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sábado, 27 de dezembro de 2014

Sagrada Família B


Evangelho segundo S. João 1, 1-18
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele.

Caros amigos e amigas, Jesus não é um solitário ou um herói isolado, Jesus acontece e cresce em família, ensina-nos a comunhão e a novidade de cada encontro.

Interpelações da Palavra
Recebeu-O em seus braços
Simeão viveu um advento de esperança, na criatividade de cada hora, sem perder o olhar da luz e da verdadeira consolação. Só nesta justiça de coração pode habitar Jesus e é nestes braços, como foi nos de Maria, que Jesus se deixa receber. O sorriso, cheio do Espírito Santo, de Simeão, contornado pela sabedoria e confiança, acolhe o mistério que esperara. Também nós não devemos desistir de esperar, mesmo que o tempo limite as possibilidades. Quando recebemos Jesus no colo, quando acolhemos aquele que nos acolhe, os olhos rasgam-se para a certeza da salvação e a luz dissipa o cinzento de cada espera.
São estes sorrisos, rebentos de calor e de Luz, que nos fazem acreditar, como em Maria e José, e ficar maravilhados com cada milagre que o Senhor faz nas páginas do tempo.

Não se afastava do templo
Ana também vê a família, o crescer e o caminhar de um laço divino e santo. Vê a alegria da consagração e a profecia da espada. Vê a proteção de José e a ternura de Maria. Vê a beleza do Natal, do Deus que se aproxima e se faz encontro no coração que espera. Ana vê, porque esperou a liberdade. Só um coração sedento de cor pode ver a Luz. Ana não se afastava do tempo e servia. O tempo não lhe criou vícios e mantém-se na espera porque acredita no amor, acredita na alegria de Deus. Como se deixou procurar por Deus Menino, agora canta, louva de alma jovem e sorriso de criança, fala acerca deste menino que a tornou criança de novo, aberta à novidade do mistério… pois estava lá, não se afastava do templo, onde viu a família chegar.

Crescia e enchia-se de sabedoria
A família é o abraço permanente de Deus ao Menino que nasce. Jesus aprende dos pais, Maria e José, o peregrinar constante da procura da vontade de Deus, o respeito pelas prescrições da Lei do Senhor, a descoberta da beleza da sabedoria e o acolhimento do dom da graça. Neste regaço de Deus na terra, Jesus cresce. É também nas nossas famílias, quando se deixam tornar regaços de Deus, que Jesus cresce, que o perfume da família de Nazaré nos inspira e então… acontece o Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, Menino da família de Nazaré, estrela da comunhão e fortaleza do laço da caridade
Ensina-me o abraço de filho na doçura e docilidade, na descoberta e criatividade do tempo,
a candura de mãe na ternura e sensibilidade, no silêncio, na disponibilidade de cada espaço.
Ensina-me a vigilância de pai na justiça e sabedoria, no desafio e segurança de cada crescer.
Jesus, Menino da família de Nazaré, seja cada família um eco da beleza daquela que Te acolheu.
Viver a Palavra

Vou agradecer reforçar cada laço que se constrói na minha família.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

IV Domingo Comum A


Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».

Caros amigos e amigas, no Evangelho, um casal apresenta o seu filho primogénito como dom a Deus; por outro lado, é o próprio Deus que apresenta o seu Filho à humanidade: aquela criança é o dom de Deus ao mundo.

Interpelações da Palavra
Maria e José levaram Jesus a Jerusalém
Entre a imensa multidão, na praça do templo, Maria, José e a criança passam despercebidos. Os sacerdotes estão ocupados com os rituais e incensos; os comerciantes estão empenhados em que os devotos cumpram a Lei do Senhor; os peregrinos são deslumbrados com a grandiosidade da cidade. Porém, nenhum deles se dá conta de nada. Jesus é um menino como os outros, filho de pais muito simples, filho entre os filhos, pobre entre os pobres. Quando Deus vem ao nosso encontro fá-lo sem grandes estrondos: nunca se impõe, nunca se conquista, nunca se compra. Deus apenas se acolhe.

Os meus olhos viram a salvação
Simeão trazia no fundo do seu velho coração uma insatisfação e um desejo: não morrer sem antes ver a luz que nasce, sem antes segurar nos braços a vida que germina! Simeão é o símbolo da ânsia profunda de cada homem, porque a vida é um desejo insatisfeito, a vida é caminho, a vida é espera. Espera de luz, espera de salvação, espera de sentido! Importante é ter o coração aberto, não asfaltado ou superficial. Na verdade, o Espírito não olha para as aparências, mas para o coração, aquele santo lugar que é o templo onde brota a vida.
Também em nós o Espírito semeia este anseio, este sonho de não partir sem antes ver e encontrar o Senhor da vida, sem antes saborear as maravilhas do céu, sem primeiro provar a luz do seu rosto. “O nosso coração não descansará enquanto não repousar no Senhor” (S. Agostinho).

Agora Senhor posso morrer em paz
Simeão, envelhecido e cansado pelos anos, é capaz de alegrar-se, é capaz de rejuvenescer o olhar, é capaz de discernir a presença de Deus onde outros nada vêem. Ele ensina-nos a perseverar, a confiar, a acreditar que basta um instante para iluminar toda uma vida. Basta, como ele, sentir nas próprias mãos a misteriosa presença de Deus e entrever no coração a esperança da vitória sobre a noite. Ninguém é demasiado velho, nenhum coração está tão longe, nada está irreversivelmente morto que Deus não possa salvar.
A sabedoria de Simeão é a de uma vida à escuta, dedicada à busca do rosto de Deus, dos seus sinais, da sua vontade. No fim, uma lágrima de alegria lhe escorre pela face, e canta satisfeito diante daquele que ilumina a história. Na verdade, o ancião leva o bebé nos seus braços, mas é a criança que guia os seus passos.
Ainda hoje a salvação consiste em tomar Deus no regaço, com amor, como tesouro precioso, sabendo que só Ele ilumina e alegra a vida. Só Ele é, caros amigos e amigas, o Evangelho.


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, outra vez passas por mim; o sol da tua presença inunda o meu ambiente.
Temo que, por fora da minha atenção, escorra a tua presença sem me tocar,
temo encerrar-te em conceitos, diluir-te em ideias, camuflar-te em devoções!
Quero manter acesa a expectativa de te ver, a ardência de uma espera que não te ignora.
Faz-me sensível à tua Luz, à esperança com que me presenteias em cada dia.
Toma-me Tu nos braços, amado Senhor, e recebe a oferta do meu inteiro ser,
oferece-me contigo ao Pai na luta quotidiana por viver os valores do Reino,
pelas estradas de Jerusalém, onde os pobres são acariciados, onde se vive e se anuncia o amor…

Viver a Palavra

Como Simeão quero manter jovem a vigilância sobre o dom mais fundamental da vida: o próprio Deus.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

IV Domingo Advento A



Evangelho segundo S. Mateus 1, 18-24
O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua esposa, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: «A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado ‘Emanuel’, que quer dizer ‘Deus connosco’». Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa.

Caros amigos e amigas, o Evangelho narra a anunciação feita a José que recorda aquela feita a Maria. Aquele que era justo não teme de participar no presépio. No seu silêncio e generosidade, Deus fala e anuncia o nascimento do seu Filho!

Interpelações da Palavra
Mais justo do que a lei, é o amor!
Eu, carpinteiro em Nazaré, não tinha assim grandes sonhos: talvez uma carpintaria maior, mais alguma viagem a Jerusalém por altura da Páscoa, uma bela esposa para amar, uma casa grande para ver os filhos multiplicarem-se e, talvez, o sonho da libertação romana. Mas, ultimamente a minha noite era assombrada por pesadelos: a minha noiva ficara grávida antes do casamento e… não tinha sido eu; antecipava a vergonha ante o provável escárnio dos amigos; mas sobretudo vivia o pesadelo do repúdio que levaria a minha amada à morte por delapidação. Mas não! A justiça do amor, infinitamente mais poderosa do que a lei, legislava que eu não poderia abandonar Maria publicamente… teria que a salvar em segredo na casa dos pais. Colocar-me-ia entre as pedras da lei e a vida da minha amada. Enamorado, acreditava, acreditava simplesmente por amor. Deixaria que fosse Deus a julgá-la e, quanto a mim, recomeçaria de novo, com os meus projectos e sonhos.

O sonho de não temer
Pensava assim quando um sonho maior encheu a minha noite. Um anjo dialoga comigo, fala-me de uma missão, de um filho. Sonho estranho, mas suave… como se fosse verdade. Nalguns sonhos, as fronteiras da realidade tocam o além, abordam o mistério de uma verdade que ultrapassa e ilumina. Percebi que era Deus a falar-me no segredo do coração e, após as palavras do anjo, o segredo de Maria torna-se também o segredo de José. Desde então o meu amor por ela ganhava uma dimensão divina, definia-se numa felicidade nova e eu tomei a minha esposa, como quem toma em sua casa o próprio Deus. Submisso àquele filho amado, dei-lhe um nome, uma família, uma herança, mesmo sabendo ser apenas um suplemento de paternidade.

A coragem do amor
Justo José, hoje contemplo-te como amor no estado puro: acreditas em Maria, à versão de uma gravidez que só o amor pode admitir, e depois desapareces das crónicas. Carpinteiro, tu consentes sonhar os sonhos de Deus! Atreves-te a amar os amores de Deus! Ousas dar a tua vida à vida de Deus! No drama e na novidade do nascimento do Filho de Deus, da virgem grávida, do marido justo, Deus multiplica o amor, plenifica, no seu sonho, os sonhos de ambos, amplia a família e a harmonia. A vossa casa em Nazaré é humilde, mas a mais feliz porque ambos sois ricos daquele amor que directamente coincide e se alimenta no próprio Amor feito criança. O Filho de Deus será acariciado pelas tuas mãos calejadas, mãos ásperas da madeira e das cruzes do dia-a-dia, mas aveludadas pelo silêncio imenso da coragem do amor. Tu e Maria sois porta aberta ao mistério que indica estradas novas, ilumina momentos difíceis e dramáticos, mantém a esperança no futuro. Em ambos é a fecundidade de Deus que se manifesta. E faz desabrochar o Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Pai amoroso, Tu te dignaste outorgar em José, o homem justo,
o mistério admirável e insondável da tua paternidade!!!
Eu te louvo pois, pela encarnação do Verbo, fizeste do Teu Filho Unigénito o nosso irmão!
Hoje o teu segredo ronda a porta do meu coração: tens um sonho para sonhar comigo.
Como Maria e José, quero ter a coragem de amar, de sonhar os teus sonhos… quero aceitar a tua proposta e oferecer-te a minha vida qual campo onde semearás a tua vida. Sim, Pai, diz de novo o teu Verbo e faz do meu coração um santuário de acolhimento
e que todo o meu ser seja a repercussão da tua Palavra, do teu sonho do teu amor.

Viver a Palavra

Vou cultivar um coração atento e disponível para acolher os segredos de Deus.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

IV Domingo Comum C




Naquele tempo, Jesus começou a falar na sinagoga de Nazaré, dizendo: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir». Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam das palavras cheias de graça que saíam da sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José?». Jesus disse-lhes: «Por certo Me citareis o ditado: ‘Médico, cura-te a ti mesmo’. Faz também aqui na tua terra o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum». E acrescentou: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua terra. Em verdade vos digo que havia em Israel muitas viúvas no tempo do profeta Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas a uma viúva de Sarepta, na região da Sidónia. Havia em Israel muitos leprosos no tempo do profeta Eliseu; contudo, nenhum deles foi curado, mas apenas o sírio Naamã». Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem dali abaixo. Mas Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho.

Caros amigos e amigas, no Evangelho de hoje os habitantes de Nazaré passam facilmente do orgulho por aquele filho da terra emprestado ao mundo para a irritação e rejeição provocadas pelas suas palavras. Como muda rapidamente o coração da gente! Como é frágil e esquecida a fé!

“Não é este o filho de José?”
Naquele dia, a fama do jovem pregador chamara a atenção da aldeia. Mas, aos poucos, a admiração dá lugar à fúria, a maravilha à indignação. Mas quem pensa ser o filho do carpinteiro e de Maria? Como ousa propor como modelos de fé pessoas estrangeiras e pagãs? Poderá Deus ser melhor acolhido por viúvas e leprosos? Continua, ainda hoje, a tentação de aprisionar Deus no perímetro das nossas igrejas, de fechá-lo no gueto das nossas certezas e tradições. Contudo, Deus persiste em visitar as nossas Nazarés e nós ficamos escandalizados quando vemos que o Evangelho está confiado a tantas mãos frágeis e vidas de barro. Parece-nos inadmissível que Deus se faça pobre, simples, conhecido no dia-a-dia; é intolerável que fale através de alguém que não é sacerdote ou escriba instruído; é inaceitável que tenha as mãos marcadas pelo cansaço! Mas, na verdade, Deus não se serve de gente extraordinária, mas a sua presença imprevisível está no próximo, irmão, amigo ou estrangeiro. A palavra de Deus é declinada em palavras e vidas humanas, porque cada pessoa é profeta e mensageiro do infinito.

“Ninguém é profeta na sua terra”
Como os habitantes de Nazaré também nós deitamos fora os profetas, dissipamos os encantos de Deus, impedimos o esplendor da epifania do quotidiano, nivelamos tudo por baixo. E exigimos espectaculares aparições e prodígios, como os que se realizam na terra estrangeira.
Insistimos em não reconhecer os profetas de hoje, dos que moram junto da nossa porta. Não nos encantamos com a avalanche de milagres que acontecem diariamente, nem nos maravilhamos com os enormes gestos de gratidão, de perdão, de solidariedade, de profetas humildes de rosto concreto. Pelo contrário, temos ciúmes dos ritos da amizade e do amor quando estes não acontecem na nossa vida. Sentimos um fundo de ciúme, sinal da mordidela da serpente das origens, ciumenta dos dons de Deus. Ciúmes de morte como os de Caim pelo dom de Abel. E da inveja dos irmãos de José pela sua sabedoria e pela ternura particular do seu pai. Ciúmes que nos levam a expulsar Deus da cidade da nossa vida e a precipitá-lo no vazio do esquecimento.

“Jesus, passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho”
Seduz-me este Jesus livre que segue o seu caminho, porque o amor de Deus é livre e contraria os egoísmos. Encanta-me um Deus sem guetos nem fronteiras, que segue estradas inusuais e caminhos imprevistos. Fascina-me este nomadismo no Espírito, porque a pátria de Jesus é o mundo e, no seu Reino, o outro é sempre a terra prometida! De facto, a vida e a fé não mudam por causa dos milagres, mas pelos prodígios de um amor livre que nunca se rende.
A Deus não se trava nem se bloqueia, não se encaixilha num quadro como uma fotografia, nem se arruma como uma pagela no meio dum livro. Deus é mais vasto e grande do que os nossos pequenos horizontes pessoais! E só um dia, mais tarde, compreenderemos que toda a potência de Deus se manifestará na impotência da cruz. Ali veremos, caros amigos e amigas, a evidência do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou procurar conhecer melhor o irmão, para melhor acolher!

REZAR A PALAVRA
Senhor, a rotina de um conhecer superficial ofusca o brilho do caminho
e distancia-me da meta que busco e ousei um dia sonhar. Senhor, a falta
de novidade na minha adesão a ti, arrefece o fogo da fé e a certeza do mistério
do amor que um dia me fascinou. Senhor, abana as débeis certezas da minha lógica
e confunde a ténue inteligência do meu saber. Quero um coração vazio
 de palavras feitas e sedento da tua verdade, para te acolher. Vem!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Epifania do Senhor - C




Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está escrito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor  entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela. Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a estrela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.

Caros amigos e amigas Deus manifesta-se. A verdadeira sabedoria está em aplicar-se a procura-l’O para O adorar.

«Onde está o rei?»
No meio da anarquia que se faz sentir, não tanto no âmbito público, mas mais nas circunscrições domésticas do nosso interior, soa a pergunta: «onde está o rei?». Há sinais que O anunciam! E, o principal sinal, a verdadeira estrela, tantas vezes matinal, é a nossa perturbação. A perturbação de quem se sente ameaçado pelas falsas realezas. A perturbação de quem já não se ilude com o poder próprio. A perturbação de quem só se saberá descansado quando encontrar Deus, o verdadeiro Rei. A perturbação que traz grande alegria aos atentos.
«Onde está o Rei?» perguntam também, hoje, os sábios do nosso tempo quando indagam por Deus e O procuram de coração sincero. «Onde está o Rei?» perguntas tu, caro leitor, se O desejas a reinar nas tuas decisões, na tua vontade, na tua vida.

Viram o Menino e adoraram-n’O
Aos olhos que procuram, anteciparam-se os olhos procurados. Porque Deus quis ver com olhos de menino para que O vissem e O reconhecessem. Já antes se deixara divisar na voz dos profetas, mas agora mostra-se numa casa, ao lado duma Mãe, na fragilidade dum Menino. Ao vê-l’O, os Magos prostraram-se e adoraram-n’O primeiramente. Impunha-se que antes de oferecerem fosse o que fosse, se oferecessem a si mesmos. Neste atuar, os sábios do Oriente dão-nos o segredo para o nosso relacionamento com Deus. Há que enveredar pelo caminho da procura; há que seguir os sinais; há que deixar para trás os preconceitos; há que estar disponível para as surpresas de Deus; há que deixar-se ver, para O reconhecer pelo olhar; há que fazer a oblação de nós mesmos; há que seguir, no fim, por outro caminho.

Regressaram por outro caminho
Converter-se é mudar de rota. É o que fazem ainda hoje os sábios, que não moram necessariamente nos laboratórios das universidades, nas assinaturas dos best-sellers, nas casas do poder ou nos contratos milionários. Os sábios, se aí moram, é porque desses lugares fizeram o caminho da procura da Verdade e do encontro com Deus. E é o que basta para continuar por outro caminho. A conversão do coração passa pelo encontro com Deus, que se mostra em Jesus. É n’Ele que, como S. Paulo, vemos o Mistério revelado. O mistério de uma terra que não é de modo nenhum a menor, porque é engrandecida por Deus.
E aqui está a sabedoria! Deixar-se engrandecer pelo Deus que se faz peregrino com o homem, ao longo da sua história, para que o seu caminho seja sempre outro e a sua meta sempre o outro no Outro. Sim, porque só veremos bem os nossos contemporâneos quando os virmos iluminados pelo Deus que nos nasce e nos faz nascer com outro olhar. E isto, caros amigos e amigas, é Evangelho.


VIVER A PALAVRA
Quero que as minhas correrias do dia a dia, tenham como única meta o único Rei.

REZAR A PALAVRA
Senhor, Rei do meu coração, reconheço que nem sempre te dou a primazia na minha vida.
Reconheço as vezes em que os meus olhos se distraem, por horizontes onde sou eu o centro,
 as vezes em que os meus olhos se perdem em fogos fátuos, que não iluminam,
nem aquecem. E a Ti que quero procurar, Deus que tão solícito me procuras;
é a ti que quero confiar o ardor das minhas peregrinações.
A Ti quero dar o meu coração, a Ti que já o proveste de riquezas!