quinta-feira, 6 de setembro de 2012

XXIII Domingo Comum B


Naquele tempo, Jesus deixou de novo a região de Tiro e, passando por Sidónia, veio para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar e suplicaram-Lhe que impusesse as mãos sobre ele. Jesus, afastando-Se com ele da multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva tocou-lhe a língua. Depois, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar correctamente. Jesus recomendou que não contassem nada a ninguém. Mas, quanto mais lho recomendava, tanto mais intensamente eles o apregoavam. Cheios de assombro, diziam: «Tudo o que faz é admirável: faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».

Caros amigos e amigas, esta belíssima cena, passada num território hostil, está cheia de silêncio e de sentidos face à Palavra: ouvidos, língua… dedos. Tudo se prepara para a escuta e para a revelação. O discurso é feito pelas mãos de Jesus e por uma pequenina palavra “Effathá”: é a eloquência de um princípio!

Um surdo que mal podia falar
No drama deste homem poderia reconhecer-se cada um de nós. A surdez implica a incapacidade de ouvir, mas também de falar. E a incapacidade de comunicar é demolidora, porque a comunicação está no centro da nossa definição como seres humanos, capazes de relações. Não podemos falar de Deus se antes não tivemos ouvidos para a força de tantos sinais que O anunciam e descrevem. Não temos Palavra, se não formos fecundados pelo seu Verbo revelador, não teremos melodias para cantar as suas maravilhas se não tivermos sido embalados pela serenata do seu amor. O mundo está cheio de palavras vazias, de falas indecifráveis, de verbos venenosos, de sons mortíferos… na proporção em que está carente de ouvidos abertos à Palavra Criadora que o plenifica.

Os dedos e o coração do divino oleiro
Este texto está repassado da ternura de Deus... Primeiro Jesus separa o homem da multidão. Nós não somos multidão. O seu amor tem este detalhe de atenção: Ele retira-nos, escolhe-nos, elege-nos. Somos especiais aos seus olhos, únicos de valor ao seu coração.
A seguir entram em cena as mãos de Jesus. Como não recordar a imagem que nos dá o livro do Génesis, quando Deus engendra e molda a matéria com a sua própria Vida? Como não recordar também o nosso baptismo quando a água, a unção e a Palavra nos inauguram uma caminhada na fé, que nos leva directamente até ao seu amor? Jesus toma a obra do Pai nas suas mãos. Vede, amigos e amigas, em que mãos está aconchegada a vida deste homem, em que mãos poderá confiar a nossa insuficiência, o nosso pecado, os nossos medos, a nossa fragilidade, quando lhe entregamos a vida! Os ouvidos do surdo eclodem ao toque dos dedos do artífice do universo e a sua língua desprende-se do cativeiro da mudez, com a gota de saliva d’Aquele que é a Palavra. Não é a única vez que este médico único usa semelhantes remédios. São remédios que Jesus encontra no mais íntimo de si. Deus cura-nos com a sua própria vida; já assim nos tinha criado.

Effathá com um suspiro
A palavra Effathá é precedida de um suspiro. Um suspiro é um extravasar de um conteúdo interior. Jesus convoca a Vida desde o íntimo de si próprio, para presentear este carente de vida. Nós somos constantemente objectos dos suspiros de Deus, dessa exalação da sua Vida para a nossa sede de vida. Deus expira para insuflar em nós o seu sopro, desde o momento da criação até ao expirar de Jesus na Cruz.
E depois vem esta palavrinha, pequena e frágil, a transportar a força do amor que cura. Como se viesse afiada, palavra que nos perfura a rotina e nos lanceta a alma; que nos descerra um cenário e nos lança num caminho. O caminhar alimenta-se de aberturas sucessivas. A esperança conhece bem esta palavra. O Deus que infinitamente nos ama tem o poder de abrir o espectáculo da nossa vida, de inaugurar oportunidades, de rasgar caminhos. Em cada dia Ele fende a noite para nos descerrar a luz, golpeia o coração para nos alimentar de amor. Ele abre as nossas possibilidades, deixando-nos no horizonte a beleza infinita da sua perfeição.
Este homem foi trazido por outros e agora o seu canto é coral. Deus permite que o caudal do seu amor passe pelas nossas vidas, rumo àqueles que ama. Amigos e amigas, aceitemos este desafio de mediadores do amor de Deus, deixando que, através de nós, flua o milagre, sempre surpreendente, do seu Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou deixar que a vida e a palavra de Deus fecundem as minhas possibilidades.

REZAR A PALAVRA
Senhor,que trilhas o caminho da descoberta e transportas a novidade da vida,
toca-me, para que eu estremeça ao som da brisa do teu abraço que é convite.
Abre-me à harmoniosa candura da Tua Palavra, ao segredo do teu suspiro,
para que acolha, livremente, a maravilha do milagre que me transforma!
Abre-me ao silêncio do teu cantar dentro de mim, à força do teu olhar,
para contemplar a luz da tua presença que me envia e me faz de novo!

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