erguer de todos os meus desalentos.
Eu te louvo, Vivente, porque me desafias a pertencer à Vida e a ressuscitar no Amor.