Naquele tempo, chegou a altura de
Isabel ser mãe e deu à luz um filho. Os seus vizinhos e parentes souberam que o
Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. Oito
dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai,
Zacarias. Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João».
Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». Perguntaram
então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. O pai
pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. Imediatamente
se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a
Deus. Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da
Judeia se divulgaram estes factos. Quantos os ouviam contar guardavam-nos em
seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?». Na verdade, a mão do
Senhor estava com ele. O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E
foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel». (Lc 1, 57-68.80)
Caros amigos e amigas, do
silêncio de Zacarias e da esterilidade de Isabel nasce a última palavra
profética da antiga Aliança e o percursor daquele que fecunda a vida.
Da mudez ao louvor
Desde
que recebera a mensagem do anjo no templo Zacarias permanecera mudo. Ficara
incrédulo e silencioso diante do surpreendente anúncio do nascimento de um
filho, porque as leis da natureza já não o consentiam. Talvez tenha ficado mudo
para, em silêncio, contemplar a acção de Deus, na sua família e na história do
seu povo.
Zacarias
só reencontra a sua voz quando se torna pai e lhe nasce o filho. Regressa à
palavra só quando um novo amor o solta das fronteiras obsoletas e dos pensamentos
arcaicos. Recomeça a falar quando a sua própria
vida gera uma nova vida. Então inicia a louvar e a bendizer: Bendictus, que é a oração que a Igreja
repete diariamente ao amanhecer. Zacarias reinicia a viver só quando a sua vida
se abre ao dom!
Também
nós reencontramos as palavras justas e boas quando nos tornamos pais, quando
cuidamos e nos responsabilizamos pela vida, quando aprendemos a amar. A vida
deixa de ser muda e silenciosa quando geramos um filho, um amigo, um irmão, um
amor! De contrário as palavras tornam-se pedra, silêncio e aridez, que gelam e
ensurdecem a vida.
Um nome grávido de
futuro
A
tradição hebraica, com o costume de impor o nome do pai ou de um antepassado,
procurava assegurar nos bebés a continuidade com o passado. Ainda hoje o nome
indica a pessoa, a pertença a uma família, a uma história. Define-nos! Contudo,
João (=Deus abençoa) é um nome novo,
estranho à tradição familiar. O seu nome não
representa uma linhagem, mas um futuro inesperado. O filho de Zacarias e Isabel
não terá o olhar voltado para o passado, mas estará fixo no futuro, naquele que
há de vir.
Cada nascimento é um dom, uma dilatação do amor de Deus.
Através do nosso nome, Deus não marca encontro connosco no passado, mas
abre-nos para um futuro. A fé não consiste em perpetuar uma tradição, mas é uma
relação a alimentar, uma aventura a percorrer, uma paixão a amar, um sonho a
realizar!
“Quem
virá a ser este menino?”
Todos os
vizinhos ficaram admirados, bendizendo a Deus, com tão grande milagre realizado
em Isabel e Zacarias. Depois de uma vida estéril ambos vêem o fruto de uma
espera e de uma esperança.
A
semente lançada à terra finalmente dá fruto! Tudo é estéril se o desejo de Deus
não deixar em nós as suas pegadas. Quando Deus visita a nossa pobreza, o que
era mudo torna-se voz! O imprevisível sonho de Deus é capaz de destruir a
aridez vazia de um útero que não gera filhos e até a árvore mais velha do nosso
coração, mesmo que seca, torna-se ainda capaz de dar fruto. Acreditar é deixar
Deus irrigar a secura dos nossos velhos hábitos e palavras, é acolher o
Espírito na nossa vida e viver com alegria o nome novo com que Deus nos chama e
nos ama. Assim, caros amigos e amigas, nos preparamos à novidade do Evangelho.
VIVER
A PALAVRA
O Senhor tem para mim uma missão!
Quero traduzir, na minha vida, a Sua proposta de fidelidade.
REZAR A PALAVRA
Senhor, nada sai ao acaso das Tuas mãos,
ensinas a Palavra pelo silêncio,
exaltas na humildade, preenches o vazio!
Senhor, Deus de amor, de
esperança, de luz,
envias instrumentos,
mensageiros, profetas, soldados da paz e do bem
que me ensinam o Teu amor,
mostram a Tua luz e ecoam a Tua Palavra.
És bom, Senhor! Senhor da história, do tempo e
do meu crescimento!
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