sexta-feira, 22 de novembro de 2013

XXXIV Domingo Comum C



Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou:
«Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
Caros amigos e amigas, o último Domingo do ano litúrgico celebra Jesus como Rei do universo. O título pode evocar imagens de glória, poder, submissão. Mas, curiosamente, o Evangelho apresenta-nos a crucifixão, indicando que o reino de Deus é diferente, paradoxal e misterioso. Hoje somos convidados a abandonar os triunfalismos para nos maravilharmos com esta nova realeza.

“Salva-te a Ti mesmo”
Por três vezes é repetido este grito a Jesus pregado na cruz. O “salve-se quem puder” parece definir a lógica humana. Na cena do calvário, quando todos O abandonam, esta é a tentação maior: pensar finalmente em si. No entanto, mesmo no momento da agonia, Jesus esquece-se de si! Esquece-se de si para salvar aqueles que morrem a seu lado. Na verdade, Deus escolhe estar do lado dos esquecidos, dos sem-triunfo, dos mais pequenos. É um Deus despido mas evidente, um Deus amante e ferido, que faz do amor a única medida, a única razão, a única esperança.
A morte reconduz-nos àquilo que somos, rouba-nos os sinais de prestígio e das diferenças que escondem a nossa identidade, une-nos sem reservas. Na morte fica apenas a dignidade, aquela que não precisa de mantos nem ceptros, aquela que revela realmente quem somos. No calvário, Jesus sobe ao trono da cruz porque esse é o lugar da comunhão absoluta. Deus entra assim ali onde vibra o grito do moribundo, une-se eternamente ao filho, desposa a humanidade.

O ladrão de amor
No meio da agonia, onde todos apenas vêem derrota, o ladrão intui em Jesus a luz da salvação e o verdadeiro rosto de Deus que é a compaixão. O ladrão rouba a sua pérola mais preciosa e descobre um reino inexplorado: encontra um amigo! Amigos, basta um olhar para roubar o paraíso, um olhar tão fixo como os pregos da cruz, no olhar de Jesus.
Deus supera o pedido, não despregando um crucificado da cruz, mas dando a vida a um condenado. Mesmo na maior miséria e desgraça, o homem é salvo, porque pode ainda ser amado. Ninguém está perdido definitivamente. Num eterno abraço, os braços abertos de Jesus são as portas do éden escancaradas para sempre, são o coração de Deus aberto a todos os filhos pródigos, são as mãos de misericórdia que acolhem os suspiros humanos. A cruz torna-se a nova árvore da vida.

“Hoje estarás comigo no paraíso”
Naquele “hoje”, o ladrão descortina já o paladar da eternidade, saboreia antecipadamente a ressurreição. Naquele momento, o respiro vital de Jesus cruza o último respiro do ladrão.
Aquele “hoje” recorda tantos outros pronunciados ao longo do Evangelho: o “hoje” apregoado aos pastores em Belém: “hoje, nasceu para vós um Salvador”; aquele dito por Jesus na sinagoga de Nazaré: “hoje, cumpriu-se esta passagem da Escritura”; aquele gritado a Zaqueu: “hoje, a salvação entrou nesta casa”! Na verdade, quem caminha com Cristo é convidado a entrar no hoje de Deus, a não perder os encontros que o Senhor diariamente agenda connosco, é desafiado a escrever hoje com a sua vida o Evangelho.


VIVER A PALAVRA
Vou viver cada dia como a única oportunidade de encontrar Aquele que é o Amor!

REZAR A PALAVRA
Meu Deus e meu Rei, Tu que contemplas o reino dos Céus e da terra,
Tu que tomas o rosto humano partilhando-lhe a miséria e a fealdade ,
Tu que assumiste o abandono do mais pobre, e te doeste com a sua dor,
sê o Senhor da minha vida, a beleza que me fascina, dá-me a força do teu amor!
Santifica o meu coração com o fogo da tua Palavra, ilumina os meus olhos
para que eles reconheçam a tua presença no hoje que me habita,

na mão que se estende e no olhar que mendiga o teu pão.

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