quinta-feira, 23 de outubro de 2014

XXX Domingo Comum A



Evangelho segundo S. Mateus 2, 34-40
Naquele tempo os fariseus, ouvindo dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus, reuniram-se em grupo, e um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Jesus respondeu: «‘Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito’. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas».

Caros amigos e caras amigas, eis aqui, compendiado numa única frase, o caminho que sacia toda a verdadeira ambição… É este o ideal de Deus a nosso respeito, é esta a nossa meta: amar. Mas amar será assim tão simples?

Interpelações da Palavra
Perguntou-lhe para O experimentar…
A trama do tributo a César fora um fracasso, era preciso montar uma nova armadilha. Os fariseus pensam encaminhar Jesus para os labirintos de normas e de leis onde eles são especialistas imbatíveis, embrulha-lo numa discussão, e… aí não seria difícil encurralá-lo com um qualquer deslize de interpretação. E eis que o Mestre dá uma resposta tão breve quanto incisiva a esses mestres, profissionais de exterioridades: revela a joia que a lei tem dentro. É como se eles andassem a mostrar o cálice, e Jesus desse a provar o néctar.
Jesus derruba-lhes a arrogância de se acharem donos de Deus e das suas graças, mostrando que o caminho está aberto a todos: amar a Deus… com a condição de amar o próximo! Apresenta-lhes um mandamento, depois outro, ambos livres de glosas e de comentários, como duas pérolas saídas do cofre da lei, a brilhar à luz do dia, um brilho onde toda a lei ganha sentido, e que reduz a nada todo o legalismo escravizante.

Amar a Deus
É fácil confundir o amor a Deus com o cumprimento de procedimentos e de obrigações… oferecer-lhe orações, sacrificiozinhos… acrescentar créditos à nossa salvação, como se a salvação viesse de uma irrepreensibilidade exterior! É como aqueles pais que dão muitas coisas aos filhos, mas raramente lhes fazem provar a doçura de um beijo, ou o mel de uma carícia e muito menos o aconchego da atenção. Somos capazes de calar com exterioridades um apelo que nos atinge muito mais fundo… o Deus que nos seduz.
A verdade é que, como os fariseus, também nós desejamos “experimentar” Deus, mas por vezes seguimos o caminho errado. Jesus mostra-nos o verdadeiro caminho para a experiência de Deus: o amor. Não podemos deixar secar a relação vital, o trato de amizade com Ele! Deus quer homens e mulheres, livres da armadura de prescrições e de protocolos, para O amar sem coações, capazes de fazer uma experiência inteira, onde nada pode ficar de fora. A tríplice repetição de todo o coração, toda a alma, todo o espírito’ revela-nos que Deus, que é tudo e só amor, nos demanda por inteiro, não pede isto e aquilo, mas pede a nossa integridade. O amor a Deus não se trata de um sentimento, é uma opção por aceitar que o amor de Deus tome posse de nós. Significa deixar-se embeber, empapar, por Deus que é amor, passarmos a ser o que Deus é, de modo que qualquer um que nos vir tem que perceber, pelos nossos gestos, palavras e obras, que somos composição do amor… que “vai ali o amor!”

Amar o próximo
Mas o amor a Deus não é também um delírio forjado nas nuvens da nossa imaginação, um calorzinho acendido a isqueiro no coração, como nas velas das nossas devoções. O amor a Deus é um fluxo semeado na terra do coração do irmão. Os dois mandamentos, que Jesus coloca lado a lado, são como dois pés que poderão caminhar longe, são como duas mãos que poderão moldar o mundo: um sozinho… não funciona! Se o “Shemá Israel” soava diariamente a todo o judeu piedoso, para lembrar o amor a Deus, Jesus coloca o amor ao irmão no mesmo patamar para indicar que o amor a Deus sem o amor ao irmão, manifestado em obras concretas, não tem solo onde possa sobreviver. Só o irmão concreto, que vive ao nosso lado, é a porta que abre o sacrário do amor a Deus.
Jesus elevará o patamar do amor “como a ti mesmo” a uma fasquia ainda mais alta: “como Eu vos amei”. Aqui está a plenitude que queremos alcançar, a estrela que nos guia e brilha no firmamento do Evangelho!

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Senhor, Mestre do amor,
Ensina-me um coração indiviso, onde a vida és Tu e a novidade da Palavra sacie a
minha fome de ser. Ensina-me uma alma atenta, onde a luz és Tu e a beleza
da Tua presença nutra a minha terra sedenta de Ti. Ensina-me um espírito corajoso,
onde o sustento és Tu e a descoberta de cada irmão é missão e compromisso.
Senhor, Mestre do amor, desejo amar como Tu me amas… sem medida!

Viver a Palavra

Vou apostar em gestos concretos de gratidão pelo amor de Deus para comigo.

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