quinta-feira, 18 de julho de 2013

XVI Domingo Comum C


Naquele tempo, Jesus entrou em certa povoação e uma mulher chamada Marta recebeu-O em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria, que, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Entretanto, Marta atarefava-se com muito serviço. Interveio então e disse: «Senhor, não Te importas que minha irmã me deixe sozinha a servir? Diz-lhe que venha ajudar-me». O Senhor respondeu-lhe: «Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada».

Caros amigos e amigas, o evangelho de hoje apresenta Jesus num ambiente doméstico, quase a dizer-nos que a fé é sempre um encontro íntimo e familiar. E quando Deus entra na nossa vida ocorre ser terra silenciosa e seduzida; ocorre estar com Ele sem a tirania das inquietações, para receber um dom, uma vida, uma amizade.

Betânia
Encanta-me este Deus que se mete na vida da gente, que pede atenção e proximidade, a quem agrada sentar-se com simplicidade à volta da mesa e falar. Um Deus de risos e lágrimas, de cumplicidades e confidências. Acredito que, naquela casa de Betânia, Jesus reencontrava a familiaridade, a amizade, a tranquilidade e a intimidade da sua pequena Nazaré.
Hospedar alguém é criar-lhe um espaço e dar-lhe tempo. É partilhar a própria casa e a refeição. Mas, acima de tudo, é fazer de si próprio um espaço para o outro através da escuta. Maria que escuta a palavra de Jesus é imagem de uma hospitalidade que não se limita a acolher nos muros de uma casa, mas que faz da sua própria pessoa uma demora para o outro. Ser Igreja é ainda hoje ser Betânia, ser casa e ser família!

Marta e Maria
Não podemos opor Marta e Maria como emblemas de dois tipos de vida: contemplativa e activa. Nem podemos esquecer que elas são as duas faces de um único amor: diferentes mas sempre irmãs, nunca inimigas ou adversárias! Maria, sentada e enamorada aos pés de Jesus, tem como única preocupação saborear as suas palavras e alimentar-se daquela presença. Marta, por seu lado, preocupada em que nada falte, agita-se num frenesim. E não será repreendida pelo serviço mas sim pelas inquietações. Jesus não aprecia apenas a escuta de Maria, nem despreza o activismo de Marta, pois “em Marta há uma preocupação que nasce de uma necessidade; enquanto em Maria há uma doçura que nasce do amor” (S. Agostinho).
Marta não pode ser sem Maria, porque é estéril uma caridade que não inicie e não termine na contemplação do mistério de Deus; nem Maria se pode passar da Marta, porque não há amor de Deus ou oração que não se traduza em gestos concretos: tanto é feliz quem escuta a Palavra de Deus como também é feliz quem a põe em prática. Marta, na verdade, alimenta Cristo que Maria adora.

Escolher a melhor parte
Quando nos sentamos aos pés de Cristo tornamo-nos peregrinos do essencial, sentinelas entre as muitas coisas e a única necessária, entre o supérfluo e o necessário. Não interessa tanto o fazer ou o não fazer, mas o ser: ser pessoas à escuta da vida, pessoas capazes de estar aos pés de cada palavra que nos é dirigida, pessoas capazes de silêncio diante dos outros sem impor, pessoas capazes de acolher o dom do outro, deixando-se surpreender.
Mais importante do que fazer coisas para Deus, é fundamental reconhecer as maravilhas que Deus realiza em nós. Jesus ajuda-nos a passar de um Deus como preocupação para um Deus vivido como maravilha, de um Deus como dever para um Deus como amigo. Caso contrário, centrados em nós próprios, andamos agitados em muitas coisas, preocupados e atarefados, incapazes de deixar espaço ao outro, absorvidos sem uma atenção profunda, sem nos darmos em resposta ao Dom.
Acredito que a melhor parte é viver a vida com mistério, é maravilhar-se, deixar-se encantar! É não viver sem amigos e sem laços de amor. A melhor parte é sempre o outro, porque o outro é uma narração do Evangelho!


VIVER A PALAVRA
Vou preparar um coração acolhedor para aqueles que me rodeiam, reconhecendo neles o próprio Jesus.

REZAR A PALAVRA
Aos pés da tua palavra, Senhor, quero fazer aquele silêncio onde as
inquietações emudecem, onde a intimidade dos amigos é alegria e serenidade.
Quero cruzar o teu olhar, meu Deus, que se pousa na minha humildade
e deixar-me encantar pelas maravilhas que em mim realizas.

Porque assim poderei glorificar-Te e cantar o teu amor.

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