quinta-feira, 11 de agosto de 2011

XX DOMINGO COMUM A

Naquele tempo, Jesus retirou-Se para os lados de Tiro e Sidónia. Então, uma mulher cananeia, vinda daqueles arredores, começou a gritar: «Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim. Minha filha está cruelmente atormentada por um demónio». Mas Jesus não lhe respondeu uma palavra. Os discípulos aproximaram-se e pediram-Lhe: «Atende-a, porque ela vem a gritar atrás de nós». Jesus respondeu: «Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». Mas a mulher veio prostrar-se diante d’Ele, dizendo: «Socorre-me, Senhor». Ele respondeu: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos». Mas ela insistiu: «É verdade, Senhor; mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus donos». Então Jesus respondeu-lhe: «Mulher, é grande a tua fé. Faça-se como desejas». E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada. (Mt 15, 21-28)

Caros amigos e amigas, a humildade, a fé, a confiança e a perseverança são ingredientes essenciais não tanto para que uma oração atinja o coração de Deus, mas mais para nos proporcionar a disponibilidade indispensável ao acolhimento dos milagres de Deus.

A oração que sabe pedir
Duas orações de intercessão, bem distintas: a da mulher cananeia que pede a cura da sua filha e a dos discípulos que pedem para que Jesus a atenda. Causa-nos alguma estranheza a inicial intransigência e até dureza de Jesus perante um pedido que se situa fora do âmbito da sua missão, mas avaliemos a progressão do seu comportamento. O que os discípulos pedem não parece ser fruto da compaixão, mas antes da ralação por terem de suportar os gritos da mulher. E fica claro que nada adiantam à decisão que Jesus parece ter tomado.
A mulher cananeia, porém, leva um aflito coração de mãe, o qual, diante de Jesus, se torna num confiante coração de filha. Ela sabe que, do pedido que fizer, nada terá a perder, mas nem por isso o faz levianamente. A sua oração tem um tom de perseverança que vai até ao fim mas, ao mesmo tempo, de extrema humildade, e é ela que logra obter de Jesus a graça implorada e ainda uma menção elogiosa à sua fé. Não se parece em nada com muitas das orações que às vezes fazemos. Somos uns pedintes atrevidos que exigem quantidades e estipulam prazos, que reivindicam dons que nem sabem como acolher.

A oração que sabe aceitar…
Por vezes julgamo-nos tão familiarizados com o Senhor que achamos ter o direito de que Ele nos atenda os caprichos e nos resolva os descuidos. Por outro lado, quantas vezes perdemos oportunidades preciosas por depreciar os dons de Deus na forma como se nos apresentam, de modo simples e trivial. Preferimos o aparato e o formal. Temos de nos recordar que com Jesus um pouco lama pode dar vista a um cego, um toque tangencial pode trazer a cura, uma breve palavra pode fazer brotar uma abundância inaudita, um simples olhar pode mudar a vida!
Quando não temos acesso ao infinito de Deus, é porque não sentimos uma infinita necessidade d’Ele. Precisamos de nos deixar surpreender e de agradecer apaixonadamente o requinte das pequenas coisas, a frescura da manhã e a beleza do poente, tanto a imensidão de uma galáxia como a insignificância de um átomo.

… o valor de uma migalha
É comovente a resposta desta mulher! Ela não acha desprezível receber de Jesus uma migalha, pois pressente que aí está contido todo o dom de Deus. É que Jesus é um eminente apreciador de migalhas! A moeda insignificante da viúva pobre, um copo de água fresca dado a um discípulo, um frasco de perfume derramado, o rogo sumido de um crucificado… As gotas salgadas que escorrem no rosto dos arrependidos e dos que sofrem, são para Jesus como diamantes de valor incomparável. Jesus não despreza um ápice de dom e não passa indiferente a uma ponta de dor, a um pedido de socorro, ainda que isso o faça antecipar “a hora”.
O mundo mantém-se de pé por causa da soma imensa de tantas migalhas esforçadas por servir, de migalhas despercebidas, humildes e pobres que dão, mesmo no pouco, tudo o que têm. O valor de cada uma é infinito. Deus jamais deixará estéril o mais pequeno gesto de amor!
É uma questão de coração e de olhar o perceber que o todo está no pormenor, no detalhe… porque numa migalha, caros amigos e amigas, pode estar contido todo o sabor do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou semear amor, com gestos de acolhimento e de atenção gratuita.

REZAR A PALAVRA
Senhor, tem compaixão das orações que trago fora de mim,
e integra-me na doçura do silêncio; reza em mim a perseverança e a humildade.
Senhor, tem compaixão da minha rotina piedosa e da minha intercessão egoísta
e envia-me como resposta às preces insistentes da humanidade.
Senhor, tem compaixão das exigências cegas que te faço
e mostra-me o jardim de possibilidades que despontam no meu solo;
Socorre, Senhor, a minha incapacidade para te pedir
e abre-me o coração para entender que já me ouviste!

Nenhum comentário: