Evangelho segundo S. Mateus 3, 13-17
Naquele tempo, Jesus chegou da Galileia e
veio ter com João Baptista ao Jordão, para ser baptizado por ele. Mas João
opunha-se, dizendo: «Eu é que preciso de ser baptizado por Ti e Tu vens ter
comigo?». Jesus respondeu-lhe: «Deixa por agora; convém que assim cumpramos
toda a justiça». João deixou então que Ele Se aproximasse. Logo que Jesus foi
baptizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de
Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do céu dizia: «Este
é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência».
Caros amigos e amigas, na festa que hoje
celebramos reside uma esperança imensa: a certeza de que nada nem ninguém
poderá mais fechar este céu que a fidelidade do Filho amado abriu, nem calar
esta voz que, para sempre, nos declarará o seu amor.
Interpelações da Palavra
Veio ter com João Baptista
Estremeço!!! Na fila daqueles que caminham,
carregados com a consciência dos seus pecados, vejo divisar-se a figura d’Ele,
o Cordeiro sem pecado e sem mancha! Como é possível que venha ter comigo a
Palavra de Quem eu sou a voz, o Caminho, para quem eu preparei o caminho, o Fogo
no qual acendo a chama da minha mensagem? Aproxima-se como fagulha de luz, a
insinuar-se nas trevas. Dou-me conta que um tempo novo se inaugura na relação
dos seres humanos com Deus. Hoje vejo, de olhos deslumbrados, Deus a imergir na
sua obra. Comovo-me ao contemplar o divino Oleiro de mãos empapadas com o barro
onde insuflou a vida. Ali está Aquele que vem ensinar-nos o caminho do
arrependimento, mas nele não nos deixa sós. Deus faz marcha com este povo que
se liberta do mal, caminha com a imperfeição que ruma para beleza. Sou eu que
quero receber d’Ele a graça regeneradora do perdão, mas é Ele me pede primeiro
o caminho desimpedido para chegar a mim. Deixo-O vir… a água que eu derramar
sobre Ele escorrerá como bênção para o mundo!
Abriram-se os céus
Os céus tantas vezes nos apareceram como véu intransponível
que se interpunha entre nós, criaturas, e o Deus longínquo e inacessível… Não
foi preciso que tivéssemos de perturbar o silêncio sideral; os céus rasgaram-se
espontaneamente pois o Filho amado veio habitar o nosso chão e chamou todo o
céu para esta terra que flore o próprio amor de Deus. Este chão agora é o céu. Por
Jesus deu-se uma punção no véu que toldava os olhares. Nada mais se interporá
entre o cúmplice olhar e o amoroso diálogo de Deus e das suas criaturas. Esta
brecha é prenúncio daquela outra, feita no Coração de Cristo, o único lar que
demandamos. A todos nos é possível penetrar no Santuário, no segredo de Deus,
na torrente das suas delícias. Os ladrões do céu terão este encorajamento para
arriscar! É preciso dar aos pobres esta estupenda notícia!!!
O Filho muito amado
Sobre o movimento do oceano da fidelidade do Filho dança
o Espírito de Deus. A nova humanidade surgirá nesta carne preparada pela
docilidade do Filho amado. Olho Jesus que sai da água, como o eclodir de uma
nova criação. Jesus semeou na nossa humanidade aquela amabilidade que atrai o
olhar enlevado de Deus. Só Jesus é absolutamente o Filho Amado, mas aqueles que
O escutam e participam da sua fidelidade, tornam-se um com Ele e, por isso,
estão aptos a escutar do Pai aquela mesma declaração de amor. É aqui, neste rio
das minhas procuras, que O deixarei imergir; é aqui de entre as nuvens soturnas
das minhas dúvidas que consentirei o golpear de uma voz; é aqui, no contexto da
minha infidelidade, da minha fragilidade que se quer levantar, que permitirei
que Ele vá fazendo progredir a doce narração do Evangelho!
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Pai amoroso, abres
os tempos com a Tua Palavra Criadora,
Abre o meu querer ao teu amor
criativo, para que consita recriar-me da tua Palavra.
Filho amado, dás
esperança àqueles que superam o conforto da passividade,
Que participe
na tua fidelidade que, aqui e agora, é moção dos novos céus e nova terra,
Espírito de
amor, fecundas a alegria de quem ousa caminhar ao teu ritmo
Torna o meu coração
apto para acolher e deixar vibrar a declaração de amor do Pai.
Trindade
Santíssima, adoro-vos e entrego-me ao vosso amoroso desígnio.
Viver a Palavra
Vou considerar o dom
da minha vocação baptismal como um chamamento amoroso de Deus Trindade.
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