Naquele tempo, as multidões
perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?». Ele respondia-lhes: «Quem
tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos
faça o mesmo». Vieram também alguns publicanos para serem baptizados e disseram:
«Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do
que vos foi prescrito». Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos
fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem
denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Como o povo estava
na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, ele
tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar
quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas
sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a
pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém,
queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com estas e muitas outras
exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova».
Caros amigos e amigas, neste
Domingo da alegria a expectativa cresce e interroga-se: que fazer?
O
povo estava na expectativa
É de
todos muito próxima a experiência humana da expectativa. Esperar alguém,
esperar algum acontecimento é diário. Estamos sempre em expectativa. Afinal, as
pessoas do tempo de João Baptista são muito semelhantes às de agora. O tempo
passa, mas a expectativa de algo novo que está para acontecer permanece. E
ainda bem. Porque onde esta expectativa definha, é sinal que já se desiste da
promessa de vida plena. Promessa que todo o homem transporta.
Assim
sendo, em última análise, a expectativa assume cambiantes messiânicos. Eu
espero a novidade da salvação, não a novidade da desgraça ou da catástrofe.
Espero o novo repleto de vida. E nós, os cristãos, sabemos que esse novo não é
um mero lugar, um outro ambiente, um sentimento, uma moda ou uma estratégia.
Esse novo é uma Pessoa. É o Filho Eterno de Deus. É o rosto de Jesus Cristo.
Ele, Homem Novo, é que gera lugares novos, ambientes novos, sentimentos novos,
presenças novas. Diremos, tão antigos e tão novos, porque eternos.
Está
a chegar
E, neste
campo de permanente expectativa, joga-se a iminência da chegada. Pode, por
isso, parecer cansativa tanta espera para tão pouca recepção. Resta saber para
quem é mais cansativo, se para nós, se para Deus. Vale-nos que Deus não se
cansa de salvar a humanidade. Ele já chegou à vida de muitos, é um facto. Ele
está a chegar à vida de todos, é a garantia da Palavra, hoje. E cada um de nós?
Onde se situa? Aborrece-se pela ausência de recepção? Que recepção presta
Àquele que está a chegar? Que preparação constrói? Que Advento concebe?
«Que
devemos fazer?»
No tempo
de João, a recepção, o advento da vinda do Messias surge orientado por este pedido:
«Que devemos fazer?». Foi a pergunta colocada pelas multidões, por alguns
publicanos e pelos soldados a João Baptista. Ou seja, afeta multidões anónimas,
mas também rostos bem específicos. Todos se inquietavam. Que devemos fazer para
acolher bem Aquele que está a chegar? Que devemos fazer para sermos coerentes
com a nova realidade que está prestes a começar? E João, saciado da novidade de
Deus, anunciador já da Boa Nova que está a chegar, diz: «Reparti». Esta é a única
ação segura e necessária aos novos dias que se aproximam. Repartir, partilhar,
como Deus. Segundo o fazer criador de Deus.
Esta pergunta,
que atinge a todos, trespassa toda a história e toda a nossa história. Há
sempre momentos críticos, que nos exigem a decisão, o milagre da partilha, do
amor em ação. No fundo, é isso que Jesus nos ensina, quando, em cada
Eucaristia, se reparte a Ele mesmo na fração do Pão. No fundo, é este o cerne
de qualquer vocação. O que tenho de fazer? Para quem hei-de fazer?
Caros
amigos e amigas, aqui, na partilha de nós mesmos e de quanto temos, na vivência
da vocação, radica a alegria de muitos, a nossa alegria, a alegria de Deus, que
renovando-nos com o Seu amor, exulta de alegria por nossa causa (Sf 3, 17). É
preciso fazer o amor que renova e que alegra. E isto é Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou descobrir, no concreto, como
repartir-me para melhor acolher.
REZAR A PALAVRA
Senhor,
Mestre que aguardo e desejo abraçar em meu inquieto coração:
Que
devo fazer neste caminhar de interrogações, onde a única certeza parece ser a
dúvida?
Que
devo fazer neste sombrio e limitado horizonte do ser, onde o vazio me
destabiliza?
Que
devo fazer nesta procura de sentido, onde a espectativa me cansa e estimula?
Se a
Tua resposta é o repartir, que me impede de abrir as mãos para me dar?
Se a
Tua resposta é acolher, que me impede de abrir o coração para dialogar?
Se a
Tua resposta é converter, que me impede de abrir caminhos que conduzam a Ti?