quinta-feira, 14 de julho de 2011

XVI DOMINGO COMUM A

Naquele tempo, Jesus disse às multidões mais esta parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a um homem que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi-se embora. Quando o trigo cresceu e começou a espigar, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram dizer-lhe: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem então o joio?’. Ele respondeu-lhes: ‘Foi um inimigo que fez isso’. Disseram-lhe os servos: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’. ‘Não! – disse ele – não suceda que, ao arrancardes o joio, arranqueis também o trigo. Deixai-os crescer ambos até à ceifa e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em molhos para queimar; e ao trigo, recolhei-o no meu celeiro’». (mT 13, 24-30)

Caros amigos e amigas, as parábolas do Evangelho espantam e provocam. Hoje, a sabedoria e paciência do semeador são escola de vida que nos convidam a olhar para a beleza e para os bons frutos. No nosso coração florescem e se entrelaçam o grão e joio. Na ceifa, só o trigo de amor será recolhido pelo Semeador.

Um campo de boa semente e joio
Encanta-me a confiança do semeador que fixa o seu olhar sobre as espigas de trigo, mesmo se me identifico facilmente com os servos que cravam a sua atenção no joio, procurando um culpado. Dois modos de olhar que são dois distintos modos de viver e de amar: um olha à beleza e à fecundidade da vida, ao que pode ser pão e fermento de novidade; o outro centra-se nos defeitos, vê as pessoas e o mundo invadidos pelas falhas e divide tudo em categorias de bem e mal, de verdade e erro, de graça e pecado.
A parábola recorda também que no nosso campo não semeia apenas Deus ou nós. Não somos os únicos artífices do mundo e nem tudo depende de nós. Tanto para o bem como para o mal existem condicionamentos, influências, intrusões. Ocorre não procurar culpados, mas zelar pelo crescer e espigar da vida.

“Queres que a arranquemos?”
Como os servos da parábola gostaríamos de soluções imediatas e claras. Talvez nos seja mais fácil denunciar do que testemunhar, protestar do que semear, arrancar do que plantar, separar do que ligar, julgar a noite do que acender um dia novo. E, todavia, o joio e o trigo crescem juntos dentro de mim, de nós. Não nos compete arrancar nada, porque sem querer podemos desenraizar quanto de bom Deus semeou no nosso coração.
O crescimento leva tempo, tem o seu ritmo próprio. Não é puxando e esticando uma flor que ela cresce mais depressa. Deus leva mais de cem anos para fazer crescer um carvalho. Felizmente Ele é mais paciente connosco do que com um carvalho, porque é “lento para a ira e rico em misericórdia” (Salmo 145).

“Deixai-os crescer ambos”
A doce sabedoria do semeador não tem pressa em meter o tractor no campo para cortar o mal pela raiz. O Senhor leva-nos a procurar, no campo de cada um, espigas douradas; convida a preocupar-se com a semente boa, a cuidar de cada rebento, a estimar os pequenos grãos de vida no outro, em vez de lhe sobrevalorizar os defeitos, condená-lo pelas fraquezas, desterrá-lo por causa das suas sombras.
Não tenhamos medo de caminhar, com ternura e paciência, entre os sulcos floridos da nossa história e aí admirar as espigas da boa ceifa e também o colorido do joio. Na verdade, as ervas daninhas estão no meio da boa terra e atravessam o mundo, a Igreja, o coração de cada pessoa. Escandalosamente a paciência de Deus deixa que o mal cresça junto ao bem. Jesus não arranca o joio, não corta a figueira infecunda, não afasta Judas do grupo dos doze, mas pelo contrário ajoelha-se, para lhe lavar os pés como amigo, pouco antes da traição. Talvez, com a esperança de ainda haver tempo de mudar, de converter.
Deus procura em nós, em primeiro lugar, não a ausência de defeitos, mas a fecundidade do fruto bom. No fim, Ele não olhará para o joio, para o lado escuro da nossa existência, nem para o pecado cometido, mas fixar-se-á no bem realizado, no grão maduro e fecundo. Porque para Deus o bem pesa muito mais do que o mal, e uma espiga de grão conta mais do que todo o joio da terra. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho.

VIVER A PALAVRA
Quero escutar a novidade da Palavra de Deus para deixar que o trigo do amor cresça em mim.

REZAR A PALAVRA
Espírito de Deus, doce brisa, purificador vento... vem arejar a minha seara!
Não permitas que trigo e joio se confundam numa dança de arbitrariedade...
Eu te agradeço o espaço de misericórdia que me concedes até à hora da ceifa;
Vem restaurar tudo o que a minha inconsistência estraga, no tempo com que me semeias.
Faz maturar, no meu íntimo, a genuína essência do pão, até ao sabor da Eucaristia.
Vem insuflar de esperança a minha pequenez, até à explosão do teu amor em mim...
Vivifica-me a fecundidade, fecunda-me o movimento, movimenta-me a vida!

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