Evangelho segundo S. Marcos 13, 33-37
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não
sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao
deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a
sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto, visto que não
sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do
galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos
encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».
Caros amigos
e caras amigas, o breve Evangelho de hoje repete insistentemente o apelo à
vigilância, para que ninguém perca o encontro com Aquele que vem para nos
salvar.
Interpelações da Palavra
Não sabeis quando…
É verdade que nada ficou agendado para o seu
regresso, mas tudo na casa fala ainda dele, cada esquina lembra um evento,
respira-se ainda o eco das suas palavras e o perfume dos seus gestos,
recordam-se com saudades os momentos de amor. Agora, espera-se com renovada esperança
o seu regresso. O desejo de sentir novamente o seu bater à porta acompanha cada
instante. O coração está vigilante mesmo quando os sonhos descansam. Para o
amante cada momento, à tarde, à
meia-noite, de manhãzinha, é sempre tempo de encontro com o Senhor.
Maravilhosa aventura de um Deus que vem ao nosso
encontro e que inesperadamente nos surpreende, porque vem junto a nós não como
o tínhamos pensado, planificado, acreditado, esperado. Ele é o Deus das
surpresas que nos maravilha sempre com a criatividade do amor.
O amor nunca tem sono!
O perigo é o de uma vida adormecida e anestesiada,
distraída e anónima, diluída e esquecida. Uma existência incapaz de encanto e de
esperança. Adormece quem não espera nada, quem deixou de sonhar, de perscrutar
o horizonte e de se maravilhar por um olhar. Adormece quem não caminha, não se
empenha em
entender o
mundo e a história. Adormecem os discípulos no horto das oliveiras,
incapazes de acompanhar o Amor até ao calvário.
Não
nos perdoaremos por ter perdido justamente aquele momento
de Céu
para o qual
nascemos,
porque
os passos de
Deus
são inesperados
tal como é surpreendente
o amor,
a sua vinda é pontual como
é preciso o amor, o seu regresso é certo como cuidadoso é o amor. Na verdade, o
amor nunca dorme! E aos adormecidos repete: “Levanta-te, tu que dormes, ressuscita, tu
que estás morto,
e
Cristo brilhará sobre ti” (Efésios 5, 14).
Vigiai!
Vigiai! Vigiai!
O Mestre convida para esta apaixonada espera porque
esperar é
essencialmente amar! Vigiar é olhar em frente, perscrutar a noite, espiar a
aurora, espreitar o que nasce, velar os segredos da vida, cuidar das sementes
de luz e ressurreição, porque a noite não é a última palavra. Estar alerta,
vigilante aos adventos desta terra, é antecipar as sementes de luz, aguardar
com júbilo os encontros que nos esperam, é estar atento aos silêncios e aos
gritos dos outros, aos sorrisos e às ofertas, às lágrimas e às profecias, às
carícias e às primaveras, que constantemente fazem o Criador bater à nossa
porta.
Somos
convidados a estar alertas na grande noite do mundo como sentinelas do amor.
Somos convidados a olhar o futuro que vem ao nosso encontro, a esperar o amigo
e esposo que nos faz palpitar o coração, na certeza que um mundo novo está em germinação.
Por isso, caro amigo e cara amiga, abre os olhos e vê, abre os ouvidos e
escuta, abre o coração e ama, fica acordado e ressuscita! E espera
o milagre, silencioso e constante, que diariamente te desperta. Assim, preparas
o advento do Evangelho!
Rezar a Palavra e contemplar o
Mistério
Tudo
é festa porque a tua mão acaricia a minha solidão, o teu horizonte abraça o meu
olhar.
A
esperança é perfeita porque Tu a defines, só soletro a alegria nas letras do
teu nome.
A
vida só é bela, quando corre o risco de te ser entregue: quero esperar-te
apaixonadamente.
Talvez
não importa o quando, importa saber que sim, que tu vens porque nunca deixas de
estar,
que
tens esta pressa de não me abandonar, este desígnio de me acompanhar…
Afasta
a opacidade do meu cepticismo, o vício da descrença que me bloqueia.
Que
esta premente curiosidade do novo seja santificada pela tua promessa! Vem,
Senhor Jesus!
Viver a Palavra
Vou perscrutar o meu
coração para encontrar sinais de que confio e espero (n)o Senhor.
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