quinta-feira, 17 de outubro de 2013

XXIX Domingo Comum C



Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas, porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre a terra?».

Caros amigos e caras amigas, o Evangelho de hoje convida-nos a rezar sempre sem desanimar. Para isso, ocorre ter a crença tenaz da viúva que sabe que o seu grito de justiça será escutado.

A oração da viúva derrota o juiz
Imagino aquela pobre mulher, frágil mas também robusta, que não se cansa de bater à porta daquele homem da lei, que não tem sequer uma migalha de humanidade e é impermeável a qualquer bom sentimento. As súplicas da viúva ricocheteiam numa couraça de indiferença sem sequer arranhá-la de piedade. A viúva nada possui, não tem quem a defenda, tem apenas a sua voz e a sua persistência de justiça. O juiz deveria defender o oprimido com imparcialidade e rapidez, mas pelo contrário representa a arrogância, o desprezo, a insensibilidade. Contudo, se ele não capitular por convenção, vai render-se por cansaço, para não voltar a ser chateado indefinidamente.
A beleza desta página está na pobreza da mulher que é mais forte do que a surdez do potente. A voz da pequena, mesmo se incómoda, é semente de esperança e de justiça.

Rezar sem desanimar
A oração não é obra dos fortes, mas dos fracos (E. Bianchi). Talvez seja, por isso, necessário tornar-se viúvo, alguém que sabe nada possuir, porque todos somos pobres, frágeis, esfomeados, sem pão nem justiça. Não nos bastamos a nós mesmos, mas somos necessitados dos outros. E precisamos ter alguém de confiança, alguém a quem procurar, onde bater à porta, onde gritar por justiça.
A pobreza da viúva do Evangelho escancara a porta à esperança. A oração não se envergonha em pedir, não hesita em insistir, não cessa de bater, não teme importunar. Ela exige coragem, aquela coragem da fé que leva a não desistir, a acreditar. Mais do que obstinada, a viúva é exemplo de oração pela sua certeza que será escutada. A perseverança não é principalmente o fruto de uma ascese mística ou da força da vontade, mas é a confiança que se será escutado. E que, ao contrário do juiz, o homem encontra sempre em Deus um pai impaciente em escutar os gritos dos seus filhos e em acolher infinitamente as suas fomes de justiça.

Haverá fé sobre a terra?
Misteriosa e inquietante pergunta que nos é dirigida por Jesus. Contudo, o Mestre de Nazaré não pergunta se, no fim dos tempos, existirá uma estrutura de preceitos religiosos, mas se a fé brilhará ainda no firmamento do coração humano. Ele bem sabe que Deus não é surdo nem está distraído, bem sabe que a nossa tarefa não consiste em forçar o atraso ou o silêncio de Deus, mas sim comporta o empenho na aurora de um mundo mais justo. Sim, rezar rima com amar. Rezar não para se receber algo mas para se ser transformado. Rezar não para obter dons ou milagres, mas para acolher a justiça d’Aquele que a dá. E isso, caros amigos e amigas, é caminho de Evangelho.

VIVER A PALAVRA
Vou questionar a minha forma arrogante e exigente de me dirigir ao Senhor na oração.


REZAR A PALAVRA

Senhor, Tu te entregas a mim, na totalidade do teu mistério,
 ajuda-me a despojar-me deste egoísmo que me compacta, e me infecunda,
para abrir-me à sementeira permanente do teu imenso amor.
Senhor, confias-me a vida e o caminho, preciso de dialogar contigo no amor,
preciso de te entregar tudo o que tenho e sou, com uma confiança inabalável.
Senhor, só Tu és o Justo e a Justiça, o Verdadeiro e a Verdade,

quero deixar que me transformes, para ser rebento da Tua Justiça e Verdade.  

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