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sábado, 19 de setembro de 2015

XXV Domingo Comum B


Evangelho segundo S. Marcos 9, 30-37
Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia. Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar. Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis no caminho?». Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».

Caros amigos e amigas, quantas vezes desconversamos perante Deus, face às exigências da missão que Ele nos confia! No Evangelho de hoje Jesus afronta uma delicada questão que sempre temos tendência em trazer à cena, as questões de precedências. Jesus elege o serviço e a simplicidade como critérios de grandeza.

Interpelações da Palavra
Tinham receio de o interrogar
Os discípulos sabem, por experiência, como é arriscado fazer perguntas a Jesus ou dar-lhe conselhos. Ele nunca lança propostas a meias medidas. Ele não condescende com a mediocridade do assim-assim. A Palavra de Jesus é tão acutilante que ainda hoje preferimos ficar com as nossas dúvidas engavetadas na ignorância e no pretexto da timidez do que confrontar-nos com uma resposta da parte de Jesus que sabemos que sempre nos comprometerá. Ainda hoje este receio de O interrogar nos embota o crescimento. Tememos que Jesus nos dê a lição da humildade. Tememos o que Ele nos possa pedir, vamos deixando fluir uma vida de fé morna, recitando um constante “logo se verá” que não quer fechar caminhos, mas não tem a ousadia de os rasgar.

O maior é aquele que mais ama
Tal como os discípulos, ainda hoje perdemos tanto tempo em discussões sobre precedências entre idades, estatutos, medalhas e borlas… Quantas vezes isto é causa de melindres, de amuos e de guerras, mesmo no seio da Igreja! Há um descaramento que herdámos destes apóstolos de Jesus continuando a gerir tão mal as nossas ambições! E o critério de Jesus é tão simples quando nos diz que o maior é aquele que mais serve. O nosso problema nem é tanto servir. Até servíamos sem parar, mas logo nos vem ao pensamento que aquele que mais serve não é aquele que tem mais aplausos, não é aquele que tem mais honras, não é aquele que é mais considerado. Os nossos lugares cimeiros são ocupados por gente engenhosa, capaz de passar por cima dos outros. Quantas vezes testemunhamos que aquele que mais serve parece ser o mais insensato, em frases como “não te mates muito porque ninguém te agradece!” Como entender a “importância” do serviço no escondimento? Há só uma forma de o entender e de saber que a Deus nunca é agradável o trabalho do escravo, do que luta por um agradecimento, porque o maior é aquele que mais ama e nunca se pode compreender um serviço sem amor. Sim, se amo, sou feliz a servir, porque o servir é uma expressão de amor.

Ter um coração de menino
Jesus senta-se, não fala de cima. Senta-se para que os amigos possam estar ao nível dos seus olhos e compreendam o que é disponibilizar um regaço para o pequeno. Talvez as chicotadas da vida, as traições dos outros, a consciência da fragilidade nos façam reagir de modo a sentir-nos maiores, capazes de resistir a embates. As manhas enferrujaram-nos a inocência, os vícios do calculismo instalaram-se, procuramos adestrar a defesa perante os outros. E Jesus revela-nos que o importante é sermos pequenos, capazes de receber o outro, desarmados, para que ele se sinta em casa, quando instalado no conforto do nosso coração. Precisamos de uma esperteza sim, mas não é a aprendida nas cartilhas da astúcia, é aquela que procura conquistar o Reino de Deus através de uma inocência que não é ingenuidade. Amigos e amigas, precisamos de pedir a Deus em cada manhã, com o pão de cada dia, aquela dose de inocência capaz de nos lubrificar a confiança, a tolerância, a misericórdia e o perdão. A engrenagem da Igreja fica perra, a sua caridade deixa de fluir se os nossos “interesses” bloqueiam a misericórdia, porque a misericórdia é o sumo do Evangelho!



Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, que caminhas para Jerusalém semeando bondade, tem piedade da minha mesquinhez.
Que quando procuro sobrepor-me aos outros sejas Tu o meu limite…
Senhor, Tu que não procuras ser servido mas servir, envolve-me na alegria da tua entrega.
Que quando procuro recompensas, Tu sejas o meu prémio.
Senhor, Tu que me lavas os pés, e carregas o peso da minha maldade, liberta-me do egoísmo.
Que quando procuro fugir à cruz e à morte, sejas a minha Ressurreição!

Viver a Palavra

Quero servir com alegria e optar pela liberdade de não esperar recompensas pela minha entrega.  

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

II Domingo Advento B


Evangelho segundo S. Marcos 1, 1-8
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram baptizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo»!».

Caros amigos e amigas, o Evangelho não é um livro, mas é uma pessoa, é Jesus Cristo. Ele é o alfabeto que nos descreve toda a beleza do coração de Deus.

Interpelações da Palavra
“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo”
Os princípios fazem-nos entrar numa história, no sonho de uma nova criação, na possibilidade de um milagre que nos alcança! Sim, para iniciar uma aventura é preciso partir de algo bom e belo, de uma feliz notícia, de uma esperança e de um evangelho! Seria impossível começar uma empresa sob a previsão de desastre, desanimados ou tristes. Só a alegria arrasta, só a beleza encanta, só a esperança cativa. “Iniciar do Evangelho” é literalmente iniciar da “alegre notícia” e não partir dos nossos pessimismos, medos, desesperos, pecados. É iniciar a partir da alegre notícia de Deus e da sua presença nos nossos desertos.
É Jesus o segredo escondido no Evangelho, é Ele a alegre mensagem de Deus que renova a vida. Os outros são sempre a boa e feliz notícia. São sempre as pessoas os Evangelhos que Deus coloca ao nosso lado, como salvação e bênção que nos acompanham! Sim, há tanta beleza disseminada, tantos rebentos de comunhão, tanta semente de Evangelho que diariamente floresce na nossa vida, como princípio de ressurreição!

“Uma voz clama no deserto”
Até parece que quando Deus intervém directamente na história evita os lugares importantes, os espaços sagrados bem como os seus altos representantes. Escolhe, pelo contrário, as pessoas de olhar simples, os montes desabrigados, os desertos inóspitos, os recantos das casas humildes. João Baptista, na aridez e secura do deserto, curvado pelo despojamento da vida, é o grito do Evangelho: sonha com ravinas preenchidas, colinas abaixadas, trilhos que conduzem ao encontro do Senhor! Ele é a voz que introduz o Evangelho, é a austeridade que inicia a abundância, é a penitência que anuncia a misericórdia, é o mensageiro que indica os passos do Mestre que vem ao nosso encontro, nos persegue e nos alcança!

“Vai chegar depois de mim”
João Baptista é o precursor, o que veio antes do Evangelho, preparar a terra prometida: Jesus. A sua voz ainda hoje ecoa nos desertos estéreis da nossa vida. Mas é uma voz que de joelhos, indigna de desatar as sandálias, nos faz tocar Deus. E assim faz repartir a vida!
A extraordinária graça de ser precursor permite acolher, dar gosto, indicar um caminho, propor a alegria, referir o outro sem fechar-se em si mesmo. Em João estava já em germinação o milagre do Evangelho. Depois dele, caros amigos e amigas, chega a força do Espírito, a encarnação do Evangelho: vem Jesus!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, no passo cansado do desespero, escuto a urgência da esperança,
que me conduz a acreditar na luz.
No passo perdido da solidão, escuto a serenidade do tempo,
que me lança na comunhão.
No passo mendigo da luta, escuto a essência de peregrino até ao encontro da meta.
Sou procura, sede e vazio, porque só em Ti repouso e só tu me preenches.
Vem, Senhor, habitar nesta tenda que clama a Tua paz…

Viver a Palavra

Vou trabalhar no meu coração o dom da esperança, traduzindo-a em atitudes frente às circunstâncias.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

V Domingo Páscoa A



Evangelho segundo S. João 14, 1-12
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não se perturbe o vosso coração. Se acreditais em Deus, acreditai também em Mim. Em casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse, Eu vos teria dito que vou preparar-vos um lugar? Quando eu for preparar-vos um lugar, virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também. Para onde Eu vou, conheceis o caminho». Disse-Lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais: como podemos conhecer o caminho?». Respondeu-lhe Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim. Se Me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. Mas desde agora já O conheceis e já O vistes». Disse-Lhe Filipe: «Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta». Respondeu-lhe Jesus: «Há tanto tempo que estou convosco e não Me conheces, Filipe? Quem Me vê, vê o Pai. Como podes tu dizer: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que Eu estou no Pai e o Pai está em Mim? As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio; mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras. Acreditai-Me: Eu estou no Pai e o Pai está em Mim; acreditai ao menos pelas minhas obras. Em verdade, em verdade vos digo: quem acredita em Mim fará também as obras que Eu faço e fará obras ainda maiores, porque Eu vou para o Pai».

Caros amigos e amigas, o Evangelho de hoje contém uma fórmula poderosa para os corações perturbados, um alento para as vidas à procura de rumo e de sentido… o Caminho, a Verdade e a Vida, com o artigo definido, é tudo o que precisamos para nos animar a existência. E nós sabemos como encontra-l’O… temo-l’O!

Interpelações da Palavra
Ser casa
A casa é o lugar onde a vida é mais verdadeira e íntima. A verdadeira casa, é o Coração do Pai, meta anunciada e preparada por Jesus. Ele bem se recordava da casa de Nazaré, das suas cores e perfumes, onde aprendeu os traços da humanidade e as alegrias familiares; da casa de Betânia, lugar da amizade e do repouso; das casas dos amigos, em súplica ou em festa; da casa do cenáculo onde, à volta da mesa, a Vida deu mais vida.
Ser discípulo de Jesus é fazer com que Deus seja presente na nossa casa e vida, é deixar-se acolher pelo amor paterno. Ser Igreja não é ser templo nem museu arqueológico, fechando Deus entre paredes frias e mortas. Ser Igreja é ser casa, ser família, onde se vive e celebra a vida! É estar com Aquele que serena o coração.

“Senhor, não sabemos para onde vais?”
Naquela tarde, Tomé dirige a Jesus o eco da pergunta mais radical da humanidade: para onde vais, Senhor? Qual é o destino da vida? A felicidade terá futuro? Imagino o rosto sorridente de Jesus enquanto repete por dez vezes a resposta: PAI! Porque só o Pai basta! É Ele o destino. É Ele que tem preparado um especial lugar de eternidade no seu coração. É Ele que anseia por cada um de nós. E não apenas amanhã, num futuro imprevisto, mas já agora. Jesus não nos fala de habitações que se prendem a lugares, não é de lugares que Jesus fala, mas de uma pessoa que em permanência nos acolhe.

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”

 E para ter acesso ao Pai não há um caminho… é também uma pessoa que se deve percorrer. É a pessoa que arrasta, fascina, encanta, não os conceitos, as ideias ou as “verdades” manipuladas. É Jesus que conduz mais além. Ele é caminho, companheiro de viagem que se estende aos nossos pés para nos conduzir à meta. Ele dá segurança aos passos, alivia a aspereza do terreno, abrevia a distância da casa paterna. É Ele o acesso cheio de vida e de verdade ao Pai. “Quem o vê, vê o Pai”. No rosto humano e visível de Jesus, está em filigrana o rosto invisível do Pai. É também nos nossos traços humanos que Deus se revela. Em cada pessoa existe um fragmento de Deus. A voz, o rosto, o respiro, o coração e os passos de Cristo estão ao alcance de todos, para que Deus possa caminhar junto de cada filho. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, aprendo contigo a iniciativa do Teu amor por mim.
És Tu quem preparas o espaço do encontro, és Tu quem desejas a aliança comigo,
És Tu quem espera a minha presença, és Tu quem acolhes o meu regresso,
És Tu quem chamas pelo meu nome, és Tu que Te dás incondicionalmente.
Queres-me contigo, levas-me no caminho, ofereces-me a Tua vida…
Tu, és Tu o primeiro, o único, a paz de todo o meu ser que aspira crer.

Viver a Palavra

Vou descobrir obras de Deus no caminho de cada dia, como reflexo da Sua presença.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

IV Domingo Comum C




Naquele tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?». Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.

Caros amigos e amigas, no Evangelho de hoje os habitantes de Nazaré passam facilmente do orgulho por aquele filho da terra emprestado ao mundo para a irritação e rejeição provocadas pelas suas palavras. Como muda rapidamente o coração da gente! Como é frágil e esquecida a fé!

“Não é este o filho de José?”
Naquele dia, a fama do jovem pregador chamara a atenção da aldeia. Mas, aos poucos, a admiração dá lugar à fúria, a maravilha à indignação. Mas quem pensa ser o filho do carpinteiro e de Maria? Como ousa propor como modelos de fé pessoas estrangeiras e pagãs? Poderá Deus ser melhor acolhido por viúvas e leprosos? Continua, ainda hoje, a tentação de aprisionar Deus no perímetro das nossas igrejas, de fechá-lo no gueto das nossas certezas e tradições. Contudo, Deus persiste em visitar as nossas Nazarés e nós ficamos escandalizados quando vemos que o Evangelho está confiado a tantas mãos frágeis e vidas de barro. Parece-nos inadmissível que Deus se faça pobre, simples, conhecido no dia-a-dia; é intolerável que fale através de alguém que não é sacerdote ou escriba instruído; é inaceitável que tenha as mãos marcadas pelo cansaço! Mas, na verdade, Deus não se serve de gente extraordinária, mas a sua presença imprevisível está no próximo, irmão, amigo ou estrangeiro. A palavra de Deus é declinada em palavras e vidas humanas, porque cada pessoa é profeta e mensageiro do infinito.

“Ninguém é profeta na sua terra”
Como os habitantes de Nazaré também nós deitamos fora os profetas, dissipamos os encantos de Deus, impedimos o esplendor da epifania do quotidiano, nivelamos tudo por baixo. E exigimos espectaculares aparições e prodígios, como os que se realizam na terra estrangeira.
Insistimos em não reconhecer os profetas de hoje, dos que moram junto da nossa porta. Não nos encantamos com a avalanche de milagres que acontecem diariamente, nem nos maravilhamos com os enormes gestos de gratidão, de perdão, de solidariedade, de profetas humildes de rosto concreto. Pelo contrário, temos ciúmes dos ritos da amizade e do amor quando estes não acontecem na nossa vida. Sentimos um fundo de ciúme, sinal da mordidela da serpente das origens, ciumenta dos dons de Deus. Ciúmes de morte como os de Caim pelo dom de Abel. E da inveja dos irmãos de José pela sua sabedoria e pela ternura particular do seu pai. Ciúmes que nos levam a expulsar Deus da cidade da nossa vida e a precipitá-lo no vazio do esquecimento.

“Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”
Seduz-me este Jesus livre que segue o seu caminho, porque o amor de Deus é livre e contraria os egoísmos. Encanta-me um Deus sem guetos nem fronteiras, que segue estradas inusuais e caminhos imprevistos. Fascina-me este nomadismo no Espírito, porque a pátria de Jesus é o mundo e, no seu Reino, o outro é sempre a terra prometida! De facto, a vida e a fé não mudam por causa dos milagres, mas pelos prodígios de um amor livre que nunca se rende.
A Deus não se trava nem se bloqueia, não se encaixilha num quadro como uma fotografia, nem se arruma como uma pagela no meio dum livro. Deus é mais vasto e grande do que os nossos pequenos horizontes pessoais! E só um dia, mais tarde, compreenderemos que toda a potência de Deus se manifestará na impotência da cruz. Ali veremos, caros amigos e amigas, a evidência do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou procurar conhecer melhor o irmão, para melhor acolher!

REZAR A PALAVRA
Senhor, a rotina de um conhecer superficial ofusca o brilho do caminho
e distancia-me da meta que busco e ousei um dia sonhar. Senhor, a falta
de novidade na minha adesão a ti, arrefece o fogo da fé e a certeza do mistério
do amor que um dia me fascinou. Senhor, abana as débeis certezas da minha lógica
e confunde a ténue inteligência do meu saber. Quero um coração vazio
 de palavras feitas e sedento da tua verdade, para te acolher. Vem!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Epifania do Senhor - C




Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor  entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.

Caros amigos e amigas Deus manifesta-se. A verdadeira sabedoria está em aplicar-se a procura-l’O para O adorar.

«Onde está o rei?»
No meio da anarquia que se faz sentir, não tanto no âmbito público, mas mais nas circunscrições domésticas do nosso interior, soa a pergunta: «onde está o rei?». Há sinais que O anunciam! E, o principal sinal, a verdadeira estrela, tantas vezes matinal, é a nossa perturbação. A perturbação de quem se sente ameaçado pelas falsas realezas. A perturbação de quem já não se ilude com o poder próprio. A perturbação de quem só se saberá descansado quando encontrar Deus, o verdadeiro Rei. A perturbação que traz grande alegria aos atentos.
«Onde está o Rei?» perguntam também, hoje, os sábios do nosso tempo quando indagam por Deus e O procuram de coração sincero. «Onde está o Rei?» perguntas tu, caro leitor, se O desejas a reinar nas tuas decisões, na tua vontade, na tua vida.

Viram o Menino e adoraram-n’O
Aos olhos que procuram, anteciparam-se os olhos procurados. Porque Deus quis ver com olhos de menino para que O vissem e O reconhecessem. Já antes se deixara divisar na voz dos profetas, mas agora mostra-se numa casa, ao lado duma Mãe, na fragilidade dum Menino. Ao vê-l’O, os Magos prostraram-se e adoraram-n’O primeiramente. Impunha-se que antes de oferecerem fosse o que fosse, se oferecessem a si mesmos. Neste atuar, os sábios do Oriente dão-nos o segredo para o nosso relacionamento com Deus. Há que enveredar pelo caminho da procura; há que seguir os sinais; há que deixar para trás os preconceitos; há que estar disponível para as surpresas de Deus; há que deixar-se ver, para O reconhecer pelo olhar; há que fazer a oblação de nós mesmos; há que seguir, no fim, por outro caminho.

Regressaram por outro caminho
Converter-se é mudar de rota. É o que fazem ainda hoje os sábios, que não moram necessariamente nos laboratórios das universidades, nas assinaturas dos best-sellers, nas casas do poder ou nos contratos milionários. Os sábios, se aí moram, é porque desses lugares fizeram o caminho da procura da Verdade e do encontro com Deus. E é o que basta para continuar por outro caminho. A conversão do coração passa pelo encontro com Deus, que se mostra em Jesus. É n’Ele que, como S. Paulo, vemos o Mistério revelado. O mistério de uma terra que não é de modo nenhum a menor, porque é engrandecida por Deus.
E aqui está a sabedoria! Deixar-se engrandecer pelo Deus que se faz peregrino com o homem, ao longo da sua história, para que o seu caminho seja sempre outro e a sua meta sempre o outro no Outro. Sim, porque só veremos bem os nossos contemporâneos quando os virmos iluminados pelo Deus que nos nasce e nos faz nascer com outro olhar. E isto, caros amigos e amigas, é Evangelho.


VIVER A PALAVRA
Quero que as minhas correrias do dia a dia, tenham como única meta o único Rei.

REZAR A PALAVRA
Senhor, Rei do meu coração, reconheço que nem sempre te dou a primazia na minha vida.
Reconheço as vezes em que os meus olhos se distraem, por horizontes onde sou eu o centro,
 as vezes em que os meus olhos se perdem em fogos fátuos, que não iluminam,
nem aquecem. E a Ti que quero procurar, Deus que tão solícito me procuras;
é a ti que quero confiar o ardor das minhas peregrinações.
A Ti quero dar o meu coração, a Ti que já o proveste de riquezas!