quinta-feira, 10 de outubro de 2013

XXVIII Domingo Comum C



Naquele tempo, indo Jesus a caminho de Jerusalém, passava entre a Samaria e a Galileia. Ao entrar numa povoação,  vieram ao seu encontro dez leprosos. Conservando-se a distância, disseram em alta voz: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E sucedeu que no caminho ficaram limpos da lepra. Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus,
para Lhe agradecer. Era um samaritano. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem:
«Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».

Caros amigos e amigas, o Evangelho apresenta-nos um milagre que não é apenas uma cura, mas é um percurso de conversão, salvação e acção de graças. Também nós somos convidados a pormo-nos a caminho para curarmos as nossa lepras e descobrirmos a gratidão dos milagres da vida.

Estar a caminho
Dez leprosos anónimos, abandonados à solidão, votados à esterilidade, acusados de castigo divino, gritam à distância a miséria da sua doença. E Jesus, que vai a caminho de Jerusalém, ordena-lhes também para se porem a caminho. A cura não é instantânea, requer um percurso, um confiar. As palavras do Rabi descem então até ao coração como bálsamo e eles partem numa viagem que até agora lhes era proibida. Mesmo se a lepra é ainda evidente, mais evidente é a esperança na promessa de Jesus que é mais forte do que a praga ou do que qualquer medo.
Nas condições mais desesperantes não se pode parar, é preciso mover-se. O viver a própria doença resignado, sem um movimento, é estar já votado à infertilidade. A vida cresce se vai ao encontro do outro e se oferece. Fechada em si mesma morre, torna-se lepra que corrói e afasta.

A lepra da ingratidão
Os 10 leprosos ficam curados na pele, mas só um se reconhece curado no coração, na relação, na comunhão com Aquele que o salvou. O samaritano abandona os outros e é o único que acolhe o segredo do Evangelho. Talvez no rosto de Jesus tivesse visto o sorriso cúmplice de um Deus amigo e, por isso, regressa à fonte da sua ressurreição, explodindo de gratidão. Jesus é, para ele, o lugar e o templo onde se dá graças e glória a Deus. O estrangeiro converte-se, então, em modelo da pessoa de fé. Ele é o “bom” samaritano, o único que regressa depois para pagar as dívidas de gratidão, até ao último centésimo. É ele o que se faz próximo e se deixa aproximar pelo amor de Deus! Voltar atrás e agradecer é a verdadeira cura. Só quando o coração é capaz de gratidão, é que a vida se transforma em acção de graças, em eucaristia. Senão permanecerá doente da lepra do egoísmo e do ressentimento.
Curar o homem da sua ingratidão é mais difícil do que curá-lo da sua doença. Também nós perdemos, tantas vezes, a beleza simples da gratidão e o encanto do amor que nos abraça. Não sentimos a urgência para regressar e gritar a grandeza do amor recebido! O maior milagre da fé consiste em reconhecer-se objecto de amor, no encontro com o Senhor.

“Não foram dez os que ficaram curados?”
As palavras de Jesus não são uma repreensão, pois os nove leprosos estão longe e não as podem ouvir. Só um é que reconhece a saúde como um dom e não como uma exigência e direito. Mas não nos deixemos enganar. Aquelas palavras são-nos dirigidas a todos nós leitores desatentos. Como sempre, o milagre a favor de um é semente para todos. Nós somos como os nove leprosos satisfeitos e não reconhecemos a presença de Deus no meio de nós. Não conseguimos ir além do sinal miraculoso. Deus não está à espera do nosso obrigado, nem está necessitado de reconhecimento. Mas está à espera de cada um de nós para, em comunhão, finalmente nos abraçar. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou treinar um coração atento e grato pelas maravilhas que o Senhor faz em mim.


REZAR A PALAVRA
Senhor, à distância da minha sujidade interior, grito o pedido tímido por um abraço Teu...
Sei que em Ti encontro o que não tenho,
descubro o que me faz falta e recebo o bálsamo de paz...
Em cada passo de reencontro, vais construindo o barro que sou...
e, não fosse o meu coração desatento e egoísta,
cantaria sem findar a harmonia do Teu amor gratuito por mim.

Acorda-me, Senhor, pois tantas vezes me esqueço de como és bom...

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