Evangelho
segundo S. Mateus 26, 14-27, 66
Enquanto
comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e deu-o aos discípulos,
dizendo: «Tomai e comei: Isto é o meu Corpo». Tomou em seguida um cálice, deu
graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos, porque este é o meu Sangue,
o Sangue da aliança, derramado pela multidão, para remissão dos pecados». […] Jesus
tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a
angustiar-Se. Disse-lhes então: «A minha alma está numa tristeza de morte.
Ficai aqui e vigiai comigo». […] Disse-lhes Pilatos: «E que hei-de fazer de
Jesus, chamado Cristo?». Responderam todos: «Seja crucificado». Ao saírem,
encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a
cruz de Jesus. Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas
envolveram toda a terra. E, pelas três horas da tarde, Jesus clamou com voz
forte: «Eli, Eli, lema sabactáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque
Me abandonastes?». […] Entretanto, o centurião e os que com ele guardavam
Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram aterrados
e disseram: «Este era verdadeiramente Filho de Deus».
Caros amigos e amigas, a leitura do Evangelho deste
Domingo narra a paixão de um Deus apaixonado pelo Homem… O pedido de Jesus
“Ficai comigo” continua a convidar a nossa história a ser narrada com a d’Ele…
Interpelações da Palavra
Duas cores,
dois refrães, duas histórias…
Escrita a duas cores, desde o verde das folhas dos
Ramos até ao vermelho do sangue no Calvário, na narração da paixão oscilam dois
refrães: “Hossana!” e “Crucifica-o!”… Quem diria que, com algumas horas de
permeio, estes dois refrães estão dirigidos ao mesmo homem e têm como reação, a
mesma mansidão, a mesma humildade, a mesma doçura! Quão volúveis são as nossas
aclamações, que hoje erguem e amanhã derrubam, e quão constante é a fidelidade
deste Deus, inabalável na esperança, excessiva no amor.
Neste texto encontramos
duas histórias sobrepostas: a nossa própria história contada entre o sono e o
medo, entre o desmazelo e a indiferença, entre a violência e a barbaridade, entre
o egoísmo e a morte; que é recontada pela resposta do amor que tudo transforma
em confiança, atenção, ternura, perdão, ressurreição…
Se és Filho de Deus, desce da Cruz
Qualquer outro deus teria cedido a tal provocação.
Mas o Deus de Jesus pode apenas aquilo que o amor pode! E o amor divino é
criativo e louco, exibe a maior prova de amor quando dá a vida pelos amigos. O
Amor abraça a cruz, porque nela abraça as cruzes de cada filho. Deus entra na
morte porque na morte entra também cada um dos seus filhos. O Amante participa
de todas as dores que os seus amados possam sofrer (Ronchi).
Na cruz, Deus não grita belas palavras ou teorias, mas
assina com a própria vida todo o Evangelho, rubrica com o seu sangue todo o seu
amor. Deus “crucifica” o seu amor para que não fiquem dúvidas! Naquela “árvore
da vida”, Deus “vinga-se” definitivamente da distância, da indiferença, da
separação: nada o impedirá de ser o Emanuel, o “Deus connosco”, para sempre.
Nem a morte nos poderá separar! A beleza de Cristo na cruz não é por ter
sofrido por nós, mas por ter transformado todo aquele sofrimento num acto de
amor: a cruz é um convite radical a não sofrer, porque a amar sempre, a
qualquer preço, mesmo até ao preço da vida.
Este
era verdadeiramente Filho de Deus
Que terá visto o centurião na agonia daquele moribundo,
de modo a fazer o primeiro acto de fé cristão? Presumo que no rosto daquele
agonizante, ele tenha visto o coração de Deus e pressentido a ressurreição.
É de joelhos no lava-pés, e em silêncio no alto do
calvário, que descobrimos o verdadeiro rosto de Deus. Ali aprendem-se os gestos
humanos e eucarísticos que nos tornam verdadeiramente divinos. Diante do
mistério amoroso da cruz apenas podemos ajoelhar, agradecer e deixar a nossa
história ser semeada pela do Filho de Deus, pois o grão caído à terra dá muito
fruto! E isso, amigos e amigas, é a abundante safra do Evangelho!
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, entrego-te a
superficialidade da minha aclamação para que se aprofunde na tua mansidão;
Estendo-te a minha fome nesta
ceia onde te dás como presença humilde, como alimento de vida;
Recosto a minha tibieza neste
jardim onde a tua vigília me dedica um sim amargo e fiel;
Ofereço-te o meu medo e a
minha negação para que o teu sim me regue e fertilize a força;
Abro-te o meu
caminho onde escreves, de passos ensanguentados, a meta que me pedes;
Entrego-te o
madeiro para que te abra os braços com que me hás-de abraçar;
Aponto-te a
lança que há-de abrir o cofre do teu coração, para que me recebas e me sacies…
Viver a Palavra
Quero deixar que a
narração do amor levado ao extremo, inspire a história que escrevo todos os
dias.
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