quinta-feira, 13 de novembro de 2014

XXXIII Domingo Comum A


Evangelho segundo S. Mateus 25, 14-30
Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola: «Um homem, ao partir de viagem, chamou os seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um, conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu. O que tinha recebido cinco talentos fê-los render e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Mas o que recebera um só talento foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servos e foi ajustar contas com eles. O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos: aqui estão outros cinco que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse: ‘Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois que eu ganhei’. Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel. Vem tomar parte na alegria do teu senhor’. Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse: ‘Senhor, eu sabia que és um homem severo, que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste. Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra. Aqui tens o que te pertence’. O senhor respondeu-lhe: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei; devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro, e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu. Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez. Porque, a todo aquele que tem, dar-se-á mais e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o às trevas exteriores. Aí haverá choro e ranger de dentes’».

Caros amigos e caras amigas, a parábola de hoje narra a fascinante história de amor entre Deus e o homem, em que tudo inicia com um acto de confiança recebido e tudo se torna um dom que se dilata gratuitamente.

Interpelações da Palavra
Confiar e entregar
Aquele talento não o queria de volta! Nem esse nem os outros! Tinha-os confiado aos seus servos antes de se ter aventurado numa longa viagem. Agora, algumas estações depois, fazia contas com eles. O primeiro e o segundo não precisaram de muitas palavras, falavam os factos: dupliquei o que me entregaste. O terceiro falava muito, mas em vez de ter valorizado o património recebido escondera-o e, medroso, estava de mãos quase vazias. Teria tido receio de não estar à altura da missão ou teria ficado frustrado por ser rico apenas de um talento? Não sei, contudo o fragmento esconde sempre algo maior e a beleza da totalidade revela-se também na mais pequena flor.
No início do mundo, o Criador confiou o jardim a Adão e Eva, entregando-lhes a possibilidade de futuro, de frutificar a vida e de multiplicar a sua beleza. Também a cada um de nós é confiado o talento de ser semeador de vida e de esperança. A vida é-nos entregue não como um peso ou condenação, mas como dom, graça, bênção e oportunidade.

“Toma parte na alegria do teu Senhor”
Acredito que são estas as palavras que escutaremos quando chegarmos ao paraíso, palavras carregadas de intimidade e alegria! Os dois primeiros servos tomam parte na alegria do patrão porque envolvidos na geração da vida, na partilha, entrega e dedicação. Já o terceiro servo, sem paixão, enterra a própria felicidade, esconde-se no anonimato, torna-se escravo em vez de ser fiel e bom amigo.
Há uma vida que urge e que pede para crescer. Guardar, esconder, assegurar, é uma tarefa ingrata e inútil. O nosso papel é o da multiplicação de mais vida, imitando os gestos de Deus, numa dinâmica crescente de amor. Não somos latas de conserva com prazo de validade, mas servidores da força imensa e do fermento escondido no universo.

A espiral da fecundidade
No fim da parábola, a atitude do Senhor surpreende por não querer de volta os talentos. Não se dá uma restituição, mas um relançar da aventura da vida numa superabundância de dons. Não temos de devolver a Deus os seus dons, porque esses quando trabalhados tornam-se fermento, semente de outros dons, horizonte que se dilata, um poema à criatividade. A vida é um dom recebido que só serve para ser dado! Sufoca, morre de medo e solidão se não for entregue e multiplicado. Mas se for oferecido torna-se viveiro de milagres, infinita liturgia de dons, multiplicação exuberante da riqueza da vida.
O nosso dom é um só, é Jesus, dom do Pai totalmente entregue, colocado nas mãos da humanidade, certeza que Deus confia continuamente no homem, e se entrega como frágil pão para saciar a nossa fome. E assim, caros amigos e amigas, se multiplica o Evangelho.


Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor, impressiona-me o modo excessivo como me confias o teu tesouro!
Tu acreditas em mim e deixas-me aberto um espaço de liberdade responsável.
Tu és esta corrente de bem e de beleza que me percorre os gestos e as palavras, às vezes bloqueada
pela minha timidez, desencorajada pelos meus medos, guerreada pela minha mesquinhez.
Perdoa-me as vezes em que tomo tudo o que tenho e sou e o negoceio numa concha de egoísmo…
Só quero encontrar o caminho de te corresponder para que a tua confiança em mim não seja vã.
Senhor, recebe a minha alegria que só deseja encontrar o caminho para tomar parte na tua!

Viver a Palavra

Vou considerar-me como um produto da misericórdia de Deus, destinado a rentabilizar este dom.

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