sexta-feira, 28 de outubro de 2011

XXXI DOMINGO COMUM A


Naquele tempo Jesus falou à multidão e aos discípulos, dizendo: «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus. Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens: alargam os filactérios e ampliam as borlas; gostam do primeiro lugar nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, das saudações nas praças públicas e que os tratem por ‘Mestres’. Vós, porém, não vos deixeis tratar por ‘Mestres’, porque um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos. Na terra não chameis a ninguém vosso ‘Pai’, porque um só é o vosso pai, o Pai celeste. Nem vos deixeis tratar por ‘Doutores’, porque um só é o vosso doutor, o Messias. Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado». (Mt 23, 1-12)

Caros amigos e amigas, torna-se tão fácil servirmo-nos de Deus, a pretexto de O servir! Contudo, Jesus traz-nos de volta ao regaço de Deus, aconchegando-nos aos irmãos.

“Eles dizem e não fazem”
Ressoam-me dentro estas palavras de fogo. Todos nós somos, num certo modo, “funcionários de Deus” ou “profissionais do sagrado”. Também nós sofremos da comodidade do fácil dizer e do nada fazer, alargando a infinita distância entre aquilo que se afirma e a própria vida. Ninguém está imune a esta incoerência e até S. Paulo alertava: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”. Como os escribas e fariseus, somos especialistas da lei de Deus, burocratas de normas que impomos pesadamente aos outros, mas analfabetos do coração, ignorantes da vida.
Por outro lado, é mais fácil denunciar, lamentar-se da crise, berrar contra as injustiças, propor receitas fáceis… Agir é aborrecido e incómodo. Até para mim é mais fácil digitar umas palavras no computador, imprimi-las em papel, que talvez alguém terá prazer em ler, mas que tantas vezes não se imprimem na vida. Deixar-se guiar pela Palavra de Deus são contas de outro rosário. A auto-estrada das aparências é mais cómoda do que os caminhos concretos do dia-a-dia.

“Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”
Contudo, enquanto nos descobrimos frágeis, incoerentes e pecadores, é-nos oferecido uma certeza: temos um só Pai, temos um único Mestre que nos guia e somos todos irmãos. Deus não é o patrão dos patrões, mas é o servo que em Jesus se ajoelha aos pés dos discípulos. Ele não é apenas o Senhor da vida, mas é o Servo de cada vida. Enquanto, os grandes desta terra fazem tronos, Deus cinge-se de uma toalha e deseja curar todas as feridas da terra. O Pai nunca exige nem obriga, mas cuida e ampara. Ele não reivindica direitos, mas responde às necessidades. O Pai revela-se nos filhos, o Mestre faz-se servo, o Cristo faz-se irmão, e como irmão torna-se o último. É este o estilo de Deus: pode quem serve; ganha quem se perde pelo outro; conquista quem ama. E nenhum amor é mestre a não ser Aquele que é o próprio Amor!

“Quem se exalta será humilhado e que se humilha será exaltado”
Este é o mundo novo, sempre sonhado por Deus, um mundo em que o maior é aquele que serve, sem títulos nem méritos, até à folia da cruz. Esta é a estrada em contramão escolhida por Cristo. Por isso, a repreensão que faz não é contra a nossa fraqueza, contra a distância entre o dizer e o fazer, mas contra os exibicionismos estéreis e o afirmar das aparências em vez de salientar o essencial. A dureza de Jesus é contra a hipocrisia, a vaidade, o poder. Ninguém é perfeito como Deus é perfeito, mas podemos caminhar rumo ao ideal com lealdade, com infinita paciência em recomeçar, com a coragem de repartir após cada queda.
Aos discípulos do Nazareno é pedido apenas uma vida centrada no único Mestre, nas suas palavras e acções, em segui-Lo com uma atitude madura, com uma paixão firme, com a verdade do coração, sem delegar nos outros as escolhas que dão sentido à vida, na descoberta de um Deus que é Pai. Isso, caros irmãos e irmãs, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero repousar na serenidade de saber que só Deus é Deus.

REZAR A PALAVRA
Pai, acolhe o meu silêncio
Que preparo como terra fértil para a semente da Tua humildade.
Ajuda-me a descobrir a valentia do serviço,
a riqueza da generosidade, a grandiosidade do altruísmo,
o desafio do abandono e a pureza do desprendimento.
Desejo imitar o teu coração manso e humilde,
atento e serviçal, justo e agradecido.
Eis o Teu servo, Senhor! Faça-se em mim...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

XXX DOMINGO COMUM A

Naquele tempo os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas». (Mt 22, 34-40)

Caros amigos e amigas, hoje, o evangelho fala-nos de uma realidade simples mas essencial: o amor. Acerca do amor sobra literatura, teorias e sentido. Jesus fala com a experiência do maior amor: dar a vida.

“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
Devemos agradecer ao Doutor da Lei que, mesmo querendo pôr à prova o Mestre, lhe fez uma pergunta fundamental: “qual é a coisa mais importante da vida?” poder-se-ia traduzir hoje. Ao que Jesus responde com o DNA divino que é também o essencial do peregrinar humano.

“Amarás a Deus… e amarás ao próximo”
Um amor nunca subtrai outro amor, porque o nosso coração funciona a várias vozes: o amor a Deus é a melodia principal, à volta do qual se podem cantar outros amores. Assim nasce a polifonia da existência (Bonhoffer).
A revolução de Jesus é afirmar que amar o próximo é semelhante a amar Deus: mesmo que amemos a Deus com todo o coração, ainda há espaço no coração para o marido, a esposa, o filho, o amigo, o próximo e, para os verdadeiros discípulos, até os inimigos. Deus não rouba o coração! Multiplica-o! Amar Deus não significa amar apenas a Deus, mas amá-lo sem mediocridade, sem cálculos nem traições. De facto, “quem não ama o irmão que vê, não pode amar a Deus que não vê” dirá o apóstolo João. O próximo tem um corpo, uma voz, um coração “semelhante” a Deus.
A novidade do cristianismo não é então o amor, porque tantos não declaradamente cristãos assim já fazem, mas é o amor como o de Cristo. As pessoas amam, mas o cristão ama do mesmo jeito de Cristo. O amor é Ele, quando lava os pés aos discípulos, quando chora pelo amigo morto, quando exulta com o perfume de Maria, quando se dirige ao traidor chamando-o amigo, quando reza por aqueles que o crucificam, quando se abeira dos desesperados de Emaús… “Amai-vos como eu vos amei”! Não quanto, mas como; não a quantidade, mas o estilo e a profundidade! Talvez seja impossível amar como Jesus, mas é possível seguir-lhe as pegadas, apanhar-lhe o gosto, receber as migalhas de sal e de luz para fermentar cada dia, com aquela medida desmedida, aquele excesso de abundância, que não rouba o coração mas que o amplifica, o aumenta, o expande até ao infinito.

“Amarás com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito”
Por três vezes Jesus repete o apelo à totalidade, quase ao impossível! Porque só Deus ama com todo o coração, Ele que é o próprio Amor. Um amor que não aspire ao horizonte máximo está minado à partida, traz em si um vírus, qual sanguessuga que rouba a alma e a vida.
Parece impossível mas toda a nossa vida cabe num verbo: “amarás”! É um verbo apresentado por Cristo não como uma obrigação, um seco imperativo, mas conjugado no futuro, porque o amor é uma acção nunca concluída, que durará para sempre, mesmo além da morte. Também porque o amor é um projecto, melhor, o único projecto, o único mandamento! E dentro dele está toda a paciência de Deus. É um futuro que aponta estradas e indica uma esperança: só o amor, caros amigos e amigas, é Evangelho!


VIVER A PALAVRA
Deixarei pautar a minha vida pelo amor incondicional a Deus e aos irmãos.

REZAR A PALAVRA
Como és grande, Senhor, como é totalizante o teu dom!
O teu amor enche toda a medida do meu coração retalhado,
a tua bondade acaricia todo o desejo da minha alma sedenta
a tua sapiência cobre toda a lacuna do meu espírito inquieto!
Senhor, quero experimentar-te na plenitude do teu dom;
quero prescindir de abrir-te frinchas e franquear-te a minha inteireza.
Ante a desarrumação dos meus cálculos dás-me a fórmula da minha síntese:
todo o coração, toda a alma, todo o espírito. Que tudo seja teu, através dos irmãos!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

XXIX DOMINGO COMUM A

Naquele tempo os fariseus reuniram-se para deliberar sobre a maneira de surpreender Jesus no que dissesse. Enviaram-Lhe alguns dos seus discípulos, juntamente com os herodianos, e disseram-Lhe: «Mestre, sabemos que és sincero e que ensinas, segundo a verdade, o caminho de Deus, sem Te deixares influenciar por ninguém, pois não fazes acepção de pessoas. Diz-nos o teu parecer: É lícito ou não pagar tributo a César?». Jesus, conhecendo a sua malícia, respondeu: «Porque Me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo». Eles apresentaram-Lhe um denário, e Jesus perguntou: «De quem é esta imagem e esta inscrição?». Eles responderam: «De César». Disse-lhes Jesus: «Então, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». (Mt 22, 15-21)

Caros amigos e amigas, hoje Mateus narra um diálogo entre Jesus e os fariseus que ficou famoso e proverbial: “a cada um o seu” comenta a sabedoria popular. Contudo, a profundidade da resposta Jesus ultrapassa a pergunta: não há comparação entre o débito aos “Césares” de hoje e o próprio Deus.

“É lícito pagar tributo a César ou não?
A pergunta matreira colocada pelos fariseus a Jesus é genial! É uma bela maçã envenenada. Num país ocupado por um invasor, a humilhação de pagar taxas ao imperador era insustentável. Se Jesus respondesse “sim, é lícito” seria considerado um traidor do seu povo e amigo do imperador romano que se identificava sendo Deus. Se respondesse que “não” seria culpado diante dos romanos, julgado e condenado. Numa ou noutra resposta Jesus estava encurralado. Mas sem papas na língua, sem ser abstracto ou filosófico, como nós faríamos em seu lugar, Jesus alarga a pergunta. Através de uma simples moeda, daquilo que se possui, o homem, tantas vezes hipócrita, é conduzido a uma resposta diferente.

“Dai a César… Dai a Deus…”
Pode parecer que Jesus diz “dá 50% a César e 50% a Deus, reparte por igual”. Mas, se estivermos atentos Jesus muda o verbo “pagar” no verbo “dar/devolver”. E usa um imperativo, como se fosse uma ordem, sem se referir a uma moeda, ou a um imperador ou a um imposto específico. Para o Mestre “dar” é uma atitude total: devolvei, dai de volta, restituí a César e a Deus, porque nada daquilo que tendes é verdadeiramente vosso! Na verdade, de nada somos donos ou senhores, porque tudo é dom, tudo é graça. A única atitude do horizonte cristão é o de devolver, dar, doar-se, infinitamente e incondicionalmente.
Estamos em débito para com Deus e os outros, pais e amigos, história, cultura, trabalho, educação. Mesmo no pão quotidiano está gravada a história de inumeráveis mãos e corações. A nossa vida é um tecido de débitos, um rosário de dádivas gratuitas. E há tanto amor a restituir, tanta instrução, amizade, esperança a devolver! A vida é, num encontro aberto, a síntese de duas alianças e dois amores, de dádivas e de débitos. E foi no alto da cruz que a reposta foi cunhada com a vida, assinada com o sangue.

Tributos de hoje
Na verdade é mais fácil cumprir com César do que com Deus. A relação com os “Césares” fica-se apenas numa relação exterior. No caso concreto, retribuído o imposto a César fica tudo resolvido. Não é necessária uma afinidade. Dar a César não nos relaciona com César. Mas, dar a Deus o que é de Deus implica uma relação directa que não acaba com a entrega de um tributo. Alguns crêem que Deus se contenta com exterioridades, esmolas e velas. Mas Ele deseja uma relação filial, como com o seu Filho Jesus, num diálogo, numa presença e numa partilha de vida.
Então que devolver a Deus? Bom, se César espera a moeda, Deus espera a pessoa, com todo o seu coração, a sua mente e as suas forças. Se a imagem de César está na moeda, a imagem de Deus está em nós. Para devolver só tenho a minha vida, fazendo brilhar a sua imagem gravada no coração, realizada como pessoa. Devolver a Deus é dizer que nós somos Dele e a Ele pertencemos!
“Dar a Deus” é não inscrever no coração atributos que não sejam de Deus. É descobrir a marca original do seu mistério, a grafia do milagre, a impressão digital do dedo criador, que em Jesus se fez visível. Só Ele, caros amigos e amigas, é Evangelho.

VIVER A PALAVRA
Quero subordinar todas as minhas motivações ao bem absoluto que é Deus!

REZAR A PALAVRA
Que queres de mim, Senhor? Que te poderei dar?
Trago nas mãos o pó da história e da rotina...
Carrego no corpo a cruz do abandono e do seguir...
E procuro a razão de amar como tu, na novidade e sem medida(s).
Desejo apenas surpreender-Te com o amor feito gesto,
O sorriso feito abraço incondicional,
E um olhar atento à tua medida, sem medida, de amor...

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

XXVIII DOMINGO COMUM A

Naquele tempo Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial. e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos». (Mt 22, 1-14)

Caras amigas e amigos, Mateus oferece-nos mais uma página extraordinária e desconcertante que revela o sonho de Deus e a fragilidade do homem. Ocorre converter a fé triste para descobrir a beleza e a alegria de ser povo de Deus.

“Vinde às bodas”
Tudo começa com um dom, um convite, uma oferta. No princípio não está uma obrigação, uma proibição, um lamento, nem está primeiro aquilo que posso fazer por Deus, mas aquilo que Deus faz por mim. Ele convida a humanidade para umas núpcias, à festa do prazer de viver, à convivialidade, à fecundidade da alegria. O encontro com Deus é sempre banquete, júbilo, dança, sorriso, beleza. Ele prepara um banquete para todos os povos. E preparar uma refeição para alguém significa amá-lo, significa dizer-lhe: “quero que tu vivas”! Até parece que Deus não pode ficar sozinho e por isso anda num êxodo permanente à nossa procura.

Desculpas de ontem e de hoje
O drama de Deus é encontrar a sala vazia, a orquestra sem música, os copos sem vinho. É um Deus de pão e de festa, mas de uma palavra que ninguém escuta, impotente perante o nosso coração anestesiado. Contudo, o seu sonho é a sala cheia de comensais e de vida. Por isso não se desencoraja e regressa com entusiasmo e decisão às ruas e aos cruzamentos da vida. E se para nós a rejeição é um obstáculo, para Ele é motivo para alargar o convite e dilatar o sonho. Deus nunca capitula e, se as casas se fecham, Ele então abre estradas, acrescenta nomes à lista dos convidados, inventa novas comunhões. Não precisa de servidores constrangidos, mas de quem o deixe ser servidor da vida.
Nós pensamos que só há lugar para os bons, os puros, os beatos, mas ficaremos admirados quando virmos que o paraíso não está cheio de santos, mas de pecadores perdoados, de gente como nós. Ocuparão os lugares os Zaqueus, os Mateus, as Marias Madalenas, os cegos de Siloé, os paralíticos de Cafarnaum, os samaritanos e as adúlteras perdoadas. Deus festejará com todos, bons e maus, as bodas do seu Filho com a humanidade. Se a humanidade soubesse a ambição que Deus nela deposita a festa não teria fim. Porque Deus não se merece, acolhe-se.

Revestir-se de Cristo
Tantas vezes, pensamos e vivemos a fé como se de um funeral se tratasse. É urgente passar de uma fé crucificada para uma fé ressuscitada.
O homem sem a veste nupcial talvez não acreditasse que seria possível sentar-se à mesa do festim do rei e, por isso, não trouxe o seu contributo de beleza nem a prenda da sua alegria. Participar da festa e do júbilo de Deus sem estar envolvido no seu Espírito é como estar num casamento em fato de banho ou na praia em vestido de noiva.
O traje a meter é Jesus Cristo; é Ele a alegria da festa da vida. Revestir-se dos seus sentimentos, adornar-se dos seus gestos, embelezar-se com as suas palavras, perfumar-se com o seu Espírito, cobrir-se com a sua presença é, caros amigos e amigas, o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero arquitectar um coração disponível, para acolher o convite do Senhor.

REZAR A PALAVRA
Divino anfitrião do banquete do amor e da vida...
Volta a convidar a minha insensibilidade, sem fome do teu Nome,
volta a aliciar o meu paladar, poluído por enredos sem sutento,
volta a falar-me ao coração, para desposar o meu tempo distraído,
volta a preparar-me a casa com o manjar exorbitante do teu amor,
costura as minhas hesitações, com o traje da tua Verdade e veste-me...
de autenticidade, de festa, de ardor... perante Ti, Senhor da minha vida, quero viver!

domingo, 2 de outubro de 2011

XXVII DOMINGO COMUM A

Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos». (mT 21, 33-43)

Caros amigos e amigas, a parábola trágica de hoje narra a história de um amor sem confins que não teme a ingratidão e o não acolhimento dos homens. Mesmo a maior traição é incapaz de parar o plano de Deus: a vinha dará fruto e Deus não desperdiçará a sua eternidade em vinganças.

“Havia um proprietário que plantou uma vinha…”
É assim que começa a história perene de um amor, a nobreza de alma do patrão, o cuidado apaixonado com que planta a vinha, o abraço com que a cerca, a fonte que nela faz jorrar. Todavia, começa também assim a história de uma traição, de uma violência estúpida de quem pensa apoderar-se da herança matando o herdeiro. Esta é a história de um Deus apaixonado e a história da humanidade com as suas infidelidades.
Somos nós o campo da predilecção de Deus, a vinha amada de mil cuidados e atenções. Mas também somos a sua desilusão quando nos fechamos na infertilidade do nosso terreno. E, no entanto, a parábola diz que Deus nos ama com um amor que nenhuma desilusão poderá apagar: Ele nada gasta em vinganças! O seu Reino é uma casa nova cuja pedra angular é Cristo, uma vinha cuja verdadeira vide é Cristo. Esta é a folia de Deus: dar-nos um lugar, um encontro, um tempo em Jesus.

Um Deus que não se cansa
Deus nunca se rende: o seu lamento não prevalece sobre a esperança. Como o vinhateiro recomeça, após cada rejeição, a assediar o nosso coração com novos profetas, novos servos, com o próprio Filho. E o fruto de amanhã conta mais do que a rejeição de ontem. Persistentemente, ainda hoje, continua um diálogo de amor: Ele bate à nossa porta nas pessoas que procuram pão, conforto, evangelho, amor. Ele vem naqueles que esperam do nosso campo um vinho de festa, um canto de alegria, um punhado de mais vida.

Dar fruto!
Se o fruto da vinha alegra o coração do homem, existe uma vinha cujos frutos alegram o coração de Deus. Não é a observância das regras, o sacrifício, o temor que rejubilam Deus, mas é fundamentalmente dar fruto! O sonho de Deus não é o pagamento de um tributo por parte dos trabalhadores, mas é uma vinha que não produza mais cachos de sangue ou uvas amargas de lágrimas, mas bagos cheios de luz e de sol.
No fim da parábola da vida, a vinha será dada a quem saberá encher de frutos o mundo. O mundo pertence a quem o torna melhor, a quem o faz florescer, a quem lhe faz amadurecer os cachos. Para isso veio Cristo, vide e vinho de festa. Sobre Ele nos enxertamos, Nele nos saciamos, Nele nos inebriamos, Nele amadurecemos, para assim encher as ânforas do mundo com o miraculoso vinho de Canaã. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
O serviço na vinha do Senhor pede-me um coração livre e enamorado, deslumbrado e fiel.

REZAR A PALAVRA
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
louvo-te porque precisas de mim na tua vinha,
mesmo sabendo que o meu servir é frágil.
Louvo-te porque lanças sinais de mudança no meu crescer,
mesmo sabendo que posso apedrejar a tua palavra.
Louvo-te porque me ensinas por Teu Filho,
mesmo sabendo que o cravo na cruz, sempre que rejeito a Tua vontade.
Senhor da vinha, do trabalho e do fruto,
torna as minhas mãos gratas e o meu coração sedento de Ti.

Bragança: Novo bispo pede «coragem» aos católicos

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