Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se à
sua terra e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou o sábado, começou a
ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam: «De onde
Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e os prodigiosos
milagres feitos por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, filho de Maria, e irmão
de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E não estão as suas irmãs aqui entre
nós?». E ficavam perplexos a seu respeito. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é
desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa». E não podia ali
fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. Estava
admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores,
ensinando.
Caros amigos e amigas, Jesus vai
à sua terra e, admirado pela falta de fé da gente, parte rumo a outras aldeias.
O Profeta desprezado em casa torna-se, então, o Profeta da humanidade. Nazarenos somos nós com a nossa lógica e mentalidade, incapazes de ver
no quotidiano as sementes de milagres.
Os
numerosos ouvintes estavam admirados
Naquele sábado a notícia deve ter chegado rapidamente a
toda a aldeia e os vizinhos depressa se amontoaram à porta da sinagoga. A fama
do Mestre tinha-se espalhado pela região e, entre sorrisos curiosos ou
cépticos, todos queriam vê-lo e escutá-lo. Na verdade, sabia bem voltar a casa
após uma longa ausência, a Nazaré, à sua cidade, entre a gente que o viu
nascer, crescer, trabalhar, onde estava a sua mãe e os amigos de infância.
Muitos se admiravam com a sua inteligência, a sua fabulosa sabedoria e
prodigiosos milagres.
Não é
Ele o carpinteiro?
Os conterrâneos de Jesus passam, no entanto, rapidamente
do encanto à incredulidade. Para as gentes de Nazaré, Deus é demasiado grande
para abaixar-se e falar através de um homem tão simples! Em trinta anos Jesus
tinha sido tão semelhante àquela gente, no quotidiano e na simplicidade,
vivendo com eles e como eles, que não havia diferenças. Demasiado humano este
Messias, demasiado banal o seu viver, demasiado frágil e pobre para um Deus!
Este é o escândalo da fé: como é que a força da Palavra se reveste da
fragilidade e do quotidiano? Como é que a potência de Deus se revela na
impotência da cruz? Até para nós, o Filho de Deus não pode vir a este mundo com
as mãos calejadas dum carpinteiro, sujeito ao cansaço e suor, com pouco de
sublime e sem a aura de misticismo que deveria caracterizar as pessoas
religiosas.
Como os
habitantes de Nazaré também nós deitamos fora os profetas, dissipamos os
encantos de Deus, impedimos o esplendor da epifania do quotidiano, nivelamos
tudo por baixo. E dizemos: é apenas mais um iluminado, de quem conhecemos bem
os tios e primos, até sabemos os seus defeitos…
Não
podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes
Passa
Deus pelas estradas de Nazaré e não é reconhecido. Questão de miopia, de olhos
incapazes de ver além da banalidade, da aparência e do efémero? Talvez antes um
coração pequeno que pensa que o perímetro do mundo seja circunscrito aos
limites do próprio quintal. Jesus não se limita aos muros da casa ou aldeia mas
voa em direcção do mundo. É profeta não da sua aldeia, mas da humanidade.
Deus
continua, hoje, a visitar a sua e nossa terra e nós ficamos também
escandalizados quando vemos que o Evangelho está confiado às nossas mãos
frágeis e vidas de barro. Deus não se serve de gente extraordinária, mas a sua
presença imprevisível está no próximo, irmão, amigo ou estrangeiro. A palavra
de Deus é declinada em palavras e vidas humanas, porque cada pessoa é profeta e
mensageiro do infinito.
Perante
a rejeição dos patrícios, Jesus impõe as mãos a alguns doentes. Diante da
repulsa, o Mestre continua a amar, a inventar gestos, mesmo que poucos, para
afirmar que o amor não se esgota e nunca se cansa. O amor rejeitado continua a
amar; o Deus recusado torna-se ainda regeneração. O amor não guarda rancores: os
poucos curados de Nazaré são a garantia que Deus não se desencanta de nós
(Ronchi).
Caros
amigos e amigas, o Evangelho não é daqui, ultrapassa os nossos pensamentos e
fraquezas, tem pretensões ilógicas: o amor é sempre excessivo, vem de uma
pátria misteriosa. Por isso, é Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Perante a vedação da rotina e da
incompreensão escolherei o fogo do amor de Jesus, aceso na sua Palavra.
REZAR A PALAVRA
Senhor! Mestre sempre novo, fonte de sabedoria e verdade.
Ensina-me a novidade do teu amor, que questiona a rotina das
minhas medidas.
Ensina-me a inquietude da tua paz, que destabiliza a monotonia
do meu sim.
Ensina-me a pureza do teu olhar, que perdoa a frieza dos meus
julgamentos.
Ensina-me o milagre da tua palavra, que cala os gritos nus da
minha justiça.
Derruba os preconceitos que carrego como dístico e
aumenta a minha fé, Senhor!
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