sexta-feira, 1 de novembro de 2013

XXXI Domingo Comum C



Naquele tempo, Jesus entrou em Jericó e começou a atravessar a cidade. Vivia ali um homem rico chamado Zaqueu, que era chefe de publicanos. Procurava ver quem era Jesus, mas, devido à multidão, não podia vê-l’O, porque era de pequena estatura. Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali. Quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Ele desceu rapidamente e recebeu Jesus com alegria. Ao verem isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Entretanto, Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Disse-lhe Jesus: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».
Caros amigos e amigas, Lucas narra hoje o milagre da conversão de Zaqueu que acolhe o eterno abraço da misericórdia de um Deus que entra na sua casa e na sua vida, renovando-a.

Zaqueu
A pequenez de Zaqueu não era apenas uma questão de centímetros. Ele era “cordialmente” odiado por causa da sua profissão: era chefe da alfândega. Neste lugar, através da extorsão, enchia bem os bolsos. Por curiosidade, despindo-se da sua compostura e prestígio, empoleira-se numa árvore, apenas com a pretensão de avizinhar Jesus com o olhar. Para isso, ousa tresmalhar-se do rebanho, destoa do coro dos aplausos da multidão, assume os seus limites e encontra um balcão privilegiado.
Tal como ontem, nunca os limites foram impedimento para encontrar o Senhor. Na verdade, a fragilidade, o pecado, a pequena estatura… Podem até ser motivo de encontro com o Mestre.

Encontro de olhares
Enquanto Zaqueu procura ver Cristo, apercebe-se que é Cristo que o encontra. É Jesus que levanta o olhar para o estranho inquilino do sicómoro e, através daquele “chefe de publicanos”, intui o novo Zaqueu, inédito e surpreendente. Naquele olhar, Zaqueu é náufrago e é acolhido antes de qualquer sonho de hospitalidade, é perdoado antes do arrependimento, é amado antes até de se converter.
Pensamos que somos nós à procura de Deus quando é Ele que anda primeiro à nossa procura. Não é possível ver Jesus sem ser visto e surpreendido por Ele. O Mestre olha para todos nós de baixo, como se fôssemos o sol da sua vida, o único amor a contemplar. Olha-nos com aquele amor que nos conhece pelo nome, capaz de nos fazer descer dos nossos pedestais, sobre os quais tentamos pateticamente de mascarar a pequenez do nosso coração. Não precisamos de fingir diante daquele que se fez pequeno para nos amar, diante daquele que se abaixou para nos encontrar, diante daquele que se ajoelhou para nos ensinar como servir, diante daquele que subiu à árvore fecunda da Cruz para nos salvar.
Se Jesus desce até à casa de um pecador é para fazer subir Zaqueu à sua dignidade. Aliás, nunca foram as ideias ou os propósitos a mudar uma vida, mas sim o encontro e a sedução das pessoas.

“Desce depressa, hoje devo ficar em tua casa”
Naquele “devo” até parece que Deus está em débito com Zaqueu! Desde Belém até à última ceia, é atrevido este Jesus que se auto-convida à mesa da humanidade, mendigando hospitalidade. E pede pressa porque o amor não suporta demoras. As respostas de amor urgem e multiplicam a vida.
Estando em casa, Jesus nada diz, nada pede, nada repreende, nem faz um sermão sobre a penitência e o inferno; à mesa não estraga a refeição com uma reflexão sobre a fome no mundo… E o escândalo é geral. Até Zaqueu está estupefacto mas percebe que o amor gratuito de Deus espera também uma resposta sem cálculos de amor. Daí a excessiva folia do seu testamento: dar metade da sua vida e restituir quatro vezes mais aos prejudicados. Também nós podemos saber onde encontrar o Senhor, podemos até recordar a hora e a árvore, mas durante o encontro os milagres acontecem e não sabemos onde nos poderão conduzir. Aí reside, caros amigos e amigas, a surpresa encantadora do Evangelho!

VIVER A PALAVRA
Vou aproveitar a hora em que o Senhor passa pela minha vida para O acolher e deixar-me salvar.


REZAR A PALAVRA
Senhor, há um estrado que me alteia e não me deixa sentir o chão da humildade,
 há algo duro dentro de mim e não deixa que a tua Palavra possa ressoar;
há uma paralisia nas minhas mãos que não as deixa livres para florir o dom.
Tudo o que sou, hoje confronta-se com os teus passos soltos, com o teu coração
pleno de amor, com as tuas mãos escancaradas de graça e de dom!
Encontra-me, Senhor! Vê o meu ser disputado por interesses vãos e cura-me.

Quero ver-te e descer de mim e subir e vazar-me e florir e viver... em/por Ti!

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