sábado, 7 de junho de 2014

Pentecostes A



Evangelho segundo S. João 20, 19-23
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».

Caros amigos e amigas, o dom do Espírito, à semelhança dos apóstolos, faz germinar em nós sementes de ressurreição abrindo caminhos novos de paz e de esperança.

Interpelações da Palavra

Na tarde daquele dia veio Jesus
Sim, assim sem avisos nem cortejos celestes. Ninguém o chamara ou feito uma súplica dirigida aos céus. Mas, esta é a beleza do Ressuscitado: discreto apresenta-se no coração da situação de tristeza e medo dos amigos. Ainda hoje é Ele que vem ao nosso encontro, mesmo quando não lhe acenamos ou lhe repetimos orações. Vem como segredo dos nossos segredos, amor de cada amor, alma da nossa vida! Sim, Ele vem e, no íntimo do nosso cenáculo, mostra o alfabeto das chagas, aquela gramática indestrutível de amor, oferecendo a sua paz. O Espírito de Cristo é a nossa língua materna, aquele murmúrio simples e de paz que todo o coração anseia.

Recebei o Espírito Santo
Cristo sopra sobre a alegria dos apóstolos e, de repente, a casa enche-se de vento. Até parece que as brasas adormecidas da última ceia, mediante o sopro do Espírito, pegam novamente fogo, capazes de abrasar a terra inteira. Pentecostes é a Páscoa que se incendeia! Agora os discípulos já não têm medo, saem para fora, ao encontro de todos, numa folia de universalidade. Desde esse dia, o lugar do cristão nunca é aquele espaço fechado da sacristia, mas é estar fora e em movimento: ide, libertai, perdoai, tudo e todos! O Espírito de Jesus cria estradas de proximidade, abre portas, reacende o ardor do coração, renova a confiança.
O Espírito é um sopro, um respiro sinónimo de vida, vento misterioso que enche as velas da nossa vida para a conduzir a outros mares. É como um incansável ar de primavera que transporta o pólen das flores e as sementes das plantas para que a vida se estenda ao longe. É a brisa que sopra no jardim do nosso coração para que os perfumes de Deus sejam exalados.

O nascimento da nova criação
Na criação, Deus insuflou na argila o seu respiro e deu vida ao homem. O Sopro divino faz nascer, dá vida. Agora, o Sopro, qual bálsamo da ressurreição, é o respiro de um mundo novo, de uma criação nova, de uma humanidade reavivada! O Espírito Santo é o suave beijo divino, o perfume do amor, a respiração de Deus. Por isso, o Pentecostes é uma contínua criação, uma poesia criativa, um desejo de fecundidade.
O Espírito dá aos apóstolos a fantasia da missão, a emoção dos primeiros passos, a inspiração, a imaginação e a genialidade, que permite a novidade do perdão e a ternura do amor. Quem recebe o Espírito não pode não perdoar, não pode não abater vedações e fronteiras, não pode não deixar de abrir o coração.
No Evangelho nada se diz da presença de Maria. Contudo, acredito que, com os cabelos já grisalhos e junto dos apóstolos, Ela sorria serenamente como se já conhecesse o rosto e o modo de agir do Espírito. No seu íntimo tinha experimentado a sua presença e tinha visto dissipar-se, no silêncio, todas as perplexidades. Ela bem sabia que a semente colocada por Deus no coração dos apóstolos trazia dentro de si a força para desabrochar e dar vida. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Vem, Espírito Santo, suave distúrbio da tristeza e do medo, Tu reinventas a alegria!
Tu és o hálito incandescente do Ressuscitado, a corrente de ar que resfria a inação,
Tu és a semente da ousadia, o vendaval da ternura, o ósculo da divina Presença!
Ainda que não te chame… vem, desejo-te nesta dor de não saber amar o Amor…
Vem, trespassa-me com a espada do perdão, embriaga-me com as ânsias da paz.
Ó artífice do ser, prepara-me com a beleza que suporta o divino sopro de vida.
Vem, Espírito Santo, ensinar-me a modular o sim que explode todas fronteiras!

Viver a Palavra

Vou implorar a graça do Espírito Santo sobre os meus medos e derrotas e abrir-me à sua graça.

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