quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Batismo do Senhor - C



Naquele tempo, o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias. João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu baptizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo». Quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado; e, enquanto orava, o céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba. E do céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência.»

Caros amigos e amigas, às vezes vivemos os tempos litúrgicos como compartimentos estanques e fechados. Mas ser baptizado é permanecer em Advento, é viver em expectante e operosa abertura à voz de Deus.

Estando o povo na expectativa
Parece que as repetições nos cansam e entopem a fluência da nossa entrega, parece que a rotina nos embaça a vista e mecaniza friamente os ritos. Mas não, o que nos cansa e torna frios é o teimoso desencontro dos nossos caminhos com os caminhos do Senhor que vem ao nosso encontro. Quando a nossa rota não coincide com a d’Ele. Precisamos de continuar em Advento. A expectativa mantém-nos acordados. Todo o tempo é de expectativa. A qualquer momento o céu se pode abrir, a qualquer instante Deus pode manifestar-nos um amor que nos surpreende no meio da nossa aridez. Não corramos o risco de perder tal graça!
João Baptista resiste à tentação de um protagonismo fácil, mas falacioso; ele continua a desafiar-nos à verdade e à humildade, àquele estado de nudez que nos deixa preparados para receber as surpresas de Deus. É grande a tentação de nos ornamentar, nem que seja com a imagem dos outros e isso bloqueia-nos e bloqueia o caminho do dom. A ilusão não compensa, devora-nos.

O céu abriu-se
A oração de Jesus é como uma ponte, uma escada. Há uma palavra humana que sobe e há uma resposta divina que desce. A oração do humilde é perfurante (Cfr. Sir 35, 17), ela fende o céu e esventra as suas riquezas. Neste cenário abre-se o céu, como quando a lança abriu o coração de Jesus e dele saiu sangue e água. Recordemos de quantos episódios de abertura está recheada a Bíblia. As aberturas que Deus faz são sempre incisões no seu próprio coração, porque o céu é o coração de Deus, e dele apenas pode manar o seu amor.
E aqui está! Jesus golpeia o céu e dele escorre o Espírito Santo com uma declaração de amor. Esta cena faz-nos compreender o teor do baptismo. É essencialmente uma chuva do amor de Deus. O Espírito mantém o movimento daquela água da Criação (Gn 1, 1) da qual tudo brota, na qual tudo recebe fecundidade. Então, queridos amigos e amigas, ser baptizado é aceitar ser (re)criado a partir do amor, é aceitar este lume vivo dos céus, deixar-se permanecer num Pentecostes aceso. É esperar que tudo o que nos é essencial venha do Céu, mas... num operoso esforço por tornar-se Céu de Deus.

Filhos no Filho
Comove-me este misturar-se de Jesus com o povo que procura lavar-se do pecado. Ele assume o nosso pecado. Mas ao fazer-se um de nós, Ele é também a nossa referência. Ele é o Filho que nos ensina e nos faz aceder à divina filiação. Com a d’Ele, a nossa voz humana pode voar, cortar as nuvens e perfurar o céu, e é também com Ele que a nossa humanidade recebe aquela exultante declaração de amor. No texto, Lucas não diz para quem foi dirigida a Palavra da voz, talvez para nos deixar perceber que a declaração de amor também nos é endereçada, chuva fecundante sobre a nossa fragilidade, medos e até maldades. Se Deus já nos amava, quanto mais agora que descortina na nossa humanidade a imagem do seu Filho dilecto!
Amigos e amigas… há aberturas que nós também podemos fazer, há pontes que podemos estabelecer. Cada um de nós também pode abrir o Céu ao irmão. E esta abertura pode ser feita por palavras, mas pode ser apenas através de um operativo silêncio, de um indesmentível gesto de bondade, de um socorro desinteressado, pode ser o fender de um sorriso, a partilha de uma missão. Nós temos ao nosso alcance o segredo para os maiores milagres, quando conseguimos olhar o outro, com sincero encanto, e declarar-lhe: “Tu és amado, tu és amada!” E nesta declaração está contida toda a doçura do Evangelho.

VIVER A PALAVRA
Vou abrir o meu coração ao outro para ter a coragem de dizer: amo-te!

REZAR A PALAVRA
Senhor, de ténue esperança e persistente ansiedade, pinto cada página da minha busca.
Nas manchas entranhadas do pecado em mim, há um grito que me lança para ti, no desejo da purificação e da liberdade do sentir. Só o teu abraço me faz digno de ser teu,
só o fogo do teu Espírito me ensina a orar, a escutar, a estar contigo.
Em ti descubro as cores desafiantes do amor, da entrega, da abertura aos outros.
Preciso olhar o céu e escutar de coração aberto: Tu és meu filho muito amado!

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