Naquele tempo, Jesus disse aos
seus discípulos uma parábola sobre a necessidade de orar sempre sem desanimar: «Em
certa cidade vivia um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. Havia
naquela cidade uma viúva que vinha ter com ele e lhe dizia: ‘Faz-me justiça
contra o meu adversário’. Durante muito tempo ele não quis atendê-la. Mas
depois disse consigo: ‘É certo que eu não temo a Deus nem respeito os homens; mas,
porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça, para que não venha
incomodar-me indefinidamente’». E o Senhor acrescentou: «Escutai o que diz o
juiz iníquo!... E Deus não havia de fazer justiça aos seus eleitos, que por Ele
clamam dia e noite, e iria fazê-los esperar muito tempo? Eu vos digo que lhes
fará justiça bem depressa. Mas quando voltar o Filho do homem, encontrará fé sobre
a terra?».
Caros
amigos e caras amigas, o Evangelho de hoje convida-nos a rezar sempre sem
desanimar. Para isso, ocorre ter a crença tenaz da viúva que sabe que o seu
grito de justiça será escutado.
A oração
da viúva derrota o juiz
Imagino aquela pobre mulher, frágil mas
também robusta, que não se cansa de bater à porta daquele homem da lei, que não
tem sequer uma migalha de humanidade e é impermeável a qualquer bom sentimento.
As súplicas da viúva ricocheteiam numa couraça de indiferença sem sequer
arranhá-la de piedade. A viúva nada possui, não tem quem a defenda, tem apenas
a sua voz e a sua persistência de justiça. O juiz deveria defender o oprimido
com imparcialidade e rapidez, mas pelo contrário representa a arrogância, o
desprezo, a insensibilidade. Contudo, se ele não capitular por convenção, vai
render-se por cansaço, para não voltar a ser chateado indefinidamente.
A beleza desta página está na pobreza da
mulher que é mais forte do que a surdez do potente. A voz da pequena, mesmo se
incómoda, é semente de esperança e de justiça.
Rezar sem
desanimar
A oração não é obra dos fortes, mas dos
fracos (E. Bianchi). Talvez seja, por isso, necessário tornar-se viúvo, alguém
que sabe nada possuir, porque todos somos pobres, frágeis, esfomeados, sem pão
nem justiça. Não nos bastamos a nós mesmos, mas somos necessitados dos outros.
E precisamos ter alguém de confiança, alguém a quem procurar, onde bater à
porta, onde gritar por justiça.
A pobreza da viúva do Evangelho escancara a
porta à esperança. A oração não se envergonha em pedir, não hesita em insistir,
não cessa de bater, não teme importunar. Ela exige coragem, aquela coragem da
fé que leva a não desistir, a acreditar. Mais do que obstinada, a viúva é exemplo
de oração pela sua certeza que será escutada. A perseverança não é
principalmente o fruto de uma ascese mística ou da força da vontade, mas é a
confiança que se será escutado. E que, ao contrário do juiz, o homem encontra
sempre em Deus um pai impaciente em escutar os gritos dos seus filhos e em
acolher infinitamente as suas fomes de justiça.
Haverá fé sobre a terra?
Misteriosa e inquietante pergunta que nos é
dirigida por Jesus. Contudo, o Mestre de Nazaré não pergunta se, no fim dos
tempos, existirá uma estrutura de preceitos religiosos, mas se a fé brilhará
ainda no firmamento do coração humano. Ele bem sabe que Deus não é surdo nem
está distraído, bem sabe que a nossa tarefa não consiste em forçar o atraso ou
o silêncio de Deus, mas sim comporta o empenho na aurora
de um mundo mais justo. Sim, rezar rima com amar. Rezar não para se receber
algo mas para se ser transformado. Rezar não para obter dons ou milagres, mas
para acolher a justiça d’Aquele que a dá. E isso, caros amigos e amigas, é
caminho de Evangelho.
VIVER A PALAVRA
Vou questionar a minha forma arrogante e exigente de
me dirigir ao Senhor na oração.
REZAR A PALAVRA
Senhor,
Tu te entregas a mim, na totalidade do teu mistério,
ajuda-me a despojar-me deste
egoísmo que me compacta, e me infecunda,
para abrir-me
à sementeira permanente do teu imenso amor.
Senhor, confias-me a vida e o caminho, preciso de dialogar contigo no amor,
preciso de te entregar tudo o que tenho e sou, com uma confiança
inabalável.
Senhor, só Tu és o Justo e a Justiça, o Verdadeiro e a Verdade,
quero deixar que me transformes, para ser rebento da Tua Justiça e
Verdade.
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