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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

XXXII Domingo Comum A


Dedicação da Basílica de Latrão

Evangelho segundo S. João 2, 13-22
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu Corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

Caros amigos e caras amigas, este Domingo, em que celebramos a dedicação da Basílica de S. João de Latrão, considerada a mãe de todas as Igrejas do mundo, é uma oportunidade para percebermos que o ser cristão implica a pertença a uma família, para sentirmos palpitar a nossa relação com a Igreja, nossa família e nosso lar.

Interpelações da Palavra
A casa de Meu Pai
Falar em casa faz-nos lembrar um local de aconchego e de relações, um recanto de intimidade, um espaço de protecção. Jesus sobe a Jerusalém e talvez recorde aquele dia distante da sua adolescência em que se sentiu identificado com a “casa de seu Pai”, talvez experimente aquela “nostalgia do lar”. A expressão “casa de meu Pai” deixa escapar esse laivo de ternura, exalado pelo coração do Filho muito amado. E, no entanto, com o que se depara é com o barulho de quem pensa oferecer a Deus sacrifícios exteriores, com a avidez do negócio, a exploração dos mais fracos através da especulação e do medo, com pretextos de lucro à custa dos mais pobres.
Para entendermos que aquele Jesus, manso e humilde, chegue ao extremo de usar um chicote, temos de perceber que Deus é intolerante para com os abusos feitos aos seus filhos mais frágeis. A profanação que ali estava a acontecer era muito mais que dirigida à casa feita de pedras, era antes aquela feita aos que foram edificados pelo próprio Deus, num puro acto de amor, para abrigarem a sua presença.

Jesus, o verdadeiro templo
Quando Jesus diz: “Tirai tudo isto daqui” pretende arredar tudo o que esteja a mais. O espaço da casa de Deus é para as pessoas, não é para as coisas ou para as formalidades. Deus quer a pessoa não a oferenda, quer a presença não palavras ou ritos. Deus quer acolher aqueles que ama. Tudo o que de mais exterior existe na sua casa, como nas nossas casas, não há-de ser para estorvar, mas para favorecer o ambiente de acolhimento e de calor afectivo.
Se os chefes do templo entenderam as palavras de Jesus como uma provocação, os discípulos, iluminados mais tarde pela luz da ressurreição, perceberam que Jesus se referia ao seu corpo humano, como o verdadeiro marco de encontro com o Deus vivo. De facto, Ele vem reatar as relações de intimidade entre Deus e o seu povo. Viver Cristo implica viver em Igreja, pois o seu Corpo é a Igreja! Quem não sabe viver em Igreja como poderá viver de Cristo?

Templos de Deus e Templos do irmão
Como Jesus, também cada um de nós é chamado a ser templo de Deus e templo para o irmão.
Todos os santos falam no encontro de Deus em nós mesmos. O nosso Deus é um nómada que acompanha os passos dos seus filhos. A sua casa não é um palácio gradeado pela eternidade, mas é esta presença amorosa que os aconchega num abraço permanente. Sim, o Tempo de Deus é a sua presença nas nossas vidas! A consciência de que abrigamos aquele Deus que nos é mais íntimo que nós mesmos, impele-nos também a ser santuários para o irmão. Cada irmão tem direito a um espaço no nosso coração, não por um acto de generosidade extraordinário da nossa parte, pois Deus entrega-no-lo para que cuidemos dele. A prudência nas relações não pode perturbar o acolhimento daqueles que Deus ama. Ninguém será excluído, quando o meu ser é preparado e decorado pela arte do Evangelho!

 


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, habitação segura, meu guarda e defensor, consolo e protetor, meu lar…
Rompe as bolsas que guardo com outras riquezas que não Tu,
Derruba as mesas que expõem um culto teimoso ao meu ser,
Converte as bancas que te querem comprar em altares de misericódia e oblação,
Explusa de mim a sede de comércio de um amor, que afinal, se oferece…
Senhor, meu lar, quero abandonar-me nos braços do Teu Corpo que é a Igreja
Para, em comunhão e gratuidade, saborear a paz da Tua presença que me habita.

Viver a Palavra

Vou rever a minha forma de participação na vida em Igreja, à luz do Evangelho.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

XXVII Domingo Comum A



Evangelho segundo S. Mateus 21, 33-43
Naquele tempo, disse Jesus aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo: «Ouvi outra parábola: Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. Quando chegou a época das colheitas, mandou os seus servos aos vinhateiros para receber os frutos. Os vinhateiros, porém, lançando mão dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro apedrejaram-no. Tornou ele a mandar outros servos, em maior número que os primeiros. E eles trataram-nos do mesmo modo. Por fim, mandou-lhes o seu próprio filho, dizendo: ‘Respeitarão o meu filho’. Mas os vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro; matemo-lo e ficaremos com a sua herança’. E, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?». Eles responderam: «Mandará matar sem piedade esses malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entreguem os frutos a seu tempo». Disse-lhes Jesus: «Nunca lestes na Escritura: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos’? Por isso vos digo: Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos».

Caros amigos e amigas, a parábola de hoje narra a história do amor excessivo de Deus. Nada bloqueia o seu sonho de encontro: nem a rejeição, o desprezo, o desinteresse ou o não acolhimento! Nada impede o seu amor!

Interpelações da Palavra
A canseira do amor
Deveria ser uma vinha luxuosa e frutuosa para desencadear os ciúmes e o apetite dos arrendatários. Na verdade, ela era a vinha mais esplendorosa da região: fora o próprio dono que lhe retirara as pedras uma após a outra; com amor apaixonado plantara as vides; fizera jorrar no centro uma fonte para a regar; edificara uma sebe como um abraço para a defender; e construíra uma torre alta para melhor a contemplar. O Senhor, atento e apaixonado pela sua vinha, descera diariamente para cuidar de cada ramo, na ânsia dos bons frutos. O amor é um sonho traduzido em trabalho e suor, em contemplação enlevada. No entanto, o sonho entregue às mãos dos vinhateiros, colocado à mira da ganância, torna-se rapidamente num pesadelo e numa tragédia.
Esta vinha é a história de um Deus apaixonado: somos nós o campo da predilecção de Deus, a vinha amada de mil cuidados e atenções. Mas somos também nós que nos esquecemos facilmente que não somos proprietários, mas apenas jardineiros! Depressa esquecemos que o amor é um dom, não se pode possuir, mas é para ser partilhado. A vida não se pode aprisionar, mas é para ser vivida, intensa, realizada, saboreada. Tudo é dom, tudo é gratuito, tudo é vida.

O amor nunca se cansa
Deus nunca se rende! Como o vinhateiro recomeça, após cada rejeição, a assediar o nosso coração com profetas, novos servos, com o próprio Filho. E arrisca, radical e gratuitamente, a própria vida. O coração do Pai, tocado por um excesso de amor, não volta as costas àqueles que lhe mataram o filho mas vai à sua procura. Persistentemente, continua um diálogo de amor que nenhuma desilusão poderá apagar. Ainda hoje, Ele bate à nossa porta, naqueles que esperam do nosso campo um vinho de festa, um canto de alegria, um punhado de mais vida.

Encher o mundo de amor
O sonho de Deus não é o pagamento de um tributo por parte dos trabalhadores, mas é uma vinha que não produza mais cachos de sangue ou uvas amargas de lágrimas, mas bagos cheios de luz e de sol.
No fim da parábola da vida, a vinha será dada a quem saberá encher de frutos o mundo. O mundo pertence a quem o torna melhor, a quem o faz florescer, a quem lhe faz amadurecer os cachos. Para isso veio Cristo, vide e vinho de festa. Sobre Ele nos enxertamos, nele nos saciamos, nele nos inebriamos, nele amadurecemos, para assim encher as ânforas do mundo do miraculoso vinho de Caná. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Senhor, és Tu que enches o mundo de calor, de irmãos e de irmãs!
Tu acendes o sol que dá brilho ao olhar, beleza ao rosto e leveza à esperança,
Tu completas o arco do horizonte, dás rumo aos caminhos e força aos meus pés.
O céu tem a cor do teu sorriso, e a ternura das tuas mãos... como és bom, Senhor!
Contemplo a tua obra em mim e à minha volta, recolho a gratuidade que tudo promove!
Talvez ontem ainda estragasse a tua obra, com um apego que me encarcerava,
mas hoje quero entregar-te os frutos do teu dom: eis-me aqui, envia-me!

Viver a Palavra

Vou considerar a solicitude de Deus para comigo e procurar corresponder ao dom do seu amor.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

XIV Domingo Comum A



Evangelho segundo S. Mateus 11, 25-30
Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

Caros amigos e caras amigas, a verdade do Evangelho foi semeada na terra frágil e fecunda dos pequeninos. Quem for pequeno deixa-se encontrar e abraçar por Deus, em cada momento, bendizendo!

Interpelações da Palavra
Eu te bendigo, ó Pai…”
É este o princípio fundamental, a ordem primordial, o coração da existência de Jesus: a bênção, o louvor, o agradecimento ao Pai! Jesus entoa um hino à vida e deixa maravilhar-se com a presença de Deus nos pequenos. Ele não cai na ratoeira do pessimismo e negativismo que só vê o mal, a escuridão, o erro. Mesmo assim, o momento não era para rir: o grupo de seguidores ficara reduzido a 12; a multidão cansara-se; alguns familiares duvidavam da sua saúde mental; os chefes religiosos pretendiam silenciá-lo… Todavia, o Mestre continuava a sorrir, a maravilhar-se, a cantar, a alegrar-se, a sorrir e a amar. A sua oração revela um estilo de vida: encantar-se e enamorar-se pelo pequeno, pelo frágil e pelo pobre.
Ainda hoje é possível viver em atitude de bênção que se torna oração, estilo de vida, modo de amar e se relacionar. Mesmo diante de uma situação de desilusão, desencorajamento ou aparente falhanço, o Pai continua a tecer em nós um projecto de amor. Ocorre deixar o coração entoar um canto de louvor, ocorre ousar o caminho da acção de graças, ocorre experimentar o Magnificat dos pequenos, ocorre atrever-se à fantasia das crianças…

“…porque revelaste estas verdades aos pequeninos”
Só os pequeninos não se escandalizam diante da humildade de Deus, diante da folia da sua pobreza! Os poderosos e sábios, cheios de si, inundados de certezas e coisas, nada têm a receber e a agradecer. Só o pobre ensina a viver, apenas e simplesmente, de amor! Deus não se conquista nem se compra. É essencialmente um dom! E os pequenos conhecem o alfabeto da beleza, a linguagem dos gestos de ternura, as palavras desarmantes e directas, a facilidade do perdão e da entrega. Sim, os gestos pequenos e as palavras simples salvarão o mundo.

“Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos”
Jesus é a casa de todos aqueles que se cansam de viver, estão feridos, oprimidos, cegos… É Ele o abrigo, o porto seguro, o abraço sempre humilde e aberto à nossa espera. A nós, que pensamos que é mais fácil lastimar-se do que agradecer, Jesus oferece o repouso do seu coração. Sim, é possível restaurar-se, demorar, permanecer no seu canto de louvor. Ele não suprime o cansaço, as lágrimas, mas ensina-nos, a nós sábios e inteligentes mas analfabetos do coração, a transfigurar a dureza da vida num motivo de bênção, porque Ele está connosco.
Se acolhermos os pequeninos, descobriremos que a vida é amor. Se deixarmos que o céu e as estrelas nos entrem no coração, desvendaremos que a luz é mais forte do que as trevas. Se hospedarmos as palavras dos irmãos, descobriremos que a vida é comunhão. Se nos deixarmos tocar pelas lágrimas descobriremos que a vida é compaixão. Se nos deixarmos encantar por aquilo que somos, descobriremos que Deus é Pai. E se como filhos vivermos – acolhendo e louvando – descobriremos, caros amigos e amigas, que a vida é sempre um Evangelho!

 


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, Filho Amado do Pai Amante, eterno objecto da contemplação paterna
só Tu conheces o sabor filial da proximidade, a suave alegria da dependência,
envolve-me na mútua dávida divina, no íntimo abraço selado pelos laços do Espírito.
Só Tu conheces a mais madura inocência, a mais nobre simplicidade, a mais digna pequenez,
despoja-me de ambições armadilhadas e admite-me à escola da humildade e da mansidão.
Só Tu conheces a leveza e a suavidade, só Tu passas pelo mundo, ascendendo ao céu,
Eis-me aqui, para aceitar a alegria da tua vontade que me encaminha para os bens eternos.

Viver a Palavra

Vou deixar que a alegria de ser filho(a) de Deus tome conta do meu louvor.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Batismo do Senhor - A



Evangelho segundo S. Mateus 3, 13-17
Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e veio ter com João Baptista ao Jordão, para ser baptizado por ele. Mas João opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso de ser baptizado por Ti e Tu vens ter comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi baptizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».

Caros amigos e amigas, na festa que hoje celebramos reside uma esperança imensa: a certeza de que nada nem ninguém poderá mais fechar este céu que a fidelidade do Filho amado abriu, nem calar esta voz que, para sempre, nos declarará o seu amor.

Interpelações da Palavra
Veio ter com João Baptista
Estremeço!!! Na fila daqueles que caminham, carregados com a consciência dos seus pecados, vejo divisar-se a figura d’Ele, o Cordeiro sem pecado e sem mancha! Como é possível que venha ter comigo a Palavra de Quem eu sou a voz, o Caminho, para quem eu preparei o caminho, o Fogo no qual acendo a chama da minha mensagem? Aproxima-se como fagulha de luz, a insinuar-se nas trevas. Dou-me conta que um tempo novo se inaugura na relação dos seres humanos com Deus. Hoje vejo, de olhos deslumbrados, Deus a imergir na sua obra. Comovo-me ao contemplar o divino Oleiro de mãos empapadas com o barro onde insuflou a vida. Ali está Aquele que vem ensinar-nos o caminho do arrependimento, mas nele não nos deixa sós. Deus faz marcha com este povo que se liberta do mal, caminha com a imperfeição que ruma para beleza. Sou eu que quero receber d’Ele a graça regeneradora do perdão, mas é Ele me pede primeiro o caminho desimpedido para chegar a mim. Deixo-O vir… a água que eu derramar sobre Ele escorrerá como bênção para o mundo!

Abriram-se os céus
Os céus tantas vezes nos apareceram como véu intransponível que se interpunha entre nós, criaturas, e o Deus longínquo e inacessível… Não foi preciso que tivéssemos de perturbar o silêncio sideral; os céus rasgaram-se espontaneamente pois o Filho amado veio habitar o nosso chão e chamou todo o céu para esta terra que flore o próprio amor de Deus. Este chão agora é o céu. Por Jesus deu-se uma punção no véu que toldava os olhares. Nada mais se interporá entre o cúmplice olhar e o amoroso diálogo de Deus e das suas criaturas. Esta brecha é prenúncio daquela outra, feita no Coração de Cristo, o único lar que demandamos. A todos nos é possível penetrar no Santuário, no segredo de Deus, na torrente das suas delícias. Os ladrões do céu terão este encorajamento para arriscar! É preciso dar aos pobres esta estupenda notícia!!!

O Filho muito amado
Sobre o movimento do oceano da fidelidade do Filho dança o Espírito de Deus. A nova humanidade surgirá nesta carne preparada pela docilidade do Filho amado. Olho Jesus que sai da água, como o eclodir de uma nova criação. Jesus semeou na nossa humanidade aquela amabilidade que atrai o olhar enlevado de Deus. Só Jesus é absolutamente o Filho Amado, mas aqueles que O escutam e participam da sua fidelidade, tornam-se um com Ele e, por isso, estão aptos a escutar do Pai aquela mesma declaração de amor. É aqui, neste rio das minhas procuras, que O deixarei imergir; é aqui de entre as nuvens soturnas das minhas dúvidas que consentirei o golpear de uma voz; é aqui, no contexto da minha infidelidade, da minha fragilidade que se quer levantar, que permitirei que Ele vá fazendo progredir a doce narração do Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Pai amoroso, abres os tempos com a Tua Palavra Criadora,
Abre o meu querer ao teu amor criativo, para que consita recriar-me da tua Palavra.
Filho amado, dás esperança àqueles que superam o conforto da passividade,
Que participe na tua fidelidade que, aqui e agora, é moção dos novos céus e nova terra,
Espírito de amor, fecundas a alegria de quem ousa caminhar ao teu ritmo
Torna o meu coração apto para acolher e deixar vibrar a declaração de amor do Pai.
Trindade Santíssima, adoro-vos e entrego-me ao vosso amoroso desígnio.

Viver a Palavra

Vou considerar o dom da minha vocação baptismal como um chamamento amoroso de Deus Trindade.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Santíssima Trindade C



Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que está para vir. Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará».

Caros amigos e amigas, a festa de hoje fala de um Deus que é comunhão, relação, família: Pai, Filho e Espírito são os três protagonistas do único rosto de Deus. Este grande mistério do amor, sem termos a pretensão de o dominar ou explicar, é para acolher amorosamente.

Deus é família
Para uns, Deus é simplesmente algo de misterioso e sobrenatural. Para outros, é um velhote de barbas brancas sentado à janela do paraíso, distante e isolado do nosso mundo, quase um sem abrigo e sem família, que pede ao homem para o fazer sair da sua eterna solidão. Para outros ainda, é uma ilógica equação matemática (1+1+1=1). Porém, Deus não é uma definição, mas é vida, caminho, experiência. Deus não se explica, mas ama-se, reza-se, experimenta-se, porque “quanto mais se navega em Deus, novos mares se descobrem” (De Leon).
Deus não é um abismo de solidão, mas é amor que não se fecha no segredo dos deuses. Deus é festa, família, dança, relação, dom. Por Jesus sabemos que o único rosto de Deus, o verbo amar, se declina em três pessoas. São três pessoas que se amam totalmente que, nós de fora, vemos apenas um, como se fosse um oceano de amor. Cada pessoa desaparece na outra. Só quando nos aproximamos é que experimentamos a diferença do Pai, do Filho e do Espírito.
Deus é comunidade de vida e de amor de pessoas, que vivem e convivem, existem e subsistem eternamente na doação recíproca e voluntária, numa comunhão perfeita e plena de vida e amor. Deus é, ao mesmo tempo, em si mesmo, Aquele que ama, o Amado e o Amor.

Paradoxo do amor
O amor tem uma aparente contradição: por amor, cada pessoa se dá e se perde, para se encontrar e realizar na outra pessoa. Deus Pai “esquece-se” e desaparece da sua glória divina para aparecer na fragilidade humana do Filho. O Filho “esquece-se” de si, na fragilidade de um Amor que se aniquilou até à Cruz, tal era o “fraquinho” do Amor de Deus por nós, para revelar o Pai. O Espírito “esquece-se” de si e esconde-se na brisa, para abraçar o Pai e o Filho.
Este é também o modo de ser de Deus para connosco: Ele morre para nos fazer viver; Ele apaga-se para nos fazer brilhar; Ele diminui-se para nos engrandecer; Ele oculta-se para nos fazer aparecer; Ele parte para nos dar o lugar; Ele afasta-se para nos responsabilizar. De Deus aprenderemos sempre a viver com os outros, para os outros e graças aos outros. É isso viver na comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A dança do amor é sempre plural
O amor nunca é exclusivo, mas é sempre sem medida, ilimitado, multiplicativo. Amar é viver de Deus! É viver daquela relação que nos amou primeiro.
Ensinar a arte do amor, mostrar como o evangelho se torna vida, aprender que as pessoas não vivem sem as outras, ou contra as outras, ou acima das outras, mas que vivem com as outras, para as outras, vivificadas nas outras, é iniciar a compreender o mistério trinitário da família divina.
Caros amigos e amigas, vivei o amor, ensinai a amar, assim como se ensina uma arte que se conhece, uma estrada que abre novos horizontes, algo que já todos aprendemos porque já o recebemos de Deus. E isto é viver e ensinar o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero aprender, viver e ensinar a divina arte de amar com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

REZAR A PALAVRA
Visita ó Pai a minha orfandade com a tua paternidade.
Visita ó Jesus o meu isolamento com a tua fraternidade.
Visita-me ó “Sopro de Deus” com a tua amizade.
E que, em ti ó Pai, eu encontre a fonte da vida; em Cristo, o amor para caminhar.
E, no Espírito, incendeia de comunhão a minha solidão.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,

como era no princípio, agora e para sempre. Ámen.