Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!». (Mc 13, 33-37)
Sempre nos custa esperar. Mas quando o amor é maior, o tempo de espera constrói-nos por dentro e permite-nos criar espaço para o hóspede. É tempo de Advento, de espera(nça), de acolhimento, de surpresa, de trabalhar em nós a missão de sentinela! A qualquer momento, Cristo pedirá para entrar, para nascer de novo em nós.
Chegará o momento
A história faz-se de momentos. Pequenos flashes que constroem um caminho de busca e de espera. Há encontros previamente marcados, momentos que já esperamos e nos colocam numa atitude prévia de acolhimento. Mas na nossa vida, muitos mais são os momentos inesperados, os encontros surpresa, que testam a nossa capacidade de vigilância e de acolhimento. As novidades teimam em quebrar a nossa rotina. E ainda bem! Deus é sempre novo, a sua novidade convida-nos a vigiar, pois há sempre um novo momento de encontro com Ele.
A cada um a sua tarefa
No livro da vida, Deus precisa de nós. Atribui a cada um a sua tarefa. Confia nas nossas mãos, no nosso coração, nos nossos lábios, nos nossos pés…deixa-nos “entregues” à sua casa. Não nos questiona esta confiança desmedida de Deus? Como nos encontrará e encontrará a Sua casa ao voltar?
Vigiai!
Se soubéssemos quando o Senhor vem e como, não precisaríamos de vigiar, bastaria marcar uma hora com Ele, ou estarmos prontos no momento certo. Mas Deus é surpresa. Surge na tarde, no cansaço do trabalho, nas horas de menos paciência, de maior azáfama… e aí será urgente vigiar. Vigiar na tarde, é manter um coração sereno e aberto ao tudo que é Deus, pois só Ele basta.
Deus é surpresa. Surge à meia noite, quando o sono da rotina nos adormece, quando os sonhos pessoais escurecem o sonho de Deus sobre nós…e aí será urgente vigiar. Vigiar na noite, é deixar espaço para a gratidão, para o louvor, para o perdão e para o sonho que Deus tem para nós, pois Ele é tudo.
Deus é surpresa. Surge ao cantar do galo, quando a vida aflora e não temos tempo para Ele, quando os queixumes e o desespero nos deixam ensonados… e aí será urgente vigiar. Vigiar pela manhã, é abrir o coração à novidade da Palavra e à fome do Pão e deixar que seja Ele a conduzir o nosso dia, pois Ele quer habitar em nós.
Deus é surpresa e, ou vigiamos, ou nos encontrará a dormir.
VIVER A PALAVRA
Vou cultivar uma atenção permanente para ler os inesperados anúncios de Deus.
REZAR A PALAVRA
Perturbas-me, Deus da demora e da pressa, Deus do já e do ainda não.
Tu que me sacias, és a veemência da minha sede; Tu que me serenas, tanto me inquietas!
Tu que me procuras és o mesmo que me mandas esperar-Te em hora incerta.
Tu que és o milagre, nunca me dás resolvidas as equações da vida!
Tu que me fazes sonhar e és o meu repouso, não suportas encontrar-me a dormir!
Tu que, ao pormenor, me responsabilizas, envolves-me numa confiança infinda.
Perturbas-me e encantas-me, Deus novo, que me fazes de novo, em cada desafio.
Amo-te, supreendente Deus, que confias ao meu coração um pleno poder de amar!
Ofereço-te o meu labor, Deus que não deixas perder a minha vida quando morre por ti!
Espero-te, Deus que esperas sempre por mim e nunca desistes de me encontrar.
O teu momento já vive em mim: não deixes que a espera queime a esperança.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Cristo Rei A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna». (Mt 25, 31-36)
Caras amigas e amigos, com a festa de Cristo Rei conclui-se o ano litúrgico percorrido na companhia de Mateus. O Evangelho recorda-nos que no fim seremos julgados pelo Amor sobre o amor.
Só o bem e a beleza contam!
Seduz este Evangelho: nos arquivos de Deus não estão assinaladas as falhas, mas estão apenas memorizados os gestos de amor e bondade. Não são elencadas as nossas sombras, mas as sementes de amor, as lágrimas enxugadas e as vidas partilhas. Deus vê apenas o bem da vida e não as suas fragilidades. Diante Dele não tememos os nossos pecados, tememos antes as mãos vazias. O Pai não olhará para nós, mas olhará à nossa volta, olhará para a quantidade de lágrimas e de pessoas que nos foram confiadas.
Hoje, somos nós que julgamos os necessitados e os pobres e, neles, o próprio Deus. Agora, somos nós o gesto de bênção ou de rejeição, somos nós o pão do esfomeado ou o deserto do abandonado.
“O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”
Mateus apresenta seis obras, tão vastas quanto o sofrimento humano. A ninguém é pedido um milagre ou o impossível, apenas o empenho de visitar doentes, de ajudar um idoso acamado, de cuidar do cônjuge e do filho, do vizinho solitário… Exigente beleza deste Evangelho: estar atento e cuidar do irmão é algo tão importante que Deus liga a vida eterna a um pedaço de pão; é algo tão fácil que todos, mesmo o mais pobre, tem tempo, um sorriso e um coração, para poder ser salvo.
Quem toca um pobre trespassa o céu de Deus
O Evangelho é claro: no céu entrarão apenas aqueles que tiverem entrado na vida e na casa dos pobres. O julgamento final não será dirigido sobre a nossa pessoa, mas sobre os nossos pobres, os nossos esfomeados, os nossos abandonados. O juízo não será sobre nós mas sobre as nossas relações. Deus julgar-me-á olhando não para mim mas para aqueles que por mim foram consolados, os que de mim receberam esperança e força para continuar o caminho, os que se alegraram com o pão e a água que lhes dei, os que ressuscitaram com a coragem e ânimo recebidos. Afastando-nos do pobre afastamo-nos de Deus e afastamo-nos de nós próprios. É esta a perdição: o afastamento da vida. Não haverá amanhã para quem não se abrir fazendo-se casa e pão para os outros, tornando-se desde já suplício ou paraíso para todos.
No juízo final, Deus sonha com um homem sem fome nem lágrimas, sem prisões nem doenças, feliz e salvo. O futuro não se espera, mas constrói-se: o futuro, o céu, o paraíso é gerado pelo bem que tu e eu damos aos inumeráveis lázaros desta terra que diariamente se cruzam connosco. Só assim Deus reina no universo!
Quando a nossa mão toca um pobre, os nossos dedos atravessam o céu de Deus. O mais pequeno é o éden de Deus. O pobre é mestre da fé porque encarna na sua vida uma evidência: todos nós vivemos apenas porque temos alguém; subsistimos unicamente porque somos auxiliados pelos outros; existimos somente porque somos acolhidos por Alguém, impaciente por nos repetir: Vem, bendito de meu Pai! Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou deixar que o amor se manifeste em gestos para com os “mais pequenos”.
REZAR A PALAVRA
Senhor, Teu é o Reino, o Poder e a Glória... quero que sejas o Rei do meu desígnio de amar.
Dá-me olhos que leiam a nobreza do Teu rosto, nos rostos apagados pelo sofrimento...
Dá-me mãos que se dignifiquem na glória do serviço e se deleitem com a coroa da gratuidade.
Dá-me um coração que, do trono da humildade, exerça o poder omnipotente do Teu amor.
Não permitas que o meu desejo de reinar te esconda e a omissão de amar me faça perder,
mas que a busca do Teu Reino te encontre e uma entrega incondicional me construa.
Caras amigas e amigos, com a festa de Cristo Rei conclui-se o ano litúrgico percorrido na companhia de Mateus. O Evangelho recorda-nos que no fim seremos julgados pelo Amor sobre o amor.
Só o bem e a beleza contam!
Seduz este Evangelho: nos arquivos de Deus não estão assinaladas as falhas, mas estão apenas memorizados os gestos de amor e bondade. Não são elencadas as nossas sombras, mas as sementes de amor, as lágrimas enxugadas e as vidas partilhas. Deus vê apenas o bem da vida e não as suas fragilidades. Diante Dele não tememos os nossos pecados, tememos antes as mãos vazias. O Pai não olhará para nós, mas olhará à nossa volta, olhará para a quantidade de lágrimas e de pessoas que nos foram confiadas.
Hoje, somos nós que julgamos os necessitados e os pobres e, neles, o próprio Deus. Agora, somos nós o gesto de bênção ou de rejeição, somos nós o pão do esfomeado ou o deserto do abandonado.
“O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”
Mateus apresenta seis obras, tão vastas quanto o sofrimento humano. A ninguém é pedido um milagre ou o impossível, apenas o empenho de visitar doentes, de ajudar um idoso acamado, de cuidar do cônjuge e do filho, do vizinho solitário… Exigente beleza deste Evangelho: estar atento e cuidar do irmão é algo tão importante que Deus liga a vida eterna a um pedaço de pão; é algo tão fácil que todos, mesmo o mais pobre, tem tempo, um sorriso e um coração, para poder ser salvo.
Quem toca um pobre trespassa o céu de Deus
O Evangelho é claro: no céu entrarão apenas aqueles que tiverem entrado na vida e na casa dos pobres. O julgamento final não será dirigido sobre a nossa pessoa, mas sobre os nossos pobres, os nossos esfomeados, os nossos abandonados. O juízo não será sobre nós mas sobre as nossas relações. Deus julgar-me-á olhando não para mim mas para aqueles que por mim foram consolados, os que de mim receberam esperança e força para continuar o caminho, os que se alegraram com o pão e a água que lhes dei, os que ressuscitaram com a coragem e ânimo recebidos. Afastando-nos do pobre afastamo-nos de Deus e afastamo-nos de nós próprios. É esta a perdição: o afastamento da vida. Não haverá amanhã para quem não se abrir fazendo-se casa e pão para os outros, tornando-se desde já suplício ou paraíso para todos.
No juízo final, Deus sonha com um homem sem fome nem lágrimas, sem prisões nem doenças, feliz e salvo. O futuro não se espera, mas constrói-se: o futuro, o céu, o paraíso é gerado pelo bem que tu e eu damos aos inumeráveis lázaros desta terra que diariamente se cruzam connosco. Só assim Deus reina no universo!
Quando a nossa mão toca um pobre, os nossos dedos atravessam o céu de Deus. O mais pequeno é o éden de Deus. O pobre é mestre da fé porque encarna na sua vida uma evidência: todos nós vivemos apenas porque temos alguém; subsistimos unicamente porque somos auxiliados pelos outros; existimos somente porque somos acolhidos por Alguém, impaciente por nos repetir: Vem, bendito de meu Pai! Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Vou deixar que o amor se manifeste em gestos para com os “mais pequenos”.
REZAR A PALAVRA
Senhor, Teu é o Reino, o Poder e a Glória... quero que sejas o Rei do meu desígnio de amar.
Dá-me olhos que leiam a nobreza do Teu rosto, nos rostos apagados pelo sofrimento...
Dá-me mãos que se dignifiquem na glória do serviço e se deleitem com a coroa da gratuidade.
Dá-me um coração que, do trono da humildade, exerça o poder omnipotente do Teu amor.
Não permitas que o meu desejo de reinar te esconda e a omissão de amar me faça perder,
mas que a busca do Teu Reino te encontre e uma entrega incondicional me construa.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
XXXIII Domingo Comum A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro, e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’». (Mt 25, 14-30)
Caras amigas e amigos, a parábola dos talentos é um hino à confiança e à criatividade de Deus que deposita em cada um de nós sementes de futuro para rentabilizarmos apaixonadamente esse tesouro.
Um mundo de talentos
Todos somos uma montanha de possibilidades, uma mão cheia de sementes prontas a florescer. Talvez seja mais fácil sublinhar os defeitos do que reconhecer os dons. Contudo, a parábola diz-nos que ninguém é sem talento. Cada um é dom e talento precioso de Deus para os outros que enriquece a vida. Assim, o esposo pode repetir à esposa, o irmão ao amigo, o pai ao filho: “és tu o meu talento”; “como talento recebi-te a ti”!
“Toma parte na alegria do teu patrão”
Confiando os talentos, o patrão deseja que os servos se tornem seus íntimos colaboradores, seus amigos, sua família. Os talentos são dons de comunhão, partilha da própria vida, participação da riqueza pessoal. Deus confia-nos a vida não como um peso e uma condenação, mas como um dom, uma graça, uma bênção, uma oportunidade, com o ónus da alegria e da responsabilidade, do sucesso e das suas canseiras.
Os dois primeiros servos tomam parte na alegria do patrão porque envolvidos na geração da vida, na partilha, entrega e dedicação. Já o terceiro servo, sem paixão pelo Reino, enterra a própria felicidade, esconde-se no anonimato e no medo, torna-se escravo apático em vez de amigo. Mas isso é muito pouco porque há uma vida que urge e que pede para crescer. Guardar, esconder, assegurar, é uma tarefa ingrata e inútil. O nosso papel é o da multiplicação de mais vida, imitando os gestos de Deus, numa espiral crescente de amor. Não somos latas de conserva com prazo de validade, mas servidores da força imensa e do fermento escondido dentro tudo o que vive.
Maravilhosa pedagogia divina
No fim, o patrão surpreende os servos e não quer de volta os talentos confiados, mas multiplica-os de novo. Não há uma restituição, mas um relançamento, um recomeço de mais amor e confiança. Não devemos restituir a Deus os seus dons, porque esses quando trabalhados tornam-se fermento, semente de outros dons, horizonte que se dilata, uma pedagogia da vida, um poema à criatividade. Não existimos para restituir a Deus os seus dons, mas vivemos para ser como Ele, com exuberância, doadores de luz e de vida. Deus tem uma infinita confiança em nós.
O julgamento não será então sobre a quantidade do ganho, mas sobre a qualidade do serviço, não sobre o número, mas sobre a verdade dos frutos. A felicidade não é filha da quantidade de talentos, mas da paixão com que se faz.
O Evangelho convida-nos a vencer a indolência, a omissão, o desânimo, que fazem cair a vida na esterilidade. Os dons de Deus não podem ser escondidos, fechados, ignorados, no mutismo do coração. Enterrar os talentos é o mesmo que cavar o próprio túmulo. Os talentos representam o amor de Deus semeado no coração das suas criaturas. Para ser servo bom e fiel basta deixar-se habitar pela loucura da fecundidade.
O verdadeiro talento que recebemos de Deus é o seu Filho, o Cristo vivo; nós somos co-responsáveis pelos frutos que Ele queira produzir em cada um. Basta para isso participar do entusiasmo apaixonado de Deus e empenhar-se para que os seus dons dêem mais frutos. Só assim, caros amigos e amigas, o Evangelho ganha vida.
VIVER A PALAVRA
Quero investir tudo o que tenho e sou no crescimento do Reino de Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, partes de viagem e deixas em mim uma semente do Teu amor.
Preciso conhecê-la e abraçá-la como Tua herança.
Não me pertence e sei bem que só germina quando partilhada...
Ajuda-me a contemplar com gratidão o que me confias, a acolher a tua novidade sem medo.
Ajuda-me a arriscar a aventura, não a preguiça, a lançar teimosamente sementes de bem.
Ajuda-me a partilhar o que de Ti há em mim...e convidar-me-ás a entrar na Tua alegria...
Caras amigas e amigos, a parábola dos talentos é um hino à confiança e à criatividade de Deus que deposita em cada um de nós sementes de futuro para rentabilizarmos apaixonadamente esse tesouro.
Um mundo de talentos
Todos somos uma montanha de possibilidades, uma mão cheia de sementes prontas a florescer. Talvez seja mais fácil sublinhar os defeitos do que reconhecer os dons. Contudo, a parábola diz-nos que ninguém é sem talento. Cada um é dom e talento precioso de Deus para os outros que enriquece a vida. Assim, o esposo pode repetir à esposa, o irmão ao amigo, o pai ao filho: “és tu o meu talento”; “como talento recebi-te a ti”!
“Toma parte na alegria do teu patrão”
Confiando os talentos, o patrão deseja que os servos se tornem seus íntimos colaboradores, seus amigos, sua família. Os talentos são dons de comunhão, partilha da própria vida, participação da riqueza pessoal. Deus confia-nos a vida não como um peso e uma condenação, mas como um dom, uma graça, uma bênção, uma oportunidade, com o ónus da alegria e da responsabilidade, do sucesso e das suas canseiras.
Os dois primeiros servos tomam parte na alegria do patrão porque envolvidos na geração da vida, na partilha, entrega e dedicação. Já o terceiro servo, sem paixão pelo Reino, enterra a própria felicidade, esconde-se no anonimato e no medo, torna-se escravo apático em vez de amigo. Mas isso é muito pouco porque há uma vida que urge e que pede para crescer. Guardar, esconder, assegurar, é uma tarefa ingrata e inútil. O nosso papel é o da multiplicação de mais vida, imitando os gestos de Deus, numa espiral crescente de amor. Não somos latas de conserva com prazo de validade, mas servidores da força imensa e do fermento escondido dentro tudo o que vive.
Maravilhosa pedagogia divina
No fim, o patrão surpreende os servos e não quer de volta os talentos confiados, mas multiplica-os de novo. Não há uma restituição, mas um relançamento, um recomeço de mais amor e confiança. Não devemos restituir a Deus os seus dons, porque esses quando trabalhados tornam-se fermento, semente de outros dons, horizonte que se dilata, uma pedagogia da vida, um poema à criatividade. Não existimos para restituir a Deus os seus dons, mas vivemos para ser como Ele, com exuberância, doadores de luz e de vida. Deus tem uma infinita confiança em nós.
O julgamento não será então sobre a quantidade do ganho, mas sobre a qualidade do serviço, não sobre o número, mas sobre a verdade dos frutos. A felicidade não é filha da quantidade de talentos, mas da paixão com que se faz.
O Evangelho convida-nos a vencer a indolência, a omissão, o desânimo, que fazem cair a vida na esterilidade. Os dons de Deus não podem ser escondidos, fechados, ignorados, no mutismo do coração. Enterrar os talentos é o mesmo que cavar o próprio túmulo. Os talentos representam o amor de Deus semeado no coração das suas criaturas. Para ser servo bom e fiel basta deixar-se habitar pela loucura da fecundidade.
O verdadeiro talento que recebemos de Deus é o seu Filho, o Cristo vivo; nós somos co-responsáveis pelos frutos que Ele queira produzir em cada um. Basta para isso participar do entusiasmo apaixonado de Deus e empenhar-se para que os seus dons dêem mais frutos. Só assim, caros amigos e amigas, o Evangelho ganha vida.
VIVER A PALAVRA
Quero investir tudo o que tenho e sou no crescimento do Reino de Deus.
REZAR A PALAVRA
Senhor, partes de viagem e deixas em mim uma semente do Teu amor.
Preciso conhecê-la e abraçá-la como Tua herança.
Não me pertence e sei bem que só germina quando partilhada...
Ajuda-me a contemplar com gratidão o que me confias, a acolher a tua novidade sem medo.
Ajuda-me a arriscar a aventura, não a preguiça, a lançar teimosamente sementes de bem.
Ajuda-me a partilhar o que de Ti há em mim...e convidar-me-ás a entrar na Tua alegria...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Carta Pastoral de D. José Cordeiro
D. José Cordeiro, Bispo de Bragança - Miranda dedicou a sua primeira Carta Pastoral à temática da formação inicial e permanente do Clero, tendo como pano de fundo "o Seminário como um laboratório de esperança para o presente do futuro", aproveitando a aproximação da Semana dos Seminários Diocesanos, que decorrerá entre 6 e 13 de Novembro, próximo. Neste documento endereçado aos "Presbíteros, aos Diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos da Diocese de Bragança-Miranda, depois de apresentar uma breve análise da situação da Diocese, faz um convite à conversão e à esperança.A formação dos sacerdotes deve ter em conta as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral, como já propunha a Exortação apostólica póssinodal, Pastores Dabo Vobis, de João Paulo II, publicada em 1992, a que D. José Cordeiro acrescenta a dimensão comunitária. Segundo o Bispo de Bragança-Miranda "estas cinco dimensões antropológico-teológicas da formação correspondem às exigências da identidade e missão dos presbíteros, tornando-se ainda mais necessárias no momento presente da história".Propõe então um itinerário para os 6 anos de formação do Seminário e conclui o documento com um ponto dedicado à formação do permanente do Clero sublinhando que "se a vida do padre não é formação permanente, toma-se frustração permanente. A formação é um processo global, progressivo e permanente".
XXXII DOMINGO COMUM A
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «O reino dos Céus pode comparar-se a dez virgens,
que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora». (Mt 25, 1-13)
Caros amigos e amigas, a parábola de hoje não condena a insensatez ou a sonolência das jovens, mas avisa do perigo de uma vida vazia, que não se acendeu, que não se empenhou em conhecer o Noivo. O Reino dos céus pertence a quem sabe sair, ultrapassar noites e solidões, para viver de encontros, no encontro nupcial com Cristo.
“Dez virgens foram ao encontro do esposo”
O Reino dos céus é sempre um encontro de amor, umas núpcias. O Reino pertence a quem sabe sair de si, abate as distâncias e solidões, vive dando passos rumo ao outro, supera as noites, fura as escuridões, com as lâmpadas da alma acesas. Ser amigo do esposo é ser pessoa de encontros com aquela reserva de azeite que é a medida do amor, numa vigilância contínua, de olhar e coração aberto. Ser cristão é ser inventor de estradas que conduzem aos irmãos e que guiam a Deus.
“Tomando as suas lâmpadas”
O Reino dos céus é semelhante a dez pequenas centelhas na noite. Pequenas mas suficientes para um pequeno passo. Ser amigo do noivo, ser cristão, é ser centelha na noite do mundo, ser presença luminosa, exploradora da aurora. Quando chega o pessimismo, a desilusão, o cansaço, somos convidados a ser gente que sabe e ousa falar do dia que vem, do sol que está a nascer. Não somos especialistas das sombras ou gente que mede as trevas, o negativo, o escândalo. Mas somos, sobretudo, gente que se empenha em trazer aquela pequena luz, que é a centelha da fé. Mais, é ser testemunha da luz, é ser sentinela da esperança! A Igreja tem a vocação de manter acesa a luz da fé para iluminar a casa da humanidade.
Cinco das jovens não levaram azeite suficiente, a necessária reserva de amor e, então, a sua luz apaga-se. A sua presença dissolve-se na noite. Também a nossa vida ou é uma presença acesa, luminosa, iluminante, que sabe arder por algo ou alguém, ou está diluída em tantas escuridões. O risco do crente não é o de adormecer enquanto espera o seu Senhor, mas o de ter anestesiado a esperança.
“Aí vem o esposo”; ide ao seu encontro”
De imprevisto, no meio da noite, levanta-se um grito que acorda o amor. É o grito do Evangelho que anuncia a chegada do Noivo. É sempre Ele que vem ao nosso encontro, que nos visita enamorado, à procura e à espera de um amor nupcial.
Há sempre uma voz que nos acorda, um grito que tranquiliza, um sinal da sua presença. Não importa se adormecemos, se estamos cansados, se a espera é longa, se a fé parece definhar… há sempre uma voz que desperta para o banquete nupcial, para a intimidade e a comunhão. “Eu dormia, mas meu coração velava. Eis a voz do meu amado” (Cântico dos Cânticos). Até no sono, a minha alma vigia e o meu coração bate com a melodia da sua voz. Velar não é apenas permanecer sem adormecer, mas é prever, estar atento ao mais pequeno sinal que anuncie a chegada e mantém viva a esperança.
Nós, como as jovens prudentes e as insensatas, adormecemos facilmente. Contudo, o mais importante é acordar com a voz que grita no meio da nossa noite. Essa indica a vinda do Esposo, anima o coração, põe-nos novamente a caminhar e regenera a existência. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero estar atento aos sinais e preparar o meu coração para acolher a novidade do Reino.
REZAR A PALAVRA
Os meus momentos fluem num cortejo de insensatez e de prudência:
com esta indecisão de avançar, ameaçados pela rotina e pela incoerência;
com este toque da esperança, potenciados pela promessa do encontro...
Senhor Jesus, Esposo de todos os meus momentos, demoras ainda?
Reforça em mim a fé na tua vinda, ainda que a hora não fique marcada.
O tempo da tua demora é a oportunidade de embelezar a minha vida!
A tua hora imprevista é a meta que alvoroça todos os meus momentos.
Basta que não falte o azeite do meu amor a acender esta gozoza expectativa...
que, tomando as suas lâmpadas, foram ao encontro do esposo. Cinco eram insensatas e cinco eram prudentes. As insensatas, ao tomarem as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo, enquanto as prudentes, com as lâmpadas, levaram azeite nas almotolias. Como o esposo se demorava, começaram todas a dormitar e adormeceram. No meio da noite ouviu-se um brado: ‘Aí vem o esposo; ide ao seu encontro’. Então, as virgens levantaram-se todas e começaram a preparar as lâmpadas. As insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, que as nossas lâmpadas estão a apagar-se’. Mas as prudentes responderam: ‘Talvez não chegue para nós e para vós. Ide antes comprá-lo aos vendedores’. Mas, enquanto foram comprá-lo, chegou o esposo. As que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial; e a porta fechou-se. Mais tarde, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos a porta’. Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: Não vos conheço’. Portanto, vigiai, porque não sabeis o dia nem a hora». (Mt 25, 1-13)
Caros amigos e amigas, a parábola de hoje não condena a insensatez ou a sonolência das jovens, mas avisa do perigo de uma vida vazia, que não se acendeu, que não se empenhou em conhecer o Noivo. O Reino dos céus pertence a quem sabe sair, ultrapassar noites e solidões, para viver de encontros, no encontro nupcial com Cristo.
“Dez virgens foram ao encontro do esposo”
O Reino dos céus é sempre um encontro de amor, umas núpcias. O Reino pertence a quem sabe sair de si, abate as distâncias e solidões, vive dando passos rumo ao outro, supera as noites, fura as escuridões, com as lâmpadas da alma acesas. Ser amigo do esposo é ser pessoa de encontros com aquela reserva de azeite que é a medida do amor, numa vigilância contínua, de olhar e coração aberto. Ser cristão é ser inventor de estradas que conduzem aos irmãos e que guiam a Deus.
“Tomando as suas lâmpadas”
O Reino dos céus é semelhante a dez pequenas centelhas na noite. Pequenas mas suficientes para um pequeno passo. Ser amigo do noivo, ser cristão, é ser centelha na noite do mundo, ser presença luminosa, exploradora da aurora. Quando chega o pessimismo, a desilusão, o cansaço, somos convidados a ser gente que sabe e ousa falar do dia que vem, do sol que está a nascer. Não somos especialistas das sombras ou gente que mede as trevas, o negativo, o escândalo. Mas somos, sobretudo, gente que se empenha em trazer aquela pequena luz, que é a centelha da fé. Mais, é ser testemunha da luz, é ser sentinela da esperança! A Igreja tem a vocação de manter acesa a luz da fé para iluminar a casa da humanidade.
Cinco das jovens não levaram azeite suficiente, a necessária reserva de amor e, então, a sua luz apaga-se. A sua presença dissolve-se na noite. Também a nossa vida ou é uma presença acesa, luminosa, iluminante, que sabe arder por algo ou alguém, ou está diluída em tantas escuridões. O risco do crente não é o de adormecer enquanto espera o seu Senhor, mas o de ter anestesiado a esperança.
“Aí vem o esposo”; ide ao seu encontro”
De imprevisto, no meio da noite, levanta-se um grito que acorda o amor. É o grito do Evangelho que anuncia a chegada do Noivo. É sempre Ele que vem ao nosso encontro, que nos visita enamorado, à procura e à espera de um amor nupcial.
Há sempre uma voz que nos acorda, um grito que tranquiliza, um sinal da sua presença. Não importa se adormecemos, se estamos cansados, se a espera é longa, se a fé parece definhar… há sempre uma voz que desperta para o banquete nupcial, para a intimidade e a comunhão. “Eu dormia, mas meu coração velava. Eis a voz do meu amado” (Cântico dos Cânticos). Até no sono, a minha alma vigia e o meu coração bate com a melodia da sua voz. Velar não é apenas permanecer sem adormecer, mas é prever, estar atento ao mais pequeno sinal que anuncie a chegada e mantém viva a esperança.
Nós, como as jovens prudentes e as insensatas, adormecemos facilmente. Contudo, o mais importante é acordar com a voz que grita no meio da nossa noite. Essa indica a vinda do Esposo, anima o coração, põe-nos novamente a caminhar e regenera a existência. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Quero estar atento aos sinais e preparar o meu coração para acolher a novidade do Reino.
REZAR A PALAVRA
Os meus momentos fluem num cortejo de insensatez e de prudência:
com esta indecisão de avançar, ameaçados pela rotina e pela incoerência;
com este toque da esperança, potenciados pela promessa do encontro...
Senhor Jesus, Esposo de todos os meus momentos, demoras ainda?
Reforça em mim a fé na tua vinda, ainda que a hora não fique marcada.
O tempo da tua demora é a oportunidade de embelezar a minha vida!
A tua hora imprevista é a meta que alvoroça todos os meus momentos.
Basta que não falte o azeite do meu amor a acender esta gozoza expectativa...
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