quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

I Domingo Quaresma C




Naquele tempo, Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-Se das margens do Jordão. Durante quarenta dias, esteve no deserto, conduzido pelo Espírito, e foi tentado pelo Diabo. Nesses dias não comeu nada e, passado esse tempo, sentiu fome. O Diabo disse-lhe: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». O Diabo levou-O a um lugar alto e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra e disse-Lhe: «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Então o Diabo levou-O a Jerusalém, colocou-O sobre o pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’». Jesus respondeu-lhe: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». Então o Diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação, retirou-se da presença de Jesus, até certo tempo.

Caros amigos e amigas, o Evangelho convida-nos ao deserto. Desde a quarta-feira de cinzas, a Quaresma recorda que somos pó. Contudo, este pó habitado pelo Espírito é, ainda hoje, a obra-prima da criação. Tão bela e delicada que, cada ano, o Artista a conduz ao deserto para lhe reavivar todo o seu esplendor.

“Estar no deserto, conduzido pelo Espírito”
O deserto é um lugar misterioso e intrigante, um espaço onde a sobrevivência e a morte caminham lado a lado, local de desafios e de audácia. É também o lugar onde Deus conduz os profetas para lhes falar ao coração, onde caminha com o povo hebreu partilhando a sua vida. Hoje, também as nossas cidades têm os seus desertos: o deserto da solidão e tristeza de tantos; o deserto de uma crise que avança impiedosa; o deserto de muitas perguntas sem respostas… Na verdade, basta uma quebra em Wall Street e falta o pão na nossa casa; basta uma febre e definha a saúde; basta uma união desfeita e desaparece alegria. Mas, se o Evangelho nos convida a entrar no deserto é porque – como disse Saint-Exupéry – em cada deserto há um poço, em qualquer angústia existe um rebento de ressurreição. No deserto são as estrelas que traçam a rota. Talvez ali descubramos dentro de nós a nostalgia do Céu, a liberdade desmesurada, o silêncio que permite a escuta, a luz que desmascara as trevas, a presença capaz de um encontro…

“Se és Filho de Deus”
As três tentações metem em jogo a relação filial de Jesus com o Pai, são um desafio entre dois projectos, são uma escolha entre dois amores.
As tentações são a divisão do nosso coração feito de cinzas e de luz, são um convite a alimentar-se só de pão, a contentar-se com a própria história, a viver sem sonhos, a silenciar a voz de Deus. O silêncio é então quebrado por aquela insinuação diabólica que gostaria de minar a nossa confiança no Amor: “onde está o teu Deus”? Todos sabemos que somos mendigos de pão, mas não podemos esquecer que somos também pedintes do céu e da eternidade, somos possuidores de tanta coisa mas mendicantes da beleza e do amor. O pão é bom e necessário, sacia o estômago, mas só Deus sacia a vida. Doutro modo, a existência é uma saca cheia de pedras que se tornaram pão duro e amargo de cada dia.

“Está escrito”
Nas três tentações Jesus convoca Deus ao seu lado e cada resposta é silabada e gritada com o alfabeto da Palavra de Deus: “está escrito...!”, está gravado no coração! Porque o que se escreve permanece, é promessa, é realidade! Jesus não dialoga com o Diabo, mas contrapõe sempre um amor maior: o de um Pai que nunca o abandona.
O grande engano é acreditar que o tesouro da vida esteja num naco de pão, na folia do poder ou no excesso de sucesso. O engano é acreditar que assim se pode eliminar a fome do céu e de paz. O maior engano é servir-se da vida caminhando nas palmas de anjos, sem avançar como crianças confiantes apenas na força com que nos aperta o abraço do Pai.
Mesmo quando caímos dos pináculos vazios da vida, Ele está presente. Talvez não como nós desejaríamos, mas à sua maneira. E não para evitar a queda, mas para ajudar a levantar e a continuar. E, então, fazer florescer o deserto. Isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou deixar um pouco da minha semana para me retirar e descobrir o que me tenta.


REZAR A PALAVRA
Senhor, ajuda-me a retirar de mim o que me desliga de Ti...
No deserto da minha busca de da fonte, não desejo pão passageiro, nem estradas
imediatas, apenas aspiro por Ti, alimento seguro. No alto das colinas do eu,
não desejo fama nem reconhecimento vão, apenas o Teu colo que me alenta
e me faz ser. Na Jerusalém de um mundo inquieto e desorientado, nao desejo poder egoísta nem autoridade vazia, apenas a Tua Palavra como norma e meta do caminho.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Vaticano: Bento XVI apresenta resignação (oficial)


Caríssimos Irmãos,
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.

Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013."


Vaticano: Bento XVI apresenta resignação (oficial)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

V Domingo Comum C




Naquele tempo, estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus. Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré e viu dois barcos estacionados no lago. Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes. Jesus subiu para um barco, que era de Simão, e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra. Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco, para os virem ajudar; eles vieram e encheram ambos os barcos, de tal modo que quase se afundavam. Ao ver o sucedido, Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe: «Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador». Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele e de todos os seus companheiros, por causa da pesca realizada. Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu, que eram companheiros de Simão. Jesus disse a Simão: «Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens». Tendo conduzido os barcos para terra, eles deixaram tudo e seguiram Jesus.

Caros amigos e amigas, Lucas narra a vocação dos primeiros discípulos. Fala-nos daquele imenso amor de Jesus que faz passar de uma noite estéril de desilusões para um dia audaz de decisões!

“Faz-te ao largo e lançai as redes”
Tinha sido uma canseira inútil. Pedro, desiludido, reflecte a noite escura e infrutuosa, após ter lutado contra as ondas do lago e a greve dos peixes. De mãos vazias, regressa à margem onde encontra Jesus que lhe pede hospitalidade na sua barca e de fazer-se ao largo. Talvez tenha sorrido interiormente, vendo a inexperiência do carpinteiro na faina da pesca. Contudo, aceita o desafio e lança de novo as redes.
O pedido de Jesus é insensato e absurdo, mas a sua palavra enche o coração e as redes de confiança. O Mestre sobe na barca de Pedro, deixa a terra firme e abandona-se à imprevisibilidade do mar. É também Ele que sobe na barca da nossa vida, tantas vezes, vazia. É Deus que abandona os céus à nossa procura e nos alcança também no fim de uma noite infrutuosa, no momento menos místico que possamos imaginar. E roga-nos um gesto de confiança, aparentemente inútil, de lançar as redes para o lado pobre da nossa vida, de não contar sobre as próprias capacidades, mas de ter fé. E pede-nos para recomeçar com aquele pouco que temos e sabemos, confiando-nos um novo mar.

O milagre do Evangelho
A abundância do peixe quase afunda o barco. Contudo, o maior milagre do Evangelho não é a barca sobrecarregada, nem as redes abandonadas. O milagre é Jesus que não se deixa impressionar pelo cansaço, desilusão, temor ou pecado de Pedro. O verdadeiro prodígio é Jesus que, face à infertilidade, levanta a coragem e recomeça um futuro novo desde o lugar onde tínhamos desistido. A maravilha é Jesus que nos vem ao encontro e nos confia o Evangelho ali onde tudo parecia ter secado e escurecido. O verdadeiro milagre é o arriscar e o confiar de Jesus em Pedro e em seus companheiros. Eles seguem-No porque já antes Jesus subira na sua barca! Deus antecipa-Se sempre à nossa procura. O milagre é uma resposta ao Amor obstinado do nosso Deus que torna o mar avarento e inquieto da nossa vida num lugar de riqueza e de encontro.
Jesus lê o interior de Pedro e acredita que a fragilidade do pescador pode encher-se de um precioso tesouro. Ainda hoje, o Mestre pede-nos aquela capacidade de coragem e fecundidade adormecida em cada um de nós. Para Jesus, o bem do amanhã vale mais do que o mal de ontem, e as redes cheias de hoje valem mais do que todos os falhanços do passado.

“Não temas. Daqui em diante serás pescador de homens”
Como Pedro, não basta dizer que somos pecadores; não basta gritar para Deus se afastar ou fugir da sua presença e, assim, fecharmo-nos ao milagre e a novos horizontes. Porque ainda hoje ecoa nas margens do nosso coração este convite a ir mais longe, a lançar redes e laços de amor, a aprofundar o sentido da vida, a ser pescador da humanidade, a fazer desabrochar toda a beleza dos filhos de Deus.
Só o amor de Deus faz florescer em desmedida a humanidade que há em nós. Só o amor, caros amigos e amigas, é o segredo do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou cultivar a audácia de acreditar, de confiar no poder do amor de Deus.

REZAR A PALAVRA
Senhor, assustam-me os tumultos do mar à minha volta, tenho a vontade atada de pessismismos,
as incertezas, a pobreza do meu coração desencorajam-me mais uma tentativa...
Vem abrir a porta ao milagre, Senhor da Vida, afunda-me na Tua Palavra,
liberta as redes do meu medo, e molda no meu coração um coração de discípulo.
É a hora de ser pesca, de ser isco e de ser pescador no mar do Teu amor!