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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Santíssima Trindade B


Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n’O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».

Caros amigos e amigas, a festa de hoje fala de um Deus que é comunhão, relação, família: Pai, Filho e Espírito são os três protagonistas do único rosto de Deus. Este grande mistério do amor, sem termos a pretensão de o dominar ou explicar, é para acolher amorosamente.

Deus é família
Para uns, Deus é simplesmente algo de misterioso e sobrenatural. Para outros, é um velhote de barbas brancas sentado à janela do paraíso, distante e isolado do nosso mundo, quase um sem abrigo e sem família, que pede ao homem para o fazer sair da sua eterna solidão. Para outros ainda, é uma ilógica equação matemática (1+1+1=1). Porém, Deus não é uma definição, mas é vida, caminho, experiência. Deus não se explica, mas ama-se, reza-se, experimenta-se, vive-se.
Deus não é um abismo de solidão, mas é amor que não se fecha no segredo dos deuses. Deus é festa, família, dança, relação, dom. Por Jesus sabemos que o único rosto de Deus, o verbo amar, se declina em três pessoas. São três pessoas que se amam totalmente que, nós de fora, vemos apenas um, como se fosse um oceano de amor. Cada pessoa desaparece na outra. Só quando nos aproximamos é que experimentamos a diferença do Pai, do Filho e do Espírito.
Deus é comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existem e subsistem eternamente na doação recíproca e voluntária, numa comunhão perfeita e plena de vida e amor. Deus é, ao mesmo tempo, em si mesmo, Aquele que ama, o Amado e o Amor.

Paradoxo do amor
O amor tem uma aparente contradição: por amor, cada pessoa se dá e se perde, para se encontrar e realizar na outra pessoa. Deus Pai “esquece-se” e desaparece da sua glória divina para aparecer na fragilidade humana do Filho. O Filho “esquece-se” de si, na fragilidade de um Amor que se aniquilou até à Cruz, tal era o “fraquinho” do Amor de Deus por nós, para revelar o Pai. O Espírito “esquece-se” de si e esconde-se na brisa, para abraçar o Pai e o Filho.
Este é também o modo de ser de Deus para connosco: Ele morre para nos fazer viver; Ele apaga-se para nos fazer brilhar; Ele diminui-se para nos engrandecer; Ele oculta-se para nos fazer aparecer; Ele parte para nos dar o lugar; Ele afasta-se para nos responsabilizar. De Deus aprenderemos sempre a viver com os outros, para os outros e graças aos outros. É isso viver na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A dança do amor é sempre plural
O amor nunca é exclusivo, mas é sempre sem medida, ilimitado, multiplicativo. Amar é viver de Deus! É viver daquela relação que nos amou primeiro.
Ensinar a arte do amor, mostrar como o evangelho se torna vida, aprender que as pessoas não vivem sem as outras, ou contra as outras, ou acima das outras, mas que vivem com as outras, para as outras, vivificadas nas outras, é iniciar a compreender o mistério trinitário da família divina.
Caros amigos e amigas, vivei o amor, ensinai a amar, assim como se ensina uma arte que se conhece, uma estrada que abre novos horizontes, algo que já todos aprendemos porque já o recebemos de Deus. Porque isso é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou guardar um tempo especial da minha semana para contemplar e adorar o mistério da Trindade.

REZAR A PALAVRA

Deus Pai, fonte de amor, de onde amorosamente mana a minha existência,
dedico-te a interpretação da minha vida, na íntima canção de ser obra Tua!
Concede-me a consciência de que permaneço no regaço da Tua paternidade.

Deus Filho, plenitude onde se consuma a minha humana peregrinação,
recebe o caudal da minha entrega,e a imensa sede que te deseja e te procura.
És a bússola e o norte, mantém-me em rota, na turbulência dos espaços.

Deus Espírito Santo,segredo que me confirma e a minha identidade revela,
entrego-me ao teu desígnio, exponho-me à Tua admirável fecundidade.
Molda-me, oleiro divino, amassa-me, faz-me de novo, até à arte em que te revejas.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Pentecostes B


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Quando vier o Paráclito, que Eu vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim. E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio. Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis suportar por agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos conduzirá à verdade plena, porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há-de vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

Caros amigos e amigas, sem o Espírito o cristianismo é uma doutrina árida, a Igreja reduz-se a uma velha organização, a moral é incompreensível, a cruz é uma folia e Cristo é uma personagem do passado. O Espírito faz germinar em nós as sementes de ressurreição e abre caminhos novos de esperança. Viver do Pentecostes é viver embriagado da vida divina deitada prodigamente no nosso coração.

“Quando vier o Paráclito”
Os tribunais hebraicos tinham uma personagem que hoje não temos: quando era pronunciada uma sentença acontecia, por vezes, que um homem de reputação incontestada fosse, discreta e silenciosamente, colocar-se junto do acusado, para declarar-se a seu favor. A este depoimento mudo e eloquente, que confundia os acusadores, chamava-se o “paráclito”.
Entre as páginas do Evangelho encontramos também Jesus como paráclito da mulher acusada de adultério que, em silêncio, escreve com o dedo no chão. Agora, no regresso ao céu, o Mestre segreda aos apóstolos que vai enviar o Paráclito. Este permanece discretamente junto dos discípulos, como testemunha silenciosa da verdade. O Espírito é o dedo de Deus que, ainda hoje, escreve sobre o pó do nosso coração as palavras de uma aliança nova e grava na nossa vida um amor total que nunca poderá ser esquecido.

“Eu vos enviarei o Espírito da verdade”
Os apóstolos, apesar da convivência com Cristo, pouco tinham compreendido da sua mensagem. Só com o Espírito Santo, “grande mestre da Igreja” (Cirilo de Jerusalém), as palavras de Jesus se tornam luminosas. Ainda hoje, é Ele que nos faz penetrar no mistério de Cristo, nos abre a inteligência e nos faz arder o coração. É Ele que dá vida à Palavra, a torna vital e sensível, contemporânea aos nossos sonhos e dúvidas. Por ele, o Evangelho ecoa como novo, nos arrasta e seduz.
É o Espírito que constrói, sobre as pontes das nossas distâncias terrenas, relações de eternidade. Ele é como uma música que ressoa na história, em todos os tempos e em cada pessoa, abrindo para horizontes nunca antes explorados. Ele é a harmonia que faz bela a vida.

Genial artista interior
O Espírito Santo, o Eterno Esquecido, está sempre presente. Sem protagonismos ou vaidades, Ele escolhe a interioridade, lugar onde se fazem confidências, se cria comunhão, se sonha o futuro e se contempla silenciosamente o essencial. Em segredo, o Espírito Santo é sempre para o outro. Ele é o Amor em cada amor, a alma em cada vida, o ar de cada respiro, misterioso coração do mundo, êxtase de Deus, efusão ardente. O Espírito é doce carícia divina que deixa no nosso coração o dom maravilhoso da sua presença. Ali, no mais íntimo, onde a humanidade abraça a divindade, está o Espírito de Deus.
Quando tudo parecia estéril, aquele Espírito que tinha rolado a pedra do sepulcro e vencido a morte faz despontar nos apóstolos uma coragem e energia inesperadas. É, por vezes, difícil sair do nosso cenáculo e do lamento infértil. E o Espírito vem, humilde e decidido, mais forte do que o nosso desânimo, como vento que enche as velas da nossa vida, que dispersa as cinzas da morte e que difunde, por toda a parte, os pólenes da primavera da ressurreição.
O Evangelho não faz referência a Maria. Contudo, acredito que, com os cabelos já grisalhos e junto dos apóstolos, Ela sorria serenamente como se já conhecesse o rosto e o modo de agir do Espírito. No seu íntimo tinha experimentado a Sua presença e tinha visto dissipar-se, no silêncio, todas as perplexidades. Ela bem sabia que a semente colocada por Deus no coração dos apóstolos trazia dentro de si a força para desabrochar e dar vida. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou deixar o meu espírito permeável ao Espírito de Deus, nos critérios e nas opções.

REZAR A PALAVRA

É suave o que me segreda o amor, herança eterna que perpetua a presença.
É terno o que me toca, decidido, e vai conduzindo a história de um querer.
É doce o que me penetra de surpresa, colorido que extasia e desisntala.
Verdade que transforma, refúgio que protege, vida que fortalece,
abraço que consola, sabedoria que ilumina, bússola que conduz...
Tu és fogo, tu és amor... Vem Espírito Santo, Vem Espírito Santo!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Epifania B

Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho. (Mt 2, 1-12)

Caros amigos e amigas, deixar que o interrogante brilho de uma estrela fustigue o conforto das nossas certezas é um desafio tremendo que os Magos do Oriente hoje nos lançam. Não basta embalar-nos numa generosa dose de “bons” sentimentos. Para chegar a Deus há que peregrinar, prostrar-se e oferecer… tudo!

Vieram do oriente

Na Epifania celebramos a manifestação de Jesus a todos os povos e nações. Torna-se fácil pensarmos que esta manifestação é para os outros, esses pagãos, a quem bem sabemos diagnosticar a falta de fé, defeitos e carências espirituais. Mas há um vasto oriente a evangelizar dentro de nós, territórios que precisam urgentemente de serem irrigados pela Luz do Menino de Belém, é necessário levantar-nos do refastelamento de uma rotina acomodada e partir, para estreitar as distâncias que nos separam de Deus. Mas como saber o caminho? É preciso ter uns olhos atentos e disponíveis para dialogar com as estrelas que nos guiam até Deus. É preciso um coração sensível para nos deixar interpelar pelos sinais que Ele é pródigo em estender-nos.

Não é fácil o movimento de erguer os olhos. Temo-los presos às nossas comezinhas banalidades e instalados no nível mais confortável do horizonte. Não é por acaso que na liturgia, sobretudo neste tempo de Natal, surge frequente o convite a levantar-nos e a erguer os olhos! Ainda que ao primeiro impacto dolorosa, a Luz de Deus é a mais saciante experiência que podemos proporcionar à nossa capacidade de ver...

Prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O

Os magos dizem vir adorar, e também Herodes declara tal intenção, obviamente armadilhada. Mas onde está esse Herodes que se perturba com a perspetiva do nascimento de um Rei? Ainda procuramos um reino de coroas e de cetros, ainda pugnamos por ser o centro do universo. Desde Adão que pulula em nós esta tendência para competir com Deus, para desconfiar de Deus, para a loucura de admitirmos estar no lugar d’Ele. É esta a nossa desgraça. Adorar o Criador é a mais verdadeira e a mais libertadora atitude da criatura. Vale a pena dedicar-nos a procurar a omnipotência desconcertante deste Deus que nos procura até ao ponto de se manifestar na fragilidade de uma criança! Os magos, na sua atitude humilde e despojada, testemunham que a adoração a Deus é fonte de alegria, gerada na certeza de que Ele não tira nada, mas dá tudo (Bento XVI).

Regressaram por outro caminho

Aquele que encontrou Deus nunca pode permitir-se repetir caminhos velhos, onde a marca do pecado se insinua. O encontro com o Deus sempre novo torna-nos novos, dá-nos a aptidão para deixar ecoar em nós os sonhos de Deus, que rasgam aos nossos pés um mundo de possibilidades, desafiantes e duradouras!

Amigos e amigas, que a Palavra, a mais brilhante estrela que nos guia até ao Salvador, supere a noite dos nossos cansaços e desilusões, nos dissolva a penumbra da rotina e nos acorde um dinamismo apaixonado, capaz de romper fronteiras e galgar distâncias. Deixemos o nosso ser tornar-se incandescência do Evangelho!

VIVER A PALAVRA

Vou ser estrela, sempre nova, que conduz até Jesus.


REZAR A PALAVRA

Senhor,onde estás, tu que acabas de nascer?

Preciso ver-te, tocar-te, sentir-te perto, fascinar-me com a tua presença.

A estrela da Palavra me conduz até ao encontro com o mistério do teu amor.

No segredo da vida, no palmilhar da história, descubro o teu (re)nascer permanente

E, mergulhado na alegria do encontro, prostro-me para te adorar.

Trago comigo o tesouro que depositas em mim a cada momento,

a vida de procura e a sede de amor. Eis-me aqui, contigo!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

XXVIII DOMINGO COMUM A

Naquele tempo Jesus dirigiu-Se de novo aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo e, falando em parábolas, disse-lhes: «O reino dos Céus pode comparar-se a um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou os servos chamar os convidados para as bodas, mas eles não quiseram vir. Mandou ainda outros servos, ordenando-lhes: ‘Dizei aos convidados: Preparei o meu banquete, os bois e os cevados foram abatidos, tudo está pronto. Vinde às bodas’. Mas eles, sem fazerem caso, foram um para o seu campo e outro para o seu negócio; os outros apoderaram-se dos servos, trataram-nos mal e mataram-nos. O rei ficou muito indignado e enviou os seus exércitos, que acabaram com aqueles assassinos e incendiaram a cidade. Disse então aos servos: ‘O banquete está pronto, mas os convidados não eram dignos. Ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas todos os que encontrardes’. Então os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons. E a sala do banquete encheu-se de convidados. O rei, quando entrou para ver os convidados, viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial. e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem o traje nupcial?’. Mas ele ficou calado. O rei disse então aos servos: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o às trevas exteriores; aí haverá choro e ranger de dentes’. Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos». (Mt 22, 1-14)

Caras amigas e amigos, Mateus oferece-nos mais uma página extraordinária e desconcertante que revela o sonho de Deus e a fragilidade do homem. Ocorre converter a fé triste para descobrir a beleza e a alegria de ser povo de Deus.

“Vinde às bodas”
Tudo começa com um dom, um convite, uma oferta. No princípio não está uma obrigação, uma proibição, um lamento, nem está primeiro aquilo que posso fazer por Deus, mas aquilo que Deus faz por mim. Ele convida a humanidade para umas núpcias, à festa do prazer de viver, à convivialidade, à fecundidade da alegria. O encontro com Deus é sempre banquete, júbilo, dança, sorriso, beleza. Ele prepara um banquete para todos os povos. E preparar uma refeição para alguém significa amá-lo, significa dizer-lhe: “quero que tu vivas”! Até parece que Deus não pode ficar sozinho e por isso anda num êxodo permanente à nossa procura.

Desculpas de ontem e de hoje
O drama de Deus é encontrar a sala vazia, a orquestra sem música, os copos sem vinho. É um Deus de pão e de festa, mas de uma palavra que ninguém escuta, impotente perante o nosso coração anestesiado. Contudo, o seu sonho é a sala cheia de comensais e de vida. Por isso não se desencoraja e regressa com entusiasmo e decisão às ruas e aos cruzamentos da vida. E se para nós a rejeição é um obstáculo, para Ele é motivo para alargar o convite e dilatar o sonho. Deus nunca capitula e, se as casas se fecham, Ele então abre estradas, acrescenta nomes à lista dos convidados, inventa novas comunhões. Não precisa de servidores constrangidos, mas de quem o deixe ser servidor da vida.
Nós pensamos que só há lugar para os bons, os puros, os beatos, mas ficaremos admirados quando virmos que o paraíso não está cheio de santos, mas de pecadores perdoados, de gente como nós. Ocuparão os lugares os Zaqueus, os Mateus, as Marias Madalenas, os cegos de Siloé, os paralíticos de Cafarnaum, os samaritanos e as adúlteras perdoadas. Deus festejará com todos, bons e maus, as bodas do seu Filho com a humanidade. Se a humanidade soubesse a ambição que Deus nela deposita a festa não teria fim. Porque Deus não se merece, acolhe-se.

Revestir-se de Cristo
Tantas vezes, pensamos e vivemos a fé como se de um funeral se tratasse. É urgente passar de uma fé crucificada para uma fé ressuscitada.
O homem sem a veste nupcial talvez não acreditasse que seria possível sentar-se à mesa do festim do rei e, por isso, não trouxe o seu contributo de beleza nem a prenda da sua alegria. Participar da festa e do júbilo de Deus sem estar envolvido no seu Espírito é como estar num casamento em fato de banho ou na praia em vestido de noiva.
O traje a meter é Jesus Cristo; é Ele a alegria da festa da vida. Revestir-se dos seus sentimentos, adornar-se dos seus gestos, embelezar-se com as suas palavras, perfumar-se com o seu Espírito, cobrir-se com a sua presença é, caros amigos e amigas, o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero arquitectar um coração disponível, para acolher o convite do Senhor.

REZAR A PALAVRA
Divino anfitrião do banquete do amor e da vida...
Volta a convidar a minha insensibilidade, sem fome do teu Nome,
volta a aliciar o meu paladar, poluído por enredos sem sutento,
volta a falar-me ao coração, para desposar o meu tempo distraído,
volta a preparar-me a casa com o manjar exorbitante do teu amor,
costura as minhas hesitações, com o traje da tua Verdade e veste-me...
de autenticidade, de festa, de ardor... perante Ti, Senhor da minha vida, quero viver!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

IV Domingo Comum A - 2011 - Felicidade

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos, e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa». (Mt 5, 1-12a)

Caros amigos e amigas, esta “magna carta do cristão” deixa-nos perplexos. As surpreendentes e escandalosas “bem-aventuranças”, verdadeiro coração do evangelho, desconcertam-nos quando dizem que a felicidade consiste exactamente no contrário daquilo que consideramos fonte de bem-estar. Certas páginas do Evangelho não se comentam; contemplam-se, amam-se, dançam-se e ousam-se realizar com simplicidade.

As bem-aventuranças...
A primeira palavra, o primeiro dos ensinamentos aos discípulos, repetido quase à exaustão, é a felicidade! Sem desanimar Jesus ousa uma alegria diferente daquela vendida nos mercados deste mundo. A felicidade do Evangelho não é uma felicidade em saldos, um júbilo fácil, mas a bênção de Deus sobre os excluídos e os pobres, ricos apenas de Cristo, abraçados pela sua palavra, acariciados pelo seu olhar, animados pela sua companhia.
As bem-aventuranças não são uma constatação, mas uma esperança: as situações de aflição e perseguição não têm a última palavra, não fecham o homem no seu presente de miséria! É uma nova humanidade que nasce do empenho obstinado de Deus, trespassada por uma promessa: “mesmo quando não encontras um sentido, Eu nunca te abandonarei e caminharei a teu lado”. Há uma maneira de ser feliz que não depende do que as nossas mãos fazem e tocam, mas depende de Deus, fonte de todo o bem e amor!

... são o coração de Deus...
Jesus fala do Pai e pinta o seu inacreditável rosto: Deus é pobre, misericordioso, humilde; um Deus que ama a paz e que sofre por amor. Um Deus tão diferente daquilo que imaginamos: a felicidade anunciada é o amor de Deus que ilumina a situação em que nos encontramos. É deixar entrar Deus na vida.
As bem-aventuranças são um dom gratuito de Deus e não dependem das qualidades humanas, não se compram com a riqueza, não se explicam com a mais alta sabedoria, nem se aceleram com as nossas capacidades. Porque são oferta gratuita são dirigidas a todos: aos justos e pecadores, aos bons e aos maus…, a começar por aqueles que tudo esperam e não têm outra defesa: os pobres, os humildes, os que sofrem...

... e esboçam o coração do homem
Do homem livre do engano e da violência, que não depende exclusivamente de si próprio. Estrada exigente onde se cruza o presente e o futuro, injustiça do mundo e justiça de Deus. São felizes os pobres, mas não a pobreza; são bem-aventurados os que choram mas não as lágrimas; são abençoados os esfomeados, mas não a fome. Deus coloca-se sempre do lado do homem, contra qualquer sofrimento.
Todos somos mendigos da felicidade. Todos somos, em certa medida, pobres, aflitos, perseguidos. Somos como que vasos partidos, que o oleiro não deita fora, mas retoma nas mãos para renová-los.
É o aproximar-se de Jesus que faz ser feliz. É o deixar Deus sentar-se entre nós que dá a felicidade. Fora daquele olhar de amor, as bem-aventuranças são incompreensíveis. Elas são a promessa de um mundo novo, são as sementes do Reino, são uma mensagem de confiança que compromete primeiro Deus com a nossa vida, ali mesmo onde parecia não haver sinais Dele. E isso, caros amigos, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou parar para ler, com fé, a história de felicidade que o Senhor vai construindo em mim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Pescador da Humanidade - III Domingo Comum C

Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista fora preso, retirou-Se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi habitar em Cafarnaum, terra à beira-mar, no território de Zabulão e Neftali. Assim se cumpria o que o profeta Isaías anunciara, ao dizer: «Terra de Zabulão e terra de Neftali, caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios: o povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam na sombria região da morte, uma luz se levantou». Desde então, Jesus começou a pregar: «Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus». Caminhando ao longo do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde e segui-Me, e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco, na companhia de seu pai Zebedeu, a consertar as redes. Jesus chamou-os, e eles, deixando o barco e o pai, seguiram-n’O. Depois começou a percorrer toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, proclamando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades entre o povo. (Mt4, 12-23)


Caros amigos e amigas, da sua cidade de Nazaré Jesus transfere-se para o coração da Galileia, para uma região nada prestigiosa, pobre e nas margens da fé. Aqui, onde ninguém o espera nem o deseja, Jesus escolhe anunciar o Reino de Deus. A partir de agora Ele será profeta pelos caminhos, nómada de Deus à procura dos que estavam perdidos e imersos nas trevas.

Ser a Galileia de Deus
Jesus passa entre gente humilde e esquecida e vê, numa casa de pescadores à beira de um lago desconhecido, a sua Igreja. Esta nasce ali, nas margens dum mar, num lugar de encontros, de partidas e chegadas, num cais de relações, de pessoas habitadas por outras. A Igreja é o contínuo caminhar de Deus ao encontro do homem.
Deus é um apaixonado que vai até onde ninguém o espera, nos confins da história e da vida. Um Deus capaz de sair dos momentos “sagrados” para intrometer-se no território da nossa existência, mesmo quando nos sentimos distantes, por vezes submersos nas sombras, para trazer a luz! Ainda hoje, Jesus caminha no nosso mar, escolhe habitar na nossa Galileia, encosta-se aos nossos trabalhos e preocupações, chama-nos pelo nome e convida-nos a ir com Ele. Cada lugar, cada tempo, cada situação é digno do amor de Deus! Nada, ninguém, nem nenhuma situação, por mais escura que seja, está longe do olhar e do aproximar-se de Deus.

Pescadores da humanidade
Entre mil vozes e rumores aquele rosto é inconfundível e aquelas palavras ecoam como únicas. Naquele olhar até os pescadores mais experientes naufragaram! Jesus chama os pescadores e esses descobrem que dentro de si não há apenas as rotas do lago, mas existe o mapa do céu, do mundo e do coração do homem. Sonhavam com um horizonte mais largo do que o mar e encontraram a vastidão do mundo. Sonhavam com barcas cheias de peixe e um dia ficarão admirados com uma multidão saciada e as sobras de doze cestos. Sonhavam libertar-se daquelas jangadas debaixo das trevas e encontraram uma luz deslumbrante. Sonhavam apenas com o próprio dia-a-dia e passaram a fazer parte do sonho de Deus.
Ainda hoje aquele “segue-me” é um convite para deixar as redes que nos aprisionam, para nos tornarmos pescadores da própria humanidade esquecida, para descobrir dentro do coração o mapa do coração de Deus. Naquele chamamento divino a fragilidade humana floresce e é convertida à vida.

O amor renova a vida
Jesus vê em Simão a pedra na qual fundará a sua comunidade; em João vê o discípulo das mais belas palavras de amor; um dia avistará em Mateus a pronta conversão do coração e na oferta da viúva no templo verá toda uma vida doada. O olhar de Jesus é um olhar criador, é profecia. Olha também para mim e no meu mar avista um tesouro, no Inverno da minha vida vê o grão que germina, descobre uma generosidade que desconhecia, uma melodia que ignorava. Deus faz-nos sempre nascer de novo. Porque quem experimenta o Amor, mesmo se morto, pode nascer. Só o amor faz viver! E Jesus ainda hoje passa e reacende a vida, deixando um rasto de milagres e esperanças. E isso, caros amigos, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero identificar os pontos mais escuros do meu viver e expô-los à luz do Evangelho de Jesus.

REZAR A PALAVRA
Senhor, pescador de corações sedentos,
vem habitar em mim, sombria região da morte, que grita pela tua vida...
Senhor, que abraças o meu querer inconstante,
toca a minha história, para que o meu sonho seja o teu...
Senhor, segredo do meu mar interior, convida-me...
para que deixe as redes que me prendem a um mar que não responde à minha fome...
para que deixe o barco que me conduz a viagens vazias de sentido.
Eis-me na tua rede, no teu barco...deixo-me...quero seguir-te...