quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

V Domingo Comum A - Sal e Luz

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus». (Mt 5, 13-16)

Caros amigos e amigas, as parábolas de Jesus têm a capacidade de dizer as maravilhas de Deus com palavras simples, referindo-se ao concreto da vida. Entre o mistério do Reino e os nossos pequenos acontecimentos quotidianos parece não haver distâncias: qualquer coisa pode falar-nos de Deus e ninguém é demasiado pequeno para demitir-se de dar sabor e glorificar o Pai dos Céus.

“Vós sois…”
Estas palavras incidem o coração. Quem me dera ter o olhar de Jesus para ver nos discípulos as sementes de beleza e o sabor da existência. Ele olha também para nós e, para além das trevas e limitações, vê muito mais do que uma vida insonsa e de pilhas gastas; vê a luz e o paladar que Deus faz nascer em nós. Não diz que o devemos ser, mas constata o ADN, a identidade luminosa e saborosa que somos. Sim, um vós plural, como família e comunidade, fora dos umbigos egoístas. Porque a luz nasce dos encontros e vive da beleza da comunhão. Porque o melhor petisco só sabe bem quando o outro está presente. Porque sozinho se caminha às escuras e uma cidade sem gente é um deserto sem vida. Mas quando se “reparte o pão com o faminto, se dá pousada aos pobres sem abrigo, então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar. Se tirares do meio de ti a opressão, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia” (Isaías).

“… o sal da terra”
O sal é aquilo que ascende da massa do mar respondendo ao luminoso apelo do sol. Assim também os discípulos ascendem respondendo à atracção da infinita luz divina (Ronchi). O Mestre recorda-nos que somos terreno fértil visitado pelo segredo das coisas e que fazemos parte da história do Filho de Deus que trespassa a nossa vida para lhe dar gosto.
Assim também somos sal, insignificância capaz de transformar o sabor da vida, se dispostos a desaparecer, não porque inúteis, mas para purificar, preservar, curar e encontrar-se apenas no outro.
“O Evangelho é sal, mas vós tornaste-lo açúcar” dizia Paul Claudel. Na verdade, o Evangelho queima os lábios e o coração, mas o drama hoje é um cristianismo sem Cristo, uma religião sem fé, um culto sem celebração, uma fé sem paladar, tépida e cinzenta, esquecida e escondida sob o alqueire.

“… a luz do mundo”
Ninguém pode olhar para o sol sem que o seu rosto não seja iluminado. Sim, amigos, há rostos habitados por Deus, porque não se pode estar exposto diariamente ao olhar da ternura infinita sem receber uma insólita beleza. Há rostos que irradiam luz sem o saber. Basta vê-los! É a eloquência dos gestos, do acolhimento, do brilho do olhar, dos sorrisos e das lágrimas, e percebemos que Deus está, que Deus é luz, e que o nosso coração está criado para a luz.
Reza um provérbio hebraico que “todas as trevas não conseguem apagar uma candeia; mas uma candeia sozinha ilumina todas as trevas”. Sim, as palavras de Jesus são luminosas e aclaram o coração. Quando somos discípulos do seu amor e reflexo da sua luz tudo se transforma, mesmo se ainda cegos pelo abismo do desespero ou pelo fumo das ilusões. É Ele a coluna de fogo que nos guia. É a claridade da sua face a rota dos nossos passos. É o perfume das suas palavras o doce Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Procurarei que os meus gestos sejam transparência da luz de Jesus e tenham sabor de Evangelho.

REZAR A PALAVRA
Senhor, mistério que dá sabor à minha vida, e conserva em mim a vontade de amar,
toma o sal frágil, que depositaste em meu ser,
e lança-o... lança-me para o campo que é Teu.
Senhor, fascínio de cor que afasta a minha escuridão
e abre horizontes no meu caminho de busca,
toma a pequena chama, que acendeste em meu ser
e levanta-a... levanta-me na “casa” que é a Tua.
Que eu incomode com a Tua Palavra, que eu alumie com o brilho do Teu amor em mim!

Nenhum comentário: