quinta-feira, 4 de agosto de 2011

XIX DOMINGO COMUM A

Depois de ter saciado a fome à multidão, Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-l’O na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão. Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós. Ao cair da tarde, estava ali sozinho. O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, Jesus foi ter com eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, vendo-O a caminhar sobre o mar, assustaram-se, pensando que fosse um fantasma. E gritaram cheios de medo. Mas logo Jesus lhes dirigiu a palavra, dizendo: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais». Respondeu-Lhe Pedro: «Se és Tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas». «Vem!» – disse Jesus. Então, Pedro desceu do barco e caminhou sobre as águas, para ir ter com Jesus. Mas, sentindo a violência do vento e começando a afundar-se, gritou: «Salva-me, Senhor!». Jesus estendeu-lhe logo a mão e segurou-o. Depois disse-lhe: «Homem de pouca fé, porque duvidaste?». Logo que subiram para o barco, o vento amainou. Então, os que estavam no barco prostraram-se diante de Jesus, e disseram-Lhe: «Tu és verdadeiramente o Filho de Deus». (Mt 14, 22-23)

Caros amigos e amigas, esta passagem evangélica é uma metáfora da Igreja, da nossa vida em Igreja. A nossa vida é como uma travessia entre duas margens: a margem em que Jesus nos envia e a margem em que Jesus nos acolhe.

Uma margem desde Jesus
Um entardecer sereno na segurança de estar em terra, gozando de uma saciedade, que pouco esforço exigiu… Quando tudo está tão bem, porque é que Jesus tem de nos sujeitar a um ingresso no desconhecido, ao risco e ao tenebroso? Quantas vezes somos como estes discípulos contrariados, quando o Mestre nos envia numa hora em que se avizinham as sombras da noite, e o próprio pessimismo e insegurança nos fazem augurar o fracasso…
Há um discipulado a consumar. Há uma travessia purificadora a fazer! Temos de perceber que a palavra de Jesus é eficaz e que quando Ele envia não o faz em vão. Não obstante todas as contrárias previsões, ainda que a preguiça e o comodismo ditem outro desígnio, aventuremo-nos ao som da Palavra que conduz qualquer barca.

O mar, o vento, a noite… e Jesus.
Na travessia da vida, a nossa humanidade, aparentemente só, não sabe como lidar com a tempestade! Será que Jesus lança os discípulos numa armadilha, empurrando-os para a violência das vagas? O divino pedagogo sabe que os seus escolhidos necessitam de um estágio de navegação hostil para sacudir o comodismo e despojar-se da auto-suficiência, a fim de O aceitar como a consumação das suas vidas. A Igreja de Jesus navega naquela barca frágil para aprender a avistar apenas no amor, a segurar-se apenas à fé e a remar valentemente na esperança.
É preciso passar de um olhar desfocado pelo medo, de um olhar puramente humano, a roçar até a superstição, para um sentido de fé, que reconhece a presença e a voz que dá identidade a Deus: Sou Eu!
Pedro personifica essa fé débil que não se fixa em Jesus, mas se desvia e se afunda na consciência do próprio peso. Amigos e amigas, confiemos o nosso grito de socorro ao calor e à firmeza de uma mão que não nos deixa soçobrar! Pedro e os outros apercebem-se que o poder de Jesus, que os deslumbrou inicialmente desde uma perspectiva humana, é só o poder do amor que não subjuga… é um poder que penetra as coisas, e até enamora o mar, acaricia o vento e comove a noite. O poder do amor é um poder que conhece. Jesus conhece o mar, o vento e a noite e conhece os seus discípulos, por isso pode pacificar os elementos, e pode pacificar os seus amados.

A outra margem em Jesus
É preciso passar para a outra margem; é preciso arriscar no alcançar da promessa. Os discípulos não partem senão até uma promessa de encontro… com Aquele que os enviou. A outra margem não é uma qualquer praia, ou uma terra, não é uma casa, um local, mas é uma pessoa. A pessoa que se anunciou e que pede espera.
Mas no fim de contas, é Jesus que vem ter connosco, antecipando o encontro. Manda-nos esperar, mas é Ele que arde de impaciência por estar connosco, que não suporta ver-nos a batalhar sozinhos no meio das ondas.
Quando Jesus se lhes reúne na barca, os discípulos ficam a saber qual era, enfim, a outra margem. O que eles não sabiam é que Jesus sempre esteve com eles, que aquele momento em que ficou a orar a sós com o Pai foi a intensidade que suportou mar e vento e noite… e as suas frágeis vidas. A nossa vida é também uma oração, às vezes angustiada, entre duas orações: a oração de Jesus e a nossa oração em Jesus, aquela que, enfim, O reconhece! E prostrar-se, reconhecendo Jesus como Filho de Deus é o cerne do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou confiar ao poder de Jesus, os meus medos, as minhas inseguranças e também o meu esforço.

REZAR A PALAVRA
Salva-me, Senhor! Estende-me a tua mão segura!
A minha fé é débil e afunda-se no mar revoltado da existência.
Salva-me, Senhor! Estende-me a tua mão segura!
A minha fé é frágil e desaparece no vento violento deste remar.
Salva-me, Senhor! Estende-me a tua mão segura!
Aumenta a minha fé, para que possa descansar em teu colo
e rezar: “Tu és verdadeiramente o Filho de Deus!”

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