sábado, 16 de abril de 2011

Domingo de Ramos - Quaresma A



Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e deu-o aos discípulos, dizendo: «Tomai e comei: Isto é o meu Corpo». Tomou em seguida um cálice, deu graças e entregou-lho, dizendo: «Bebei dele todos, porque este é o meu Sangue, o Sangue da aliança, derramado pela multidão, para remissão dos pecados». […] Jesus tomando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se. Disse-lhes então: «A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai comigo». […] Disse-lhes Pilatos: «E que hei-de fazer de Jesus, chamado Cristo?». Responderam todos: «Seja crucificado». Ao saírem, encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, e requisitaram-no para levar a cruz de Jesus. Desde o meio-dia até às três horas da tarde, as trevas envolveram toda a terra. E, pelas três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eli, Eli, lemá sabactáni?», que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». […] Entretanto, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, ao verem o tremor de terra e o que estava a acontecer, ficaram aterrados e disseram: «Este era verdadeiramente Filho de Deus».(Mt 26, 14 - 27, 66)


Caros amigos e amigas, a leitura deste Domingo é o coração do Evangelho: narra a paixão de um Deus apaixonado pelo homem. Na Semana Santa somos convidados a partilhar com Cristo não somente as alegrias, mas também as dores de amor. O pedido dirigido aos apóstolos no Getsémani - “Ficai comigo” - é mais do que uma súplica, é o desejo de Deus em nunca se separar de nós, para estar sempre com aqueles que ama. Os ramos de oliveira que benzemos no Domingo recordam a gradual passagem para a primavera, esperança de uma vida nova, sinal da ressurreição!


A vida é dom

Para Jesus, a morte não é simplesmente o desembocar inevitável do que disse e fez; mas é a sua total disponibilidade, a continuação do pão partilhado e do vinho derramado, o dom total de si mesmo. Dar a vida na cruz é a conclusão de uma existência já totalmente doada. Pregado na cruz, o Evangelho é evidente e inequívoco: os braços de Jesus, cravados e abertos num abraço que não pode ser negado, são o coração dilatado de Deus num acolhimento incondicional a todos.


“Se és Filho de Deus, desce da cruz”

Qualquer outro deus teria descido da cruz para se salvar a si mesmo. Mas o Deus de Jesus pode apenas aquilo que o amor pode! E o amor divino é criativo e louco, crava a maior prova de amor quando dá a vida pelo pelos amigos. O Amor abraça a cruz, porque nela abraça as cruzes de cada filho. Deus entra na morte porque na morte entra também cada um dos seus filhos. O Amante participa de todas as dores que os seus amados possam sofrer. Na cruz, Deus não grita belas palavras ou teorias, mas assina com a própria vida todo o Evangelho, rubrica com o seu sangue todo o seu amor. Deus “crucifica” o seu amor para que não fiquem dúvidas! Naquela “árvore da vida”, Deus “vinga-se” definitivamente da distância, da indiferença, da separação: nada o impedirá de ser o Emanuel, o “Deus connosco”, para sempre. Nem a morte nos poderá separar! A beleza de Cristo na cruz não é por ter sofrido por nós, mas por ter transformado todo aquele sofrimento num acto de amor: a cruz é um convite radical a não sofrer, mas a amar sempre, a qualquer preço, mesmo até ao preço da vida.


“Este era verdadeiramente Filho de Deus”

Que terá visto o centurião na agonia de um moribundo de modo a fazer o primeiro acto de fé cristão? Presumo que no rosto daquele agonizante, ele tenha visto o coração de Deus e pressentido a ressurreição. É de joelhos no lava-pés e em silêncio no alto do calvário que descobrimos o verdadeiro rosto de Deus. Ali aprendem-se os gestos humanos e eucarísticos que nos tornam verdadeiramente divinos. Caros amigos, diante do mistério amoroso da cruz apenas podemos ajoelhar e agradecer, porque o grão caído por terra dá muito fruto! E isso, caro amigos, é o coração do Evangelho!

VIVER A PALAVRA

Acompanharei o caminho amoroso de Jesus, procurando também ser dom.


REZAR A PALAVRA

Senhor, eu creio que és verdadeiramente o Filho de Deus!

Entras na minha vida revestido de humildade e calas os gritos da injustiça.

És pão que se entrega por amor e sangue derramado por todos, para sempre.

Caminhas livre até à morte e ensinas-me a dar-me, sem limites, até ao fim.

Questionas o abandono, a solidão, e abraças a obediência com vigor.

És silêncio, verdade, doçura e perdoas o pecador que te prega à cruz.

Senhor, eu creio que és verdadeiramente o Filho de Deus!

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