quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

V Domingo Comum A



Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Vós sois o sal da terra. Mas se ele perder a força, com que há-de salgar-se? Não serve para nada, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire, mas sobre o candelabro, onde brilha para todos os que estão em casa. Assim deve brilhar a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos Céus».

Caros amigos e amigas, as parábolas de Jesus têm a capacidade de dizer as maravilhas de Deus com palavras simples, referindo-se ao concreto da vida. Entre o mistério do Reino e os nossos acontecimentos quotidianos não há distâncias: qualquer coisa nos pode falar de Deus; e ninguém é demasiado pequeno que não possa dar sabor e vida à sua volta.

Interpelações da Palavra
“Vós sois…”
Estas palavras incidem o coração. Quem me dera ter o olhar de Jesus para descortinar nos seus rudes discípulos as sementes de beleza, de bondade, de luz e sabor! Jesus olha também para nós e, para além das nossas trevas, vê muito mais do que uma vida insonsa e de pilhas gastas. Ele vê a luz e o paladar que Deus faz nascer em nós. Não diz que devemos ser luz ou sal, mas afirma que somos clarão iluminante e sabor invisível. Sim, só por força de um vós plural, como família e comunidade, fora dos umbigos egoístas. Porque a luz nasce dos encontros e vive da beleza da comunhão. Porque o melhor banquete só sabe bem quando alguém está sentado ao nosso lado. Porque, sozinhos, as estradas são escuras e as cidades sem gente são um deserto sem vida. Mas quando se “reparte o pão com o faminto, se dá pousada aos pobres sem abrigo, então a luz despontará como a aurora e as feridas não tardarão a sarar. Se tirarmos do meio a opressão, a luz brilhará na escuridão e a noite será como o meio-dia” (Isaías).

“… o sal da terra”
O Mestre recorda-nos que somos terreno fértil, visitado pelo segredo das coisas, e que fazemos parte da história do Filho de Deus que trespassa a nossa vida insípida para lhe dar gosto. Nele também nós somos sal, insignificância capaz de transformar o sabor da vida, se dispostos a desaparecer, não porque inúteis, mas para purificar, preservar, curar e encontrar-se apenas no outro. O Evangelho é um desafio constante a libertarmos a centelha fulgurante que abrigamos, a multiplicarmos uma potência escondida. O grão de trigo que morre, o sal que se dissolve, a vida que se entrega não são mensagens de aniquilamento, mas de um investimento que rentabiliza a vida e lhe dá sabor.
“O Evangelho é sal, mas vós tornaste-lo açúcar” dizia Paul Claudel. Na verdade, o Evangelho queima os lábios e o coração, mas o drama hoje é um cristianismo sem Cristo, uma religião sem fé, um culto sem celebração, uma fé sem paladar, tépida e cinzenta, esquecida e escondida sob o alqueire.

“… a luz do mundo”
Ninguém pode olhar para o sol sem que o seu rosto não seja iluminado. Sim, amigos, há rostos habitados por Deus, porque não se pode estar exposto diariamente ao olhar da ternura infinita sem receber uma insólita beleza. Basta vê-los! É a eloquência dos gestos, da alegria acolhedora, do brilho do olhar, dos sorrisos e das lágrimas, etc. Assim percebemos que Deus está, que Deus é luz, e que o nosso coração está feito para a luz.
Reza um provérbio hebraico que “todas as trevas não conseguem apagar uma candeia; mas uma candeia sozinha ilumina todas as trevas”. Sim, as palavras de Jesus são luminosas e aclaram o coração. Quando somos discípulos do seu amor e reflexo da sua luz tudo se transforma, mesmo se ainda cegos pelo abismo do desespero ou pelo fumo das ilusões. É Ele a coluna de fogo que nos guia. É a claridade da sua face a rota dos nossos passos. É o perfume das suas palavras o doce… o saboroso Evangelho!


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, na semente de sal que lanças em meu querer
Emerge a missão de dar sabor, o Teu sabor, a força do amor maior.
Desejo servir, ser lançado no chão que me faz ser sal da terra.
Senhor, na semente de luz que depositas em meu sentir
Renasce o desafio de dar cor, a Tua cor, a alegria do amor maior.
Desejo abraçar, dançar na casa que me faz ser luz diante dos homens.
Não me deixes esconder por debaixo do medo… que eu me deixe semear por Ti…

Viver a Palavra

Vou espalhar o sabor e a luz do amor onde quer que me encontre.

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