A GRANDE ENTREVISTA II
O Sr. Padre José Luís Pombal é formador no Seminário Maior de Bragança e moderador da Unidade Pastoral 6 de Bragança. O Sementinha decidiu faz-lhe uma grande entrevista sobre a Nova Evangelização:
SEM - No momento em que se fala tanto da expressão
“Nova Evangelização” no seio da Igreja, pode definir-nos do que realmente se
trata?
Pe. José Luís - É uma expressão
que foi difundida pelo papa João Paulo II, ainda que não tivesse sido ele a
forjá-la. E na difusão que João Paulo II protagonizou, adornou-a, em 1983, com
três coordenadas: “novas expressões, novos métodos, novo ardor”. É a partir
delas que podemos obter uma tentativa de definição, como me pedis. Agora, nova
no conteúdo não é de certeza, porque esse corresponde ao mesmo de sempre: o
Evangelho encarnado, Jesus Cristo. Tão antigo e tão novo!
SEM - Mas, se a denominação passa por NOVA
EVANGELIZAÇÃO, significa que as iniciativas anteriores de anunciar Cristo onde
a luz da Fé esmoreceu e o fogo de Deus pede para ser reavivado, nas últimas
décadas, não tiveram o êxito esperado? O que é que na sua opinião terá falhado
no anúncio da palavra de Deus?
Pe. José Luís - O ‘falhanço’ é
transversal a todos os séculos e prende-se sempre com a falta de docilidade ao
Espírito Santo, principalmente da parte daqueles que pregam e não vivem. Por
isso, Paulo VI veio advertir que hoje os mestres só são escutados se derem
testemunho. Trata-se de testemunhar o mandamento do amor, amando. Agora, hoje,
o contexto é genuinamente adverso. Hoje, a admiração inicial diante dos
cristãos – “vede como eles se amam” –, penso que já não seria a mesma. E aqui
vejo parte do ‘falhanço’. Hoje, tudo é direito, tudo é dever. Assim sendo, onde
cabe a gratuidade? Há um livro do teólogo suíço Hans Urs von Balthasar
intitulado “Só o amor é digno de fé”. Concordo plenamente, mas o meu receio,
hoje, é que diante duma cultura tão an-estética já nem o amor fascine. Porquê?
Porque se a gratuidade não é reconhecida, tudo é devido, tudo é interesseiro, e
no meio de tanta justificação tudo é absurdo… Nestas circunstâncias, será que a
Nova Evangelização é decisiva? Sim, se por ela nos reabituarmos ao Espírito
Santo!
SEM - E, se de NE continuamos a falar, pensa que
se poderá tratar de uma atualização do anúncio de Cristo e da sua palavra à
sociedade e ao mundo de hoje?
Pe. José Luís - Necessariamente.
Há quem diga que a evangelização não se deve classificar de ‘nova’, porque
podemos valorizar mais os métodos de hoje que o conteúdo de sempre e a própria
metodologia de Cristo. É verdade… Mas, para mim, a evangelização é sempre nova,
porque acontece sempre em contextos novos. São esses contextos que temos de
amassar com o fermento de Cristo. Isto é Evangelização. E sempre nova, se assim
for hoje à tarde e amanhã de manhã. É urgente é que amassemos com a mão das
palavras e a mão das obras.
SEM - Na sua perspetiva, como presbítero
moderador de uma unidade pastoral, como pensa implementar as diretrizes da NE,
anunciadas pelo Papa Bento XVI no final do Sínodo, no passado mês de Outubro?
Pe. José Luís - Da mesma maneira
que pensava antes desse anúncio, ou seja, com muita serenidade. O papa falava
de três linhas pastorais relacionadas com: os sacramentos da iniciação cristã;
a missão ad gentes; e, as pessoas batizadas
que não vivem as exigências do Batismo. A primeira e a última são as que dizem
mais respeito à realidade em que me movo, que precisa, antes de mais, de ser
amada tal qual é. Depois, veremos…
SEM - Será possível colocar em prática estas
novas orientações na nossa realidade? O que pensa que terá que mudar por parte
de quem anuncia?
Pe. José Luís - Sou um jovem
padre, mas já experimentei na carne que se as indecisões não ajudam, as pressas
ainda ajudam menos. Neste sentido, a catequese (sobre os sacramentos) é
importante? É. As novas iniciativas face aos batizados esquivos também? Sim.
Mas… não se faziam já antes? Faziam. Por que falharam?... Muito devido à
vertigem do fazer! Para a Unidade Pastoral da qual sou moderador tenho apenas
um desejo pastoral, para mim e para os agentes pastorais a colaborar comigo, no
sentido de dar cumprimento às orientações do Santo Padre: contacto pessoal com os paroquianos. Só assim poderemos testemunhar
o Cristo que nos salvou… Contacto pessoal? Como? Sem desistir à partida.
SEM - De acordo com a realidade da nossa diocese
tão desertificada, onde a juventude é escassa, quais são os desafios e
oportunidades que na sua opinião a NE poderá trazer à juventude cristã para que
Cristo possa ocupar um lugar central em suas vidas?
Pe. José Luís - É um facto que na
nossa diocese a juventude é escassa. Mas nem por isso a nossa pastoral juvenil
se deve inscrever na gramática da sedução. Este é o grande desafio. Penso que
devemos falar a linguagem que os jovens entendem: «se quiseres!…». Anunciar,
sim; testemunhar, também; ir de encontro
e ao encontro, sempre; subserviência, nunca. Depois, se são principalmente
os jovens que conseguem evangelizar com eficácia os outros jovens, qual é a razão
para, imersos nos nossos planos sedutores, não olharmos por aqueles que já se
decidiram por Cristo e procuram crescer na amizade com Ele?… Esta é a grande
oportunidade para se fazer dum jovem cristão um adulto na fé.
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