quinta-feira, 2 de julho de 2015

XIV Domingo Comum B



Evangelho segundo S. Marcos 6, 1-6
Naquele tempo, Jesus dirigiu-Se à sua terra e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos? Não é Ele o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? E não estão as suas irmãs aqui entre nós?». E ficavam perplexos a seu respeito. Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa». E não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.

Caros amigos e amigas, Jesus vai à sua terra e, admirado pela falta de fé da gente, parte rumo a outras aldeias. O Profeta desprezado em casa torna-se, então, o Profeta da humanidade.

Interpelações da Palavra
Estavam admirados
Naquele sábado a notícia deve ter chegado rapidamente a toda a aldeia e os vizinhos depressa se amontoaram à porta da sinagoga. A fama do Mestre tinha-se espalhado pela região e, entre sorrisos curiosos ou cépticos, todos queriam vê-lo e escutá-lo. Na verdade, sabia bem voltar a casa após uma longa ausência, a Nazaré, à sua cidade, entre a gente que o viu nascer, crescer, trabalhar, onde estava a sua mãe e os amigos de infância. Muitos se admiravam com a sua inteligência, a sua fabulosa sabedoria e prodigiosos milagres.

Profecia revestida de trapos
Os conterrâneos de Jesus passam, no entanto, rapidamente do encanto à incredulidade. Para as gentes de Nazaré, Deus é demasiado grande para abaixar-se e falar através de um homem tão simples! Em trinta anos Jesus tinha sido tão semelhante àquela gente, no quotidiano e na simplicidade, vivendo com eles e como eles, que não havia diferenças. Demasiado humano este Messias, demasiado banal o seu viver, demasiado frágil e pobre para um Deus! Este é o escândalo da fé: como é que a força da Palavra se reveste da fragilidade e do quotidiano? Como é que a potência de Deus se revela na impotência da cruz? Até para nós, o Filho de Deus não pode vir a este mundo com as mãos calejadas dum carpinteiro, sujeito ao cansaço e suor, com pouco de sublime e sem a aura de misticismo que deveria caracterizar as pessoas religiosas.
Como os habitantes de Nazaré também nós deitamos fora os profetas, dissipamos os encantos de Deus, impedimos a epifania do quotidiano, nivelamos tudo por baixo incapazes de ver as sementes de milagres.

Não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes
Passa Deus pelas estradas de Nazaré e não é reconhecido. Questão de miopia, de olhos incapazes de ver além da banalidade, da aparência e do efémero? Talvez antes um coração pequeno que pensa que o perímetro do mundo esteja circunscrito aos limites do próprio quintal. Jesus não se limita aos muros da casa ou aldeia mas voa em direcção do mundo. É profeta não da terra, mas da humanidade.
Deus continua, hoje, a visitar a sua e nossa terra e nós ficamos também escandalizados quando vemos que o Evangelho está confiado às mãos frágeis e vidas de barro. Deus não se serve de gente extraordinária, mas a sua presença imprevisível está no próximo, irmão, amigo ou estrangeiro. A palavra de Deus é declinada em palavras e vidas humanas, porque cada pessoa é profeta e mensageiro do infinito.
Perante a rejeição dos compatriotas, Jesus impõe as mãos a alguns doentes. Diante da repulsa, o Mestre continua a amar, a inventar gestos, mesmo que poucos, para afirmar que o amor não se esgota e nunca se cansa. O amor rejeitado continua a amar e não guarda rancores: os poucos curados de Nazaré são a garantia que Deus não se desencanta de nós (Ronchi).
Caros amigos e amigas, o Evangelho não é daqui, ultrapassa os nossos pensamentos e fraquezas, tem pretensões ilógicas: o amor é sempre excessivo, vem de uma pátria misteriosa. Por isso, é Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Senhor, volta a amanhecer o milagre da tua luz e talvez a película da rotina não me deixe vê-la!
Quero estremecer na tua presença, à beleza do teu amor: da negligência da rotina, livra-me, Senhor!
Tu esbanjas festa no pormenor das coisas, no prodígio de um universo imenso e feliz,
Não deixes que o Evangelho passe por mim e se desfaça na minha indiferença!
Silêncio e escuta, capacidade de me deslumbrar, não me deixes faltar, Senhor!
Desperta-me a alegria, espevita-me a fé, convida o “eis-me aqui”! Seguir-te-ei, Senhor.

Viver a Palavra

Vou cultivar a atenção para os sinais de Deus que se desprendem das coisas mais banais da minha vida.

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