Naqueles dias, Maria pôs-se a
caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade
de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a
saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito
Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na
verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino
exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no
cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».
Caros amigos e amigas, imediatamente
antes do Natal, o texto de Lucas para este Domingo é uma peça preciosa, cheia
de verbos dinâmicos… quase explosivos. O Advento é um tempo explosivo. Acendamos
o rastilho, pois a explosão está tão perto!
Pôs-se
a caminho… apressadamente
Se procurarmos um
motivo para a pressa de Maria ficamos decepcionados ao encontrar a banalidade
deste “saudou Isabel”. Percorreu
tantos quilómetros para isto?! Maria desconcerta as nossas viagens de negócios,
as nossas urgências megalómanas, com o valor aparentemente tão débil de uma
saudação, de um sorriso, de um brilho do olhar, que merecem os maiores cansaços
do caminho.
A pressa de Maria
transporta a pressa de Deus. Depois de experimentar Deus que vem ao encontro da
humanidade, Maria vai ao encontro da fragilidade de Isabel. Por intermédio de
sua Mãe Santíssima, Jesus começa aquela que será a sua forma de vida itinerante,
ao encontro do coração sedento do ser humano. Ele convida-nos a pôr-nos a
caminho, cruzar com o outro a rota das suas lutas e cansaços, ser peregrino da
sua dor, socorro da sua indigência, lenitivo da sua solidão, acender-se numa
alegria inadiável: o Senhor está connosco! Como Maria, aquele que está habitado
por Jesus não pode adormecer nas poltronas da indiferença, do comodismo ou do
estatuto... leva Jesus até onde houver sede de Deus.
Entrou…
saudou… ouviu… exultou… ficou cheia… exclamou
Que poderosa a
saudação de Maria! O encontro com Deus provoca uma onda imparável... Estes
verbos, palpitando de rajada, movimentados, rimados e rítmicos, embebidos de
melodia, como que nos fazem dançar. Mães e filhos convidam-nos para este baile
em que a música sublime é a alegria de Deus, que escorre do seu Amor e gera
Vida. A abertura ao amor de Deus é o prodígio que sotura a distância entre estas
duas mulheres separadas por quilómetros e por anos, fecunda os dois ventres
aprisionados pela esterilidade, homologa dois testamentos com a assinatura da
esperança. Caros amigos e amigas, celebrar o Natal é acolher o amor de Deus e
deixar que ele nos fecunde e se faça vida em nós. Vida pronta para ser
partilhada em palavras e em gestos concretos e gerar mais vida.
Maria é bem-dita, diz Isabel. Ela ensina-nos a fonte do elogio:
a descoberta de que o outro é uma palavra bela de Deus. Experimentemos fazer
elogios assim: o mundo ficará cheio de palavras belas.
Acreditou
Mais um
verbo e este… tem todo o segredo. Não andamos tão afadigados à procura da
felicidade? Ei-la!!! Tão fresca, ágil e segura! Maria é feliz porque acreditou.
Este acreditar não se pode confundir com uma credulidade ingénua e imprudente.
Maria é segura na confiança em Deus. Depois da anunciação, não se evade, não fica acabrunhada, rendida a
elucubrações pessimistas sobre o que lhe podia acontecer. Não se vitima...
assume, ergue-se. É uma mulher combativa, porque crente. Acreditar em Deus é um
risco que exige valentia e intrepidez, pois o percurso muitas vezes tem de ser feito
no meio da noite, entre desertos, com sabor a silêncio e a vazio, nas bordas do
absurdo e do sem sentido. E eis que esta frágil menina, a quem um Anjo coloriu
a vida de promessas improváveis, corre e deriva pelas montanhas, à procura de
uma prima idosa e estéril! Grande fé... que sustentou tão bela história... A fé de Maria é um convite a
superar as barreiras de cepticismo, as justificações que interpomos para que
Deus escreva sua história em nós e por nós. Não temamos, porque a sua história em
nós é Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou saudar o irmão, consciente de
que transporto em mim a semente de uma boa notícia.
REZAR
A PALAVRA
Senhor,
preciso saborear a maravilha do Tua notícia, para que os meus passos
de
encontro sejam apressados e derrubem a apatia do meu comodismo espiritual.
Senhor,
preciso de ouvir a alegria do Teu silêncio reconfortante,
para
que o meu abraço de encontro seja puro e acolhedor.
Senhor,
preciso contemplar a ternura do Teu estar comigo, para que o meu acreditar
seja fruto
do encontro com a Tua Palavra. Senhor, preciso de aprender com Maria.
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