Naquele tempo, os chefes dos
judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é
o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se
para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti
mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto,
um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és
Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a
palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto
a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele
nada praticou de condenável». E acrescentou:
«Jesus, lembra-Te de Mim, quando
vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje
estarás comigo no Paraíso».
Caros amigos e amigas, o
último Domingo do ano litúrgico celebra Jesus como Rei do universo. O título
pode evocar imagens de glória, poder, submissão. Mas, curiosamente, o Evangelho
apresenta-nos a crucifixão, indicando que o
reino de Deus é diferente, paradoxal e misterioso. Hoje somos convidados a abandonar os triunfalismos para nos
maravilharmos com esta nova realeza.
“Salva-te
a Ti mesmo”
Por três vezes é repetido este grito a Jesus pregado
na cruz. O “salve-se quem puder” parece definir a lógica humana. Na cena do
calvário, quando todos O abandonam, esta é a tentação maior: pensar finalmente em si. No entanto, mesmo no
momento da agonia, Jesus esquece-se de si! Esquece-se de si para salvar aqueles
que morrem a seu lado. Na verdade, Deus escolhe estar do lado dos esquecidos,
dos sem-triunfo, dos mais pequenos. É um Deus despido mas evidente, um Deus
amante e ferido, que faz do amor a única medida, a única razão, a única
esperança.
A morte reconduz-nos àquilo que somos,
rouba-nos os sinais de prestígio e das diferenças que escondem a nossa
identidade, une-nos sem reservas. Na morte fica apenas a dignidade, aquela que
não precisa de mantos nem ceptros, aquela que revela realmente quem somos. No
calvário, Jesus sobe ao trono da cruz porque esse é o lugar da comunhão
absoluta. Deus entra assim ali onde vibra o grito do moribundo, une-se
eternamente ao filho, desposa a humanidade.
O ladrão de amor
No meio da agonia, onde todos apenas vêem derrota,
o ladrão intui em Jesus a luz da salvação e o verdadeiro rosto de Deus que é a
compaixão. O ladrão rouba a sua pérola mais preciosa e descobre um reino
inexplorado: encontra um amigo! Amigos, basta um olhar para roubar o paraíso,
um olhar tão fixo como os pregos da cruz, no olhar de Jesus.
Deus supera o pedido, não despregando um
crucificado da cruz, mas dando a vida a um condenado. Mesmo na maior miséria e
desgraça, o homem é salvo, porque pode ainda ser amado. Ninguém está perdido
definitivamente. Num eterno abraço, os braços abertos de Jesus são as portas do
éden escancaradas para sempre, são o coração de Deus aberto a todos os filhos
pródigos, são as mãos de misericórdia que acolhem os suspiros humanos. A cruz
torna-se a nova árvore da vida.
“Hoje
estarás comigo no paraíso”
Naquele “hoje”, o ladrão descortina já o
paladar da eternidade, saboreia antecipadamente a ressurreição. Naquele
momento, o respiro vital de Jesus cruza o último respiro do ladrão.
Aquele “hoje” recorda tantos outros pronunciados
ao longo do Evangelho: o “hoje” apregoado aos pastores em Belém: “hoje, nasceu
para vós um Salvador”; aquele dito por Jesus na sinagoga de Nazaré: “hoje,
cumpriu-se esta passagem da Escritura”; aquele gritado a Zaqueu: “hoje, a
salvação entrou nesta casa”! Na verdade, quem caminha com Cristo é convidado a
entrar no hoje de Deus, a não perder os encontros que o Senhor diariamente
agenda connosco, é desafiado a escrever hoje com a sua vida o Evangelho.
VIVER A PALAVRA
Vou viver cada dia como
a única oportunidade de encontrar Aquele que é o Amor!
REZAR
A PALAVRA
Meu Deus
e meu Rei, Tu que contemplas o reino dos Céus e da terra,
Tu que
tomas o rosto humano partilhando-lhe a miséria e a fealdade ,
Tu que
assumiste o abandono do mais pobre, e te doeste com a sua dor,
sê o
Senhor da minha vida, a beleza que me fascina, dá-me a força do teu amor!
Santifica
o meu coração com o fogo da tua Palavra, ilumina os meus olhos
para que
eles reconheçam a tua presença no hoje que me habita,
na mão
que se estende e no olhar que mendiga o teu pão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário