quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Cristo Rei A

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: «Quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus Anjos, sentar-Se-á no seu trono glorioso. Todas as nações se reunirão na sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, benditos de meu Pai; recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-Me de comer; tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e Me recolhestes; não tinha roupa e Me vestistes; estive doente e viestes visitar-Me; estava na prisão e fostes ver-Me’. Então os justos Lhe dirão: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome e Te demos de comer, ou com sede e Te demos de beber? Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos, ou sem roupa e Te vestimos? Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’. E o Rei lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes’. Dirá então aos que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e os seus anjos. Porque tive fome e não Me destes de comer; tive sede e não Me destes de beber; era peregrino e não Me recolhestes; estava sem roupa e não Me vestistes; estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’. Então também eles Lhe hão-de perguntar: ‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede, peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão, e não Te prestámos assistência?’. E Ele lhes responderá: ‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, também a Mim o deixastes de fazer’. Estes irão para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna». (Mt 25, 31-36)

Caras amigas e amigos, com a festa de Cristo Rei conclui-se o ano litúrgico percorrido na companhia de Mateus. O Evangelho recorda-nos que no fim seremos julgados pelo Amor sobre o amor.

Só o bem e a beleza contam!
Seduz este Evangelho: nos arquivos de Deus não estão assinaladas as falhas, mas estão apenas memorizados os gestos de amor e bondade. Não são elencadas as nossas sombras, mas as sementes de amor, as lágrimas enxugadas e as vidas partilhas. Deus vê apenas o bem da vida e não as suas fragilidades. Diante Dele não tememos os nossos pecados, tememos antes as mãos vazias. O Pai não olhará para nós, mas olhará à nossa volta, olhará para a quantidade de lágrimas e de pessoas que nos foram confiadas.
Hoje, somos nós que julgamos os necessitados e os pobres e, neles, o próprio Deus. Agora, somos nós o gesto de bênção ou de rejeição, somos nós o pão do esfomeado ou o deserto do abandonado.
“O que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos a Mim o fizestes”
Mateus apresenta seis obras, tão vastas quanto o sofrimento humano. A ninguém é pedido um milagre ou o impossível, apenas o empenho de visitar doentes, de ajudar um idoso acamado, de cuidar do cônjuge e do filho, do vizinho solitário… Exigente beleza deste Evangelho: estar atento e cuidar do irmão é algo tão importante que Deus liga a vida eterna a um pedaço de pão; é algo tão fácil que todos, mesmo o mais pobre, tem tempo, um sorriso e um coração, para poder ser salvo.

Quem toca um pobre trespassa o céu de Deus
O Evangelho é claro: no céu entrarão apenas aqueles que tiverem entrado na vida e na casa dos pobres. O julgamento final não será dirigido sobre a nossa pessoa, mas sobre os nossos pobres, os nossos esfomeados, os nossos abandonados. O juízo não será sobre nós mas sobre as nossas relações. Deus julgar-me-á olhando não para mim mas para aqueles que por mim foram consolados, os que de mim receberam esperança e força para continuar o caminho, os que se alegraram com o pão e a água que lhes dei, os que ressuscitaram com a coragem e ânimo recebidos. Afastando-nos do pobre afastamo-nos de Deus e afastamo-nos de nós próprios. É esta a perdição: o afastamento da vida. Não haverá amanhã para quem não se abrir fazendo-se casa e pão para os outros, tornando-se desde já suplício ou paraíso para todos.
No juízo final, Deus sonha com um homem sem fome nem lágrimas, sem prisões nem doenças, feliz e salvo. O futuro não se espera, mas constrói-se: o futuro, o céu, o paraíso é gerado pelo bem que tu e eu damos aos inumeráveis lázaros desta terra que diariamente se cruzam connosco. Só assim Deus reina no universo!
Quando a nossa mão toca um pobre, os nossos dedos atravessam o céu de Deus. O mais pequeno é o éden de Deus. O pobre é mestre da fé porque encarna na sua vida uma evidência: todos nós vivemos apenas porque temos alguém; subsistimos unicamente porque somos auxiliados pelos outros; existimos somente porque somos acolhidos por Alguém, impaciente por nos repetir: Vem, bendito de meu Pai! Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou deixar que o amor se manifeste em gestos para com os “mais pequenos”.

REZAR A PALAVRA
Senhor, Teu é o Reino, o Poder e a Glória... quero que sejas o Rei do meu desígnio de amar.
Dá-me olhos que leiam a nobreza do Teu rosto, nos rostos apagados pelo sofrimento...
Dá-me mãos que se dignifiquem na glória do serviço e se deleitem com a coroa da gratuidade.
Dá-me um coração que, do trono da humildade, exerça o poder omnipotente do Teu amor.
Não permitas que o meu desejo de reinar te esconda e a omissão de amar me faça perder,
mas que a busca do Teu Reino te encontre e uma entrega incondicional me construa.

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