quinta-feira, 5 de maio de 2011

III DOMINGO PÁSCOA A



Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de Jerusalém. Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido. Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho. Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem. Ele perguntou-lhes. «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Pararam, com ar muito triste, e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias». E Ele perguntou: «Que foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo; e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado. Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu. É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro, não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns Anjos a anunciar que Ele estava vivo. Alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram». Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram! Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória?». Depois, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito. Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante. Mas eles convenceram-n’O a ficar, dizendo: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles. E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O. Mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles, que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão». E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão. ( Lc 24, 13-35)

Caros amigos e caras amigas, o Evangelho de Emaús narra a peregrinação da nossa vida que oscila, tantas vezes, entre uma vida desiludida e um coração encantado. Caminhar com amigos e desconhecidos, partilhar as esperanças e as tristezas, descobrir o sentido profundo dos acontecimentos, dividir o pão da vida e deixar Deus acender-nos o coração é o grande tesouro de Emaús.

Do desespero até à fé
Os dois discípulos de Emaús caminham amargurados e decepcionados. Abandonam Jerusalém e com ela deixam os sonhos e as esperanças Com o coração ainda acampado no calvário são incapazes de acolher a alegria transbordante da Páscoa. Enquanto caminham um desconhecido junta-se a eles. Quando tudo parece falir, Jesus faz-se companheiro de viagem, acolhendo as confidências, na partilha da vida, da palavra e do pão.
Quem de nós não se encontrou um dia sobre a estrada de Emaús, com o coração cheio de questões e de esperanças desiludidas? Quantas vezes não pensamos que o Senhor fica retido nos sacrários e que caminhamos sozinhos no mundo? Ainda hoje, quando sobre a nossa fé desce a noite, os passos de Jesus metem-se nos rastos da humanidade, dentro do pó da estrada, e ao ritmo do seu coração. O problema não é a ausência de Deus, mas é a incapacidade em reconhecê-lo; é a miopia que concentra tudo sobre nós próprios, sobre os nossos problemas.

Caminho de palavra e de pão
Caminhar juntos permite desfolhar as páginas densas da vida com um novo significado. Se a palavra amiga muda o coração, o pão partilhado muda o olhar dos discípulos que reconhecem Jesus no partir do pão. É este o seu estilo; é este o sinal da sua presença como corpo partido e dado, vida doada para alimentar a vida.
Todo o caminho de Emaús é uma liturgia de esperança: faz descobrir o fio de ouro dentro das malhas do mundo; revela a presença silenciosa e escondida de quem nunca nos abandona; é capaz de despertar o dom de um coração aceso, apto a ver o amigo. Emaús obriga a repartir, como se a noite já não fosse noite. O triste caminhar torna-se então alegre corrida com o sol dentro da vida: não há mais noite, nem cansaço, nem tristeza.

“Não ardia cá dentro o nosso coração?”
Esta é a eterna interrogação do homem. Na verdade, desde a saída de Jerusalém até ao regresso, não mudam os factos ou as palavras, muda é o coração dos discípulos. Para reconhecer Jesus não basta conhecer as Escrituras, não basta caminhar com o outro, não basta repetir mecanicamente os gestos da última ceia, se em tudo faltar o ardor do amor. Sem amor é impossível ver Jesus e o outro. Só o amor conhece! Só amor vê e encontra!
É sobre Jesus que os dois discípulos falam; é por causa dele que estão desiludidos e desconsolados. Mas só quando Ele lhes fala, é que arde o coração. Só uma vida acesa, na partilha dos irmãos, é capaz de incendiar as trevas e desilusões. Ter um coração ardente é o dom precioso de Emaús! E isso, caros amigos, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou reconhecer Jesus, o companheiro de viagem, na Palavra escutada e no Pão partilhado.

REZAR A PALAVRA
Senhor Jesus, vem visitar os nossos caminhos enxutos de esperança!
Palavra eterna, traz a luz da memória e o calor da profecia,
e incendeia, em suas agruras, a peregrinação da Tua Igreja;
Pão Vivo, traz a fome da fé e o sabor da Tua presença,
e permanece, como companheiro aconchegante, na noite da Tua Igreja.
Boa notícia, traz a urgência do anúncio e a razão do testemuho
e adorna o rosto a Tua Igreja com a aurora da ressurreição.

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