Naquele tempo, Jesus tomou
consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se
o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois
homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam
da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros
estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois
homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para
Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim
falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de
medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu
Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou
sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram
nada do que tinham visto.
Caros amigos e amigas, neste II Domingo de Quaresma somos
convidados a passar do silêncio do deserto para a luz transfiguradora de Cristo. Somos
ícones incompletos, criados à imagem e semelhança de Deus, com um belo coração
refulgente, capaz de iluminar e ver mais além.
Do deserto ao Tabor
Jesus toma consigo três
discípulos e sobe ao monte, ali onde o dia amanhece mais cedo e se pousa o
último raio de sol. Ali, Ele faz resplandecer a existência, reacende a chama
das coisas, faz luzir o amor, dá esplendor aos encontros. Ainda hoje, o Mestre
nos convida também a passar dos nossos desertos para aqueles lugares de luz, de
encontro, de beleza e harmonia. Mesmo se alternamos trevas e luz, sombras e
sol, tentação e transfiguração, estamos destinados àquela beleza que une as
pessoas, a lei, os profetas, a Escritura e o universo. A nossa vocação está em libertar toda a beleza que Deus colocou em nós. No caminho ascendente
do Tabor, o rosto do outro é uma lâmpada que ilumina os meus passos quando, nas
suas vestes e na sua vida, descubro sementes de ressurreição.
“Como é bom estarmos
aqui”!
Sim, é bom estar ali onde
o mistério da pessoa brilha e ilumina, onde as palavras revelam os tesouros do
coração, onde a Palavra chama, faz existir, floresce a vida e a torna bela.
Sim, é bom estar ali onde
o céu encontra a terra, onde o tempo se enamora da eternidade, onde a história
converge toda num momento. É belo estar ali onde Deus e o homem se descobrem,
onde a fragilidade humana vê a glória divina, onde o Pai pronuncia intimamente
o nome do Filho.
Sim, amigos e amigas, é
belo estar aqui, nesta humanidade grávida de luz que se vai transfigurando! É
belo ser de Cristo e saber que não é a tristeza a nossa verdade, mas é a luz. A partir do monte luminoso da alma,
uma história de luz transparece no rosto de quem acolhe o tesouro do outro. A
contemplação do rosto de Cristo, ícone da beleza de Deus, ensina-nos a beleza
que salva o mundo!
Transfigurados na beleza do Amor
Como
Pedro também nós gostaríamos de acampar na montanha das nossas solidões e
preguiça, e não descer ao vale da vida para enfrentar o cansaço da conversão e
o escândalo da cruz. Mas Jesus recorda que há sempre uma luz antes da
escuridão, que há uma transfiguração antes da crucifixão, para que no meio de
qualquer escuridão permaneça a experiência e a recordação da luz, da palavra e
da presença de Deus.
Dos três
discípulos, apenas João, nas trevas do calvário, procurará entrever, através dos
furos que os pregos rasgaram, a luz gloriosa da ressurreição e, no corpo
desfigurado do crucificado, verá pronunciar-se a sublime beleza de Deus.
Naquela tarde, recordando a voz do Tabor, o discípulo amado reconhecerá nas
palavras do centurião a verdadeira identidade do moribundo: “Ele é o Filho de
Deus”. E isso, caros amigos e amigas, é Evangelho!
VIVER A PALAVRA
Procurarei moldar a minha
fisionomia, segundo a beleza contemplada no Filho de Deus.
REZAR A PALAVRA
Ó
Beleza, “sempre antiga e sempre nova”, o teu rosto proclama a minha sede
de
encontro com a Luz e convoca a minha peregrinação rumo ao teu esplendor!
Mostra-me
o rosto, chagado ou glorioso, que tem o segredo da minha plenitude.
Convida-me
à intensidade da tua presença, atmosfera de memória e de profecia!
Abre-me
os olhos e os ouvidos como a um discípulo dócil que vê e que escuta:
terei
forças para desentorpecer o comodismo e retomar a estrada rumo a Jerusalém.
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