Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Assim como o Pai Me amou, também Eu
vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu
Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria
esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos
ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele
que dá a vida pelos amigos. Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos
mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai. Não
fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que
vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao
Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá. O que vos mando é que vos ameis uns aos
outros». (Jo 15, 9-17)
Caros amigos e amigas, no
Evangelho deste Domingo ecoa apenas uma única palavra repetida incansavelmente:
amor, declinado em tantas formas! Cada frase deste Evangelho é um mundo que
merece ser contemplado, meditado, saboreado. Cada expressão abre um horizonte
de mistério, sublinhando que ali está a fonte e o essencial do cristianismo.
“Assim
como o Pai Me amou, também Eu vos amei”
Hoje, o
amor é um conceito algo enigmático, abusado e inflacionado. O amor é até uma
realidade pouco poética: constata-se que é difícil amar! Todos conhecemos
tantos contos de fadas que acabam mal…
Há uma
teoria que afirma que a palavra amor é composta do “a” privativo (não) com a
palavra “morte” (mors, mortis): o amor é a não-morte. Então, o amor é a vida, é
aquilo que não morre, é o que permanece para sempre. O amor é aquilo que salva:
só o amor nos faz viver e só por amor se pode viver.
Jesus
confessa a fonte do seu amor: o Pai! Não se sente diminuído ao dizer que é
fruto de um amor maior. Nós pelo contrário, cegos pela sede de aparecermos
originais e de não dependermos de ninguém, esquecemos que a nossa felicidade
depende sempre do amor de um outro maior do que nós.
O amor é
sempre fruto de um enamoramento. O “amor é divina folia” (Platão). E esta é a
essência do cristianismo: acolher o amor apaixonado de Deus! Diante de Deus
nada temos a temer ou a esconder, mas devemos trazer aquela pitada de folia, de
excesso, de desmedida, um pouco daquela irracionalidade que é própria do
coração. Ocorre sermos pedintes do amor, mendigando a seiva da vida,
deixando-se alcançar por aquele Amor que arrasta e repara as ruínas da
existência, para frutificar.
“Amai-vos
uns aos outros, como Eu vos amei”
É este
pequeno como que me perturba e me
encosta à parede! Sim, mas é também este amar
como Ele nos ama que me encanta e
seduz, como fogo que queima, inquieta, aquece, ilumina, desacomoda, preenche,
devora, orienta… Só o amor de Jesus é a medida de um amor sem medidas! Este
amor é fonte e dom, maravilha de um contágio excessivo, que antecipa e provoca
o nosso amor! Aquele “como” indica a qualidade do verdadeiro amor: desproporcional,
gratuito e infinito.
O Deus invisível
tornou-se visível nos gestos de amor de Jesus. O nosso amor é sempre a
declinação, a tradução daquilo que Deus é: simples gota dum oceano, um instante
da eternidade, um pedaço do Amor.
Amar os
outros requer cumplicidade. Não se ama a humanidade desconhecida, mas os
próximos mais próximos, a começar pela família, amigos, colegas… “Amar” árvores
e cães é até muito fácil…
“Ninguém
tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos”
No
Evangelho “amar” está traduzido tantas vezes com o verbo “dar”. Não se trata de
uma emoção ou sentimento, mas um dar ao alcance das mãos, de pão, de água, de
vestes, de tempo dado, de portas atravessadas, de pó das estradas… “porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era peregrino e me
acolhestes; nu e me vestistes…” (Mt 25, 34 -40).
Amar não é só a vaga paixoneta adolescente, com perfume a
violetas e juras eternas. É principalmente a vida real e concreta, a dança do
cansaço e da paixão, o beijo da fidelidade e da dádiva esquecida. Pois, como
diz o poeta, “se o nosso coração não arder de amor, o mundo morrerá de frio”. Então,
caros amigos e amigas, experimentai o amor! Arriscai a amizade! E incendiai o
vosso mundo com o ardor do Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Quero acolher a graça do convite
do Senhor e permanecer no mandamento da comunhão.
REZAR A PALAVRA
Senhor! Propões-me um caminho de comunhão, um
crescimento contínuo
na intimidade contigo. Desejo
abraçar-me a Ti, sem que nada nos separe
e permanecer nesse segredo que
me constrói e me insufla de alegria completa.
Senhor! Propões-me uma estrada
de entrega, onde a amizade é a bandeira
do serviço incondicional. Desejo
abraçar-e a Ti, sem que nada nos separe
e permanecer neste segredo que me
fascina, permanecer no Teu amor.
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