terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A GRANDE ENTREVISTA III


O jovem Hélder Pires Ferreira é professor de EMRC na Escola Emídio Garcia, em Bragança e membro do Secretariado de Liturgia da Diocese de Bragança-Miranda, entre outros serviços que desempenha na Igreja. Neste ano em que somos convidados a fazer uma reflexão sobre as razões da nossa fé, o Sementinha decidiu fazer-lhe uma grande entrevista sobre a Fé que podes ler aqui na íntegra: 

SEM- O Santo Padre Bento XVI proclamou este ano como o Ano da Fé, neste âmbito urge perguntar o que significa para ti a expressão ter Fé, ou simplesmente o termo Fé?

HÉLDER PIRES: Ao ler a pergunta recordo as palavras da prof. Elisa Urbano, Diretora do Secretariado Diocesano do Ensino Religioso de Aveiro, a quando do Fórum de EMRC em 2013, no início da sua conferência, “estava em pânico, porque tinha de falar de amor ”. E eu inicio da mesma forma… Antes de falar da Fé é importante falar de Amor. Amor pela vida e sentir-se amado por este Deus em que acreditamos mas Fé para mim será acreditar. Mas mais que acreditar é confiar, num Deus que nos ama, e que não nos abandona… No entanto é importante perceber ou sentir a Fé… A fé não se ensina, vive-se…
Muitos não entendemos o que Jesus quis dizer quando falou sobre ter fé como grão de mostarda; achamos que se tivéssemos um grão de mostarda de fé já víamos milagres a acontecer. Mas isto não faz sentido e Jesus não é incoerente a esse ponto. O que quero dizer é que Jesus não disse ter fé do tamanho de um grão de mostarda mas “como”, e aqui entra a semelhança como ponto fundamental. Semelhança entre a fé e uma semente e não sobre o tamanha da fé… Por mais pequeno que seja esse grão de mostarda faz o seu trabalho e dará os frutos que pretendemos… com a fé é igual… ela está em cada um de nós… basta abrirmo-nos a Deus e deixar que ele faça crescer os frutos…


SEM - Sendo tu um jovem católico, estás disposto a viver a Fé no quotidiano da tua vida? De que forma a consegues viver e manifestar?

HÉLDER PIRES: Venho recentemente do Fórum de EMRC onde me foi pedida uma intervenção sobre a minha relação pedagógica… Na altura fiquei em pânico porque não sabia de que forma poderia dar o meu contributo… mas mais uma vez estava perante a necessidade de mostrar de que forma vivia a minha fé ou o meu testemunho cristão.
De facto hoje é um desafio sermos crentes… todos os dias nos são colocadas questões que motivam a nossa Fé. Dizia no Fórum de EMRC a uma colega, “depois desta conferência que vamos nós fazer na mesa redonda… figura de ursos, ao que ela respondeu, mas somos uns ursos felizes” e é mesmo isto. De facto quando temos Cristo connosco somos muito mais felizes, e o desafio da vida torna-se muito mais aliciante.
Quer na escola onde trabalho, quer nas funções da Diocese que me estão destinadas, quer no meu dia a dia como jovem… sou a mesma pessoa. Não dispo a capa de Cristão à entrada da escola… e a visto de seguida para ir à Igreja.
Voltando ao grão de mostarda, se eu tiver um grão de mostarda, mas se achar que ele não é suficiente para o que eu preciso e quero aumentar o meu stock de mostarda que devo fazer?? Plantar para que possa colher mais. Toda semente plantada multiplica-se… 
Assim é com a fé. Não importa se o que temos é pouco, interessa é perceber que eu posso aumentar e fazer crescer a minha Fé. 
Para que nossa fé cresça, temos que SEMEÁ-LA. E a forma pela qual se semeia a fé é mediante seu exercício; quando usamos a fé que temos para uma necessidade específica, e vemos a intervenção de Deus, colhemos mais fé. Pois à medida que a usamos, e vemos os resultados, ela fortalece-se e assim vai crescendo. 
Ou seja na minha vida há esta necessidade de ir semeando a Fé, cada dia, para a fortalecer… e claramente ser testemunho disso para quantos me rodeiam transmitindo-lhes que quando as coisas vêm de Deus e são feitas com Amor perduram.


SEM - Face ao teu testemunho de Fé, nas diferentes áreas em que exerces funções, que comentário te apraz fazer à seguinte afirmação: “Difícil não é ter Jesus no peito, difícil é ter peito para falar de Jesus!” Pensas que ela resume a tua posição perante a Igreja?

HÉLDER PIRES: Esta é uma frase desafiante…De facto como Cristão, não é difícil ter Jesus no peito… fui criado no seio de uma família Católica praticante onde a eucaristia fazia parte da nossa rotina de domingo… e tornou-se uma necessidade…e aí se inicia a minha relação com Deus. E portanto ter Deus como “amigo”, amá-lo e trazê-lo no peito sublinhando a expressão não é difícil… mas falar de Jesus já se torna um desafio… vivemos numa sociedade em que diariamente somos confrontados com situação e questões como: “se Deus é bom porque acontece isto”, “se Jesus fala do amor porque foi ele morto”… entre outras questões que se tornam um desafio a sua resposta… 
Como professor de Educação Moral e Religiosa Católica vivo diariamente confrontado com essas questões no entanto eu sou apenas aquele que está a pontar para a verdade, à semelhança de S. João Baptista… ele não quis ter o protagonismo, mas deu a conhecer a verdade aos seus discípulos. Na minha vida sou também apenas aquele que aponta o caminho, ou seja preparo o terreno para que a semente seja plantada pelo semeador que é Cristo. Como cristão identifico-me com uma espécie de Loja de Deus, em que apenas se “vendem” as sementes… o resto é trabalho nosso de querer ter essa semente no nosso lavrado.


SEM - Por vezes, a nossa Fé é posta à prova pelas dificuldades e sofrimentos que experienciamos, seja a nível individual, familiar ou comunitário. Assim, de acordo com a tua vivência, que opinião manifestas sobre a seguinte afirmação de Bento XVI: “…as provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo, são prelúdio da alegria e da esperança a que a Fé nos conduz: “Quando sou fraco, então é que sou forte” (Cor 12,10).” 

HÉLDER PIRES: Este é um ponto sensível da fé… a primeira reacção que temos perante uma situação difícil na vida… é sempre olhar para Deus e pensar porquê a mim… castigo? O que eu não fiz que Tu querias? Onde estás?
Infelizmente perdi o meu pai recentemente… com uma doença que chamo da moda… e obviamente a primeira reação que tive foi… porquê a mim?… castigo? Trabalho tanto na “Tua Vinha” e é isto que recebo de presente? 
Mas com boas ajudas que recebi e aproveito para agradecer… consegui mudar esta filosofia de pensamento… será isto para glória de Deus? E é neste momento que passo a olhar o mistério da Cruz e da Paixão de Cristo com outros olhos… quanto não sofreu Jesus? Seria castigo de Deus? Não me parece… quanto sofreu Maria aos pés da Cruz vendo o seu filho morto e crucificado… que pensamento ocorrem em Jesus e sua mãe quando os olhares se cruzam a caminho do calvário… Deus também não quis aquele sofrimento… é neste momento que olho para a Ressurreição de Cristo como a meta… Portanto despedi-me do meu pai na terra… mas acredito que Deus o acolheu de braços abertos, e que tudo é para glória Dele… porque é nos momentos das maiores fraquezas que Deus nos acompanha… como diz o célebre poema de pegadas na areia:” Meu precioso filho. Eu te amo e jamais te deixaria nas horas da tua prova e do teu sofrimento. Quando vistes na areia, apenas um par de pegadas, foi exactamente aí que EU, Te carreguei nos braços...”


SEM - …“O dinamismo da Igreja é a força da Fé.”… Porém, na sociedade onde vivemos, muitas são as vozes que se erguem para criticarem a Igreja por essa falta de dinamismo, tanto no anúncio de Cristo ao próximo, como nas celebrações paroquiais e festivas. Neste âmbito, na tua prespetiva, o que mudarias ou implementarias na nossa diocese para que a juventude passe da crítica, a uma atitude de compromisso?

HÉLDER PIRES: Começo pelo óbvio, porque por ser óbvio também deve ser dito, no mundo atual, é fácil criticar, o difícil é apontar soluções.
Face às críticas tenho sempre uma postura de comunhão de acolher sempre tudo que sejam opiniões e/ou sugestões. No entanto, não deixo de ter uma postura diferente se a crítica não vier acompanhada de uma sugestão de melhoria. A crítica pela crítica é uma postura confortável. Mas essa não ajuda a crescer e a melhorar. O fazer alguma coisa, ocupa o tempo que nos dias que correm é tão precioso, mas se todos colaborarmos torna-se o jugo mais suave e dessa forma conseguimos levar a mensagem melhor e a mais pessoas. 
Sou da opinião que fazer muitas coisas não é solução… e a solução passaria por fazer pouco mas coisas bem feitas… apostar em momentos de oração, mas esses momentos têm de ter uma temática pensada, um dinamismo associado, uma boa divulgação para que não se caia no erro de fazer coisas onde apenas aparecem os intervenientes na acção. É preciso trazer as pessoas à igreja, e mostrar o encanto e a beleza que a Igreja tem. A nossa liturgia católica é belíssima, com ritos de uma beleza incomparável e é estes ritos que a igreja tem de apostar. O canto é a parte mais sensível da Liturgia e que deveria ser cuidada, apostar na criação de bandas Juvenis com canções de mensagem, há agora um projecto “Alma” que deveriam ter mais projecção porque trazem a música de mensagem juvenil mas com uma nova roupagem… E depois apostar na cidade em que haja eucaristias de carácter juvenil, onde os jovens pudessem ver ali reflectido o seu espírito, recordo uma eucaristia que participei com 14 anos em Braga, seriam umas 21h de sábado quando a eucaristia começava, um coro dinâmico, um padre que tinha palavras de acolhimento aos Jovens… e o meu espanto a igreja estava repleta de jovens… àquela hora… Isto tem de nos fazer pensar…Porque não apostar em momento de oração inspirados no exemplo de Taizé.
Sei que é um desafio, mas temos de trabalhar a parte Juvenil na nossa Diocese, há um longo caminho a percorrer, mas onde todos a começar nos párocos devem ter empenhamento na criação dos grupos Juvenis e a partir daí começar a mexer e a remexer esta nossa amada diocese, usando a expressão do Sr. Bispo. 

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