sábado, 25 de fevereiro de 2012

Reunião do Conselho do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e Vocacional

Na manhã do dia 25 de fevereiro, reuniu o Conselho do SDPJV de Bragança/Miranda.
Partilhamos algumas ideias lançadas pelo Sr Bispo da Diocese na abertura da reunião:
- Não podemos evangelizar (n)estes tempos com respostas do passado.
- É necessário que através de nós se torne visível o invisível.
- Devemos passar das capelinhas ao sentido do corpo, a Igreja.
- Ninguém pode evangelizar se não estiver evangelizado.
- A (re)evangelização na nossa diocese é urgente.
- Há muita gente a viver sem Deus e a querer viver sem a Igreja.
- O Bispo deposita total confiança no trabalho do SDPJV, para que a Igreja seja cada vez mais leve, livre de tradições e estruturas, e mais bela e atraente.
- Não nos detenhamos na PDA (pastoral do deixa andar)... (Pe Nelson, Diretor adjunto do SDPJV)
- A pastoral deve estar em constante mudança, para que o encontro com Cristo seja cada vez mais intenso. (Pe Bento, Vigário para a Pastoral)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

I Domingo Quaresma B


Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». (Mc 1,12-15)

Caros amigos e amigas, este Evangelho é um condensado de toda a história da salvação, de toda a aventura da humanidade e da nossa história pessoal. No início deste “tempo favorável” Deus volta a escolher o deserto para nos convidar a um (re)encontro… com Ele.

Deixar-se conduzir ao deserto
Aparentemente onde não há nada nem ninguém está, no entanto, Deus. Ali, onde tudo foge e tudo falta, pode-se ainda viver de fé e experimentar o amor divino! Se, por um lado, o deserto é símbolo de vazio, sede e fome, renúncia de comodidades, por outro lado, ali Deus patenteia-nos uma liberdade desmesurada capaz de nos abrir, um silêncio amplo que permite a escuta, uma luz que desmascara as trevas, uma solidão apta a um encontro… o sair de um mundo para chegar ao coração do mundo, ali onde se encontra Deus. Mas, como Jesus, precisamos de um coração dócil para nos deixar conduzir…
Como a Adão, o pecado faz-nos temer a nudez e a exposição perante a voz de Deus, mas é precisamente a nudez do deserto que nos ajuda a reencontrar o Éden que parecia perdido e o timbre da voz de Deus que nos recria. É ali que aprendemos o abandono da fé, a entrega de toda a vida nas mãos de Deus. É ali, distantes dos caminhos já percorridos, que reaprendemos a viver com a própria humanidade, que reaprendemos a caminhar, ao descobrir que só Ele é a terra prometida.

Viver entre feras e anjos
É uma expressão que toca a nossa realidade existencial, o clássico dualismo que nos parece perseguir, extremar e despedaçar. Porém Jesus mostra-nos que esta realidade, mais do que consumar-se em destino, nos brinda a uma escolha. E esta escolha depende da nossa atitude e do nosso olhar.
Como os outros evangelistas sinóticos, Marcos não nos apresenta o cortejo das tentações, mas um vislumbre em que, antecipadamente, nos apercebemos de todo o drama que se desenvolverá nos três anos da vida pública de Jesus e se concluirá na conspiração dos chefes do povo, na traição de Judas, no abandono dos discípulos e na morte de cruz.
É no deserto que Jesus escolhe qual o rosto de Deus a anunciar: aquele fácil Deus, patrão e polícia, ou o impossível Deus, servo e apaixonado da cruz? Escolhe também qual o rosto do homem a seguir: o do rival ou o do irmão? É desta escolha que explode o feliz anúncio: “está próximo o reino de Deus”!

Arrependei-vos e acreditai no Evangelho
Parece que Jesus nos dá uma ordem. E, no entanto, faz-nos um convite, dirige-nos uma oração. Não nos pede obediência, mas oferece-nos uma oportunidade. E sentimos a doçura desta oração e o feliz convite: “Mesmo quando tudo te parece deserto, quando os rostos parecem feras, quando te sentes pecado, Deus está aqui e cura a tua vida. Deus está contigo, com amor: confia e recomeça do amor”.
Deus ama-nos tal como somos, e nada está perdido definitivamente para Ele, como o proclamará a noite de Páscoa: “Feliz culpa, que mereceu ter assim um grande Redentor”!
Passando pelo deserto, Jesus deixa a sua marca nos nossos desertos: nunca mais estaremos sós. Como não acreditar?! Em qualquer dificuldade ou solidão, podemos reconhecer as pegadas dos seus passos, os vestígios da sua presença, o reflexo do seu rosto a abrir-se para nós em doce Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Neste tempo da Quaresma quero arriscar a entrar no deserto para me deixar recriar por Deus.

REZAR A PALAVRA
Senhor, na correria da vida, onde o relógio dita as regras do tempo,
o Teu tempo é paragem dinâmica, viagem no deserto, descoberta de um sim...
é a força do Espírito que transforma o meu tempo em caminho de conversão
e me lança no deserto das escolhas, na arena da tentação...
É aí que me propões o amor como estrada, meta e fonte...
É aí que me convidas a acreditar na Palavra que me recria...
Porque estás próximo e não me deixas sozinho neste deserto!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Menagem do Papa para a Quaresma

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE PAPA BENTO XVI PARA A QUARESMA DE 2012

«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmosao amor e às boas obras» (Heb 10, 24)

Irmãos e irmãs!
A Quaresma oferece-nos a oportunidade de reflectir mais uma vez sobre o cerne da vida cristã: o amor. Com efeito este é um tempo propício para renovarmos, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, o nosso caminho pessoal e comunitário de fé. Trata-se de um percurso marcado pela oração e a partilha, pelo silêncio e o jejum, com a esperança de viver a alegria pascal.
Desejo, este ano, propor alguns pensamentos inspirados num breve texto bíblico tirado da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (10, 24). Esta frase aparece inserida numa passagem onde o escritor sagrado exorta a ter confiança em Jesus Cristo como Sumo Sacerdote, que nos obteve o perdão e o acesso a Deus. O fruto do acolhimento de Cristo é uma vida edificada segundo as três virtudes teologais: trata-se de nos aproximarmos do Senhor «com um coração sincero, com a plena segurança da fé» (v. 22), de conservarmos firmemente «a profissão da nossa esperança» (v. 23), numa solicitude constante por praticar, juntamente com os irmãos, «o amor e as boas obras» (v. 24). Na passagem em questão afirma-se também que é importante, para apoiar esta conduta evangélica, participar nos encontros litúrgicos e na oração da comunidade, com os olhos fixos na meta escatológica: a plena comunhão em Deus (v. 25). Detenho-me no versículo 24, que, em poucas palavras, oferece um ensinamento precioso e sempre actual sobre três aspectos da vida cristã: prestar atenção ao outro, a reciprocidade e a santidade pessoal.
1. «Prestemos atenção»: a responsabilidade pelo irmão.
O primeiro elemento é o convite a «prestar atenção»: o verbo grego usado é katanoein, que significa observar bem, estar atento, olhar conscienciosamente, dar-se conta de uma realidade. Encontramo-lo no Evangelho, quando Jesus convida os discípulos a «observar» as aves do céu, que não se preocupam com o alimento e todavia são objecto de solícita e cuidadosa Providência divina (cf. Lc 12, 24), e a «dar-se conta» da trave que têm na própria vista antes de reparar no argueiro que está na vista do irmão (cf. Lc 6, 41). Encontramos o referido verbo também noutro trecho da mesma Carta aos Hebreus, quando convida a «considerar Jesus» (3, 1) como o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa fé. Por conseguinte o verbo, que aparece na abertura da nossa exortação, convida a fixar o olhar no outro, a começar por Jesus, e a estar atentos uns aos outros, a não se mostrar alheio e indiferente ao destino dos irmãos. Mas, com frequência, prevalece a atitude contrária: a indiferença, o desinteresse, que nascem do egoísmo, mascarado por uma aparência de respeito pela «esfera privada». Também hoje ressoa, com vigor, a voz do Senhor que chama cada um de nós a cuidar do outro. Também hoje Deus nos pede para sermos o «guarda» dos nossos irmãos (cf. Gn 4, 9), para estabelecermos relações caracterizadas por recíproca solicitude, pela atenção ao bem do outro e a todo o seu bem. O grande mandamento do amor ao próximo exige e incita a consciência a sentir-se responsável por quem, como eu, é criatura e filho de Deus: o facto de sermos irmãos em humanidade e, em muitos casos, também na fé deve levar-nos a ver no outro um verdadeiro alter ego, infinitamente amado pelo Senhor. Se cultivarmos este olhar de fraternidade, brotarão naturalmente do nosso coração a solidariedade, a justiça, bem como a misericórdia e a compaixão. O Servo de Deus Paulo VI afirmava que o mundo actual sofre sobretudo de falta de fraternidade: «O mundo está doente. O seu mal reside mais na crise de fraternidade entre os homens e entre os povos, do que na esterilização ou no monopólio, que alguns fazem, dos recursos do universo» (Carta enc. Populorum progressio, 66).
A atenção ao outro inclui que se deseje, para ele ou para ela, o bem sob todos os seus aspectos: físico, moral e espiritual. Parece que a cultura contemporânea perdeu o sentido do bem e do mal, sendo necessário reafirmar com vigor que o bem existe e vence, porque Deus é «bom e faz o bem» (Sal 119/118, 68). O bem é aquilo que suscita, protege e promove a vida, a fraternidade e a comunhão. Assim a responsabilidade pelo próximo significa querer e favorecer o bem do outro, desejando que também ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão quer dizer abrir os olhos às suas necessidades. A Sagrada Escritura adverte contra o perigo de ter o coração endurecido por uma espécie de «anestesia espiritual», que nos torna cegos aos sofrimentos alheios. O evangelista Lucas narra duas parábolas de Jesus, nas quais são indicados dois exemplos desta situação que se pode criar no coração do homem. Na parábola do bom Samaritano, o sacerdote e o levita, com indiferença, «passam ao largo» do homem assaltado e espancado pelos salteadores (cf. Lc 10, 30-32), e, na do rico avarento, um homem saciado de bens não se dá conta da condição do pobre Lázaro que morre de fome à sua porta (cf. Lc 16, 19). Em ambos os casos, deparamo-nos com o contrário de «prestar atenção», de olhar com amor e compaixão. O que é que impede este olhar feito de humanidade e de carinho pelo irmão? Com frequência, é a riqueza material e a saciedade, mas pode ser também o antepor a tudo os nossos interesses e preocupações próprias. Sempre devemos ser capazes de «ter misericórdia» por quem sofre; o nosso coração nunca deve estar tão absorvido pelas nossas coisas e problemas que fique surdo ao brado do pobre. Diversamente, a humildade de coração e a experiência pessoal do sofrimento podem, precisamente, revelar-se fonte de um despertar interior para a compaixão e a empatia: «O justo conhece a causa dos pobres, porém o ímpio não o compreende» (Prov 29, 7). Deste modo entende-se a bem-aventurança «dos que choram» (Mt 5, 4), isto é, de quantos são capazes de sair de si mesmos porque se comoveram com o sofrimento alheio. O encontro com o outro e a abertura do coração às suas necessidades são ocasião de salvação e de bem-aventurança.
O facto de «prestar atenção» ao irmão inclui, igualmente, a solicitude pelo seu bem espiritual. E aqui desejo recordar um aspecto da vida cristã que me parece esquecido: a correcção fraterna, tendo em vista a salvação eterna. De forma geral, hoje é-se muito sensível ao tema do cuidado e do amor que visa o bem físico e material dos outros, mas quase não se fala da responsabilidade espiritual pelos irmãos. Na Igreja dos primeiros tempos não era assim, como não o é nas comunidades verdadeiramente maduras na fé, nas quais se tem a peito não só a saúde corporal do irmão, mas também a da sua alma tendo em vista o seu destino derradeiro. Lemos na Sagrada Escritura: «Repreende o sábio e ele te amará. Dá conselhos ao sábio e ele tornar-se-á ainda mais sábio, ensina o justo e ele aumentará o seu saber» (Prov 9, 8-9). O próprio Cristo manda repreender o irmão que cometeu um pecado (cf. Mt 18, 15). O verbo usado para exprimir a correcção fraterna – elenchein – é o mesmo que indica a missão profética, própria dos cristãos, de denunciar uma geração que se faz condescendente com o mal (cf. Ef 5, 11). A tradição da Igreja enumera entre as obras espirituais de misericórdia a de «corrigir os que erram». É importante recuperar esta dimensão do amor cristão. Não devemos ficar calados diante do mal. Penso aqui na atitude daqueles cristãos que preferem, por respeito humano ou mera comodidade, adequar-se à mentalidade comum em vez de alertar os próprios irmãos contra modos de pensar e agir que contradizem a verdade e não seguem o caminho do bem. Entretanto a advertência cristã nunca há-de ser animada por espírito de condenação ou censura; é sempre movida pelo amor e a misericórdia e brota duma verdadeira solicitude pelo bem do irmão. Diz o apóstolo Paulo: «Se porventura um homem for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi essa pessoa com espírito de mansidão, e tu olha para ti próprio, não estejas também tu a ser tentado» (Gl 6, 1). Neste nosso mundo impregnado de individualismo, é necessário redescobrir a importância da correcção fraterna, para caminharmos juntos para a santidade. É que «sete vezes cai o justo» (Prov 24, 16) – diz a Escritura –, e todos nós somos frágeis e imperfeitos (cf. 1 Jo 1, 8). Por isso, é um grande serviço ajudar, e deixar-se ajudar, a ler com verdade dentro de si mesmo, para melhorar a própria vida e seguir mais rectamente o caminho do Senhor. Há sempre necessidade de um olhar que ama e corrige, que conhece e reconhece, que discerne e perdoa (cf. Lc 22, 61), como fez, e faz, Deus com cada um de nós.
2. «Uns aos outros»: o dom da reciprocidade.
O facto de sermos o «guarda» dos outros contrasta com uma mentalidade que, reduzindo a vida unicamente à dimensão terrena, deixa de a considerar na sua perspectiva escatológica e aceita qualquer opção moral em nome da liberdade individual. Uma sociedade como a actual pode tornar-se surda quer aos sofrimentos físicos, quer às exigências espirituais e morais da vida. Não deve ser assim na comunidade cristã! O apóstolo Paulo convida a procurar o que «leva à paz e à edificação mútua» (Rm 14, 19), favorecendo o «próximo no bem, em ordem à construção da comunidade» (Rm 15, 2), sem buscar «o próprio interesse, mas o do maior número, a fim de que eles sejam salvos» (1 Cor 10, 33). Esta recíproca correcção e exortação, em espírito de humildade e de amor, deve fazer parte da vida da comunidade cristã.
Os discípulos do Senhor, unidos a Cristo através da Eucaristia, vivem numa comunhão que os liga uns aos outros como membros de um só corpo. Isto significa que o outro me pertence: a sua vida, a sua salvação têm a ver com a minha vida e a minha salvação. Tocamos aqui um elemento muito profundo da comunhão: a nossa existência está ligada com a dos outros, quer no bem quer no mal; tanto o pecado como as obras de amor possuem também uma dimensão social. Na Igreja, corpo místico de Cristo, verifica-se esta reciprocidade: a comunidade não cessa de fazer penitência e implorar perdão para os pecados dos seus filhos, mas alegra-se contínua e jubilosamente também com os testemunhos de virtude e de amor que nela se manifestam. Que «os membros tenham a mesma solicitude uns para com os outros» (1 Cor 12, 25) – afirma São Paulo –, porque somos um e o mesmo corpo. O amor pelos irmãos, do qual é expressão a esmola – típica prática quaresmal, juntamente com a oração e o jejum – radica-se nesta pertença comum. Também com a preocupação concreta pelos mais pobres, pode cada cristão expressar a sua participação no único corpo que é a Igreja. E é também atenção aos outros na reciprocidade saber reconhecer o bem que o Senhor faz neles e agradecer com eles pelos prodígios da graça que Deus, bom e omnipotente, continua a realizar nos seus filhos. Quando um cristão vislumbra no outro a acção do Espírito Santo, não pode deixar de se alegrar e dar glória ao Pai celeste (cf. Mt 5, 16).
3. «Para nos estimularmos ao amor e às boas obras»: caminhar juntos na santidade.
Esta afirmação da Carta aos Hebreus (10, 24) impele-nos a considerar a vocação universal à santidade como o caminho constante na vida espiritual, a aspirar aos carismas mais elevados e a um amor cada vez mais alto e fecundo (cf. 1 Cor 12, 31 – 13, 13). A atenção recíproca tem como finalidade estimular-se, mutuamente, a um amor efectivo sempre maior, «como a luz da aurora, que cresce até ao romper do dia» (Prov 4, 18), à espera de viver o dia sem ocaso em Deus. O tempo, que nos é concedido na nossa vida, é precioso para descobrir e realizar as boas obras, no amor de Deus. Assim a própria Igreja cresce e se desenvolve para chegar à plena maturidade de Cristo (cf. Ef 4, 13). É nesta perspectiva dinâmica de crescimento que se situa a nossa exortação a estimular-nos reciprocamente para chegar à plenitude do amor e das boas obras.
Infelizmente, está sempre presente a tentação da tibieza, de sufocar o Espírito, da recusa de «pôr a render os talentos» que nos foram dados para bem nosso e dos outros (cf. Mt 25, 24-28). Todos recebemos riquezas espirituais ou materiais úteis para a realização do plano divino, para o bem da Igreja e para a nossa salvação pessoal (cf. Lc 12, 21; 1 Tm 6, 18). Os mestres espirituais lembram que, na vida de fé, quem não avança, recua. Queridos irmãos e irmãs, acolhamos o convite, sempre actual, para tendermos à «medida alta da vida cristã» (João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 31). A Igreja, na sua sabedoria, ao reconhecer e proclamar a bem-aventurança e a santidade de alguns cristãos exemplares, tem como finalidade também suscitar o desejo de imitar as suas virtudes. São Paulo exorta: «Adiantai-vos uns aos outros na mútua estima» (Rm 12, 10).
Que todos, à vista de um mundo que exige dos cristãos um renovado testemunho de amor e fidelidade ao Senhor, sintam a urgência de esforçar-se por adiantar no amor, no serviço e nas obras boas (cf. Heb 6, 10). Este apelo ressoa particularmente forte neste tempo santo de preparação para a Páscoa. Com votos de uma Quaresma santa e fecunda, confio-vos à intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria e, de coração, concedo a todos a Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Novembro de 2011

BENEDICTUS PP. XVI

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VII Domingo Comum B

Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum e se soube que Ele estava em casa, juntaram-se tantas pessoas que já não cabiam sequer em frente da porta; e Jesus começou a pregar-lhes a palavra. Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens; e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão, descobriram o tecto por cima do lugar onde Ele Se encontrava e, feita assim uma abertura, desceram a enxerga em que jazia o paralítico. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?». Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes: «Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu te ordeno - disse Ele ao paralítico - levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’». O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente, de modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim». (Mc 2, 1-12)

Caros amigos e amigas, é a presença de Jesus que torna aquele lugar de Cafarnaum numa casa acolhedora, fraterna, rica de intimidade, onde as pessoas se amontoam nos recantos. Ali, S. Marcos revela-nos mais um traço do coração de Cristo: perdoa os pecados à semelhança de Deus.

“Um paralítico, transportado por quatro homens”
Ele não caminhava mas, quando as costas dos amigos o transportavam, parecia-lhe voar. Os amigos inventam uma estrada que antes não existia, desafiando obstáculos, proibições, regras de etiqueta… E, na força das mãos alheias, o homem paralisado e passivo intui antecipadamente a sua cura. Há um acreditar juntos e um acreditar pelos outros que contagia a fé, levanta sobre a multidão, deposita na casa de Deus os pecados e paralisias humanas.
Os escribas, sentados numa esquina, criticam e são incapazes de acolher as surpresas de Deus. Ainda hoje, a paralisia mais perigosa reside naqueles que se vacinam contra a novidade e o milagre, incapazes de reconhecer e promover as sementes de Evangelho que germinam nos recantos da casa da humanidade, quando o Céu se abre, se rasga e se desvela para vir ao nosso encontro.

“Filho, os teus pecados estão perdoados”
E depois aquelas palavras inesperadas. O paralítico que procurava a cura para o corpo fossilizado encontra palavras paternais de perdão, que ressuscitam para uma vida nova, assinalada já não pelo egoísmo, mas pelo amor e pela alegria. O perdão não deixa as coisas como antes: é o ponto de partida, o início da viagem. Abandonar o pecado é sempre um “levantar-se, tomar a enxerga e seguir para casa”, levando a Deus por companheiro.
Talvez tenhamos tanto a fazer para ter uma fé dinâmica, activa, capaz de superar obstáculos para chegar a Jesus. Ali, só é necessário escutar e deixar-se curar. E depois seguir em frente, passando da solidão da paralisia que torna inerte a vida para o prodígio de uma comunhão reencontrada, sem medo de mostrar a enxerga da enfermidade curada, para que todos possam ver as maravilhas que Deus realiza em nós.

“Ao ver a fé daquela gente”
Foi ao ver a criatividade e a potência do amor daqueles diáconos, anjos anónimos e servos do sofrimento humano, inventores de percursos inauditos, que o Mestre realiza o milagre. Os amigos, ousaram acreditar que o amor pode superar barreiras, até mesmo a da doença e a da distância. E foram correspondidos! O amor verdadeiro suscita generosidade, coragem, engenho e arte.
Face à maravilha do amor humano, Jesus mostra a maravilha do amor de Deus. Não só os pecados são perdoados, mas toda a vida é dada em superabundância. E, no último dia, vendo a nossa fé e a fé dos nossos irmãos, Ele nos dirá, descobrindo o tecto dos nossos sepulcros e debruçando-se sobre os nossos leitos de morte: “levanta-te e anda! Ressuscita e caminha rumo à casa do Pai. Em ti existe uma vida nova”! Aí reside, caros amigos e amigas, a esperança do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou lançar-me na aventura do perdão e libertar-me da prisão do julgamento fácil.

REZAR A PALAVRA
Senhor, já ouvi falar de Ti. Mas haverá algo que possas fazer por mim?!
Pergunto-o desde esta paralisia em que a minha vida autossuficiente se basta.
Ainda durmo na enxerga do pecado, mas envia a brisa contagiante do Teu amor
ela despertará a urgência de Te ver e a criatividade para Te encontrar.
Junto de Ti a minha vida fica nova! O sol do teu perdão faz despontar o dia.
E ainda que eu procure apenas a locomoção dos meus membros humanos,
tu dás-me a energia dos vivos, o poder experimentar o desafio da caminhada.
Quero aceitar a alegria do discipulo: e transformar o que me retinha num anúncio do teu amor!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

VI Domingo Comum B

Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte. (Mc 1, 40-45)

Caros amigos e amigas, é maravilhosamente belo este Evangelho em que Jesus encontra um leproso, mas não faz um discurso sobre a doença e o sofrimento. O Mestre, mais do que explicar a dor, manifesta o amor de Deus. E nós, leprosos do coração, ansiamos poder gritar-lhe que cure a solidão das nossas lepras.

O leproso somos nós
A lepra tinha-o desfigurado de tal modo que era irreconhecível. Um autêntico cadáver, um homem só, vazio de gestos de afecto e comunhão! Imagino aquele desgraçado, sem identidade, abandonado à sua triste sina, apenas de joelhos e com o olhar fixo em Jesus. O leproso não tem méritos para apresentar. Tem apenas fome de pessoas. Parece que ainda podemos ouvir o seu grito de esperança e de fé: “se quiseres”! E o seu futuro depende deste pequeno “se”, um misterioso “se” semeado e cravado no coração de Deus.
Quem me dera ter esta ousadia do leproso, a audácia de me aproximar e gritar a minha angústia. Não sei se não teremos doenças, escravaturas, pecados, lepras visíveis e invisíveis, provavelmente escondidas debaixo de um manto belo… das quais podemos não querer sair, acomodados. A lepra desfigura a humanidade, gangrena o coração humano, cria infernos de solidão na terra.

“Quero, fica limpo”
As entranhas de Deus são então banhadas de compaixão e comoção. A dor humana faz vacilar o coração de Deus, que não suporta distâncias nem barreiras. Expõe-se antes ao contágio da nossa humanidade.
A mão de Jesus toca com ternura as chagas purulentas do leproso e rouba-o da solidão. Deus toca, sem medo, o intocável. Porque, antes de tocar o leproso, Ele mesmo é tocado, ferido pela ferida secreta daquele homem. Tocando-o fá-lo ressuscitar, levanta-o, retoma-o pela mão como no éden, quando o homem passeava com Deus e não tinha vergonha de si, nem precisava de esconder a sua miséria.
Um gesto tão natural quando o coração quer mostrar proximidade e afecto: o amor não se manifesta à distância. Nada de extraordinário e excepcional. Contudo, naquele gesto está Deus! Ele veio propositadamente para nos tocar, para nos perpassar com a sua misericórdia, para nos lavar com o seu amor.
Já há muito tempo que ninguém tocava no leproso, por medo, por repugnância, por obediência à lei, e a sua carne e o seu coração morriam de solidão. A nossa vida se não é tocada definha por carência de encontros. Jesus toca e a pessoa é restituída à sua família, regressa às carícias. Jesus toca e pede a cada um de nós para participar neste desejo de Deus, de dar lugar às carícias, aos gestos, às palavras que dão vida.

O amor é contagioso: o leproso torna-se apóstolo
Contagiado pelo Amor, o leproso regressa à cidade gritando a sua cura, sem ninguém o conseguir calar. E, por sua vez, semeia vida à sua volta. Semeia a experiência de Cristo! O castigado torna-se fonte de admiração e de Evangelho.
Quem souber tocar o nosso íntimo de luz ou o abismo da nossa dor, esse deixará na nossa história um rasto de vida, de milagre e de cura. Aquela mão que toca a lepra daquele homem pode ainda hoje tocar as chagas de todos. Jesus sofre de um amor que lhe devora a vida! Sagrado contágio de um amor sem medidas!
Talvez não sejamos capazes de milagres como o jovem de Nazaré, mas somos capazes de compaixão, do arder por dentro, do inventar gestos e palavras que aliviam a solidão e a lepra, e se tornam milagre da carícia de Deus. No fim, Deus não perguntará sobre as nossas mãos imaculadas ou puras, mas questionará sobre as lepras que as nossas mãos tiverem tocado, sobre as chagas e pobrezas por elas curadas. Só assim, caros amigos e amigas, se realiza o Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Quero identificar as lepras da minha vida, que necessito de expôr à misericórdia do Senhor.

REZAR A PALAVRA
Senhor, aproximo-me de ti e de joelhos por terra...suplico: cura-me!
Carrego comigo a lepra da história que não sei amar nem conduzir pelo Espírito.
Transporto em mim a corrosão do pecado que desgasta a imagem de ti em mim.
Com um sorriso, estendes-me a mão da misericórdia que me acolhe
e dás-me o abraço do perdão que me limpa...e me faz de novo...
Senhor, não consigo esconder o amor qe me dedicas,
não consigo calar a graça que me habita. És bom...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

V Domingo Comum B

Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios. (Mc 1, 29-39)

Caros amigos e amigas, Jesus vai semeando um mar de vida nos sítios por onde passa. É Ele o eterno samaritano junto da estrada da vida, que nos vê com amor e se aproxima, se debruça, se ajoelha e sobre as nossa feridas deita o bálsamo do seu coração. Jesus tanto está atento à simples pessoa como à multidão que se amontoa à porta de Pedro; tanto vive na cidade como centra o seu coração no silêncio do Pai.

“Por toda a Galileia”
“Quem é este homem extraordinário?” terá exclamado Pedro, ainda embriagado de entusiasmo, no fim daquele dia frenético e mágico em Cafarnaum. As horas tinham voado: de manhã na sinagoga; ao meio-dia almoço em sua casa; à noite com todos aqueles doentes à porta. E o Mestre sempre com um sorriso dando vida. Jesus é principalmente o homem que caminha, o peregrino que arde de impaciência para anunciar a Boa Notícia. Até parece que o amor nunca se cansa.
Ainda hoje, Ele é o semeador que lança sementes de beleza e alegria, e deixa cair na terra do nosso coração migalhas de vida eterna, palavras com um perfume de uma nova humanidade.

Gestos de ressurreição: aproximar-se, tomar pela mão, levantar…
Uma pessoa está com febre e Jesus toma-a pela mão, levanta-a. É um simples gesto familiar, confidencial, de afecto e de força para quem está cansado. Por vezes, basta muito pouco para erguer uma vida. A mão de Jesus não só ressuscita da imobilidade da febre, mas também desperta os invernos do coração, faz florescer a primavera dos gestos de serviço, acende na pessoa a pressa do amor.
A mão de Jesus contagia: tocada por aquele Mestre, a mulher põe-se a servir. É o contágio do amor, da paixão! A pessoa levantada torna-se, por sua vez, serva daquele que a ressuscitou, servidora de cada homem que jaz e sofre, mão que beija cada chaga do lázaro ou do mendigo que bate à porta.
Quando alguém se aproxima de nós, estende a sua mão e nos toca com compaixão, naquele momento começamos a curar. O início da cura acontece nos gestos de solidariedade. Estes são o antídoto da solidão. A resposta aos inúmeros calvários deste mundo está nas mãos que se procuram, nas mãos de Deus que rasgam o silêncio dos céus, nas mãos de homens e mulheres que se elevam em oração e nas mãos que se levantam na ajuda aos irmãos.

“Retirou-se para um sítio ermo”
Este é um dos segredos de Deus: Ele esconde-se, desaparece, retira-se. O objectivo não é o de ser aplaudido, aclamado, endeusado. Deus esquece-se de si próprio! E, por isso, vai a outros lugares, outras aldeias, à procura de outras pessoas para estender a mão, reanimar e levantar a vida.
O Mestre parece que tem o dia e a tarde para pensar no homem; e a noite e a aurora para pensar em Deus. Graças ao silêncio e ao diálogo com o Pai, Jesus torna-se o incansável anunciador do Evangelho.
Numa vida feita de febres e de serviço, de descansos e de deserto, de momentos no templo e de tempos na cidade, de multidões e de face a face com os outros, é preciso muito silêncio para escutar o silêncio que Deus nos sussurra. É nesse segredo, caros amigos e amigas, que está a fonte do Evangelho.

VIVER A PALAVRA
Pela força da oração, vou tomar o outro pela mão e ajudá-lo a levantar.

REZAR A PALAVRA
Senhor, é tarde, o sol já se pôs… passa por aqui! Vem alentar a minha vida.
Liberta este tempo, possesso de pessimismos, febril em disputas estéreis.
Sacode o meu ânimo, acamado em rotina, atormentado de medos...

Senhor, é de manhã, muito cedo… vem, Sol nascente, acordar a minha vida,
levanta-me, leva-me ao deserto, abre-me o coração à sementeira do Teu olhar.
Que tudo em mim te procure, pois que todos em mim te procuram!!!
Tu que vens para todos, que todos em mim só a Ti encontrem.

Olhar de Cristo

No dia 2 de Fevereiro a Igreja assinala a festa da Apresentação do Senhor, durante a qual se evoca o momento em que Cristo, 40 dias após o seu nascimento, foi oferecido a Deus pelos pais, em rito previsto nos preceitos religiosos judaicos. Esta foi também a data escolhida pelo VenerávelJoão Paulo II desde 1997 para celebrar o anual Dia da Vida Consagrada explicando o seu objetivo: “ajudar toda a Igreja a valorizar sempre mais o testemunho das pessoas que escolheram seguir a Cristo mais de perto, mediante a prática dos conselhos evangélicos e, ao mesmo tempo, quer ser para as pessoas consagradas uma ocasião propícia para renovar os propósitos e reavivar os sentimentos, que devem inspirar a sua doação ao Senhor».

o olhar de Cristo que continua a transformar vidas:


Olhar que acorda o caos de cada instante

e impregna um movimento galopante.

Olhar que abrange o espaço sideral.

Do Universo, olhar primordial.


Olhar que impele caudais e tange o vento,

navega na ilusão de cada invento;

afoga a letargia, escoa o nada

e espreita em cada obra começada.


Olhar sob o qual geme o germinar

do cérebro e da terra a destilar

a evolução. Olhar: espaço e meio

onde o tempo acontece. Pilar, esteio.


Olhar que nos liberta e nos domina

o vital grito. Olhar que nos ensina

a domar a arrogância. Mansidão.

Matriz onde se engendra a Criação.


Olhar tão alto e nobre, olhar já perto

da íntima verdade. Olhar, deserto,

onde tudo cabe e tudo escalda.

Olhar que até nosso desterro salda.


Olhar de cujo pranto a chuva é ouro,

fecundo choro, orgânico tesouro.

Onda de mar imenso e fantasia

que segura o filão da harmonia.


Olhar de encanto, doce e doloroso

que fere e cura; olhar mais luminoso

que a luz por que vemos nosso valor.

Olhar total, olhar interior.


Olhar que penetra a nudez de tudo.

Suave carícia, aguilhão pontiagudo;

paraíso e manancial de paz;

torrente, sedução: olhar voraz.


Olhar humano e lhano, olhar divino,

maduro e sábio, tenro e menino.

Olhar que, olhando, exala a essência pura:

guarda o segredo a cada criatura.


Olhar profundo, abismo indizível

humilha e vence as cristas do impossível.

Olhar que veste às flores a beleza,

relâmpago e dilúvio, vibrar da natureza.


Olhar que cria e passa como um dom,

contempla e vê que tudo é muito bom.

Olhar de qualquer cor, olhar primeiro;

a cada olhar aberto, olhar cimeiro.


Olhar que tudo abre e tudo encerra,

que a nossa identidade a nós descerra.

Olhar de fogo e luz de toda a luz!

Olhar de sempre, agora, olhar-Jesus.


Saudação amiga,

Ir. Maria José