Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra,
angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens
morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as
forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa
nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer,
erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende
cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela
intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos
surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que
habitam a face da terra. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que
possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do
homem».
Caros amigos
e amigas, a caminho do Natal, este primeiro Domingo do Advento coloca-nos
perante a perspetiva de um Deus que “nasce” das entranhas do nosso quotidiano.
É um Deus que não está longe, é o Deus connosco, o Emanuel.
Sinais
no sol, na lua e nas estrelas
Este texto não é um manual de procedimentos perante
catástrofes eminentes, nem um tratado científico sobre a finitude das forças
cósmicas. É antes poema de amor de um Deus que semeia sinais de Si mesmo em
todas as esquinas, que Se declara nas fontes de luz, que dança no firmamento e
que nos convida a comparecer à sua presença, indicando-nos a segurança do
caminho. Mas parece que o Senhor nem sempre tem hipótese de comunicar connosco!
Andamos tão distraídos que nem ligamos aos sinais subtis que se derramam nos
detalhes da trivialidade. Depois vêm alguns sinais mais “sonoros” e esses
dão-nos medo. Geralmente, tudo o que sai do comum vem destabilizar. O ser
humano “morre” de susto perante os “abalos” daquilo em que punha a sua segurança,
daquilo que parecia estável. Quantas vezes nos atrofia o receio, quantas vezes
o medo nos subjuga, quantas vezes a constatação da realidade nos paralisa e até
as previsões do que ainda não aconteceu nos fazem sucumbir! Mas o susto não é
coisa que mereça a nossa morte. O Senhor não quer que os seus discípulos sejam medrosos,
daqueles que, perante os sinais, ficam paralisados pelo susto. Ele convida-nos
a acolher os sinais, como leitores vigilantes…
Erguei-vos
e levantai a cabeça
Não podemos continuar a pasmar, leais à ditadura de
tantas constatações, refugiados no túmulo do pessimismo. Os leitores dos sinais
de Deus são como terra que se deixa arar e semear por um presente recheado de
possibilidades, são visionários de uma história fecundada pelo amor de Deus. Ele
vem, porque Ele está. O título de Filho do homem proclama a sua admirável consanguinidade
connosco, a sua solícita presença… a partilha de um poder e de uma glória só entendidas
através de uma vigilância promovida pelo amor.
Erguer-se e levantar a cabeça é a atitude viva dos que
não se deixam amarfanhar pelo susto. O ícone do Filho do homem é um sol que
ilumina todas as realidades da vida, é a fonte de luz que não falha, é o sinal
que nos sustém a esperança, que nos alimenta o sentido da caminhada. Jesus é o
Deus-connosco, Aquele que recapitula em si o sonho de transpormos os nossos
limites, é Aquele que guarda as coordenadas da nossa plenitude; Ele é a força
subtil e imprevista que, entretanto percebida, tem poder para libertar a luz
que dorme no resguardo do nosso medo.
Vigiai
e orai em todo o tempo
O requisito mais eficaz para a vigilância é o amor. O vigilante
nunca pode morrer de susto, pois aprende a ler os sinais. O vigilante não se
torna pesado, subjugado pela realidade, atado pelas expectativas, mas é capaz
de elevar as expectativas até à leveza da Esperança, pois vive com sentido… o
vigilante tem os olhos abertos ao bem absoluto e, na massa da história, onde a dor
e a fealdade se insinuam, ele distingue o que é decisivo, descortina o filão da
Beleza e segue-a, desde a fonte até ao mar, ainda que na sua carne doam as feridas
de um mundo corruptível.
A última frase do texto revela-nos a divina “astúcia” do
Senhor que, decisivamente, o que pretende é preparar-nos e convidar-nos a
“aparecer” diante d’Ele! Com que enlevo Ele deseja o nosso advento aos seus
olhos, Ele prepara ardentemente o encontro! Amigos e amigas, vigiar a aparição
do Senhor à nossa vida não é senão preparar a nossa aparição aos olhos d’Aquele
que mais nos ama. E não é para amanhã. O fim do mundo não é amanhã; o que vigio
é o constante hoje, o advento de Cristo para ser acolhido na minha vida. E isto
é Evangelho!
VIVER
A PALAVRA
Vou cultivar a atenção aos sinais
da presença de Deus na minha vida.
REZAR
A PALAVRA
Senhor,
do meu coração pesado de quereres, preso por vontades e ferido pela agitação,
deixo
brotar a simplicidade de uma lâmpada atenta aos Teus sinais.
Neles quero escutar o Teu vir e saborerar a Tua
presença libertadora.
Senhor,
na lama das preocupações do tempo, no cinzento da angústia solitária,
deixo
brotar a coragem de um constante reerguer, contemplo o alto como meta
e
aprendo a espera, na confiança de que desejas habitar-me e quebrar as cadeias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário