sábado, 28 de março de 2015

Domingo de Ramos B


Evangelho segundo S. Marcos 14, 1-15,47
Enquanto estavam à mesa e comiam, Jesus disse: «Em verdade vos digo: Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me». (…) Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». (…) «Abá, Pai, tudo Te é possível: afasta de Mim este cálice. Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». (…) Os príncipes dos sacerdotes (…) depois de terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos. (…) Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha (…), querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. (…) Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». (…) Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz». (…) E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?». que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». (…) Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

Caros amigos e amigas, a narração da paixão não precisa de comentários, deve ser apenas contemplada, rezada e vivida. Trata-se da paixão de Deus disposto a amar o homem até ao fim, custe o que custar, até dar a própria vida. Não se pode penetrar no mistério da cruz se não se encontrar ali o mistério do amor de Deus.

Interpelações da Palavra
Aclamar, bendizer,… silenciar
Ramos de oliveira e de palmeira são agitados em hossanas diante do Nazareno montado num jumento. A multidão canta entusiasmada estendendo as capas à sua passagem. Mas depressa o júbilo dá lugar ao silêncio, à solidão, ao escândalo da paixão, à dureza da cruz, ao desconcerto da derrota. Diante da nudez divina crucificada, o homem apenas pode o silêncio. Diante da folia do amor a criatura apenas pode contemplar. Diante da entrega até ao fim o homem apenas pode render-se.

Estar aos pés da cruz
O calvário é a expressão extrema da entrega que, durante toda a vida, Jesus foi fazendo se si próprio, vibrando e amando, chorando e comovendo-se diante das cruzes da gente, não ficando indiferente a ninguém.
Poucos permanecem junto da cruz: Pedro nega-se, Judas vende-se, os sacerdotes testemunham falso, Pilatos lava-se as mãos, a multidão cospe violência… Ainda hoje não atrai seguir Jesus na via sacra! Sacra porque de amor e não de dor! Sacra porque na cruz Deus fica prisioneiro do amor! No entanto, ali pregado Ele está de braços eternamente abertos, mostrando que a vida se multiplica sempre que se entrega gratuitamente; e revelando que a verdadeira morte é a esterilidade de quem não se dá e conserva egoisticamente.

O amor até à morte é semente de ressurreição
No fim, é um ladrão o primeiro a entrar no paraíso. É depois um centurião, alguém habituado à violência e à morte, a reconhecer o Filho de Deus! São os da periferia da existência os primeiros a entrever no rosto do Crucificado a beleza do rosto do Pai! “Vacilaram os que tinham visto Cristo ressuscitar os mortos; acreditaram aqueles que o viram pender da cruz” (S. Agostinho)!
Só quem conhece o amor e a ternura, o afecto e a admiração, o choro e o desespero, a dor e a impotência, se aproxima da cruz! São principalmente mulheres que permanecem no calvário! Talvez porque sabem o quanto é silenciosa e discreta a germinação da vida no seio, o quanto custa fazer nascer a vida! Talvez saibam, por experiência, que o amor é mais forte do que tudo, até da morte! Sabem que o amor nunca se rende, acredita até ao fim e antecipa no momento mais difícil a eternidade. As mulheres não se rendem à evidência dos factos porque perscrutam a evidência do coração de Deus. E, esperando além da esperança, serão bem cedo na manhã da Páscoa as sentinelas da Ressurreição do Amor! Naquela hora, amigos e amigas, nasce o Evangelho!



Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, Filho de Deus, o silêncio da tua entrega fere o cinzento de cada queixume e revolta interior
Na Tua firme obediência desenhas um mapa repleto de desafios,
onde o caminho, a partida e a meta é o amor. Tu amas até ao fim!
Deixa-me envolver pela nuvem silênciosa do Espírito que paira em cada oblação,
deixa-me escutar o Teu gemido, tradução do clamor de cada homem e de cada irmão…
Senhor, Filho de Deus, não me deixes cair na tentação de descer da cruz…

Viver a Palavra

Vou olhar a cruz e acolher com misericórdia a dor de cada irmão.

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