quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Batismo B


Evangelho segundo S. Marcos 1, 7-11
Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu baptizo na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo». Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João no rio Jordão. Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer sobre Ele. E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência».

Caros amigos e amigas, com o Baptismo do Senhor terminamos o ciclo do Natal e ali, junto do Jordão onde com Cristo fomos baptizados, somos convidados a escutar a Palavra que “se fez carne e habitou entre nós”. Este Evangelho ajuda-nos a entender quem é Cristo e a sua missão e quem é o Cristão e a sua missão.

Interpelações da Palavra
Mais forte do que eu…
Bem sabemos a quem é que João Baptista se refere. Quando fala em “mais forte do que eu” não se refere aos soldados, nos seus trajes bélicos, que o visitavam com perguntas pertinentes; ele não se refere à astuta Herodíades que tramava projectos para o eliminar; ele não se refere à sensual Salomé que obtinha prémios com as suas danças provocantes; ele não se refere ao volúvel Herodes que, com apenas uma ordem, ceifa uma vida. Amigos e amigas a força de que fala João nem está no armamento, nem na astúcia, nem na provocação, nem no poder. João Baptista não teme estas “forças” ambíguas e fugazes. A força a que ele se submete é a verdade, a força desenhada pelo Espírito Santo, naquele que é o Filho do Altíssimo.
João vê em Jesus o vencedor de todas as formas de força temporárias, vazias e inúteis. Ele representa a força definitiva. A força (afinal!) frágil de Deus… a força e o poder indestrutíveis do amor.

Ele veio de Nazaré da Galileia
Jesus vem de Nazaré, dessa terra marginal e sofredora, de onde ninguém pensa que possa surgir “coisa boa”. Em Jesus, que vem de Nazaré, Deus pisa os nossos caminhos alienados pela injustiça, sangrados pela violência, feridos nas chagas dos pobres, dos mal-vistos e dos mal-amados. Deus visita o seu povo que O anseia “como terra árida sequiosa”! Os caminhos de Deus passam a ser os caminhos da humanidade. Jesus pisa o mesmo trajecto que pisam os pecadores até ao rio Jordão em busca de uma purificação, de uma palavra, de um gesto que os faça regressar novos e disponíveis para a esperança… O rasgar dos céus confirma essa proximidade de Deus. Ele confirma o que já tinha dito a Moisés no Horeb: é um Deus que “vê, que ouve e que desce”. Ele derrama-se do seu Céu longínquo e inatingível, na nossa terra esquecida, árida e sem sabor para a fecundar de vida nova. Por isso, não mais a nossa terra, a nossa Nazaré, onde desenhamos os passos de cada dia, poderá ser amaldiçoada, nem considerada infecunda! Se vivermos d’Ele os nossos passos serão sementes!

Filho muito amado
No seu desígnio de nos ajudar a descobrir quem é Jesus, Marcos fotografa este momento em que o próprio Pai do Céu apresenta o seu ungido, O unge publicamente com o óleo do Espírito de Amor. A humanidade de Jesus, que é também a nossa, é modelada com as mãos feitas de voz e de amor. Esta declaração é fonte de uma esperança imensa: se Jesus é o “muito amado”, Ele também será Aquele que muito ama. É como um incêndio que se comunica. O amor de Deus jamais deixará de tomar o mundo e aqueles que nele habitam.
Na última frase do texto está reeditada a imagem da criação. Jesus é a nova criação. Jesus é também o novo Sinai, o depositário da Nova Aliança. Os céus e a terra, as realidades que nos tocam as mãos de todos os dias e os mistérios que os nossos sentidos não podem atravessar ficaram com a tonalidade da Voz amante, ficaram com a ondulação imprimida pelas asas leves o Espírito, subtileza incorpórea, ficaram com o sabor dulcíssimo do Amado. Por isso é que, amigos e amigas, vivemos imersos, respiramos a atmosfera do Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, ungido do Pai, acolho em deslumbramento o enlevo do Pai por ti!
Primogénito de toda a criatura, te rendo graças porque pisas os meus caminhos!
Senhor Jesus, primícias da nova humanidade, Tu és a aposta e a resposta do meu peregrinar!
Filho muito amado, Tu fazes-me experimentar contigo o abraço amante do Pai…
Esperança da nossa humanidade, mantém em mim acesa a consciência da tua presença.
Cordeiro que tiras o pecado do mundo, acolhe as minhas mãos que se expõem à tua misericórdia!

Viver a Palavra

Vou considerar a minha dignidade de filho amado do Pai celeste.

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