segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


A GRANDE ENTREVISTA II


O Sr. Padre José Luís Pombal é formador no Seminário Maior de Bragança e moderador da Unidade Pastoral 6 de Bragança. O Sementinha decidiu faz-lhe uma grande entrevista sobre a Nova Evangelização:



SEM - No momento em que se fala tanto da expressão “Nova Evangelização” no seio da Igreja, pode definir-nos do que realmente se trata?
Pe. José Luís - É uma expressão que foi difundida pelo papa João Paulo II, ainda que não tivesse sido ele a forjá-la. E na difusão que João Paulo II protagonizou, adornou-a, em 1983, com três coordenadas: “novas expressões, novos métodos, novo ardor”. É a partir delas que podemos obter uma tentativa de definição, como me pedis. Agora, nova no conteúdo não é de certeza, porque esse corresponde ao mesmo de sempre: o Evangelho encarnado, Jesus Cristo. Tão antigo e tão novo!

SEM - Mas, se a denominação passa por NOVA EVANGELIZAÇÃO, significa que as iniciativas anteriores de anunciar Cristo onde a luz da Fé esmoreceu e o fogo de Deus pede para ser reavivado, nas últimas décadas, não tiveram o êxito esperado? O que é que na sua opinião terá falhado no anúncio da palavra de Deus?
Pe. José Luís - O ‘falhanço’ é transversal a todos os séculos e prende-se sempre com a falta de docilidade ao Espírito Santo, principalmente da parte daqueles que pregam e não vivem. Por isso, Paulo VI veio advertir que hoje os mestres só são escutados se derem testemunho. Trata-se de testemunhar o mandamento do amor, amando. Agora, hoje, o contexto é genuinamente adverso. Hoje, a admiração inicial diante dos cristãos – “vede como eles se amam” –, penso que já não seria a mesma. E aqui vejo parte do ‘falhanço’. Hoje, tudo é direito, tudo é dever. Assim sendo, onde cabe a gratuidade? Há um livro do teólogo suíço Hans Urs von Balthasar intitulado “Só o amor é digno de fé”. Concordo plenamente, mas o meu receio, hoje, é que diante duma cultura tão an-estética já nem o amor fascine. Porquê? Porque se a gratuidade não é reconhecida, tudo é devido, tudo é interesseiro, e no meio de tanta justificação tudo é absurdo… Nestas circunstâncias, será que a Nova Evangelização é decisiva? Sim, se por ela nos reabituarmos ao Espírito Santo!

SEM - E, se de NE continuamos a falar, pensa que se poderá tratar de uma atualização do anúncio de Cristo e da sua palavra à sociedade e ao mundo de hoje?
Pe. José Luís - Necessariamente. Há quem diga que a evangelização não se deve classificar de ‘nova’, porque podemos valorizar mais os métodos de hoje que o conteúdo de sempre e a própria metodologia de Cristo. É verdade… Mas, para mim, a evangelização é sempre nova, porque acontece sempre em contextos novos. São esses contextos que temos de amassar com o fermento de Cristo. Isto é Evangelização. E sempre nova, se assim for hoje à tarde e amanhã de manhã. É urgente é que amassemos com a mão das palavras e a mão das obras.

SEM - Na sua perspetiva, como presbítero moderador de uma unidade pastoral, como pensa implementar as diretrizes da NE, anunciadas pelo Papa Bento XVI no final do Sínodo, no passado mês de Outubro?
Pe. José Luís - Da mesma maneira que pensava antes desse anúncio, ou seja, com muita serenidade. O papa falava de três linhas pastorais relacionadas com: os sacramentos da iniciação cristã; a missão ad gentes; e, as pessoas batizadas que não vivem as exigências do Batismo. A primeira e a última são as que dizem mais respeito à realidade em que me movo, que precisa, antes de mais, de ser amada tal qual é. Depois, veremos…

SEM - Será possível colocar em prática estas novas orientações na nossa realidade? O que pensa que terá que mudar por parte de quem anuncia?
Pe. José Luís - Sou um jovem padre, mas já experimentei na carne que se as indecisões não ajudam, as pressas ainda ajudam menos. Neste sentido, a catequese (sobre os sacramentos) é importante? É. As novas iniciativas face aos batizados esquivos também? Sim. Mas… não se faziam já antes? Faziam. Por que falharam?... Muito devido à vertigem do fazer! Para a Unidade Pastoral da qual sou moderador tenho apenas um desejo pastoral, para mim e para os agentes pastorais a colaborar comigo, no sentido de dar cumprimento às orientações do Santo Padre: contacto pessoal com os paroquianos. Só assim poderemos testemunhar o Cristo que nos salvou… Contacto pessoal? Como? Sem desistir à partida.

SEM - De acordo com a realidade da nossa diocese tão desertificada, onde a juventude é escassa, quais são os desafios e oportunidades que na sua opinião a NE poderá trazer à juventude cristã para que Cristo possa ocupar um lugar central em suas vidas?
Pe. José Luís - É um facto que na nossa diocese a juventude é escassa. Mas nem por isso a nossa pastoral juvenil se deve inscrever na gramática da sedução. Este é o grande desafio. Penso que devemos falar a linguagem que os jovens entendem: «se quiseres!…». Anunciar, sim; testemunhar, também; ir de encontro e ao encontro, sempre; subserviência, nunca. Depois, se são principalmente os jovens que conseguem evangelizar com eficácia os outros jovens, qual é a razão para, imersos nos nossos planos sedutores, não olharmos por aqueles que já se decidiram por Cristo e procuram crescer na amizade com Ele?… Esta é a grande oportunidade para se fazer dum jovem cristão um adulto na fé.

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