quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

VI Domingo Comum A - A lei do coração

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim revogar, mas completar. (…) Portanto, se alguém transgredir um só destes mandamentos, por mais pequenos que sejam, e ensinar assim aos homens, será o menor no reino dos Céus. Mas aquele que os praticar e ensinar será grande no reino dos Céus. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás; quem matar será submetido a julgamento’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que se irar contra o seu irmão será submetido a julgamento. Quem chamar imbecil a seu irmão será submetido ao Sinédrio, e quem lhe chamar louco será submetido à geena de fogo. Portanto, se fores apresentar a tua oferta ao altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e vem depois apresentar a tua oferta. (…) Ouvistes que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher com maus desejos já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o para longe de ti (…). E se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor que se perca um só dos teus membros, do que todo o corpo ser lançado na geena. (…). A vossa linguagem deve ser: ‘Sim, sim; não, não’. O que passa disto vem do Maligno». (Mt 5,17-37)


Caros amigos e amigas, as palavras exigentes e fortes do Evangelho não são um apelo ao impossível, nem Jesus convida a uma moral que multiplica exigências, mandamentos e medos. O objectivo é voltar à fonte e ao sentido da vida: ao coração que é ícone da presença de Deus.

Completar e superar a lei
Jesus não é um anárquico que subverte a tradição, nem convida os discípulos a decorar o código de direito canónico do Antigo Testamento. Ele bem sabe que a lei se vive como dever e direito, obrigação e usufruto, com o risco do legalismo farisaico e de uma imperativa submissão. Mas para Jesus o homem é muito mais do que a letra! Quando há amor não são precisas leis. O amor, com os seus excessos e fantasias, exige perdão e renúncias, requer a paz com o inimigo, ultrapassa a lei, envolve toda a pessoa: as mãos e os gestos, os olhos e o ver, a boca e a palavra, a acção e a intenção.
Trata-se de uma lógica nova, a do coração, que não arranja desculpas para uma entrega plena e desmesurada. É uma lógica que não se satisfaz com um lifting externo, mas vai à raiz de cada coisa e requer transparência nas acções e desejos, nas palavras e comportamentos.
Jesus não convida à mudança da lei, mas à mudança e conversão do coração. É no coração que se decide a verdade mais radical do homem. E o Evangelho é dilatação do coração; é mais vida!

“Eu, porém, digo-vos...”
Talvez, só após terem visto o amor crucificado é que os discípulos encontraram o sentido destas palavras de Jesus. Talvez, só depois da maior prova de amor é que os amigos descobriram que o amor não serve para nada, a não ser para amar! Sim, assim sem leis nem preceitos, apenas com a loucura inconcebível do coração do Filho de Deus.

Viver o amor
Ser discípulo é antes de tudo uma questão de família, de irmãos, de casa de comunhão. As relações humanas são o lugar do verdadeiro culto a Deus. Não se pode celebrar a paternidade de Deus se antes os laços fraternos não foram restabelecidos, nem se pode rezar pacificamente a Deus se se profana o irmão. Para Jesus o altar do irmão precede o altar de Deus!
Amigos, só se carregarmos o peso e a alegria do outro, se lhe conhecermos as lágrimas e os sorrisos, se descobrirmos sempre nele um tesouro, se virmos nele a riqueza de Deus, então superaremos as leis impostas exteriormente. O “irmão” é sempre um oceano, um céu, uma profundeza irrepetível, um ícone do rosto divino. Ele completa com o seu amor o que falta ao nosso coração.

VIVER A PALAVRA
Comprometo-me a praticar e ensinar o mandamento do amor!

REZAR A PALAVRA
Bendito sejas, Senhor, única Palavra reveladora
que superas e completas o som de toda a Lei e dos Profetas:
Ilumina tudo o que sou e tenho com a luz intensa da tua perfeição.
Bendito sejas, Senhor, palpitação eterna da Verdade
que sintetizas tudo o que foi e é dito, no dizer eloquente do amor:
Purifica tudo o que proclamo e revelo, no fogo de amar sem medida.
Bendito sejas, Senhor, repousante meta, saciante plenitude,
que arrasas a superficialidade, os rodeios e a mesquinhez:
Consuma tudo o que procuro e edifico, na simplicidade de um sim.

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